Legado de Semideuses! escrita por Lucas Lyu Santos


Capítulo 1
Um dia normal no metrô.




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Eu nunca fui fã de andar de metrô, aliás, eu nunca gostei de andar naquele treco. Lá você pode encontrar de tudo sabe, desde cheiros indecifráveis até coisas inusitadas, como por exemplo; uma velinha dando bengaladas em um homem só por que ele não deu lugar a ela. Até mesmo os idosos são muito durões dentro daquele transporte. Eu digo que, quando se está dentro daquilo é como se todos fossem seus inimigos. E, cá entre nós? Você e eu sabemos que isso é bem verdade, e como é. Mas tirando isso eu ainda continuo odiando a ter que andar de metrô. Algumas coisas nunca mudam.

Mas posso assegurar que tem dias tranquilos dentro daquele matadouro, hoje é um desses. Passava das nove horas da manhã e lá estava eu dentro do metrô todo jogado de uma forma bem estranha nos três últimos bancos do primeiro vagão. Só havia um passageiro, mas ele parecia um mendigo dormindo com a sua blusa preta sobre as pernas ocupando as duas cadeiras preferências, parecia que não estava disposto a acordar tão cedo. Meus olhos estavam fixados naquele homem que mal notei uma alteração na velocidade do transporte, cujo vinha diminuindo progressivamente até parar em uma das habituais estações e abrir as portas.

– Estação Belém. Desembarque ao lado esquerdo do trem. – Essa era a digníssima voz que toda vez me dava um susto repentino quando eu pegava no sono nos dias de cansaço extremo após o trabalho.

Ao olhar além das portas um leve sorriso percorreu meus lábios e não pude resistir. Quando vi já estava com as mãos acenando para a minha amiga que tinha expressões um tanto estranhas - não que eu fosse o cara mais normal do mundo sabe, mas havia algo errado.

– Hãm, Alinne? – Ela já estava próxima, porém, trêmula – O que aconteceu? – Eu disse, preocupado.

Vê-la daquela forma era como se uma faca tivesse cortado minha garganta, era doloroso, eu mal conseguia me controlar a arrancar a verdade dela. Eu fiquei a olhá-la, analisando e esperando ela dizer alguma palavra ou me dar alguma explicação sobre o que tinha ocorrido, mas sem sucesso.

Alinne tinha olhos castanhos, porém brilhantes e incógnitos que deixavam a me dar uma sensação de ausência de ar. Vestia-se de forma simples, uma blusa branca escrita “Double Summer” e uma calça jeans preta que tinha alguns rasgos propositais no joelho. Seus longos cabelos loiros ultrapassavam os ombros, por isso, todas as vezes que o vento soprava mais forte eles dançavam com tamanha delicadeza. Minha mãe sempre fez brincadeirinhas que éramos irmãos, por que assim como ela eu era loiro e muito persuasivo. Os olhos mesmo sendo de cores distintas, o meu verde e o castanho dela sempre foram bem objetivos e distorcia em pura sinceridade. Sem contar que nosso humor era intocado, um alegrava o outro, principalmente quando o assunto era “pai”, pois assim como eu, ela também não conhecia o seu progenitor.

Também havia outras coisas para difundir essa piadinha costumeira, como por exemplo; Fazermos aniversário no mesmo dia. Termos uma mira fantástica e acima de tudo, o nosso Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. Definitivamente eu a considerava como uma irmã e talvez por conhecê-la tão bem, sabia que algo estava errado.

– Lyu... – Ela balbuciou. – Eu vi... – Alinne me abraçou e eu vi seus olhos arregalados de susto.

Ela estava inquieta e as portas do metrô ainda continuavam abertas. Foi então que uma família entrou; Uma mulher na casa dos quarenta e cinco anos e dois filhos (o menino aparentava ter dez e a garota uns quinze) a idade não era relevante no momento. A distância entre nós era de uns quarenta e cinco metros – o que era a metade do mendigo dormindo - ou talvez mais. Porém, as pegadas daquela família era o que me incomodava. Era um rastro avermelhado que mais parecia...

