Capítulo Vinte e Seis escrita por Violet King


Capítulo 1
Capítulo Vinte e Seis




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Já se passaram algumas semanas desde a morte de Augustus Waters, desde que nosso pequeno infinito teve um fim – pelo menos era o que eu pensava. Certa madrugada acordei com um bolo na garganta. Tentei me desconectar do BiPAP o mais rápido possível e encaixar a cânula do cilindro de oxigênio nas narinas antes que vomitasse ali, em minha cama, sem tempo de chegar ao banheiro. Não queria sujar os lençóis e ter que acordar mamãe para limpar toda a bagunça. Por sorte, consegui ser ágil suficiente e me ajoelhei diante da privada, botando minha última janta para fora. Me esforcei em não fazer muito barulho, porém, não obtive sucesso, pois meus pais haviam despertado, aparecendo em meu quarto preocupados.

– Hazel, querida, você está bem? – mamãe perguntou, aproximando-se da porta entreaberta do banheiro.

– Se você quer saber se estou bem para alguém em minhas condições cancerígenas, sim, eu estou bem – respondi, limpando a boca com as costas das mãos, sentindo um gosto desconfortavelmente amargo.

Ela continuava lá, parada, me observando com uma expressão apreensiva, e papai logo atrás.

– Mãe, sério, está tudo em seu devido lugar, inclusive meus pulmões – lhe garanti, olhando de relance dentro do vaso sanitário para ter certeza de que não os regurgitei. – Por favor, vá deitar.

– Filha, estou preocupada. Você anda vomitando com muita freqüência.

– Não vejo motivo para tanto alarde. Eu tenho câncer, e é normal às vezes meu corpo rejeitar alimentos, como o do Augusto rejeitava – e logo veio à minha mente a imagem dele em seus últimos dias de vida, magro, em uma cadeira de rodas, mantendo as únicas duas coisas em sua aparência que eu ainda reconhecia: os olhos azuis e aquele sorriso torto que ele exibia para mim desde o primeiro dia que nos conhecemos no Grupo de Apoio, no Coração Literal de Jesus.

– Eu sei, Hazel. Mas isso está acontecendo com mais regularidade. Desse jeito, se vomitar tudo o que come, você vai ficar... – ela se interrompeu, percebendo o que iria dizer, sentindo-se arrependida, mesmo sem terminar a frase.

– Doente? – completei. – Eu já estou doente. Minha vida é uma doença.

– Querida, me desculpe. Eu...

– Não, você tem razão. Vamos marcar uma consulta com a Doutora Maria e sabermos se há algo de errado comigo, além do líquido que meus pulmões de araque produzem.

– Tudo bem – mamãe limitou-se a dizer.

Percebi a culpa em seu olhar.

Depois, meus pais me colocaram de volta à cama, reconectando-me ao BiPAP. Papai pegou o Azulzinho da prateleira e me entregou, dando um beijo em minha testa. Sonolenta, abracei o ursinho de pelúcia e me ajeitei, virando para o lado.

– Boa noite – meu pai sussurrou, se afastando enquanto minha mãe, já na porta do dormitório, apagava a luz.

– Boa noite – falei, adormecendo em minutos e mergulhando numa outra dimensão: a dos sonhos.

* * *

De manhã, levantei após ter um sonho com Augustus. Ele estava vivo, vestindo seu terno mortuário no cemitério em que fora enterrado, parado em pé na minha frente. Gus apenas repetia o que Peter Van Houten me disse no dia do enterro dele: “Vida gera vida gera vida gera vida gera vida”. Talvez fosse somente uma abstinência de Augustus Waters – porque não creio que ele pudesse se comunicar comigo através de um sonho –, mas, a sensação de que aquilo tivesse certo significado me fazia ter dúvidas a respeito do que eu acredito.

