Fomos em silencio todo o percurso. Ashley ouvindo sua musica e batendo o pé, Melissa olhando pela janela, Beatrice retocando a maquiagem e eu de olhos fechados, para controlar o enjoo. Chegamos e entramos em outra limusine, que nos levou para dentro do palácio. Tudo era enorme e lindo lá dentro, com pessoas passando de um lado para o outro. Nos conduziram para um salão deslumbrante, cheio de sofás, mesas, cortinas e servos do palácio. Três moças viram e me seguraram pelo braço me conduzindo para traz de uma das cortinas.

– Oi? O que estão fazendo? – perguntei, enquanto elas me forçavam a sentar na cadeira que tinha em frente a um grande espelho

– Somos suas criadas de hoje em diante, e como você é de uma casta baixa, temos muito trabalho para fazer – disse a loira, que aparentava ser a mais velha das três.

– Ela não parece precisar de tanto retoque assim – a de cabelos pretos disse

– Ela é muito bonita – a de cabelos castanhos disse

– Certo. uma coisa de cada vez – eu disse – nomes?

– Eu sou Beth – disse a loira

– Eu sou June – disse a de cabelos castanhos

– E eu sou a Milla – completou a de cabelos pretos

– Mas por que eu preciso de criadas? Eu posso me virar sozinha.

As três riram e retomaram seu trabalho. Milla puxou um banquinho e começou a fazer minha unha em uma velocidade incrivelmente rápida. Beth penteou meu cabelo e começou a aparar as pontas, resmungando algo sobre pontas duplas. June foi no canto da nossa salinha improvisada e pegou várias amostras de tecido. Ficou colocando sobre minha pele enquanto as três davam opiniões como “Não é a cor dela” ou “Esse tecido não esta certo”. por fim, todas concordaram que roxo era a “minha cor” e June tirou um vestido da mesma cor do tecido de dentro de um baú. Tiraram minha roupa, meio que contra minha vontade e colocaram o vestido em mim. Era lindo. era um tubinho tomara que caia ate o meio da perna roxo e com detalhes em renda preta, fazendo as alças e cobrindo o colo e o abdômen. Colocaram um salto tão alto em mim, que tive medo de cair no primeiro passo. Pintaram minha unha de preto, o que a principio eu achei que não seria uma boa ideia, mas colocaram uma maquiagem mais leve. Depois de modelar meu cabelo com cachos largos, colocaram ele metade preso e metade solto.

– Mas me digam, para que tudo isso? e porque tem tanta gente com câmeras? – perguntei

– Porque eles estão fazendo um especial da transformação das selecionadas – respondeu Beth – e vocês serão entrevistadas dentro de alguns minutos.

– Entrevistavas?

– Acho que acabamos – disse June – a senhorita está linda

– Podem me chamar de Amberly – eu disse me olhando no espelho – Ou Amber, já que vamos passar tanto tempo juntas

– Isso não é permitido – Milla disse, cabisbaixa

– Ninguém precisa saber! – eu disse piscando para ela

As três sorriram e me conduziram para o lounge. Uma moça jovem com um gravador veio na minha direção acompanhada por fotógrafos.

– Amberly Station? – ela perguntou

– Sim?

– O que você está achando da Seleção ate agora?

– Muito corrido – eu disse rindo

– Gostou do resultado da sua transformação?

– Elas não mudaram muito – disse passando a mão no cabelo e sentindo a maciez dele – Só cortaram um pouco e hidrataram.

– E quanto as outras selecionadas? Algo a dizer sobre elas?

– São todas muito bonitas.

– Como foi o voo?

– Fui de olhos fechados, nunca tinha andado de avião antes – eu respondi rindo

– Já fez algum plano para a seleção?

– Na verdade, ainda não acredito que eu esteja nela, não caiu a ficha ainda, sabe? Mas estou amando esse vestido.

