É Tudo Questão de Genética escrita por Bella P


Capítulo 1
É tudo questão de genética


Notas iniciais do capítulo

Resumo: Bianca era a mulher que o criou, quem ele chamou de mãe, por quem ele chorou quando morreu, mas ela não era a sua mãe biológica, porque a sua mãe biológica era uma deusa... Literalmente.



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Uma das coisas que Stiles aprendeu durante as noites em que o seu coração estava pulsando Adderall em demasia pelo seu sistema e o seu estômago estava cheio de Red Bull, e Red Bull apenas, lhe tirando o sono por completo, é que crianças começam a reter memórias a partir dos quatro anos de idade. Portanto, era um pouco estranho que Stiles lembrasse de algo que aconteceu quando ele tinha apenas dois anos. Ou então ele se lembrava porque a sua mãe lhe contou essa história tantas vezes que Stiles achava ter alguma memória do ocorrido.

Mas a questão era que, às vezes, quando fechava os olhos, Stiles recordava do dia em que achou que podia voar, somente para ser desapontado com a realidade de um braço quebrado.

Ele lembrava do grito que a dor súbita trouxe aos seus lábios e que o mesmo havia sido o clássico: “mamãe”. Ele lembrava em como Bianca Stilinski veio correndo da cozinha, como se o mundo estivesse acabando, e viu o menininho ao pé da escada com trilhas de lágrimas marcando o rosto rechonchudo e segurando o braço machucado contra o peito.

Stiles lembrava em como os olhos de Bianca se encheram de lágrimas quando ele virou para ela e disse:

– Dói mamãe. - enquanto não compreendia por que ela chorava junto com ele.

O que aconteceu depois, disso Stiles não se lembrava, mas seu pai lhe disse que Bianca dirigiu como uma mulher possuída até o hospital, invadiu a Emergência com Stiles em seus braços enquanto era tomada pelo pânico.

Mais tarde, anos mais tarde aliás, que Stiles veio a descobrir o porquê da mulher ter chorado quando ele gritou por ela.

Havia sido a primeira vez que Stiles a chamou de mãe.

Stiles não entendia qual era o grande problema. Bianca era a sua mãe. Portanto, obviamente, que iria chamá-la de tal modo. Mas então, em outro ano ele descobriu o porquê do alvoroço diante de uma simples palavra.

Bianca adoeceu e a vida de Stiles e John Stilinski passou a ser dividida entre longos dias no hospital e noites deprimentes dentro da casa enorme e fria. E foi aí que o recém-eleito xerife pousou a mão sobre o ombro do filho e disse:

– Reze para os deuses Genim, reze para que eles ajudem a sua mãe. - e Stiles piscou repetidamente para o pai, sem compreender o que ele queria dizer.

Deuses? No plural? Se sim, de que tipo?

Mas mesmo com várias perguntas pipocando em sua mente incansável, ele fez o que o pai pediu. Rezou para que os deuses ajudassem a sua mãe... E não foi atendido, pois meses depois Bianca faleceu, cansada de lutar, e com um “eu amo vocês” como despedida de Stiles e John.

Stiles tinha dez anos quando isso aconteceu e pensou, ao ver a expressão desolada do pai durante o funeral, que o seu mundo iria ruir no segundo que o caixão da mãe tocasse a terra fria. Mas, felizmente, isso não aconteceu porque dias depois um grande incêndio matou todos os membros da família Hale. Algo tão grandioso que manteve a mente do xerife ocupada o suficiente para esquecer, mesmo que por algumas horas, de sua amada e falecida esposa. E também esquecer do menininho hiperativo que agora se sentia perdido e solitário dentro da enorme casa vazia.

Mas foi somente quando tinha doze anos que Stiles descobriu porque Bianca chorou ao ser chamada de mãe.

O dia deveria ser como qualquer outro.

Stiles acordou, tomou banho, fez o café da manhã (cereal e suco porque o seu pai ainda não confiava nele o suficiente para usar o fogão), disse bom dia para o pai, pegou o ônibus escolar, encontrou-se com Scott, lançou olhares apaixonados para Lydia, foi caçoado por Jackson e seu bando, respondeu alguns professores e ganhou uma detenção, o que o fez chegar tarde em casa para preparar o jantar (congelado, porque, aparentemente, o xerife confiava em Stiles para usar o micro-ondas). Apenas para chegar em casa e ver que o pai não estava sozinho.

Havia uma mulher na sala de estar com o xerife. Alta, olhos cinzentos e longos e ondulados cabelos castanhos. Ela sorriu para ele. Um sorriso que fez Stiles perceber que era um sorriso muito parecido ao que tinha quando o via refletido no espelho, e quando John suspirou e chamou por Stiles, dizendo que precisavam conversar, ele não gostou nem um pouco do tom do pai. Foi o mesmo tom que o homem usou quando disse que Bianca estava muito doente. E não deu outra, o que saiu da boca do xerife não agradou Stiles.