Sangue? – Cogitei inquieto. – Tem algo muito estranho. – Enfim, o alarme de “se afaste da porta” tocou e elas fecharão. O que quer que fosse eu ficaria ali trancado para descobrir.

Por alguns segundos eu me distraí olhando para a janela. O metrô começou a pegar velocidade novamente e eu conseguia visualizá-lo deixando a estação. Eu vi os bancos, escadas, placas, guardas com a cabeça decepada, lixeiras, ops... “Guardas com a cabeça decepada?”E por um momento eu copiei as expressões da minha amiga. Como você reagiria se olhasse uma cena dessa maneira? Se você fosse um medroso ficaria em choque e assustado. Certamente seu coração iria bombear mais rápido e o desespero tomaria conta de todo o seu corpo sem conseguir arriscar um passo em falso. Eu fiquei tentado em deixar o medo me surrar a cara, mas por incrível que pareça eu não me alterei tanto, ficar abatido ao lado dela não seria uma boa ideia, não agora, porém, eu fiz a bobeira de olhar para frente. Foi então que as coisas estranhas começaram a acontecer.

– Ótimo dia para enfrentar répteis. – Eu tentei dizer.

– Foi isso que eu vi. – Ela retrucou.

– Eu odeio... Acho, morri.

Abruptamente eu agarrei a mão da Alinne e me pus em pé, encostado na cabine do metrô. Ao olhar para frente não havia mais família alguma, mas sim três lagartos com mais de dois metros de comprimento, cada um equivalente á sua forma anterior. Eles eram verdes e o corpo com escamas, escrotamente feios e assustadores. Não tinha para onde correr e nem fugir, estávamos ferrados no sentido de vamos morrer.

Uma coisa que vocês devem saber sobre mim; Eu odeio répteis. Não interessa o tamanho ou o tipo. Até mesmo lagartixas pequenas eu não chego perto nem que me paguem, tsc. Vocês podem achar esse medo muito másculo cof-cof, mas eu não me importo, não mesmo. É como sempre digo “Elas planejam o seu fim enquanto estão grudadas na parede comendo os insetos, enquanto você dorme, elas estão lá.” E agora a prova está ali sobre meus olhos. Eu espero encarecidamente que vocês não estejam rindo de mim, se bem que estou prestes a ser devorado então riam a vontade.

Ficar trêmulo e desesperado não é uma coisa boa, minhas mãos suadas agarraram as mãos da loira ao meu lado e a coloquei sobre a minha frente. Eu não sabia o que fazer a não ser me esconder perante ao corpo dela...

– Que ótimo amigo você é. – Ela tinha razão, mas desde sempre soube do meu medo e fobia desses bichos.

– É trauma de infância, o que quer que eu faça? – Eu rebati, sem graça.

– Não haja feito uma moça.

– Velho dentro da boca deles está escrito “Vou te comi”, ai meu fígado...

– Espero que eles triturem seu fígado.

– Também te amo.

O que eram aquelas criaturas? Por que algo assim existia? Por que logo nós? Entre sete bilhões de pessoas no planeta terra eles decidiram aparecer ali? Eu sempre fui sortudo, mas chegar a esse ponto era novidade.

– Você está tremendo? Ah fala sério Lyu.

– Não me julgue. Eles são, nojentos...

– Vamos morrer. Mas antes disso, obrigado pela sua coragem.

Os lagartos não resistiram e vieram ao nosso encontro com muita rapidez. O fim estava prestes a nos levar. Foi então que um barulho rompeu a linha da morte. Um estrondo de sorte como trilha sonora para o momento de terror? Quando olhei novamente uma fumaça estava cobrindo os vinte dois metros onde se encontrava o mendigo. Alguém usou um extintor de Incêndio, e não fui eu, muito menos Alinne que estava sobre meus olhos. Deduzi que o mendigo havia sido devorado. Pobre morador de rua...

O silêncio pairava sobre a fumaça e o suspense tomou conta de todo o vagão. Eu devo ter batido a minha cabeça bem forte quando estava no berço, pois eu vi algo inimaginável. Quando a fumaça sumiu uma criatura ficou nítida... Pôneis de festa, e cascos apareceram.


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