Magic Mystery Theatre escrita por Abraxas


Capítulo 2
Capítulo 2 - As peças se movimentam.




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Mesmo com a suspensão das aulas e a presença da milícia investigativa, os alunos da Academia Arcana ficam nos alojamentos dos respectivos grêmios. Não só para a segurança de todos, mas também para facilitar a investigação dos policiais e investigadores.

Com destaque para um desses investigadores, a terrível e polemica tenente Louise Burker, quinze anos como investigadora da milícia de Valkaria. Conhecida por seus cabelos e olhos rosados, ou melhor, toda a sua vestimenta é dessa cor, penteado tipo “coque” com umas mechas cobrindo a sua testa, casaco pesado e sua inseparável varinha que fica mastigando incessantemente. Por sua característica comportamental de animal selvagem e sua preferência monocromática, Louise é chamada, pelas más línguas, de “Pantera cor-de-rosa”.

– Já disse que não quero civis na área de investigação! – brada a mulher. CADÊ O CORDÃO DE ISOLAMENTO?! – berra. Odeio magos! Pensam que são superiores, mas quando acontece uma merda dessa comum entre mortais ficam todos melindrados. – comenta ao seu auxiliar o sargento Lopes. Olha só este lugar! Não tem nenhum ponto de referência, montanhas, pássaros, insetos, é uma porcaria ascética e isolada. Olha só, sargento! Não tem merda e cheiro de urina! Não tem sujeira! Não tem droga nenhuma! Dá para se dormir neste chão... – reclama.

– É porque somos uma instituição que é referência para toda Arton, Detetive. – diz uma voz com autoridade.

A mulher de cabelo rosado vira o seu rosto na direção da voz com um desprezo evidente.

– O diretor, eu suponho... – conclui.

– Pelo menos, nisso tenha acertado. – diz o diretor da Academia Arcana, Talude.

– Essa é a diferença entre nós dois, diretor... O senhor errou, sou investigadora. Estou num nível acima de um detetive. – a mulher explica apontado o dedo para o diretor.

A antipatia entre os dois está evidente.

– Eu só aceitei a presença dos investigadores milicianos para satisfazer um acordo que fiz com a Sua Majestade Imperial. Fora isso, acredito que poderíamos ter resolvido tudo por nossos próprios meios. – explica o diretor com desprezo ainda maior com a presença da investigadora.

– É verdade, mas nenhum julgamento aceitaria as provas apresentadas por magos. Afinal, as evidências apresentadas seriam interpretadas como “corrompidas”. Pois existe a possibilidade de algum mago adulterar as provas. Por isso que vocês PRECISAM de gente como eu. – e dá um sorriso de deboche.

– Acredito que foste reprovada nos teste de seleção para Academia Arcana? – pergunta o diretor supondo que atingiria os sentimentos da investigadora.

– É verdade. Sete vezes. Desisti de ser maga e me tornei investigadora colocando na cadeia os facínoras que o senhor forma aqui... – retruca a mulher com igual desprezo. Sabia que assassinos utilizam recursos mágicos ensinados aqui? – questiona.

– A Deusa da Magia não faz distinção quem faz ou porque faz. É o livre arbítrio. – retruca.

– É... Tanto que o seu “Livre Arbítrio” culminou a minha presença infecciosa neste lugar imaculado. Pense isso, “diretor”... – a palavra é dita com tanto nojo que o diretor teve que se conter para não alongar demais nessa discussão infrutífera.

Minutos depois, a investigadora chega ao local do crime. Novamente o local está limpo. Isso enlouquece a miliciana.

– QUE DIABOS É ISSO!? COMO VOU ANALISAR O LOCAL DO CRIME SE JÁ ESTÁ CONTAMINADO E COMROMPIDO!? - berra a investigadora.

– O corpo tinha um axis explosivo de antimagia. Tivemos que jogá-lo para outra dimensão para não anular os poderes de muitos funcionários e alunos. – explica com tranqüilidade o diretor.

– QUE SE DANE!!! QUE MORRAM TODOS! SEM CORPO NÃO HÁ CRIME, SEU IDIOTA!!! – de súbito a investigadora começa a tossir e, desesperada, pega uma espécie de recipiente de vidro opaco e puxa o vapor exalado dele devido uma crise de asma.

Depois de se recompor, a investigadora se controla e volta a falar de uma forma mais controlada.

