Legado de Semideuses! escrita por Lucas Lyu Santos


Capítulo 26
Reviravolta.




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Alguns de vocês interpretaram a frase “agora a ordem é matar” como se fosse um simples exagero com a situação. Mas acreditem, não é. Depois que o jogo retornou ao seu ápice de loucura, nos quais eu já tinha me acostumado (desde as três horas atrás), o vislumbre do perigo poderia significar a morte. Um exemplo disso foi o encontrarão proposital de Perin em Nwod, ele simplesmente se espatifou no solo com uma voracidade lamentável. Quarenta e nove anões do reino oeste lamentaram a perda do soldado chiando feitos buzinas ensurdecedoras. Os paramédicos nanicos entraram em campo para tentar socorrê-lo.

Aril o mais desequilibrado atingiu o rosto de Lucky com uma tamanha expressão vingativa, isso ficou tão evidente que o juiz marcou falta contra nós. Estávamos cerca de mil e cem pontos contra seiscentos e cinquenta, faltava apenas uma bandeira para conseguirmos abrir uma ampla vantagem e nos preocupar apenas com os gols. Aril não parava de gritar para Frascolli e Martinato que mil pontos de vantagem encerrariam o jogo e que apenas aquela bandeira significaria o final do jogo da morte. Eles assentiam, mandando-o calar a boca.

A última bandeira estava localizada na estrutura baixa da torre secundária. Eu já havia marcado uns cinco gols contra os renegados, mas parecia que nada fazia a torre principal remoer e desabar (meu pai poderia lançar uma pequena parte do sol pra fumegar aquelas pedras velhas até o chão), eu ficaria muito mais aliviado e satisfeito. Mas o sol não vinha, e eu tinha que busca-lo.

Verdinho estava um pouco ofegante, mas suas asas ainda batiam em rapidez e sincronia. Aqueles dragões possuíam uma extrema resistência, e de vez em quanto eles tinham que ao menos tomar uma pequena quantidade de água para que pudessem continuar a briga entre os reinos dos anões. E eu era o responsável para passar pela boca dele uma espécie de mamadeira. O bico do negocio sempre voltava picotado pelos dentes enormes do dragão. Dei graças que aquilo não era a minha cabeça.

Agora que só restava uma bandeira, a torre principal tinha ficado desprotegida completamente. Pois os proteze se acumularam diante da secundária para impedir que nossos “ladrões” conseguissem a proeza de roubar mais uma bandeira, e eles sabiam que mais cedo ou mais tarde, nós o faríamos por conta da absoluta pressão que mantínhamos sobre eles.

A prova disso era as cambalhotas que Lorenna fazia no meio da defesa inimiga e disparava a arma com total força, dificilmente o goleiro deles defendia. A torcida mal tinha tempo de comemorar, pois Thay vinha atrás e confundia os proteze para que Bieringuer também aplicasse uma bola no fundo da janela da torre. Eu definitivamente tinha perdido a contagem do jogo, e, preferi recuar um pouco mais sobre a mira da primeira torre aliada que tinha Aril como proteze.

– Ei, ameba! Pega esse ai que tá vindo. – A voz aguda do anão havia chegado até mim como um eco.

– Tá, tá, tá. – Eu o olhei. – Relaxa ai, estamos ganhando.

Ele protestou em tom de indignação, mas eu preferi nem ao menos entender o que ele queria dizer com as palavras F, D, P.

Verdinho estava com as garras afiadas e os dentes cerrando, eu podia ouvi-lo até sobre suas costas que sua inquietação por sangue estava crescente. Quando a garota mascarada passou por mim (eu soube que era uma garota por que seus cabelos castanhos longos com cheiro de mamão estavam sobre seu ombro e seus braços não paravam de se mover aleatoriamente), eu tinha certeza que conhecia aquela garota, mas não tinha certeza. Aliás, a única certeza que tinha era que não era Giuliana e nem Perin, pois ambas haviam perdido a mascara em uma jogada anterior.

Ela guinou num solavanco rápido e seu dragão começou um rodopio sobre mim que a deixou de cabeça para baixo como uma aeronave descontrolada. Seus cabelos ficaram tão próximos de mim que logo me fez cair a ficha de quem se tratava. Como eu podia ser tão burro?

– Uma fuga. Cinco minutos. Avise os outros. – E ela passou rodopiando por mim com a bazuca em mãos. Aril não parava de me xingar de tudo quanto era nome por ter permitido isso. Mas agora já não importava, ela tinha um plano.

Resolvi avisar primeiro a Thay que estava mais próxima de mim (se você é filha da sorte, fique próxima daqui cinco minutos. Vamos para casa. Avisa os outros). Claro que meus cochichos foram um pouco alto demais, mas dei graças que nenhum dos meus inimigos havia escutado.