– Ele caiu muito bem em você mesmo. bom, é isso. obrigada

Da mesma forma que ela chegou, ela saiu e abordou outra selecionada que eu não conhecia. Vi Ashley sentada em um sofá ao lado de uma garota que eu não conhecia. Uma garota de cabelos castanhos bem claros.

– Ashley – eu disse me aproximando – oi!

– Oi Amber – ela disse chegando para o lado – Senta.

– O que achou disso tudo? – disse apontando para o salão com o queixo

– Um saco, e você?

– Até que é divertido. Adorei meu cabelo assim.

– Combinou contigo – ela disse deslizando no sofá.

Ashley estava com um vestido preto com brilho sobre o colo, era ate o meio da perna também e de manga curta. Simples, mas muito bonito. A maquiagem dela também era preta e forte, realçava seus olhos azuis cinzentos e seus cabelos estava lisos e com um leve topete feito com sua franja longa. Virei para a menina que estava sentada ao meu lado.

– Oi – disse, fazendo a menina me olhar – qual seu nome?

– Katherine – ela disse com um sorriso tímido

– Adorei seu vestido

Katherine usava um vestido verde claro, que combinava com seus olhos. Ia ate o meio da perna e era de um tecido tão leve que seu caimento lembravam as ondas do mar. Tudo nela me lembrava o mar. era de alça única e tinha pequenas pedrinhas prateadas na manga.

– Obrigada – ela disse – o seu também é lindo

– Já fez alguma amizade?

– Voce é a primeira que fala comigo, as meninas que viram no avião mal olhavam umas para as outras.

– Sorte a sua. Essa aqui – eu disse apontando para a Ashley, que estava olhando para o teto – so faltou bater na outra lá

Ashley gargalhou e se ajeitou no sofá.

– Em minha defesa – ela disse debruçando para falar com Katherine – Berenice é uma ridícula

– Beatrice – eu corrigi

– Tanto faz – ela disse levantando as mãos e depois a estendendo para Katherine – prazer, sou Ashley

– Katherine – ela respondeu entre risos, apertando a mão de Ashley

Ficamos falando sobre nós, sobre nossas províncias e castas. Ate Marise entrar e levar todas nós para um tuor pelo castelo. As selecionadas já estava separadas em grupinhos. Melisse se aproximou de nós e ficou com a gente durante o tuor. Beatrice estava mais adiante, sendo seguida por duas garotas. Achei aquilo ridículo, pois todas estávamos na mesma ali.

– O terceiro andar é reservado a família real – Marise disse – então, nada de ir lá em cima

Me peguei pensando se existiria um terraço. Deve ser fascinante a vista lá de cima. Depois do tuor completo e de todas as regras serem passadas, fomos para nossos quartos. Não eram próximos aos de Ashley, Melisse ou Katherine, ficava no fim do saguão. Não sei se fiquei feliz por ser isolado e privativo, ou triste por estar tão longe de todos.

No fim do dia, fomos todas, muito bem arrumadas para o jantar o salão das mulheres, que estava totalmente diferente de hoje cedo. Encontrei Katherine no caminho e me apressei para ficar próximo a ela. As mesas estavam separadas em grupos de quatro, o que foi ótimo, pois assim que eu sentei em uma das cadeiras com Katherine, as outras garotas passavam direto. Ashley chegou logo em seguida e sentou. Melissa sentou na ultima cadeira e nós ficamos conversando. Tinha me esquecido completamente que elas eram minhas concorrentes. Queria que todos fossem simpáticas como elas.

Ligaram a televisão e todas ficaram em silencio assistindo ao jornal. Mostraram nossa despedida na província, nossa chegada ao aeroporto e nossa chegada no castelo individualmente. Depois fizeram uma passada rápida pela hora das transformações. Fiquei chocada ao ver que fizeram um close bem na hora que eu, Katherine e Ashley estávamos conversando sobre Beatrice e rindo. Parecíamos muito amigas, e estávamos tão espontâneas, que não tinha como alguma de nós ficar pouco bonita. Cada uma tinha um estilo contrastante das outras, por isso estávamos sobressaindo. Nos olhamos segurando o sorriso, enquanto as outras selecionadas nos olhavam torto.

