3 – O primeiro dia

A escola de Forks não ficava muito longe da nossa casa, e nem era muito grande, parecia mais um monte de casinhas grudadas umas nas outras, numa coloração marrom-alaranjada, com um considerável estacionamento na frente. Carlisle nos deixou no estacionamento (e, diga-se de passagem: já estávamos chamando atenção!) e nos direcionamos á secretaria, onde uma mulher de meia idade, muito simpática, nos ajudou fornecendo nossos horários e um mapa das salas.

- Vou morrer de tédio, Bella! Olha esse horário, são as mesmas coisas todos os dias! – choramingou a Alice, quando deixamos a secretaria.

- Vou ter que concordar com você. Meu horário é uma bela merda também!

Droga, minhas mãos continuam suando! Pelo menos a respiração ta melhor, mas não ajuda em nada todas as pessoas do corredor olharem pra gente, enquanto passamos.

De repente senti uma mão no meu ombro, logo que me virei dei de cara com um garoto baixinho, pálido, de olhos puxados e um sorriso assustador de tão simpático:

- Olá, vocês devem ser as alunas novas! Certo?

- Acertou. Não sabia que a nossa vinda estava sendo comentada. – disse a Alice, retribuindo o sorriso, porém bem menos assustador.

- Bom, a cidade é pequena, então as notícias correm rápido – ele falou meio encabulado, mas logo o sorriso apavorante voltou. – A me desculpem! Eu sou o Eric, prazer. – estendeu a mão na direção da Alice.

- Prazer, Alice. – apertando a mão do Eric, e esse que depois se virou automaticamente pra mim estendendo sua mão.

- Bella, prazer também. – forcei um sorriso, o que não é o meu forte, ainda mais nervosa desse jeito.

- Então, qual a primeira aula de vocês? – perguntou simpático.

- Hum, a minha é História Americana. – Alice, consultando o horário.

- A minha é Literatura. – eu disse.

- Ótimo! A minha também é Literatura, te acompanho. – e o sorriso assustador mais uma vez. Acho que vou ter pesadelos!

E ele foi tagarelando até chegarmos à sala, e o mais impressionante não foi isso. Em todos os cantos ele parava pra falar com alguém! O garoto é o mister simpatia da escola. E eu como novata, fui a vítima da vez.

Quando entrei na sala, praticamente todos os lugares já estavam ocupados. Apenas dois assentos, um ao lado do outro, permaneciam vazios. Sentei-me lá e logo depois uma menina alta, bem magra, de cabelos escuros e usando óculos, entrou na sala e se sentou ao meu lado. Deu-me um sorriso simpático e se apresentou:

- Oi, sou a Ângela, prazer. – estendeu sua mão a minha direção.

- Bella, prazer. – disse, sorrindo verdadeiramente. Ela parecia ser uma boa pessoa.

- Então, o Eric já te achou, não foi? – me perguntou com um meio sorriso.

- Já! Pelo visto é um hábito dele ser TÃO simpático. – respondi, enfatizando o “tão”.

- Pode ter certeza que é, mas ele é um cara legal. – ela me garantiu.

- Me pareceu isso.

E nessa hora entrou o professor, o Sr.Whitmore, que percebeu a minha presença, porém não me pediu pra fazer aquela apresentação ridícula na frente da turma e apenas me desejou boas-vindas. Eu e Ângela conversamos mais e descobrimos que fazemos praticamente todas as aulas juntas, menos Matemática e Biologia.

Ela é uma pessoa muito agradável de se conviver e acabei descobrindo que fico bem a vontade perto dela, o que melhorou infinitamente o meu nervosismo. Nos intervalos íamos juntas para as aulas e sempre encontrávamos Alice. Ela também conheceu uma garota, a Rosalie, que meu Deus, é tão linda! Cabelo ondulado até o meio das costas, num tom de loiro claro e com um corpo de dar inveja em qualquer pessoa, além de ser muito simpática.

Até que chegou a hora da aula de Matemática, e tive que ir sozinha. Chegando lá somente um lugar estava disponível e era do lado de uma menina que já sorria abertamente para mim, como se estivesse me convidando a me sentar. Com cabelos castanhos claros, bem lisos e compridos, tinha um corpo meio desproporcional para o seu tamanho, mas nem por isso deixava de ser bonita.