– Para onde levaram o corpo? – pergunta desanimada e sem esperanças de resolver o caso.

– Está em nosso necrotério. Estamos investigado a origem da bomba antimagia através da sua quintessência, assim poderemos descobrir o seu autor através do seu rastro místico. – explica com toda a calma e superioridade possível.

– Bah! Balela metafísica... Duvido que vá descobrir algo. Pois eu vou te ensinar uma coisa que aprendi em todos estes anos como investigadora. Quanto um assassino quer matar alguém, ainda mais sendo um mago e tendo colegas igualmente poderosos, basta conhecer os seus métodos e hábitos. Assim, quanto mais arrogante é o mago, mas fácil é para enganá-lo. – decreta. Posso ver o corpo?

– Claro. – e conduz a mulher ao necrotério.

O local é escuro, mas extraordinariamente limpo. Quando Talude entra no local, as Luzes iluminam tudo em segundos. Minutos depois, o trio está diante do corpo do Professor Carlos Castanheira. O seu tórax está aberto e completamente oco por dentro. A investigadora coloca luvas de um material que lembra borracha.

– Sargento Lopes, memorize isso. O corpo sofreu um trauma muito grande, como uma explosão de dentro para fora. O seu rosto não sofreu qualquer alteração expressiva. Foi como tivesse sido morto durante o seu estado de repouso. Huumm... – e manipula o interior de sua boca. Não sinto o estado de putrefação e não vejo os seus fluidos sendo expelidos devido à decomposição. A vítima tem um metro e oitenta, humano, caucasiano, acredito que pese 95 quilos, constituição atlética e tatuagens tribais.

– Ele é cara do seu marido... – escapa o comentário da boca do sargento.
A investigadora retira as suas luvas e retruca.

– Ex-marido... Eu me separei dele faz uns anos. Devido à incompatibilidade de gênios. – responde com a cabeça baixa.

– Curioso... Por que não seria surpresa para mim? Onde está ele agora, investigadora? – pergunta o diretor por pura maldade.

– Está bem diante de nós. Ele era o meu ex-marido... – aponta para o cadáver estirado encima da mesa de metal.

Depois que o grupo sai do necrotério, a chefe dos investigadores a qual é a função de Louise, ordena uma entrevista detalhada de todos os membros do corpo docente, alunos e funcionários da instituição. Foram horas de perguntas e relatórios cansativos.

Louise decide que vai investigar com total dedicação.

Imersa em seus estudos e análises, a apelidada de Pantera cor-de-rosa, conclui que deve andar e observar a Vida estudantil da Academia e decide que as atividades pedagógicas da instituição devem continuar normalmente.

Na verdade, Louise acha que há uma possibilidade que o assassino queria continuar fingindo que é um estudante ou professor. Mesmo cansada depois de ler tantos depoimentos e interpretações, a investigadora resolve entrar no local do crime mais uma vez.

Qual não é a sua surpresa que encontra dois alunos olhando o local, a qual há pouco tempo estava isolado. Em silêncio, a mulher de rosa observa o elfo dos seus dezessete anos, pelo menos em aparência humana, de cabelos prateados e agachado. Tocando o chão com as pontas dos dedos da mão direita e com uns óculos estranho no seu rosto. Ao seu lado, literalmente, flutuando, está uma garota de idade presumidamente similar ao elfo com cabelos loiros e lisos, uma tatuagem no seu rosto que lembra uma Lua minguante com cinco riscos que apontam o seu olho direito. As suas roupas são sensuais, mas não vulgares. Tinha braceletes que pareciam ser de ouro.

Não resistindo mais a tentação de perturbá-los, a investigadora age como um inspetor pegando um casal de namorados.

– O que estão fazendo aqui? – pergunta com os seus braços cruzados e apoiando o seu ombro na soleira da porta.

Os dois viram os seus rostos na sua direção. Invés do susto, a dupla simplesmente a encara como fosse um animal doméstico qualquer.

– Investigadora. Seja bem-vinda. – diz o elfo que se levanta da incomoda posição de cócoras e estende a sua mão para cumprimentar-la. Sou Tensey. Sou, ou melhor, era aluno do Professor Castanheira.

A mulher de rosa nem se deu o trabalho de estender a sua mão.

– Sei quem és. Você é a Dona Destruição que flutua ao seu lado. – Louise refere a Estigmad que flutua ao lado do elfo. Vou repetir a pergunta: O que estão fazendo aqui?

