– Acho que você deveria saber melhor do que ninguém. - Sorriu com sarcasmo em seguida indo embora mas sendo impedido por Haruke que o segurou pelo braço.

– O que quer dizer com isso?

– Não sei, descubra sozinho, filho do Gabe. - Soltou-se e foi embora desta vez a passos mais rápidos e não sendo impedido novamente. Filho do Gabe parece ter se tornado o novo apelido de Haruke, mas um apelido que apenas eles dois conhecem, e aliás, que culpa ele tem de ter nascido "filho do Gabe"? O que esse garoto misterioso sabe a respeito do pai dele que ele não sabe? Seria mais uma burrada? Uma aposta não paga? Várias dúvidas rondam a sua mente, mas a pior delas deve ser o que a sua doce mãe viu naquele gordo idiota. Muitos dos problemas do Gabe são resolvidos por seu filho, principalmente quando ele está bebâdo demais para raciocinar. Na época em que a senhora Miharu ainda não estava doente, seu marido ficava a tarde inteira, já que à noite trabalha como vigia noturno, com a bunda no sofá assistindo algo na televisão. Salgadinho na mão esquerda, lata de bebida na mão direita e a cada hora gritando "Traz mais cerveja pra mim, mulher".

Haruke não gostava de ver sua mãe adoentada no hospital, mas ele percebia que lá ela deixou de ser uma escrava e pode descansar, solidão não era um problema, ela tem uma colega de quarto e as enfermeiras que são todas muito amigáveis.

...

Aulas de educação física são o terror dos preguiçosos, mas até mesmo para os mais bem dispostos a aula do professor Hikaru. É horrível: tediosa e monótona. Sempre o mesmo exercício: correr, não importa a simples variação que haja: correr de costas, de lado, etc, sempre será chato.

Algo chama a atenção de Haruke; Kisuke está sentado na arquibancada, o que ele fez para se salvar?

– Makoto. - Chamou a atenção do amigo. - Você sabe o por que do Kisuke não participar da aula?

– Se não me engano ele tem uma doença respiratória.

– Hum, ok.

...

Toda aula de matemática é sempre a mesma coisa: Haruke olha para as letras e números no quadro negro e tenta entender essa matéria que mais é uma nova língua, língua essa muito difícil.

Desta vez ele fez uma nota mental de não desfocar nem por um segundo da matéria, já que sempre que se distraía por meio minuto se perdia completamente durante o resto da aula.

A sua concentração simplesmente some ao ser acertado por uma bolinha de papel, ele não sabe a identidade do atirador de elite de bolinhas de papel, mas ao desamassa-la, fica obvio de mais.Está escrito: "Dificuldade para se concentrar, Filho do Gabe?"

Miharu é tirado de seus pensamentos com um súbito som, o som do alarme de incêndio. O pânico se instaura quase que imediatamente, os alunos se levantam rapidamente de suas cadeiras.

– Todos por favor mantenham a calma, vamos evacuar com cautela para o patio. - o professor tentou inutilmente acalmar a todos. Os estudantes quase que imediatamente correram, percebe-se o pânico se instaurando rapidamente.

Após o esvaziamento da sala, Miharu percebe que ainda está sentado, parado, em choque. Uma bofetada na cara liberta Miharu do seu estado de choque, um belo método não? O autor do ato é ninguém menos que o atirador de elite de bolinhas de papel: Kisuke-kun.

– Até quando vai ficar ai parado? Kisuke sai da sala quase vazia, seguido por Miharu. Ele apenas acompanha os passos de Kisuke e estranha que ele esteja andando, ao invés de correr.

– Por quê estamos andando ao invés de correr?

– Você viu alguma fumaça? - Kisuke pergunta, enquanto caminham.

– Bom...Não.

– Mas eu vi, vindo do prédio do dormitório. Estamos no prédio escolar, esse alarme de incêndio foi desnecessário.

Fizeram o resto do percurso em silêncio. Ao chegarem no pátio, encontraram os outros alunos reunidos, alguns professores tentavam acalmar os mais assustados enquanto outros impediam a passagem dos estudantes para o dormitorio, de onde vinha a fumaça e onde está o fogo. Mas por que alunos iriam querer entrar em um lugar em chamas? Chamas que, mesmo não estando visiveis, pois o incêndio se concentra mais para dentro do predio, existem, e a fumaça é visivelmente grande. Muitos alunos são ricos e possuem objetos de valor em seus dormitorios, se preocupando mais com eles do que com suas proprias vidas.

Cerca de meia hora depois, o diretor se posiciona sobre um banco do patio segurando um megafone.

– Silêncio por favor. - Os murmúrios cessaram. - Foi constatado que o incêndio danificou quase um terço do dormitório, ainda não sabemos a causa, para aqueles que tiveram seus quartos danificados, vocês serão colocados em outros quartos por um tempo ainda indefinido, o suficiente para que a parte danificada do prédio seja reformada. A Sakura-sensei está com a lista dos quartos destruídos e já os mapeou em outros quartos, procurem ela para saberem se vocês ganharão ou não um novo colega de quarto.

Haruke notou que Kisuke não estava mais ao seu lado, avistou-o visivelmente preocupado falando com a professora Sakura, após alguns segundos ele volta em direção a Haruke claramente decepcionado.

– Espero que você não ronque.

– O que?

– Sou sua...seu novo colega de quarto.