Polly escrita por Tassi Turna


Capítulo 2
Polly quer um biscoito


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por estarem lendo! Os comentários e os pedidos pelo próximo capítulo me deixaram muitíssimo feliz! Vocês nem fazem ideia do quanto! Sobre esse capítulo, vou logo dizendo que está muito tenso. Espero de verdade que gostem!
Boa leitura, e não esqueçam de comentar!



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“O que eu tenho a oferecer?”

Esta pergunta se instalou em minha mente feito um hóspede indesejado. Mudou-se para o apartamento do meu cérebro desde que eu tomei a decisão de agir. Já me deparei com questões muito mais complexas que essa em vários exames, porém nada parece mais difícil do que isso.

“O que eu tenho a oferecer?” “O que ela quer?”

Estou quase chegando à sala quando volto às mesmas opções. Eu poderia oferecer a maior nota da sala, se isso já não a pertencesse. Eu poderia oferecer um celular. Sim! Não é apenas para isso que os jovens vivem hoje em dia? Bem lembrado. A maioria dos jovens. Polly estava satisfeita com o seu, e não se deixava contaminar pelo vício tecnológico. Eu poderia também oferecer roupas, o que seria bastante irônico, pois a quero sem. Eu poderia oferecer livros! Sim! Não há nada no mundo que ela ame mais. A parte mais bela da minha casa é a impecável biblioteca, onde poderia muito bem mantê-la presa. Seria uma isca e tanto.

Mas como fazer essa oferta sem assustá-la? E se ela negasse, ou pior, me denunciasse? Eu poderia até ser preso, embora seja difícil de acreditar que com todo o dinheiro que herdei eu ficaria na cadeia por muito tempo. E mesmo que tivesse minha liberdade de volta, jamais voltaria a dar aulas. Jamais a veria. A menos que...

A menos que ela aceitasse por vontade própria. Sem subornos sem nada. Ah... aquele momento em que temos que ridicularizar e rir de nós mesmos. Ela nunca aceitaria. Terei de pegá-la, e obrigar. Controlá-la.

Controlo minha expressão de êxtase quando entro de novo na sala, onde Polly está no mesmo lugar, pronta para me torturar.

– Bom dia turma. –Eu saúdo normalmente.

– Bom dia. – Elas me retornam com um tom de voz típico de uma segunda-feira.

– Abram o livro de história na página 57. Vamos dar início à matéria nova.

A matéria é sobre as Cruzadas. Leio o capítulo e dou aula para meia dúzia de interessadas até que a aula chega ao fim, sem muito entusiasmo. Um típico dia normal de aula. Quem iria suspeitar de algo hoje?

Polly está espiando o mundo pela janela com curiosidade, e é quando espio através da janela dos seus olhos o que ela mais deseja. Infelizmente é exatamente o oposto que eu posso oferecer: liberdade.

Algumas garotas murmuram algo para ela sobre a viagem antes de saírem, mas Polly continua dentro de sala organizando seus materiais para a próxima aula. Seu semblante está apagado, e a minha curiosidade se torna maior que a minha timidez.

– Algum problema, Polly?

A minha pergunta a pega de surpresa. É de se imaginar que após o nosso “encontro” no corredor dos dormitórios ela me ache um estranho. Com certeza está receosa ao meu respeito. E deveria mesmo, Polly, deveria mesmo.

– Nada demais. – Ela sorri disfarçadamente.

– Talvez eu possa ajudar. – Insisto, agora sentando na cadeira ao lado dela.

– Duvido muito. –Diz ela como se tal problema fosse o pior do mundo.

– Experimente. Eu posso te surpreender. – Eu disse, sorrindo e orgulhoso de mim mesmo.

Depois de alguns segundos ela finalmente se dá por vencida, e decide compartilhar comigo seu “dilema”.

– Não conte para minhas amigas, mas acho que não vou à viagem.

Então esse era o grande dilema. Imagine quão grandiosa seria a tragédia se as outras gurias suspeitassem de tamanha injustiça. Patético.

– E por que não vai? – Pergunto, fingindo ouvir a maior indignação.

– São os meus pais. Eles ainda não assinaram a autorização, e eu nem tenho receita de doce nenhum.

