Polly escrita por Tassi Turna


Capítulo 9
Emboscada


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora! Andei um pouco ocupada e agora que voltei a estudar terei menos tempo para escrever. Mas aqui está o capítulo, um pouco resumido, mas aqui está.
Espero que gostem! Muito obrigada por estarem lendo e boa leitura!



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Apesar do cansaço naquela noite não preguei os olhos. O sono não me visitou, embora eu levantasse de minuto a minuto, pensando estar na companhia de alguém. Pensava em levantar para beber um pouco de água, mas temia encontrar Marcus me esperando na cozinha.

Naquela noite fiquei acordada com a porta do quarto trancada e janelas fechadas. Tinha o celular que Amanda me dera em minhas mãos desligado. Mas não sabia por onde começar. Imagino o quanto Rachel deve ter ficado feliz com a nova informação, e eu não poderia desapontá-la. Estava na hora de começar a trabalhar.

No entanto, no mesmo instante em que penso em me levantar escuto alguém tentar abrir a porta do meu quarto. Sinto meu coração congelar e solto um grito de pavor impensável. O único pensamento é que Marcus me encontrou.

Rapidamente abro a gaveta à procura da minha arma e pergunto mirando-a em direção a porta.

– Quem está aí?

– Polly? Por que está com a porta trancada? Sou eu, Rachel.

Num suspiro de alívio desabo os braços que seguram a arma e abro a porta. Rachel está bem melhor do que a última vez que nos vimos. Está mais viva. Mas do jeito que ela me olha eu não devo estar do mesmo jeito. Vejo que seus grandes olhos assustados migram do meu rosto para a arma na minha mão.

– Eu fiquei assustada. – Digo escondendo a arma.

– Você não atende minhas ligações, então eu vim.

Às vezes eu me arrependia de ter dado a minha chave para todas elas. Rachel mais do que todas não sabia que privacidade é algo crucial para mim, e a chave só poderia ser usada para casos sérios.

– Eu estou nas nuvens ultimamente, Rachel.

– Então elas não te fizeram nenhum bem. Desculpe a franqueza, mas você está horrível.

Eu não poderia discordar dela. Olho para o espelho. Estou com a mesma blusa xadrez de ontem, e parece que levei dois socos em cada olho. Prefiro não comentar o emaranhado do meu cabelo.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Rachel invadiu o meu quarto e deitou na minha cama.

– Agora você tem algumas coisas para me contar, não acha? – Ela diz, num tom demasiadamente infantil, como se perguntasse sobre algum interesse romântico.

Lentamente guardo a arma na gaveta do criado-mudo. Rachel encara a arma com medo, mas logo volta seus olhos curiosos para mim.

– Uma tal de Amanda me procurou com isso. – Aponto para o celular.

Rachel encara o aparelho sem entender nada.

– Isso não te lembra nada? – Eu perguntei.

Rachel negou com a cabeça.

– Quem é essa Amanda? Ela é confiável?

– Acredito que sim. Ela parecia bastante abalada quando nos vimos. – Digo sem muita certeza.

– E como ela conseguiu pistas sobre... você sabe quem.

Eu pego o celular e sento ao lado dela.

– A história de Amanda é igual a sua. O mesmo jeito, os mesmos lugares, e o mesmo cara, eu tenho certeza. Mas ela se lembra de muita coisa. Não se lembra do rosto do cara, mas dessa vez, ele foi mais desleixado. Ele deixou um celular.

– Não acredito! Até parece que ele queria que o encontrasse.

–É inacreditável mesmo.

– Mas então, o que você descobriu com o celular?

Tive vergonha ao admitir que nem mesmo havia ligado o aparelho. Rachel não parecia entender os motivos, mas teve vergonha de dizer que eu estava perdendo um tempo precioso.

– Eu já te perguntei isso uma vez e volto a perguntar. O que está acontecendo, Polly?

Tive vontade de contar sobre o medo da volta de Marcus. Contar sobre a caixa de biscoitos. Mas não consegui. Não poderia deixá-la ainda mais preocupada.

– Acho que terei de parar com isso. – Digo o que é meio verdade.