Caminhei até a cadeira e nem me sentei, ela já se pronunciou:

- Finalmente estou conhecendo o motivo de tanto falatório na escola! Muito prazer, Jéssica. - estendeu a mão me olhando de cima até embaixo, fazendo uma avaliação minha.

- Bella. – apertei sua mão e respondi curta e grossa.

- É claro que eu sei que é Bella! – disse rindo – Então Bella, eu achei que por ter vindo de Nova York você seria mais patricinha. – bem direta não?

- Hum, você tá avaliando a pessoa errada, roupas de marca são o departamento da minha irmã. – falei sem um pingo de vontade de manter uma conversa com ela. E pra aumentar o meu desejo de me livrar dela, a garota dá uma gargalhada que faz toda a sala se virar para nós, e pra minha total vergonha o professor já estava na sala:

- Posso saber que é tão engraçado, Srta. Stanley? – ele perguntou, a deixando com cara de tacho e arrancando risadinhas dos outros alunos.

- Não é nada, Sr. Newnam, desculpe. – falou envergonhada.

Depois disso ela não falou mais comigo durante a aula, mas só foi tocar o sinal que o bom humor da menina voltou. Ela se ofereceu para me acompanhar até minha próxima aula, mas bem na hora que saímos da sala, a Ângela aparece:

- Não, muito obrigada, mas a Ângela me faz companhia – nisso eu já tinha agarrado o braço da Ângela e a puxava para longe.

- Nem precisa explicar, já entendi tudo, conheço bem a Jéssica. – ela disse morrendo de rir.

Essa era a última aula antes do almoço e como eu previ, foi muito mais agradável e calma na presença da Ângela. Ela não ficava me avaliando e nem perguntando infinitamente sobre a minha vida antes de me mudar pra Forks, as nossas conversas fluíam em assuntos mais leves, como programas de TV e gostos musicais.

O sinal tocou novamente e fomos para o refeitório. No meio do caminho encontramos Alice e Rosalie. Juntas, andamos conversando e rindo, o que me fez ver que meu pânico de mais cedo era sem fundamento. Eu realmente estava gostando desse lugar.

Entramos na fila do refeitório e compramos algumas coisas para comer, e sentamos em uma mesa no canto do refeitório:

- Bella, a Rosalie tava me contando que ela acabou de se mudar também. – Alice.

- É verdade, me mudei tem mais ou menos um mês. Sou do Arizona. – disse Rosalie.

- Então você entende como nós no sentimos em relação ao frio que faz nesse lugar! – falei e ela riu.

- Pode ter certeza! Mas o complicado mesmo não foi esse, aparentemente eu intimido as pessoas. Elas até foram simpáticas comigo no início, mas depois simplesmente passaram a me ignorar. Até hoje não sei o por que disso. – eu senti um pouco de tristeza no seu tom de voz, e pra minha surpresa a Ângela sorriu.

- Mas eu sei o por que, e acho que você vai se sentir lisonjeada. – e continuou sorrindo. – Você com certeza já percebeu os olhares dos meninos pra você, não é verdade? – ela perguntou e Rosalie balançou a cabeça concordando, mas parecendo não entender.

- Pois então, é isso! Por você chamar tanta atenção masculina, as meninas resolveram te ignorar pra não se sentirem tão por baixo. – finalizou.

- Você só pode ta brincando Ângela! Não é possível que seja isso. – Rosalie estava incrédula e pra falar a verdade, nem Alice e nem eu estávamos acreditando também.

-Mas pode acreditar, também achei o cúmulo quando ouvi a Jéssica falando mal de você e percebi o por que disso. E pra ser sincera, me senti meio mal e até queria me aproximar de você, mas não sabia como fazer, você é de outro ano. – ela falou.

- Hum, eu devia ter imaginado que era uma babaquice dessa, no Arizona era quase a mesma coisa. Só que lá elas ficavam perto de mim, mas por puro interesse nos garotos que chegavam perto de mim.

- Quanta gente de mente pequena. – Alice ridicularizou e todas nós concordamos.

- Ainda bem que a Alice é corajosa e veio falar comigo! – Rosalie falou, parecendo realmente feliz.

- Hum, pra falar a verdade foi por interesse também – ela disse e surpreendeu a todas nós.