Ela parece estar muito chateada. E posso até achar o motivo patético, mas percebo que vai muito além. Polly ama viajar, embora quase nunca tenha a chance. Ela gosta de respirar novos ares, experimentar coisas novas. Tudo que é diferente e desconhecido atrai a sua curiosidade. É por isso que seus olhos brilham com as histórias de grandes viajantes e descobridores históricos. É por isso que ela está sempre lendo, principalmente livros do Júlio Verne. E essa talvez seja a sua única chance de viajar durante muito tempo.

Decido ajudá-la, mas não finja que meus interesses são nobres. Sou um miserável e reconheço isso.

– Eu posso falar com os seus pais. Eu sou bom em enrolar as pessoas. Além disso, não há perigo nenhum. Já o doce... bom. Já tentou alguma receita na internet? ­–Eu sugiro.

– Já... mas de que adianta se eu não sei cozinhar? – Ela suspira desapontada consigo mesma, apoiando o rosto nas mãos.

E no meio desta cena deprimente sou assombrado por bons fantasmas da memória. Memórias tão raras como a bondade. Momentos bons da minha infância.

Minha excêntrica avó Lola preferia os palcos do teatro aos azulejos da cozinha. No entanto, quando meu pai estava tão bêbado a ponto dela ter que me salvar, ela voltava à cozinha. E preparava maravilhas, mas nada se comparava aos seus biscoitos. A massa mais macia que o seu colo. Pedaços de chocolate que derretiam na boca. Um gosto inesquecível, esse gosto de infância. Ainda consigo lembrar dela cantarolando e me ensinando a cozinhar, enquanto eu a fazia jurar que deixaria a receita para mim como herança.

Algum tempo passou, e a morte conseguiu apagar o brilho jovial dela. Porém ela manteve sua promessa. Deixou a receita como parte de minha herança, além da bela mansão e outros bens materiais.

Nunca pensei que usaria a receita até aquele momento.

– Eu posso te ajudar! – Lancei a isca.

– Como? – Ela mordeu a isca.

– Eu tenho a receita dos biscoitos da minha avó, e são as melhores coisas que sua língua provará. Talvez, depois de todas as aulas, eu posso te levar a minha casa e lhe ensinar. – Começo a puxar a pesca do dia.

– Não acho uma boa ideia, professor. Não posso sair da escola sem autorização.

– Que isso... não vamos demorar. Os biscoitos ficam prontos em trinta minutos. Aliás, eu sou o seu professor. Confie em mim, isso não te trará problemas.

Minha capacidade de persuasão às vezes me assombra. Polly ainda está em dúvida, mas sinto que ela confia em mim. Seu único medo é burlar as regras da escola.

– Tudo bem. Mas não podemos demorar. Encontramo-nos no estacionamento. – Ela diz, levantando contente ao encontro de suas amigas. Antes, para na porta, vira-se para mim e sorri. –Obrigada, professor. – E depois sai.

Sorriso maior e nem mais doentio ganha do meu nesse momento. Recordo do meu dilema no início da manhã. “O que eu tenho a oferecer?”. De todas as ofertas, nunca pensei que a teria com biscoitos.

***

Nunca uma manhã demorou tanto para acabar. Concentrei-me para não parecer suspeito, mas minha distração e meu suor frio me condenavam. Ao mesmo tempo que eu imaginava tê-la em meus braços, eu imaginava a tragédia que me ocorreria se descobrissem minhas reais intenções.

Mas ela aceitou por vontade própria. Eu não a obriguei a nada. Ainda.

Depois do que me pareceu um século de tortura, o sinal finalmente soou. Mais que depressa eu corri para o estacionamento onde minha doce Polly deveria estar me esperando.

No entanto, eu não poderia contar com um obstáculo.

– Professor Marcus! – Edith me fisgou antes que eu pudesse fugir.

– Olá... – Respondi sem graça.

– Eu te procurei por toda a parte. Está tudo bem?

– Está tudo ótimo. Melhor impossível.

– Se assim diz. Mas parecia tão tenso... É algum problema de saúde?

– Minha saúde está ótima. Obrigado por se preocupar, mas eu estou com muita pressa e preciso ir.

Abandonei-a na saída sem dar qualquer satisfação. A verdade é que já perdi toda a paciência para com Edith e sua carência.