Rachel parece triste, mas ao mesmo tempo compreensiva.

– Eu entendo.

Rachel não gostava da ideia de me arriscar correndo atrás de estupradores, do mesmo jeito que não gostava da ideia deles circulando nas ruas. Mas tinha medo de que eu não conseguisse encontrá-lo. E então ela teria mais medo ainda de andar pelas ruas.

– Mas antes eu vou atrás desse cara, Rachel. Não se preocupe. – Digo, abraçando-a.

– Não precisa fazer isso se não quiser, Polly. Por favor, tenha cuidado.

Agora é tarde. É o que eu penso, mas não digo.

***

Assim que Rachel finalmente sai do meu apartamento decido colocar meu plano em prática. Ligo para o serviço avisando que estou doente e que iria ao médico. Encaro o celular dele mais uma vez antes de ligar.

O celular não parece ser muito usado. Não há fotos, não há mensagens. Nada que indique alguma coisa do seu dono. Vou para o histórico de ligações e há apenas cinco ligações feitas por ele. Todas do mesmo número. Sem hesitar ligo novamente para esse número. Não espero muito tempo, pois uma mulher com voz de anciã logo atende.

– Olá Humberto! Então decidiu ficar mesmo com o chalé?

Permaneço um tempo em silêncio, pensando em que responder.

– Olá... Aqui é a sobrinha dele. Meu nome é Lola. Ele pediu para que eu resolvesse a compra do chalé.

– Olá, Lola. Eu sou a Janine. Humberto nunca me falou que tinha uma sobrinha. – Ela parecia desconfiada.

– Não? Mas que estranho. Somos muito próximos. – Esforço-me ao máximo para parecer convencível.

– É bem estranho mesmo. Mas então, ele vai ficar com o chalé ou não?

Chalé? Não entendo nada mas decido continuar atuando.

– Eu gostaria de conhecer esse chalé primeiro. Seria possível?

– Mas é claro que sim, minha filha! Deixa eu te passar o endereço.

Atentamente ouvi e anotei o endereço que a velha senhora me passava. Ele ficava bem afastado, e eu teria que sair da cidade.

– Aguardo ansiosamente a sua visita. – Disse a senhora simpática.

– Eu não vou demorar. Até logo!

– Até logo, minha filha.

Eu poderia descobrir o verdadeiro endereço do falso Humberto. Poderia ter várias pistas sobre ele no chalé, ou mesmo com a velha senhora. Pelo visto ela gostava de falar. Mas eu poderia encontrar nada também. Ou poderia encontrá-lo a minha espera.

Nunca na minha vida ansiei por um encontro desses. Já estava na hora disso acabar.

***

­– Rachel, preciso do seu carro. –Digo assim que eu entro na casa dela.

– Meu carro? Como assim? Para quê?

– Para ir atrás do falso Humberto. – Digo sem rodeios.

Rachel não parece muito contente com a ideia. Não sei se está mais preocupada comigo ou com seu carro, mas mesmo assim me entrega a chave.

– Tome cuidado. Quero você e o meu carro ilesos aqui o mais rápido possível.

– Pode deixar. Sem um arranhão. – Digo rindo, mas o rosto de Rachel continua sério.

– Aonde você vai dessa vez, hein?

– Vou visitar um chalé.

Rachel estava confusa com tudo aquilo.

– Um chalé? Sozinha?

Concordo em silêncio. Rachel irá detestar essa ideia, mas eu não posso fugir.

– Por favor, tome cuidado. E eu quero o endereço desse chalé.

Rachel parecia uma mãe falando daquele jeito. Por isso digo o endereço para que ela não fique preocupada. Ela me olha de um jeito conhecido e já sei o que vem por aí. Ela me abraça bem demorado, como que a me fazer demorar.

***

Dirijo por horas, o que se torna bem relaxante com o tempo. Apenas eu, a estrada e Pearl Jam tocando no rádio. Por isso nem ao menos percebo quando chego perto do meu destino. A densa mata verde e sombria quase esconde a placa com o nome da propriedade. Desço do carro e espero pela velha senhora.

