Passei as duas últimas semanas de férias fazendo compras e saindo com a minha mãe, tenho que admitir que foi muito divertido. Saímos das lojas cheias de sacolas e nos sentindo como se fossemos da realeza, vi muita gente bonita perambulando pelo shopping e quando me olhavam me sentia uma estrela de cinema. Recebi cantadas, minha mãe me olhava rindo e até trocávamos algumas palavras com os garotos que mais chamavam a atenção.

Como prometido por ela, passamos uma tarde inteiro no salão. Clareei meu cabelo que parecia mais escuro com o decorrer dos dias e sai de lá com cachos delicados caindo pelos ombros e um novo corte de cabelo. Fiz minhas unhas e me senti melhor já que fazia um bom tempo que eu não me dedicava a minha aparência.

Mas então chegou o dia, aula. Tália me acordou e me ajudou com tudo que eu precisa, e então desceu para colocar o café na mesa. Vesti meu uniforme mas diferente de todas as garotas, eu vesti uma calça jeans e não short ou saia, eu gostava de calças por serem tão confortáveis, e vesti aquela camiseta azul e bonita. Diferente da antiga escola, a nova tinha várias cores de camiseta, já a antiga era apenas branca e eu odiava.

Coloquei meu all star e peguei minha mochila que estava leve e confortável no meu ombro. Peguei meu skate e desci as escadas rapidamente, e olhei uma fruta sem animação e a larguei no mesmo instante. Lembrei-me de ajeitar o cabelo e então o arrumei com meus dedos e sai de casa com o estomago vazio.

Quando cheguei naquele enorme portão prata eu já estava em prantos, entrei com o meu skate na mão e todos me olhavam com um olhar de desprezo, e zombavam do modo como eu me vestia. Admito que vi alguns garotos bem bonitos, 90% dos garotos eram bonitos e os outros 10% eram fofos e engraçados, isso eu notei. As garotas também não eram feias, mas preferi nem pensar nisso, caminhei tentando achar meu armário, finalmente eu teria um. Achei, número 76.

Abri e enfiei meu skate lá dentro, quando me virei para ir para a sala dei de cara com uma garota, pequena e fofinha. Eu realmente achei que ali era apenas o ensino médio porém me enganei, ela sorriu e me cumprimentou rapidamente. Os olhos castanhos brilhavam e então ela mexeu naquela franja tão comprida e notei que aquilo era um habito bem irritante que eu também tinha.

– Oi, sou Manuela sou nova aqui. – Sorri tentando ser gentil e simpática, algo que eu não era. – Sabe me dizer onde fica a sala do primeiro ano?

– Sou Beatriz, sei sim. Estou indo para lá agora, se quiser pode vir comigo. – Ela estava no primeiro ano? Serio? Daquele tamanho? Confesso que achei que ela fosse muito mais nova.

– Você está no primeiro ano? – Dei um riso tentando descontrair e puxar assunto.

– Porque todo mundo me pergunta isso? – Ela gargalhou.

– Não quer que eu responda né?

– Não.

Entramos na sala e eu me sentei no fundo tentado passar despercebida, falhou.

–Manuela? – Então a professora olhou pra mim, e toda a minha turma também. Quis enfiar minha cabeça num buraco.

– Aqui. – Falei baixo.

– Veio transferida de onde Manuela? – Ela se levantou e me encarou.

– Do buraco dos feios. – Cochichei, mas boa parte da sala riu. – Vim de uma escola do sul do estado.

– Pública?

– Sim.

Então todos me olharam com aquela carinha de riquinhos com nojo. Como se eu ligasse. Finalmente a atenção saiu de mim e foi para a matéria que ela estava explicando, não prestei em nada. Quando tocou o sinal para o intervalo caminhei para o jardim junto com Beatriz que fez o favor de ficar o intervalo inteiro comigo, me senti melhor com ela, pelo menos eu não estava sozinha.

As últimas aulas foram de biologia, um professor gordo com um sotaque russo, irritante. Na saída peguei meu skate e caminhei para fora daqueles portões junto com Beatriz, esbarraram em mim umas dez vezes. Mas uma vez me chamou a atenção ...