–Não há maior exemplo do poder de Deus do que o amor que compartilhamos. Molly e Tom estão aqui hoje para se comprometerem a esse amor perante a Deus e a todos vocês. Então vamos rezar.

Eu ainda não acredito que tive coragem de comparecer a esse casamento e pior, não acredito que ela realmente vai se casar com esse paspalho. Eu estava no fundo da igreja assistindo tudo de longe, não queria que ela me visse, afinal não lhe dei certeza nenhuma que viria quando ela foi até meu apartamento me levar o convite.

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–Olá Sherlock. A Sra. Hudson abriu a porta para mim porque eu acho que você não estava ouvindo a campainha, certo? – Certo. Sua voz era um sussurro de tão baixa que estava.

–Desculpe Molly, eu estava perdido entre meus muitos casos que tenho pra resolver e a campainha realmente não é uma coisa que me preocupa muito. Mas o que devo a honra de sua visita? Apareceu algum corpo novo que você que eu a ajude a examinar?

–Não. Não é nada disso. Vim lhe trazer o convite do meu casamento. Como você sabe, estou noiva do Tom.

–Ah é. – Tentei ser o mais displicente possível, pois ela estar noiva é uma situação e ela se casar era outra totalmente diferente. A informação do casamento foi um baque pra mim. Meu amor por ela sempre esteve reprimido em meu coração. Nunca eu demonstraria isso. Só iria fazê-la sofrer e por mais que aquele Tom fosse um paspalho, ele sim poderia lhe dar a vida que eu nunca conseguiria. Tranquila.

–Como eu ia dizendo, vou me casar. Você é uma pessoa especial em minha vida e gostaria muito que você fosse Sherlock.

–Não posso prometer Molly. - Preciso sair dessa situação e rápido. – Como você sabe, desde o caso Magnussem, meu querido irmão tem feito marcação cerrada em cima de mim. Não posso ir à esquina sem vigilância. – Se realmente eu quisesse daria um jeito. Sempre consigo o que quero de uma forma ou de outra. Mas isso não, não poderia me torturar mais.

–Eu sei. É uma situação horrível o que você está passando, mas faça um esforço. Por mim. Eu não mereço? – Não sei de onde ela achava que não merecia minha presença em seu casamento, quando na verdade quem não merecia seu amor era eu. Eu sabia dos sentimentos dela por mim. Ela sempre tentou chamar minha atenção com um batom novo ou um penteado de cabelo diferente, mas sempre tive um lema: Não se envolva. Isso ficava se repetindo em minha cabeça como um disco riscado. “Não se envolva Sherlock. Não se envolva Sherlock.” Mas com ela ali na minha frente a situação estava ficando difícil.

–Molly, você merece toda a felicidade do mundo e não é minha presença em seu casamento que fará diferença. Você vai ser muito feliz ao lado do Toby.

– É Tom, Sherlock.

–Sim... Tom, como eu ia dizendo... – Ela veio andando em minha direção e sem que eu esperasse, ela me abraçou. Não tive reação. Ela ficou ali, com os braços em volta da minha, cintura, me apertando tão forte que por um momento achei que ela conseguiria me quebrar em dois. Sua cabeça estava encostada em meu peito e pude perceber a hora que ela começou a chorar baixinho. Levei minha mão esquerda até os seus cabelos e com a direita segurei seu queixo fazendo com que ela olhasse para mim. Lágrimas brilhantes escorriam de sua face e meu coração ficava apertado cada vez mais.

–Sherlock, eu consigo enxergar através da sua armadura e sei que você também não está confortável com essa situação. Por favor, me dê um único motivo pra eu não fazer isso. Só um motivo. Você é capaz? – O que eu ia dizer? Não podia deixa-la desistir de uma vida tranquila com uma casa bonita de cercas brancas para ficar com um louco varrido como eu. Por mais que a amasse e quisesse ela do meu lado, eu não poderia ser egoísta a esse ponto. Ela merecia ser feliz, só que longe de mim. Reuni toda a força que eu ainda tinha dentro de mim, segurei seus ombros e a afastei, era muita tortura ter Molly tão perto, mais um pouco não responderia por meus atos. Ela continuava na minha frente me olhando. As lagrimas teimavam em descer de seus olhos e ela segurava o convite estendido em minha direção.