E então ela gargalhou e falou:

- Calma gente! Interesse em onde ela comprou a bolsa que ta usando, é divina! – com isso todas nós rimos também.

 Foi nesse clima de descontração e brincadeira que passamos toda a hora do almoço. Fizemos planos para o fim de semana, Ângela e Rosalie nos falaram de um lugar em Port Angeles que é o lugarzinho cool daqui, aonde o pessoal vai pra se encontrar e se divertir. Nos deram, aliás, deram a Alice dicas de onde ela pode fazer compras e isso deixou a pequena realmente feliz:

- Ai vocês estão salvando o meu guarda-roupa! Que felicidade! – ela disse batendo palminhas.

- Quanta felicidade, não sabia que a minha presença ia causar tanta empolgação. – uma voz masculina veio de trás de mim.

Quem falou foi um garoto loiro de olhos azuis, usando a jaqueta da equipe de futebol da escola, e estava se aproximando da nossa mesa, com mais dois outros ao seu lado.

Um tinha o cabelo preto e olhos da mesma cor, a pele bem branquinha e um rostinho de bebê, e notei que ele sorria abertamente para Ângela, que muito envergonhada abaixou a cabeça corando.

O outro tinha a pele escura, um corpo atlético e para se exibir, brincava com uma garrafa d’água.

- E quem é você? – perguntou Alice.

- Eu sou o Mike Newton e esses são, Ben e Tyler. Muito prazer – o loiro respondeu fazendo uma reverencia, apontando para o menino de cabelos escuros e depois para o outro.

- Prazer, eu sou Alice Swan e essa é a minha irmã, Bella. – ela se apresentou e me indicou.

- Nós sabemos, vocês duas são o assunto do momento! – Mike disse. – Mas então meninas eu espero que não tenham programa para sábado a noite! Vai rolar uma festa na praia de La Push e todas vocês estão convidadas.

Na hora Ângela levantou o rosto demonstrando surpresa, parece que ela não é muito requisitada por aqui. E Rosalie olhou desconfiada, e não era para menos, depois de ser ignorada por semanas, agora estava sendo convidada para uma festa.

- Pelo visto a festa vai ser boa, acho que as meninas não vão se importar de mudarmos nossos planos. – Alice respondeu por todas nós, e ninguém fez objeções.

- Ótimo! Pode ter certeza que vai ser a melhor festa. Bom, nós já vamos, até mais meninas. – se despediu dando uma piscada na minha direção.

Pelo amor de Deus, ninguém merece esse cara!

- Tchau garotas – disse Tyler, olhando na direção da Rosalie.

Que na hora desviou o olhar.

- Tchau gente, tchau Ângela – Ben se despediu, mandando mais um sorriso caloroso para ela.

- Tch... tchau Ben – ela gaguejou mais um vez envergonhada com ele.

E todos saíram andando.

Tenho certeza que aí tem coisa, depois vou ter uma conversinha com ela pra saber o que realmente rola entre eles. Ela não pode ficar vermelha e gaguejando toda vez que vê o garoto! Nossa, falei como se fosse a expert no assunto, só rindo de mim! Mas então eu me toquei de uma coisa:

- Ta ok! Me diz por favor que eles não são os gostosões da escola! – implorei para a Rosalie, brincando.

- Claro que não! O Mike acha que é gostoso e o Tyler se acha o melhor, mas o Ben é um cara legal, muito simpático. Os verdadeiros reis não vieram hoje, e acho que eles não viram essa semana toda, fiquei sabendo que estão viajando.  – ela explicou.

- Aposto que você ta falando dos irmãos Cullen. – Ângela disse, agora já recomposta.

- Claro que são eles! Nem onde eu morava existiam uns caras tão bons quanto eles. – e deu uma risada.

- Tenho que concordar, eles são uns gatos!

- Eles devem ser a reencarnação dos deuses gregos, pelo que vocês estão falando. – Alice entrou na conversa.

- Não, os Cullens são melhores! O Emmett pra mim é o melhor, é alto, forte, vive com um sorriso brincalhão no rosto. Me perco seriamente nele! – dessa vez Rosalie gargalhou.

- E tem também o Jasper, mas ele é mais na dele, não dá confiança pra ninguém. Parece que sai com os irmãos só por sair mesmo, não liga pra nada. Mas é um tremendo gato! Loiro, tem um corpo maravilhoso, olhos verdes. – Ângela o descreveu.