Olhei para o vazio estacionamento à procura do que realmente importa. Quase dei meia-volta ao constatar que estava sozinho, porém lá estava os cachinhos dourados a minha espera.

– Demorei muito? – Perguntei, atraindo sua atenção espantada.

Ela fez que não com a cabeça.

– Tudo bem. Mil perdões mesmo assim. Agora vamos, vamos fazer biscoitos para Polly. – Eu disse, abrindo para ela a porta do carro.

Antes de entrar no carro corri meus olhos pelo estacionamento, e por um milésimo de segundo tive a impressão de que Edith nos vigiava. Isso poderia ser ruim, muito ruim. Mas eu não tinha mais tempo, e sair a sua procura para me explicar só traria mais suspeitas. Então apenas entrei no carro, e dirigi sem me preocupar com as consequências.

***

– Então essa é a sua casa? Ela é enorme!

Polly observava a mansão com o rosto para fora do carro. O vento tornava os seus cachos indomáveis, que chicoteavam o seu rosto. Ela parecia estar maravilhada.

– Eu não consigo entender... – Ela murmurou confusa.

– O que você não entende?

– Meus pais... eles sempre dizem que professor não ganha dinheiro. Chegaram a me proibir de pensar em ser professora. O que eu acho uma pena, pois ser professor é a profissão mais gratificante que existe. Mas o senhor... Quer dizer, olha essa casa! O senhor deve ter muito dinheiro.

–Nunca pensei que diria isso, mas seus pais têm razão. Professores não ganham muito. Tudo isso aqui eu ganhei de herança. – Eu lhe expliquei.

– Ah...

Parei o carro.

– Vamos entrar. – Ordenei.

A julgar pela expressão extasiada em seu rosto, o interior da casa agradou-lhe tanto quanto a fachada. Era de fato uma casa muito bonita, mesmo não conseguindo associá-la a minha avó. As cores fechadas e a idosa mobília não combinavam com seu espírito alegre e jovial. Apenas os quadros coloridos mantinham a alegria que se foi junto com ela.

– É tão linda. –Polly exclamou, acariciando o grande sofá verde-irlandês.

E como se os livros gritassem por ela pedindo para sair da prateleira, ela foi ao encontro deles. Ela perdeu o fôlego ao entrar na minha biblioteca.

– Este é o meu cômodo favorito. – Eu disse indo ao seu encontro. – Sabe, você devia voltar aqui mais vezes, mas agora creio que temos trabalho a fazer, não é?

E como se tivesse acordado de um grande sonho ela respondeu:

– Tem razão. Vamos lá!

Levei-a até o amplo espaço da cozinha. Por sorte, a empregada resolveu não aparecer hoje. Sempre eficiente. Parece prever o que eu desejo. Eu precisava mesmo ficar sozinho com Polly.

– Sente-se enquanto eu separo os ingredientes. – Ordenei, apontando para a bancada.

– Não deveria estar com a receita? – Ela perguntou enquanto eu tentava equilibrar todos os ingredientes, feito um artista de circo.

– Não, eu sei a receita de cor. – Respondi tranquilizando-a.

Depois de todos os ingredientes separados iniciei minha simples aula de culinária. Expliquei os devidos passos com a mesma paciência de minha avó, e Polly ouviu com a mesma atenção que usa nas aulas. E quanto enfim os biscoitos estavam prontos para ir ao forno, me dei conta de que definitivamente cozinhar não era uma de suas qualidades.

– Daqui a meia hora eles já devem estar prontos. – Eu disse, colocando a forma no forno.

– Ótimo! Então temos meia hora livre. O que vamos fazer?

Eu tenho uma ótima sugestão.

– Vamos ao meu quarto. A receita está lá. – Eu sugeri.

Pollyana parecia receosa, mas acabou por ceder. Para minha suja alegria.

***

Subimos para o meu quarto, que vergonhosamente estava todo desarrumado. Roupas espalhadas, provas e trabalhos esperando para serem avaliados, livros e CDs à deriva no chão...

– Não sabia que acampava. – Ela apontou para a mochila jogada no chão. Uma corda e um maçarico saíam dela. Não acredito que isso ainda está aí!

– É... costumo acampar, sozinho. Sente-se, eu vou procurar a receita.

Fui diretamente à pequena caixa verde onde eu guardava minhas lembranças quase felizes. Lá no fundo repousava esquecida a receita.