– Espero que essa garota não esteja brincando, por que se estiver, vamos tomar naquele lugar bonito.

Assegurei-me em verdinho, os outros semideuses da minha equipe haviam abandonado as suas posições e apenas rondavam a área adversária da segunda torre sem fazer qualquer tentativa de marcar pontos ou roubar a bandeira. E graças a isso, os renegados desferiram uma saraivada de gols contra as nossas torres aliadas, o que causou uma fúria incontrolada por Aril. Olha, se algum dia eu souber que ele tenha morrido de infarto, isso não vai ser surpresa.

– E agora? O que fazemos? Tem certeza que isso é confiável. – Lorenna fazia perguntas sobre perguntas. Pela primeira vez eu a vi tão inquieta. Afinal, ela estava louca pra voltar pro jogo e esmagar mais alguns anões.

– Sim, sim, ela falou “cinco minutos”. – Eu a respondi, todos os dragões anda se mantinham instável no ar.

– E já são!

As palavras da morena foram tão exatas que no segundo seguinte os tubos das “lancerballs” expeliram uma quantidade enorme de cartas de aviãozinho de papel. Soube imediatamente que aquelas cartas eram as que ficavam no jardim do castelo, perdidas e esperando que o tempo de limpeza as levasse para o lixo. Mas, elas estavam ali agora tomando a arena para si, ninguém podia enxergar nada.

– QUE PORCARIA É ESSA? – Egyash apitou inúmeras vezes.. – QUEM TÁ FAZENDO ISSO COM O MEU CAMPO?

A torcida ficou tão brava quanto o juiz. Pois inúmeras cartas caíam neles como se fossem lanças afiadas. O mar de papel estava se tornando incomodo, mas pelo que parecia, a garota mascarada tinha um plano.

Tal que, segundos depois ela passou por nós com algo debaixo da blusa dela que parecia estar vivo. Os olhos castanhos nos miraram facilmente e ela esbravejou por trás da máscara algo que eu entendi como “me sigam”, e seu dragão abriu voou sobre todos em direção da caverna que havíamos usado para chegar ao campo. O que ela planejava? Nos matar?

Eu não tinha certeza se verdinho ou qualquer outro dragão era capaz de acompanhar as inúmeras pedras que estavam no meio do caminho diante daquele lugar escamoso e cheio de morcegos, mas ele se desviava com muita facilidade. E assim que atravessamos a caverna, o castelo da rainha Lira brilhou sobre nossos olhos. Algumas cartas ainda permaneciam perto do zapzum (exatamente no lugar onde não deveriam sair), e, os dragões iam à direção do sugador.

– Não adianta, tem que ter um selo com endereço pra conseguir passar por essa coisa! – Eu gritei para a garota.

– Eu sei! – Ela respondeu, e sua mascara voou sobre a suave brisa de um espirito do vento. – Por isso que durante o jogo eu e o Rô grudamos um selo em cada um de vocês. – Malu falou, sorrindo.

– Esperta, mamões. Esperta. – Thay disse.

– Espera, e a portarius...? – Falou Bieringuer, quando foi interrompido.

Rô foi o último de nós a sair pela caverna, e logo seus gritos de garotinho assustado nos avisou que os renegados estavam em nossa cola. Cara, aqueles filhos de uma boa... Dracanae nunca desistiam?

Eles eram rápidos e os dragões malignos. Giuliana liderava o bando e se aproximava bem rápido em nossa traseira. Se ela nos alcançássemos seria um grande problema. Um problema na qual eu não queria participar. Cody vinha logo atrás dela, e seu semblante havia algo meio diferente, ele não tirava o olho de Giuliana. Eu decidi parar de olhar para trás, e foquei á frente quando o sugador levou Malu, Martinato, Lorenna, Mama, Thay e Bieringuer consigo. Só restou apenas três de nós.

O dragão de Frascolli estava tão cansado que suas asas retardavam o seu próprio avanço. Mas a garota estava sob sua traseira bajulando-o de qualquer forma, oferecendo até mesmo um camaro amarelo para o dragão, se caso ele conseguisse chegar ao final (me perguntei como seria um animal daqueles dirigir um carro), chegava ser tão ridículo quanto engraçado.

Assim que Rodrigo ultrapassou Frascolli, tive certeza que a garota teria longos e grandes problemas com os renegados, por isso retardei o avanço de verdinho, ficando próximo dela. Estávamos a dez metros, e o nosso amigo já havia ido, ficou apenas eu e ela e toda aquela corja.