- E por último, mas não menos importante, tem o Edward. Esse é pra passar mal também, muito estiloso. Tem o cabelo bem diferente, um tom acobreado que eu nunca vi igual, olhos verdes, e bom, acho que nem preciso comentar do corpo! Mas ainda prefiro o Emmett. – disse Rosalie ainda sorrindo.

- Hum, agora eu to realmente curiosa, quero conhecer esses deuses. – falou Alice fazendo uma cara de safada.

Minha irmã tá mais saidinha que o normal. Deve ser o ar puro daqui...

- E você, Bella? Vai falar que não ficou curiosa? – perguntou Rosalie.

- Pra falar a verdade, não. Se aqueles que nem são lá grande coisa se acham daquele jeito, imagina os gostosões aí. Essa eu passo. – respondi. E é verdade, os caras devem ser uns egocêntricos de primeira, esse tipo de gente prefiro manter longe.

- Credo irmãzinha, desse jeito vai ficar pra titia.

Depois dessa piadinha idiota do pedaço de gente, percebemos que o refeitório já estava quase vazio. Saímos correndo para nossas salas, aquele seria o último tempo de aula do dia. Pra mim, aula de Biologia, ou seja, sozinha. Só que dessa vez fiquei sozinha mesmo, ninguém sentou ao meu lado e honestamente, até que foi bom ficar um pouco sozinha. Acho que nunca na minha vida conversei tanto! Mas ainda bem que tudo tá dando certo e, sem correr o risco de parecer uma mãe-de-santo, arrisco prever que as coisas vão só melhorar.

E mais uma vez sem perceber, o tempo passou voando e a aula já tinha acabado. No meio do caminho para a saída, me dei conta que não sabia como iria voltar para casa, o Carlisle já foi para o hospital e os carros só devem chegar mais tarde.

- Ei Bella! – Chamou a Alice. – Sabe o que eu percebi? A gente não tem como voltar pra casa!

- É, eu acabei de perceber isso também, e agora? Ligo pro Carlisle? Ou vamos andando mesmo? – quando mencionei a palavra andar, uma expressão de horror passou pelo rosto da Alice.

- Meninas, eu posso levar vocês sem problema algum. – ofereceu Rosalie.

- Sério, Rose? Ai vai ser ótimo, é só hoje. – agradeceu Alice.

Fomos andando pelo estacionamento e pra minha surpresa, o carro dela era um conversível vermelho incrível!

- Uau Rosalie, que carro! – elogiei.

- Esse é meu bebê, eu gosto de velocidade. – ela respondeu orgulhosa.

Vi Ângela se aproximando e acenando:

- Só vim me despedir gente, até amanhã. – disse.

-Até Ang. – respondi, Rosalie e Alice se despediram também e entramos no carro.

E percebi que quase todo mundo no estacionamento estava prestando atenção em nós quatro, inclusive a insuportável da Jéssica que, aliás, não estava com cara de muitos amigos. Tive que rir, e acho que isso só a deixou mais puta, o que me fez rir mais ainda.

- Bella, o que houve? – perguntou Alice desconfiada.

- Não é nada.

- Então vamos! – falou Rose.

E ela arrancou com o carro para fora do estacionamento, como o som no máximo. Alice e ela cantando junto com a música, e eu tentando manter meus ouvidos a salvo. Só eu sei como elas desafinam! O que só deixava a cena mais engraçada.

- A Bella! Deixa de ser chata! Canta também! – gritou a Rosalie

- Vai Bella! – gritou Alice também.

- Nem morta!

- A sua estraga prazeres! – Alice

- Canta vai! – as duas gritaram juntas e riram.

Ahh quer saber?

Que se dane!

Vou entrar na brincadeira! Já mudei de casa, de Estado, ficar mais descontraída vai fazer parte do pacote de mudanças.

E comecei a cantar com elas.

Alice olhou surpresa pra mim, mas se empolgou mais ainda.

Cantando e gritando, rindo e me libertando. Eu aos poucos to começando a perceber que o que eu achava que era a vida ideal, nem podia ser chamada de vida. Agora sim eu posso dizer que to começando a descobrir o que é felicidade de verdade...