– “Lolita”. – Pollyana exclamou, folheando meu livro de cabeceira.

Impulsivamente me levantei e tirei o livro de suas mãos. Ela não podia compreender minha ligação com o clássico de Vladmir. Muito menos chegar a conclusão de que ela era a minha Lolita.

– Sempre ouvi falar desse livro, mas nunca me deixaram ler.

– Não é mesmo um livro apropriado para gurias da sua idade.

– E por que não? A personagem principal tem a minha idade, não é?

Acabei por aumentar sua curiosidade. Incrível como algumas coisas se tornam mais interessantes quando são proibidas.

– Aqui está a receita. – Optei por mudar o assunto, entregando-lhe o velho papel. –E pode ficar tranquila, eu conversarei com seus pais. Eu sou bastante convincente quando quero.

Ela correu os olhos na receita e depois para mim, e então fez algo que eu nunca poderia imaginar. Ela me abraçou.

– Muito obrigada, Marcus. Eu nem sei como agradecer. Se eu puder fazer alguma coisa em troca, pode me dizer.

Ouvi-la se oferecendo daquele jeito me fez atingir o limite do meu autocontrole. Eu consegui o que queria. Eu tinha Polly, a minha Lolita, em meus braços. E agora ela lutava para se separar do abraço, mas era em vão. Eu a controlava agora.

– Na verdade, tem algo que você pode fazer por mim.

Sem me controlar mais, deslizei minha mão para suas pernas debaixo da saia xadrez. Até então já havia eu abusado de sua inocência, pois logo ela entendeu o que eu pretendia.

– Acho que você entendeu errado. ­ ­– Ela se esquivou, os cachos escondendo um rosto queimando de vergonha.

Mas eu não estava disposto a parar.

– Tudo bem, ninguém precisa saber. Garanto que você vai gostar.

– Não, eu não quero! Eu tenho que ir... Eu vou embora agora!

Mal ela se levantou, e eu a puxei de volta para mim. Dessa vez domei a fera que começava a se debater, e arranquei-lhe um beijo grotesco.

– Não há para onde fugir. Você é minha agora.

Sussurrei aquelas palavras em seu ouvido, ao mesmo tempo em que amarrava seus braços na cabeceira da cama com a corda que até então jazia no chão.

– Socorro! Alguém me ajude! – Polly bradou com todo o seu desespero.

Em resposta a sacudi forte, e tratei rapidamente de fechar sua boca, transformando qualquer pedido de socorro num gemido indecifrável.

–Ninguém vai te ouvir agora.

Então essa era sensação de realizar um sonho. Não conseguia acreditar. Polly estava sob meu controle. Ela era minha finalmente.

Sem perder tempo despi-a violentamente, causando estragos em seu uniforme. Despi-me com a mesma rapidez, causando-lhe uma expressão de terror. Com urgência busquei o seu pequeno corpo. E a sensação que me revigorou tornou-se mais forte do que eu, até que eu não pude mais segurar e desabei sobre ela.

Agora com o rosto entre seus pequenos seios, só ouvia o bater do seu coração em contraste com seus soluços chorosos e desesperados, que faziam minha cabeça pular.

Foi então que me lembrei dos biscoitos. Sim, ela ainda queria um biscoito. Acho que devo sair de cima dela primeiro.

– Fique calma, Polly. Eu vou lhe trazer uns biscoitos. –Disse, acariciando seu rosto machucado.

Vesti um calção e fui atrás dos biscoitos. Como previra já estavam prontos. Peguei alguns e um copo de leite, e voltei lentamente para o quarto.

Ela não estava mais lá. Com sorte, deveria estar num dos corredores da mansão. Um pedaço da corda estava queimado. Na certa ela livrou uma mão, e não conseguia se livrar da outra. Usou o maçarico para queimá-la. O resto de suas roupas já não estava lá. Em seu lugar jazia uma receita rasgada.

Eu iria atrás dela novamente. Claro, queria isso novamente. Mas lhe daria um tempo para fugir. Para se recuperar.

Uma caçada seria legal para alguns.


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Notas finais do capítulo

Muito tenso, não é? Mas muita coisa ainda está para acontecer e muitas reviravoltas também. Não esqueçam de comentar, e se Deus quiser, até o próximo capítulo!



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