Investigado. – responde com toda a calma do mundo.

– Vocês, investigando... – e dá uma risada. Tudo bem... Façam o que quiserem! Quando tiver novidades, avise-me. – e vira de costas para ir embora.

– Claro. Afinal, ele era o seu ex-marido. O Professor sempre dizia que devemos ser persistentes e determinados. – retruca o elfo.

A palavra “ex-marido” gelou até a alma da investigadora. Como aquele garoto sabia disso, se ela contou somente para o diretor e o seu parceiro?

– Como soube disso, garoto? – pergunta de uma forma séria com certa raiva.

– Investigado. – responde com a mesma naturalidade da vez anterior. Como sei também que mora em Valkaria, mais precisamente na Cidade da Praia, pois o aluguel é mais barato e perto do seu departamento miliciano. Tem um carinho muito grande por sua gata Gertrudes e seus dois peixes dourados que a sua gata tenta em vão capturar. Tem uma faxineira Goblin que cuida de tudo enquanto está investigando em nossa Academia. Não tem filhos, parentes ou representantes legais para chamar de “pais”. Acredito que está só no mundo desde vinte anos atrás. Como não pude investigar mais nada, além disso, mantém a mesma aparência durante este tempo. Acredito que tenha um parentesco élfico. Pelo menos, diz à verdade que é uma policial. – conclui o elfo com toda a sua calma característica.

Um pouco indignada, mas surpresa, a investigadora dá um sorriso e comenta:

– Foi a sua bola de cristal que te mostrou isso? – pergunta cética.

Ele aponta para a sua parceira com o polegar e a mesma acena como fosse uma menininha de doze anos toda orgulhosa e sorridente.

– Ah! Uma parceira... Entendo. – e ri. Sabia que podia te prender? Pois é crime invadir a privacidade de uma investigadora. Ainda mais num caso de homicídio.

– Eu entendo perfeitamente, mas sei que tem ojeriza sobre qualquer tema de origem mágica. Por quê? Queria entender. – questiona.

A mulher de rosa caminha na direção no local a qual foi encontrado o corpo do professor e comenta:

– Não há nada para entender. Só acho que este mundo depende demais dessa coisa... Que vocês chamam de Magia. Olhe a dificuldade para descobrir qualquer coisa. O pior que a Magia tem o poder ocultar mais ainda a verdade. Dá a impressão que a mentira usa a Magia manipular a realidade. Mostra que o Universo inteiro tem regras, mas podem ser burladas a qualquer momento. Por um capricho divino ou por homens insanos. Temo que um dia o Universo se quebre por causa desses abusos... – desabafa.

– Quem não garante que não já quebrou? – retruca o elfo. Acho que a Tormenta é a prova disso. Porém, acho que podemos aproveitar mais dessas “falhas” estruturais deste Universo. Por exemplo, o axis que tentou destruir as provas do assassino. Sinceramente, não foi muito competente nisso.

– Como assim? – pergunta surpresa.

– A Metamagia estuda o fenômeno mágico e seu comportamento nas aplicações estruturais em nosso Universo. A Magia é uma energia. E como energia, age como matéria. Todavia, a Magia tem como base a Quintessência, um elemento além da matéria. A Magia só existe quando há quantidades significativas desse elemento. A antimagia é um composto que separa a Magia da Quintessência, separadas, ambas ficam inertes, porém não se destroem ou se transformam. – então o elfo apresenta os óculos. Posso vê-los e tenho uma visão cronológica dos eventos utilizando a minha amiga no meu lado. – e aponta para a Estigmad. Ela pode utilizar a magia cronal para marcar os eventos na Quintessência e não na Magia. Logo teremos uma ordem dos eventos e veremos a silueta do assassino e possuiremos uma importante pista. – e dá um sorriso de triunfo.

A investigadora faz uma expressão de incredulidade e ceticismo, porém não desestimula o rapaz. Fica em silêncio e aguarda os acontecimentos.
Depois de uns minutos, o rapaz diz o resultado de sua observação.

Ele fica estupefato.

– O nosso Professor foi morto por uma parede... Uma parede disparou uma esfera que o atravessou e depois uma garra no ar o rasgou o seu peito... Como alguém pode controlar tanta matéria sem o nosso Professor perceber?! – exclama chocado o elfo.


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Notas finais do capítulo

(Continua.)



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