Mais tarde mamãe e eu fomos nos encontrar com a Dra. Maria. Fizemos alguns exames e de acordo com ela, não havia muito com o que se preocupar com meus pulmões, entretanto, ainda tinha a questão dos enjôos freqüentes. Minha mãe e eu então nos sentamos lado a lado nas cadeiras ante a mesa da Doutora, em sua sala de atendimento. Ela olhou os papéis em mãos e segundos depois, perguntou de uma forma delicada se meu ciclo menstrual atrasou. De os olhos arregalados, me virei rapidamente para mamãe – que possuía uma expressão de surpresa –, e em seguida de volta para a Dra. Maria, tendo ciência exata sobre qual rumo aquela conversa estava tomando e aonde ela queria chegar. Balancei a cabeça negativamente.

– Não estou grávida, se é o que quer saber – respondi, sentindo meu coração martelar furiosamente em meu peito.

As chances de eu estar esperando um bebê eram tão mínimas – todavia, não eram nulas – que nunca parei para pensar nessa possibilidade. Gus foi o único com quem me relacionei, e apenas uma vez. Insinuar que estou grávida soava quase como uma piada.

– Me desculpe Hazel, foi só uma pergunta – a Dra. Maria disse. – É que, depois dos resultados dos exames, notei você tinha ganhado peso. Um fato peculiar para alguém em seu estado.

– A senhora tem mais alguma pergunta? – tentei não parecer aborrecida, contudo, percebi em meu próprio tom de voz a forma que as palavras saíram, como se eu quisesse ir embora (e realmente queria), não agüentando mais ficar ali a ouvindo.

– Tenho somente mais uma: Hazel, você já teve relações sexuais?

Aquilo me pegou desprevenida. Minha mãe me olhava esperando por uma resposta, entretanto, meu silêncio tinha dito tudo.

– Então, você e o Augustus... – mamãe suspirou e em seguida, me abraçou. – Oh, querida, por que você não me contou isso antes?

Eu confiava em minha mãe, contudo, existiam algumas coisas que não podia compartilhar. Coisas entre mim e Gus que não dividiríamos com o mundo, que seriam enterradas conosco.

– Hazel, se você já se relacionou com alguém, ainda é possível estar grávida – a Dra. Maria informou. – O sangramento que teve pode não ser considerado menstruação. Pode estar relacionado com as mudanças que o corpo feminino passa durante a gestação.

– E o que a senhora sugere? – mamãe indagou, intrigada.

– Sugiro que façam um teste de gravidez e procurem um especialista no assunto. Gostaria de estar informada sobre as novidades que tiverem, certo?

Concordamos, e após poucos minutos de conversa entre as duas, fomos embora.

* * *

Na volta para casa, paramos em frente a uma farmácia para comprar o teste de gravidez. Minha mãe desceu do carro, dizendo que eu não precisava ir, decidida a fazer isso sozinha. Fiquei esperando no banco do carona até sua volta. Chegando em casa segurando um pequeno saco de papel pardo, não encontramos papai, pois ainda estava trabalhando. Mamãe não ligou para ele contando as novidades. Talvez estivesse esperando o resultado para lhe comunicar o que ocorreu. Fui direto para meu quarto, uma das mãos puxando o carrinho do cilindro de oxigênio e a outra com o saco do teste. Tranquei-me no banheiro enquanto minha mãe esperava do lado de fora e obedeci as instruções escritas na embalagem. Aguardei ansiosamente sentada no vaso sanitário com a tampa abaixada até receber o resultado.

– Querida – mamãe perguntou, apreensiva com minha demora –, está tudo bem aí?

Subitamente abri a porta, a resposta na tirinha em meus dedos...


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo vocês terão a resposta. Então, se gostaram e querem que a segunda parte saia com rapidez, comentem e favoritem, por favor - isso significa muito para mim.
Obs: Assim que terminei de ler "A culpa é das estrelas", tive a ideia de escrever uma continuação em que Hazel poderia, ou não, estar grávida. Acho que há uma fic nessa categoria com o tema parecido, mas nunca a li, portanto, nem sei o que acontece e presumo que sejam diferentes uma da outra. Só quero esclarecer para não arrumar confusão, ok?