Não demoro muito a avistar um velho fusca rosa se aproximando de mim. Janine é ainda mais velha do que eu imaginava. Seus cabelos são mais brancos que algodão, como se um alvejante tivesse caído acidentalmente neles. Mas traz no rosto um sorrido tão gentil que encobre todas as rugas, e as roupas alegres e longas escondem seus problemas de velhice.

– Você vai adorar o chalé, querida! – Ela diz me abraçando.

Sigo-a até o caminho feito de pedras, e realmente tenho a intenção de ficar por ali mesmo. A propriedade era ainda mais linda vista de perto. Havia um grande lago com patinhos graciosos logo na entrada. Árvores e mais árvores de várias frutas. Roseiras, margaridas e lírios funcionavam como uma moldura para o chalé.

O chalé fazia jus ao cenário ao seu redor. Todo feito em madeira e todo enfeitado por plantas. Na varanda repousava esticada uma rede branca, que chamava para uma soneca.

– Lindo... – Deixo um comentário escapar, ainda absorta com aquela paisagem.

– E olha que você ainda nem viu como é por dentro! – Ela disse, abrindo a porta com dificuldade.

O chalé conseguia ser ainda mais lindo por dentro. Era pequeno, mas aconchegante. Duas poltronas brancas estavam viradas para uma lareira. Uma televisão enorme bem acima dela, e um aparelho de som ao lado. Havia uma pequena adega de vinhos. Uma pequena cozinha ficava mais adiante. Um corredor parecia levar até o quarto. Olhei para as poltronas de novo, e um notebook descansava ali.

– Humberto adora esse lugar. Ele o aluga e fica alguns meses. Tenho certeza que ele vai ficar com o chalé. – Janine diz, olhando orgulhosa ao redor.

– Esse notebook é dele, não é? – Pergunto sem esconder a curiosidade. Um misto de informações sobre o tal cara deve estar ali.

– É sim. E eu entendo que o vício dessa geração é a tecnologia, mas ele não gosta que mecham nas coisas dele. Você deve saber como é.

– E como sei. – Minto, como se eu o conhecesse há anos.

– Olha, eu adoraria continuar aqui conversando com a senhorita. Mas tenho que resolver algumas coisas.

– Posso ficar aqui?

A velha parece hesitante.

– Pode. Eu volto logo e então resolvemos se ele irá ficar ou não.

– Entendido. – Digo e me despeço da velha.

Observo-a abandonar a propriedade da janela, e somente quando a perco de vista eu me viro para o notebook. O pego como se fosse um pedaço de carne e descubro um grande envelope laranja. Decido investigá-lo enquanto o notebook liga. Ao que parece é um dossiê. Mas não apenas um dossiê.

Um dossiê sobre mim.

Assustada encaro o fato de que fui observada por um mês inteiro. Há varias fotos minhas em vários lugares. Há uma foto da minha cicatriz no pulso. Fotos minhas com o meu grupo. Todas reunidas falando sobre os estupros. E sobre os meus crimes. Fotos antigas. Há até mesmo uma foto minha com Ian e Nina. Vários documentos sobre a minha antiga escola, faculdade, meu atual emprego. Minhas matérias. Há uma foto minha e de Amanda no dia em que nos conhecemos. E por fim uma antiga foto de 2004 no meu antigo colégio, ao lado de todas as minhas colegas. E Marcus está no meio delas.

Deixo o papel cair das minhas mãos paralisadas pelo medo. Estou chorando, mas não consigo pensar nisso. Estou em choque. A única coisa que sinto é terror. Uma ideia repete incessantemente na minha mente.

Marcus está aqui. Marcus me encontrou. Marcus me encontrou e eu não estava preparada.

Mas quando consigo respirar e olhar atrás das lágrimas reconheço o rosto do plano de fundo do notebook. E ele não se parece em nada com Marcus.

É Albert que está me observando.

Não consigo gritar nem ao menos olhar para os lados, pois sou atingida em cheio na cabeça e de repente não vejo mais nada a não ser a completa escuridão.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Deixem os seus comentários aqui. A opinião de vocês é muito importante para mim! *--*



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