– Você não é a minha mãe! - disse quando John terminou de explicar tudo. Os olhos cinzentos da mulher somente brilharam em divertimento. Ela não parecia ofendida com a sua grosseria, apenas curiosa.

– Eu sei. E eu agradeço Bianca e ao seu coração de ouro por tudo o que ela fez por você. E eu não estou pedindo que me reconheça como tal, mas ao menos não negue a verdade. - Stiles não estava negando nada, porque isso seria ridículo. Porque o que John lhe falou explicava várias coisas, colocava um ponto final em várias perguntas, mas aceitar ainda era difícil. Bianca sempre disse que ele era especial, Stiles apenas não pensou que era tão especial.

Mas quando John disse a razão de sua mãe de sangue estar ali, a razão dela estar o clamando, Stiles perdeu a compostura totalmente ao ponto de fazer o pai gritar um sonoro “quieto Stiles!” para ele.

– Não é uma escolha Stiles. Nós estamos... Eu estou dizendo que você vai!

– Mas... - um acampamento de verão? Por todo o verão? Um acampamento sem o Scott. Ele tinha planejado fazer tantas coisas neste verão com Scott. Não era justo, especialmente porque ele não poderia dizer ao melhor amigo o porquê de estar indo para o outro lado do país por três meses.

Vendo que era uma discussão perdida, Stiles deixou a sala batendo o pé em um gesto birrento, mas não rápido o suficiente para deixar de ouvir a sua mãe de sangue dizer:

– Não ligue para ele. Ele odeia a ideia agora, mas vai amá-la quando chegar lá.

Certo, e ela estava certa. Ele amou o acampamento quando chegou lá, quando descobriu a família enorme que tinha pelo lado materno. Descobriu que tinha irmãs e irmãos, um monte deles. Alguns mais velhos, outros mais novos, mas todos tão inteligentes quanto ele e nenhum reclamando de sua boca sem freio.

Ele aprendeu como lutar (e mesmo não tendo praticamente nenhuma coordenação motora, descobriu que possuía um talento letal para arremessar facas), aprendeu sobre política, matemática, economia, filosofia, como construir, destruir e reconstruir coisas. Aprendeu várias coisas das quais não podia contar para Scott quando voltasse para casa e no verão seguinte teria que usar para o amigo a desculpa que estava visitando parentes pelo lado materno (o que não era exatamente uma mentira).

Ele aprendeu coisas que, por um tempo, por mais legais que fossem, achou que nunca poria em prática no mundo real. No mundo mortal. Até o dia em que Scott foi mordido, o mesmo dia em que sua mãe biológica lhe disse o porquê dele estar treinando tanto: porque ele tinha que estar lá para ajudar o melhor amigo. Como ela sabia que isso iria acontecer, Stiles não perguntou. Afinal, ele tinha um tio com o poder de ver o futuro.

Com isto ele aplicou todo o seu conhecimento em como ajudar o Scott, ajudá-lo a se controlar, ajudar a manter a condição lupina dele em segredo e evitar que ele matasse alguém enquanto eles, junto com o lobo rabugento Derek Hale, procuravam pelo Alfa.

Portanto foi com um longo suspiro que Stiles finalmente deixou-se relaxar quando tudo acabou após todos descobrirem que Kate Argent foi a responsável pelo incêndio que matou os Hale e que o dito Alfa procurando por vingança era Peter, que foi impedido por Stiles e Jackson e morto, de uma vez por todas, por Derek.

– Eu não relaxaria ainda. - Stiles deu um pulo na cama e lançou um olhar irritado para a mulher sentada na mesa do computador.

– Pelo amor de d... - ela arqueou uma sobrancelha para ele. - Esqueça. O que faz aqui?

– Vim lhe dar os parabéns pelo trabalho bem feito.

– Obrigado.

– E avisá-lo que ainda não acabou. - Stiles queria gritar. Depois de tudo pelo que ele passou, estava merecendo um descanso. E agora a mulher dizia que ainda não tinha acabado? O Oráculo não havia lhe avisado que esta missão seria por tempo indeterminado.

– Agora você é o mensageiro? Estão trocando os postos lá em cima? - ela apenas sorriu em resposta a provocação dele. O típico sorriso sabe tudo e Stiles grunhiu. - O que vai acontecer agora?

Ele estava cansado. Por semanas estava vivendo sob pura adrenalina e mentira. Claro que se ele tivesse dito a verdade sobre as mortes ao seu pai, o xerife teria acreditado, mas Stiles não queria colocar o pai nessa bagunça, não quando isto poderia terminar com a morte dele. Por isso mentiu, a cada segundo, e estava cansado disto. E agora ela lhe aparecia do nada para dizer que ainda não tinha terminado? Maldita fosse a sua vida.