Depois do jantar, fomos para nosso quarto, as quatro juntas. Nos separamos to topo da escada, indo uma para cada lado. Minhas criadas me ajudaram, contra minha vontade, a tomar banho e colocar o pijama. Eu pedi para elas me deixaram sozinha e fui para a varanda. tentei parecer simpática, mas não tem como fazer isso quando esta pedindo para as pessoas se retirarem. Garanti que estava bem, que precisava pensar para cair a ficha. Elas sorriram e saíram. Tentei a todo custo olhar as estrelas, mas da minha varanda, não dava muito por causa das muitas outras varandas.

Lembrei do terraço. Eu precisava muito ver se existia um. Sai sorrateira pelos corredores desertos e subi as escadas correndo. A voz de Marise dizendo que o terceiro andar era proibido, ficava exoando na minha cabeça, mas ignorei e continuei subindo.

– Eu não vou para o terceiro andar – eu cochichava para mim mesma – apenas precisa passar rapidamente por ele.

Vi uma porta no topo de uma escada. Era apenas uma porta, então só podia ser ali. Corri escada acima e abri a porta devagar. Sim, era um terraço enorme, com poucas coisas nela. Tinha apenas uma construção, que parecia ser um deposito. Fui para o centro do terraço e olhei para cima. Nunca tinha visto tantas estrelas como naquele momento. Fiquei perdida nos meus pensamentos ate ouvir vozes. Corri para trás do deposito e me escondi, a fim de descobrir quem era.

POV Clarkson

Fiquei tão atarefado que acabei esquecendo das selecionadas. Corri para minha varanda e assisti cada grupo entrando. Mal posso esperar para vê-las pessoalmente. A primeira que eu reconheci foi Katherine. Entrou devagar, olhando em volta, parecendo espantada. Olhou para cima, para onde eu tava e parou. Entortou a cabeça e ficou olhando. Percebi o que estava acontecendo e dei um passo para trás, me escondendo. Quando voltei, ela não estava mais lá. Continuei ali, e vi Amberly e Ashley entrando juntas. Não podia acreditar na coincidência. Depois de ver todas as selecionadas entrando, fui para dentro. Passei o dia no escritório com meu pai, e tinha que me concentrar muito para não fazer tudo errado. Não parava de pensar nas selecionadas. Finalmente era a hora do jornal oficial. Me arrumei correndo e desci, tomando cuidado para nenhuma delas me ver.

– Ansioso para amanha príncipe Clarkson? – Stephan perguntou

– Muito – respondi forçando um sorriso – Mal posso esperar para finalmente conhecer as senhoritas!

Conhecer as senhoritas? Quantos anos eu tenho? Sessenta? Escondi minha decepção com minha resposta e sorri.

– Conte a verdade – ele perguntou, fingindo que não existiam câmeras ali – Já deu uma olhadinha nelas, não já?

Suei frio por alguns segundos, mas depois fingi uma gargalhada e neguei com a cabeça.

– Então vamos ver um pouco agora

Olhei para o telão e assisti o dia de cada uma. Fingia interesse em alguns casos, por questão de educação, mesmo que a selecionada não me atraísse em nada. Pena que não consegui segurar o espanto, quando vi Amberly, Ashley e Katherine conversando e rindo no sofá. Elas pareciam tão amigas. Mal sabiam elas que meus olhos e pensamentos não desgrudavam delas três. Será que se soubesse, a amizade acabaria?

– Se impressionou príncipe?

– Muito. Elas são ainda mais bonitas do que imaginei – disse de uma forma geral, quando na verdade me referia a três em especial.

Depois do jornal e do jantar, fui para meu quarto e fiquei lendo alguns livros. Nada em especial. Nem pensei em trocar de roupa nem nada. Resolvi que iria para o terraço. Assim que coloquei a mão na maçaneta para sair, meu pai me chama, me mandando espera-lo.