O barulho do aparelho sugador continuou tão alto que até meus dedinhos sentiram a vibração, mas isso só significa que eu estava mais perto. Perto de ir pra casa. Mas a porcaria do dragão da garota tinha que estar cansado logo agora?

– Pelo menos um de vocês eu mato... – Os olhos de Giuliana brilharam instintivamente.

A garota havia alcançado Frascolli e estava sobre a mesma, pronta para atirar uma adaga. Ela estava com um dos olhos fechados, enquanto mirava certeiramente em alguma parte do corpo da filha de Hécate que tentava rogar um feitiço nela. Mas o barulho era tão forte que no final ela acabava xingando a máquina, do que fazendo o feitiço. Aquela altura do tempo não tinha escapatória. Giuliana estava prestes a jogar a fatal adaga quando... Minha barriga se reprimiu e eu fui sugado.

ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE.

SÃO BERNARDO DO CAMPO, SÃO PAULO.

Só naquele momento eu havia notado que havia um selo nas minhas costas com o endereço do acampamento. E, logo após isso, o dragão sumiu abaixo de mim e meu queixo foi parar colina abaixo do acampamento.

Vinham campistas de todos os lugares para saudar-nos pela volta repentina. Todos eles fizeram uma roda entre nós, e aqueles que tinham chegado primeiro já estavam em pé olhando para trás de mim com muita preocupação. A menos eu fiquei feliz em ver Malu com a portarius de Hermes em seu poder.

Meu estômago se revirou e minha saliva queimou quando eu a engoli. Será que Frascolli iria conseguir? Meus sentimentos se afloram, e a apreensão do momento me fazia querer vomitar. Eu odiava suspense tanto como não ia com a cara de répteis, e agora que eu era um semideus era inevitável se acostumar com isso. Mas, um micro arranhão no espaço tempo se abriu e a garota jorrou para fora do portão invisível. Mas junto á ela, Cody caiu aos meus pés.

O murmúrio começou com pequenos cochichos sobre a identidade do filho de Afrodite. E logo inúmeras vozes gritavam em uníssono “MATEM ESSE TRAIDOR!”. Ele nos olhava com uma expressão de raiva, mas aquilo não o ajudaria a ser poupado. Se eu pudesse, eu mesmo o mataria. Mas por sorte dele, minhas armas haviam ficado lá na outra dimensão dos anões, droga!

– Deixem ele comigo! – Lorenna se aproximou.

Ela estralava seus dedos com muita intensidade, e depois puxou a espada de bronze celestial de um semideus que estava em seu caminho. Ela rodopiou a lâmina com muita facilidade e veio andando suavemente na direção de Cody. Seu sorriso nunca cessava, e seus dedos não paravam de apertar a arma. Sua sombra se ergueu ao filho de Afrodite, que estava completamente parado, mas não com medo - parecia que ele esperava alguma coisa acontecer... Havia algo errado.

– ESPEREM! – Helena vinha contornando os outros campistas para chegar no centro da confusão. – O que está acontecendo aqui?

– O traidor sem querer veio parar nos braços da morte. – A morenna disse, e logo os seus irmãos acompanharam com largas risadas. Os filhos de Ares pareciam ogros perto de mim.

– Hm, Cody Okumura. – Helena o analisou. – Faz tanto tempo que você partiu.

– É, aham. – O garoto de cabelos lisos e pretos olhou para seus irmãos e deu um chauzinho para Barbara, a atual conselheira. – Preciso de um banho, na boa.

Você precisa, morrer! – Lorenna rebateu, sua espada estava quase entrando em um dos olhos do sujeito.

– Isso não será preciso, ele não é um renegado. – A instrutora do acampamento falou, suavemente.

– COMO NÃO? ELE TEM A TATUAGEM... ELE NOS TRAIU!

– Lorenna, acalme-se.

– É, Lorenna, fica de boa ai. – O garoto parecia querer pirraçar ainda mais. O que não era uma boa ideia. Se eu estivesse no lugar dele, ficaria bem longe da filha de Ares com aquela arma em punho.

– Parem de falar os dois. – Helena analisou Cody por inteiro. – Enfim, você retornou.

– Eu prometi, não prometi? – O silencio pesou no acampamento.

Cody parecia não se importar com qualquer acusação feita em seu respeito, o que eu achava um cúmulo.

Se eu tivesse autonomia o suficiente, eu já teria enfiado uma adaga qualquer bem num lugar que ele não conseguia tirar. Sim, no coração.

Ele levantou a camisa, sua tatuagem apareceu e o risco de renegação também. Ele pegou um pouco de líquido de seu cinto e passou na imagem. O risco sumiu.

– Está aqui dona Helena. – Ele esticou a mão com um papel enrolado á vários mapas. – Todas as informações e os planos daqueles otários dos renegados.


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