Blaine estava de volta. Ele era considerado na época um rei para os Warblers, e eu nem sabia o sobrenome dele.

Ficamos todos sentados em silencio no sofá da sala de Televisão esperando Blaine sair da sala das enfermeiras. Ouvíamos gritos e alguns barulhos pesados.

“Blaine vai matar todos eles.” Sussurrou Wes do meu lado.

Parecia que Blaine era quem estava sendo morto. A porta se abriu, vi um garoto não muito alto, cabelos cacheados e negros. Bolsas debaixo de seus olhos e tinha sangue em sua bochecha. Estremeci na minha cadeira. Os warblers bateram palmas.

Mas o que aconteceu foi apenas esse garoto franzino sendo levado a forca por três enfermeiros ate uma das salas acolchoadas do bloco A. O rei dos Warblers era um psicopata assim como Sebastian e Hunter? Não poderia continuar alí se esse fosse o caso.

“Para onde ele está indo? O bloco dele não é por aí.” Nick foi o primeiro a falar entre nós.

“O bloco A é o único com salas acolchoadas. Deve ser só para tranquiliza-ló.” Respondeu David.

Respirei fundo de alivio. Blaine não fazia parte dos pacientes barra pesada.

“Vamos até lá!” Nick já começava a andar a nossa frente. David o segurou.

“Está maluco? Eu é que não vou para o bloco A. Já estive lá tempo suficiente para saber o quanto é terrível.” Disse Hunter.

“Podem acabar nem deixando eu e Hunter sairmos.” Completou Sebastian.

Não me sentia mais tão animado para ver Blaine, talvez estivesse um pouco assustado. Voltei com Wes para o nosso quarto, ele não parou de sorrir um segundo.

“Dá para acreditar? Blaine voltou!” Ele disse enquanto se acomodava debaixo dos lençóis. Apagando o abajur na escrivaninha ao lado.

“Ele normalmente é assim?” Sabia que não devia voltar a perguntar coisas para um mentiroso compulsivo, mas as palavras saíram da minha boca sem antes pensar melhor.

“Assim como?”

“Assim. Descontrolado desse jeito, sendo mandado para o bloco A.”

“Blaine? Não... não muito. Quer dizer, ele tem seus surtos, mas é um cara bacana, você vai gostar dele. Eu sei que ele vai gostar de você.”

“Hein?” Encostei minha bochecha no travesseiro, a luz da rua era azul quando passou pela janela e iluminou o quarto escuro.

“Ele também é gay.”

Opa opa, calma aí.

Eu ainda não tinha contado pra ninguém ai que sou gay, não podia ser assim tão obvio já que a maioria das roupas na mala que meu pai me mandou são dele e do Finn. Ficam folgadas demais em mim. O cheiro de suor veio a minha memoria.

“Como... como você sabia que eu-“

Ele me interrompeu, “Sei lá. Acho que meu radar gay é muito bom. Fui o primeiro a descobrir que Blaine jogava no outro time.”

Radar gay.

“E... somos só ele e eu que-“

Ele voltou a me interromper, ”também tem o Sebastian. Quer dizer, não sei se ele é mesmo gay ou se apenas curte violentar garotos na estrada. Isso foi há muito tempo.”

“Então ele e Blaine já...”

“Não. O Sebastian ate joga algumas cantadas mas ate onde sei o Blaine não se importa muito.”

“E o que te faz pensar que ele vai gostar de mim?”

“ Você é adorável, Kurt. E não, eu não sou gay. Apenas digo a verdade, ok não, eu não digo a verdade mas ah, você entendeu. Você é adorável e tudo mais, Blaine não gosta do Sebastian porque ele é mais controlador.”

E por que ele estupra garotos na estrada.

“Mas você é um cara fofo. Até matar o pássaro, pelo menos.”

Senti aquele comichão no fundo da garganta. Meu estomago revirava.

“Eu tenho mesmo que matar o tal pássaro?”

“Não liga muito. Esses bichos morrem rápido por aqui mesmo. O lugar é mórbido demais pra esses animalzinhos.”

“Mas... Hey, se quiser, não precisa nem matar. O Blaine matou o meu já que eu não quis. Mas não conta para o Hunter.”

“Você glorifica muito esse Blaine que nem percebe o que está dizendo” Era ridículo confiar em um cara assim para ser líder de algum grupo, mesmo que fosse de lunáticos.

“De uma chance. Você ainda não o conhece. Eu ainda acho que vocês iam ser dar bem bem.”

Bem bem?

“Eu tenho namorado.” Essa foi a primeira vez em 3 semanas de internação que pensei em Adam. Talvez ele nem seja mais meu namorado depois de saber onde estou.

“Ninguém nunca vem te visitar, achei que você estivesse sozinho ou ninguém gostasse de você.”

Ouch. Essa doeu.

Engraçado como minha mente é tão bagunçada e ao mesmo tempo tao monótona que nem chego a me preocupar com esse tipo de coisas. Tive vários namorados, não passava muito tempo com meu pai, mas ele me criou. Nunca pensei que pudesse ser tão solitário.

Ou que ninguém gostasse de mim.

A imagem do garoto de cabelos negros e machucados não era bem o que associava a Blaine. Mas poderia me acostumar, talvez ele matasse o pássaro por mim. Já que com certeza eu não vou fazer isso.

Caio no sono sem perceber.