– Não posso te dizer ainda. - falou, descendo da mesa do computador em um pulo. - Mas a sua tia gostaria de agradecê-lo por ter ajudado um dos filhos dela. - Stiles franziu as sobrancelhas. Que filho? Pois não conhecia ninguém em Beacon Hills que fosse como ele. - Derek Hale. - mentira?! O lobo rabugento era um primo distante? Bem, ao menos ele havia dito a verdade para Danny, mesmo que na época não soubesse.

– De quem ele é filho? - sua mãe sorriu novamente aquele irritante sorriso sabe tudo.

– Artemis. - Stiles arregalou os olhos.

– Como é que é? - e ela apenas gargalhou diante da reação dele.

– Não dessa maneira. De acordo com as lendas, as lendas humanas, lobisomens era chamados de “filhos da lua”. E é verdade, em partes, Artemis não teve um caso com alguém e violou os seus votos de castidade como você está pensando. - droga, ela o conhecia bem. - A licantropia na verdade foi um presente dado por Artemis a um de seus mais devotos seguidores e que era um ancestral dos Hale. Eles foram os primeiros lobisomens deste planeta. Depois disto ela abençoou outros. - então foi por isso que Derek disse que a mordida era uma dádiva.

– Por que ela deu a eles esta maldição?

– História longa que eu não terei tempo de contar agora. Na verdade, por que você não pergunta ao seu amigo? - ela fez um meneio de cabeça na direção da janela por onde, adivinhem, Derek Hale estava terminando de entrar.

A respiração de Stiles ficou presa na garganta enquanto milhares de perguntas pululavam em sua mente. Será que Derek tinha ouvido a conversa? E se sim, o que ele ouviu? E por que ele estava olhando para a sua mãe biológica com aquela cara de poucos amigos? Por que ele estava rosnando? E por que diabos ela respondia a propensa ameaça de Derek cortar-lhe a garganta com o seu usual sorriso irritante? E sim, Stiles sabia que seria impossível para Derek chegar perto o suficiente para causar um estrago que fosse na mulher, mas ele era famoso por suas tendências dramáticas.

– Bem, melhor eu ir. Vejo você em breve querido. - ela nem ao menos deu um aviso que fosse de que estava prestes a desaparecer, mas Stiles estava acostumado o suficiente com as indas e vindas dela para gritar para Derek:

– Feche os olhos! - o que miraculosamente ele o fez.

Talvez tenha sido o instinto que tenha lhe dito que seria uma boa ideia ouvir Stiles naquele momento, ou talvez tivesse sido o brilho que rodeou o corpo dela antes dela partir que foi um indicio de que não seria sábio olhar diretamente para o mesmo. Então, como sempre, Stiles virou a cabeça e sentiu a nuca esquentar devido ao resquício de calor deixado pela partida de sua mãe biológica.

– Stiles! - e então, quando as sombras causadas pelo desaparecimento de sua mãe sumiram, veio o rosnado familiar de Derek. - O que diabos foi aquilo? Quem era ela?

– Bem... Derek, você acabou de conhecer a minha mãe biológica. - os olhos de Derek brilharam em um tom avermelhado por um segundo. Algo que, desde que se tornou o alfa, Stiles passou a reconhecer como um sinal de que Hale estava irritado, puto da vida ou frustrado.

– Sua mãe biológica. - havia um tom incrédulo na voz do lobisomem, como sempre, pois cada vez que Stiles fazia ou dizia alguma coisa inteligente Derek olhava para ele com aquela expressão descrente e lhe falava no mesmo tom. E claro que ele pensaria o mesmo da mãe “fodástica” que ele tinha. - Que acabou de desaparecer em um flash de luz.

– E... sobre isto.. - ele sorriu sem graça para o homem mais velho. - Me diz Derek, o que você sabe sobre mitologia grega? - sua única resposta foi o arquear da sobrancelha de Derek que parecia ter vida própria no rosto dele.

– Mitologia grega? - Stiles sorriu. Um grande sorriu traquinas. Um que Derek não gostou nem um pouco. Conhecia Stiles apenas há alguns meses, mas era tempo o suficiente para saber que quando o adolescente sorria daquele jeito era porque ele estava prestes a nocauteá-lo com alguma informação que deixaria Derek abobalhado.

– Sente aqui lobo rabugento. - Stiles deu tapinhas no espaço vago ao seu lado na cama. - E deixe-me contar sobre Atena, a Deusa da Sabedoria, e em como ela gosta de seduzir homens inocentes com o seu belo sorriso e assim ter vários bebês superinteligentes com eles.


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Notas finais do capítulo

Esta fic é uma série com vários one-shots que irei postando aos poucos.

OBS: Eu sei que originalmente, na mitologia grega, Zeus foi o responsável pela maldição do lobisomem ao punir Lycaon por servir-lhe carne humana no jantar como um teste sobre o deus. Mas, por alguma razão que eu não sei explicar, sempre achei que o mito do lobisomem estaria mais associado a Ártemis, já que ela é a "lua" e esta é de grande influência sobre os lobisomens. Uma teoria louca que eu tenho que resolvi aplicar nesta história mais louca ainda.