Just take what you need

And be on your way

And stop crying your heart out

As palavras me faltavam. Eu continuava olhando para seu rosto sem dizer nada. Não conseguia. Eu precisava ser forte e deixar que ela fosse feliz. Peguei o convite e guardei no bolso do casaco. Ela se aproximou mais uma vez e me deu um beijo no rosto.

–Adeus Sherlock. – E saiu pela porta do meu apartamento levando meu coração e minha dignidade junto com ela.

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–Pai Celestial, cuide de Molly e Tom nos seus primeiros passos da jornada que durará o resto de suas vidas na terra e dê-lhes a força para comprometerem seu amor ao outro. Inabalável em qualquer tempestade, inquebrável diante de qualquer estresse. Vocês amigos próximos e familiares de Molly e Tom, estão aqui hoje para testemunhar a união deles, prometem amar e apoiar o casamento nos dias que se seguirão? Se “sim” respondam “prometemos”.

Universo 10, Sherlock 0. Como eu poderia prometer uma coisa dessas? Fui criado para não demonstrar meus sentimentos e lá vinha o disco riscado de novo em minha cabeça: “Não se envolva. Não se envolva.” Impossível a essa altura do campeonato, estava dentro da igreja, vendo o amor da minha vida se casando com outro e tomei a única decisão que deveria ter tomado dias atrás.

Saí do fundo da igreja caminhando pelo centro em direção ao altar, parei logo atrás de Molly. O padre me olhou sem entender nada, ou melhor, a igreja inteira estava me olhando. Molly se virou e seus olhos se encontraram com os meus. Olhei para o lado, vi uma cadeira vazia e sentei. Por um milésimo de segundo me arrependi de tal ato. O que é isso? Que porra você está fazendo Sherlock? Meu subconsciente gritava lá longe, mal dava pra ouvir. Ela virou-se novamente para o padre e Tom a olhava com um imenso ponto de interrogação em sua cabeça.

O padre continuou com seu discurso quando resolvi que era agora ou nunca. Eu teria essa mulher para mim, nem que essa fosse a última coisa que faria. Levantei, baguncei meu cabelo e me pus a falar.

–Eu te amo Molly Hopper. Sempre amei. Amo quando você me oferece café. Amo quando você usa batom. Amo quando estamos juntos examinando corpos. Amo quando você me olha através do microscópio. Amo seu sorriso e seu jeito de andar. Amo o seu jeito de me irritar com coisas bobas. – Agora as palavras vinham fácil demais para meu gosto.

– Amo tudo em você. Amo até o que não gosto Molly. Eu amo. E quero você comigo. Eu amo você e tenho certeza que você me ama também. Ama?

Molly me olhava petrificada. Se um buraco se abrisse ali na sua frente, tenho certeza que ela não pensaria duas vezes e pularia. Ela desceu os degraus do altar e veio em minha direção. A partir desse momento, com ela li na minha frente, eu queria que o mundo se explodisse. Não importava se eu tinha feito papel de tolo na frente da igreja lotada. Eu a queria pra mim e teria.

–Você está maluco?

–Sim, maluco por você. Por favor, me diga que não vai me deixar de novo.

–Não vou. – A tomei em meus braços e a beijei. Agora éramos um misto de emoção totalmente sem razão. Como assim sem razão? Meu subconsciente estava do meu lado dessa vez. A razão estava ali para quem quisesse ver. O amor que eu sentia por ela.

Saímos correndo da igreja de mãos dadas feito dois foragidos da polícia, seria trágico se não fosse cômico. Eu que nunca pensei em roubar nada na vida, acabei roubando uma noiva. Mas não era uma noiva qualquer, era Molly Hopper. O amor da minha vida.