– O que você tanto faz lá em cima? – ele pergunta, subindo devagar

– Eu gosto de pensar olhando o horizonte – respondi abrindo a porta

Saímos em silencio, mas ouvi um barulho incomum. Resolvi deixar para investigar mais tarde. Caminhamos em silencio alguns segundos.

– Filho – meu pai disse sem me olhar – Não importa o que você sente, e sim o futuro do país. Você sabe disso não?

– Eu..

– Realeza não tem esses privilégios – ele me interrompeu – o amor vem com o tempo. Escolha uma garota de boa família e contatos. Casta alta e faça acontecer. Faça o que você quiser.

Ouvi um outro barulho, que me deixou aflito. Não demonstrei. Apenas assenti, fingindo um sorriso. Meu pai sorriu de volta e entrou no palácio, me deixando sozinho. Olhei para o lugar onde tinha ouvido aquele barulho estranho, próximo ao deposito. Andei sorrateiramente até lá e percebi uma silhueta humana encostada no canto. A figura relaxou e começou a andar para sair d lá.

Não esperei nem mais um segundo, apenas fui para cima, pressionando a pessoa contra a parede com meu corpo.

POV Amberly

Fiquei apavorada ao perceber que se tratava do rei e do príncipe. Tentei me esconder, mas acabei arquejando quando ouvi as coisas terríveis que o rei falava para o filho. Que tipo de conselho de pai é esse? Quando ouvi a porta batendo e o silencio tomando conta do lugar, relaxei e me virei para voltar para onde estava. Senti um baque forte e depois meu corpo estava sendo prensado contra a parede de pedra do deposito.

– Quem é você? – reconheci de cara que se tratava do príncipe perguntando

Tentei responder, mas o braço dele empurrava meu pescoço, limitando minha respiração. Ele olhou mais atentamente e se afastou apressado.

– Deus! É uma moça! – ele disse – o que esta fazendo aqui? Como chegou aqui?

Eu estava ofegante, mas me mantive nas sombras, arquejando devagar e com medo do que me aconteceria se ele descobrisse que eu era uma das selecionadas.

– De um passo para frente para que eu possa vê-la! – ele disse impaciente

Obedeci, dando um passo a frente de cabeça baixa, tentando esconder meu rosto. O príncipe deu um passo em minha direção e levantou meu rosto com certa brutalidade. Quando nossos olhos se encontraram, ele arquejou e se afastou novamente.

– Amberly – ele sussurrou

– Você sabe meu nome? – finalmente disse algo

– Vocês não foram informadas que não devem subir?

– Ela disse para não ir para o terceiro andar – disse envergonhada

– E esta fazendo o que aqui?

– Da minha varanda não consigo ver as estrelas

O príncipe me olhou em silencio e depois ficou de costas para mim.

– Eu não tinha a intenção de bisbilhotar, apenas precisava olhar as estrelas – disse

– Por favor – ele disse me olhando por cima do ombro – Volte para seus aposentos

Olhei espantada. Eu nem tive a oportunidade de conhecer o príncipe e já vou ser mandava embora.

– Principe Clarkson – supliquei – por favor, entenda..

– Para seus aposentos Amberly

Resolvi que não deveria mas falar quastionar, apenas comecei a me retirar.

– Foi um prazer majestade – disse com uma reverencia e sai andando rápido, sem olhar para trás.

POV Clarkson

Não sei o que me espantou mais, o fato de ser logo ela ou ela ter sido tão gentil e simples.sei que fui rude, mas fiz o que meu pai diria que era o certo. ver a expressão de decepção em seu lindo rosto acabou comigo e ainda assim, ela voltou para fazer uma reverencia, o que me deixou boquiaberto. Agradeci mentalmente por ela não ter olhado para trás, pois assim, pude ficar admirando o quanto eu quisesse.

O barulho da porta me fez voltar a mim. Sacudi a cabeça e afrouxei a gravata.