Rosas Azuis escrita por pepperhair


Capítulo 1
Annie La Roux




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… ill me parle tout bas, je vois la vie en rose…

Cantava, deitada na cama de seu quarto pequeno, Annie La Roux.
Annie, com o rosto triste, mas sem chorar, pensava e ponderava no que tinha acontecido.
Havia matado sua mãe.
Não era porque tinha vontade de matá-la, nem ódio pela mesma. Foi um acidente.
Tinha ido tomar café aquela manhã e sua mãe, doce como mel, bela como uma margarida, fazia panquecas na frigideira. Sorria, um sorriso branco, bonito. Annie invejava seu cabelo ruivo. Essa tinha o cabelo curtinho, que pintava de azul claro. Tudo ocorria bem, as duas combinavam de sair, Annie com sua flauta na mão. Então, chegou seu pai.
Sim, seu pai, ou em outras palavras, aquele bêbado inútil machista, homofóbico e preconceituoso. Batia na mãe de Annie quando estava intoxicado, o que era normal, e castigava, algumas vezes fisicamente, a garota de cabelo azul. Doía no coração da menina ver isso, mais a violência na mãe do que nela mesma. Uma vez, depois que o pai bateu tão forte na mãe que essa caiu no chão, Annie seguiu os dois para o quarto, e pela fresta da porta, viu, iluminada pela luz do abajur, sua mãe chorando leve e silenciosamente.
Antes de contar de fato o que aconteceu, Annie era música. Cantava e tocava mil instrumentos: o violino, o violão, o violoncelo, a lira, a harpa e o baixo, dentre outros. Mas entre todos os instrumentos que tocava, seu favorito era a flauta transversa. Tocava com maestria, e havia adaptado todas as músicas, sejam velhas ou novas, a esse instrumento. Mas por fazer isso, toda música havia parecido cansativa para ela.
Um dia, Annie resolveu tentar e escrever uma música. E depois de ponderar, criou um pequeno versinho. Ensaiou-o na janela do quarto, que dava para um bosque escuro. Quando começou, um corvo, negro como o próprio medo, passava voando. Seus dedos dedilharam a flauta, e a música começou. Conforme ela acontecia, o corvo voava mais devagar, e na metade do voo, sua cauda começou a se transformar em ouro, um pó. Assustada, Annie continuou. Nem chegou a terminar o verso, o corvo não existia mais.
Não ficou por aí; a garota criou novas músicas à partir dessa. Todas com efeitos diferentes. A primeira melodia, que transformou o corvo em ouro, ficou conhecida (apenas para Annie) como a Melodia Primordial. Dessa, vieram as melodias Agulha, Relógio, Bomba e outras. Só testava em animais, nunca em pessoas.
Isso até o dia da morte de sua mãe.
Voltando ao acontecimento fatídico, Annie estava na mesa do café, polindo com um guardanapo sua flauta prateada quando seu pai chegou, bêbado. Ele era assim mesmo, se a cerveja tivesse seios e uma vagina, a mãe de Annie estaria solteira a tempos. Xingou a mãe da garota, dizendo que era uma inútil não sabia cozinhar e que havia gerado uma inútil maior ainda. Bateu na mãe e esta caiu no chão. A frigideira que tinha usado caiu em sua mão, queimando-a. O pai bateu com ainda mais força. Annie gritou que parasse, e o pai continuou a bater na mãe, mandando a filha, ou como descreveu-a “vagabunda de cabelo azul”; calar a boca. Ia socando a mãe, e Annie não aguentou. “Basta”, ela pensava, “Cansei, e ela também. A muito tempo”.
Sacou a flauta e tocou a Melodia Primordial.
O punho do pai, a centímetros de distância do rosto da mãe, começou a virar o pó dourado e em menos de segundos, o homem que gritava virou uma pilha de pó de ouro. Annie achava que tudo estava resolvido, mas virou os olhos ao rosto da mãe.
Viu seu rosto branquinho, sorrindo com lágrimas nos olhos, se dissolver em ouro. Ela mimicou com a boca.
“Obrigada”.
Annie, observando o pó em sua cozinha, sentiu uma dor no peito. Sua mãe atava morta. Ela não chorou. Claro, estava triste, sem a menor dúvida. Mas sentia que tinha feito uma boa ação. Sentia que tinha libertado a mãe de Alcatraz… ou melhor, do inferno terrestre. Foi ao quarto. Colocou La Vie en Rose de Edith Piaf para tocar. Deitou-se na cama, cantarolando. Fechou os olhos. Uma lágrima desceu pelo seu rosto, e ela caiu no sono. Acordou com uma batida violenta na porta.
– Abram-na! Abram a PORRA da porta!


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Notas finais do capítulo

Sim.. Eu assisti Azul é a Cor Mais Quente e me apaixonei por cabelos azuis. Annie é inspirada na Emma (Léa Seydoux).



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