Kurt, Interrompido escrita por Maleficent


Capítulo 25
Isso Não Dói?


Notas iniciais do capítulo

Oi



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Já consigo andar sozinho sem tropeçar, meu pai não voltou desde o meu ultimo surto e não quero vê-lo tão cedo. Sempre que alguém de fora vem e como se todo o mundo real viesse junto, eu continuo feliz em meus anos 60. Já tive dose de realidade o suficiente.

Nova Iorque foi um erro.

Fico no refeitório, esperando ver Blaine. O bloco A continua sem movimentação alguma além das enfermeiras. As torradas com mel parecem feitas de papel.

A maioria dos Warblers não fala mais comigo, na verdade me evitam. Todos menos Wes e Nick.

“Cara, cara, você não me disse esse tanto de medo que você podia dar nos outros, cara!”

“Eu disse que ele era o Hulk, eu disse!”

Não presto muita atenção neles. Não deixam mais visitantes irem ate o bloco A, minha medicação aumentou mas é muito melhor do que viver sem.

“Kurt?” Nick chama a minha atenção, seus dedos estalam perto dos meus olhos.

“Hein?”

“Cara, vamos visitar o Sebastian no hospital especial dele antes de morrer.” Aperto os olhos com forca e volto a olhar para os dois.

“Não acho que nos deixem sair daqui tão cedo.” Comento.

“A Dra.Sylvester nos deu uma permissão especial! Para todos nos! Ate para o Blaine!”

Meu rosto fica mais rígido ainda depois de ouvir o nome do ser maléfico e feio que fica por trás dos prontuários, não posso confiar nela.

Vejo a enfermeira encarregada da entrada do Bloco A deixar o balcão para falar com a enfermeira do Bloco B, uma lâmpada acende em cima de minha cabeça.

“Permissão especial, você disse?” Pergunto sem olhar para Wes, ainda encarando a passagem vazia do bloco A.

“Ela disse que podíamos tomar sorvete depois, Kurt? O que foi?” Ele olha na mesma direção que eu “Não me diga que quer ver Blaine.”

“Eu preciso.”

“Não.” Ele se põe de pé ao meu lado. “Você vera ele quando chegar a hora, ate la, deixe- o em paz!”

“Como ele pode ter paz naquele lugar?”

“Não se trata do lugar, se trata de você, Kurt” Eu o encaro e Nick treme no lugar dele. “Voce fez muito mal a ele.”

“Sou sempre eu quem faz mal as pessoas.” Rio com amargo. “Diga o que você faria se encontrasse um pássaro morto no bolso do casaco da sua namorada e não ia pirar.”

“O que você fez foi pior, Kurt.” Ele continua.

“Me diga o que eu fiz então, Wes. Vamos lá, me convença de não ir vê-lo.”

Vejo a oportunidade de empurrar Wes e correr ate o Bloco A, não é muito longe, a enfermeira não da sinal de voltar muito em breve.

“Kurt.” Ele apoia a mão em meu ombro. “Não.”

Paro por um instante para prestar atenção no que Wes me diz. Eu posso estragar minha chance de ver Blaine como a Sylvester prometeu, mas também pode ser a ultima chance se ela estiver mentindo.

Afasto o braço de Wes e saio andando, ignoro qualquer chamado, preciso ver Blaine.

E então que a enfermeira volta ao seu lugar, mas eu não paro.

“Posso ajudar?” Ela pergunta em tom de tedio.

“Acho que pode. Se sair da minha frente agora.” Ela não parece mais tão entediada.

“O que foi que você disse?” Ela esta quase chamando a outra enfermeira, Wes e Nick estão bem ao meu lado agora.

“Não se preocupe, ele é do Bloco C.” Ouço Nick dizer e a enfermeira assentir, ainda desconfortável.

“Leve-o embora daqui.” Escuto ela dizer enquanto Wes e Nick me arrastam pelos bracos, minha visão fica turva.

“O que aconteceu?” Murmuro, mas eles não parecem entender.

“Como se sente?”

Me remexo um pouco nos braços de Wes que me impedem de cair no chão.

“Leve.” Digo.

“Cara, o que você tomou?”

Não respondo, eles me deitam no sofá da sala de televisão e fico encarando o teto.

“Leve.” Repito.

“Cara, é melhor chamar uma enfermeira.”

“Não. Não façam isso.” Digo, agarrando a manga na camisa de Wes.

“Certeza, cara?”

“Sim, cara.” Vou socar o Nick se ele voltar a me chamar de cara.

“Quer que fiquemos aqui com você?” Aceno com a mão para irem. “Ok então, ate mais.”

Fico ai, deitado. Pergunto-me se tenho forcas suficientes para me levantar, saber o que andam colocando na minha comida.

“Você voltou mesmo.” Meus pesadelos nunca acabam, só se transformam em algo pior. Sinto algo raspar pela minha fase e percebo que é a mão de Becky acariciando minha bochecha. Suas cicatrizes são vermelhas e robustas, parecem a casca de uma arvore.

“Becky.”

“Fada.” Ela conclue, continua passando a mãos pelos meus cabelos e olho pra cima, quase paro de respirar.

“Becky...” Não sei mais o que dizer.

“Eu sei, eu sei. Estranho, não é mesmo?” Ela aponta pra propia cara, mas erra o ponto. Os locais onde deviam estar seus olhos tem apenas carne costurada. Quero gritar por ajuda. “Não posso mais ver.”

“Becky, Deus, o que aconteceu?!”

Ela então me conta. Eu não choro mas sinto meu interior se derreter e virar agua.

Pelo tempo que estive fora muita coisa mudou. Uma delas foi Becky botando fogo no seu rosto novamente, não sei como, mas conseguiram salva-la. Em boa parte, pelo menos.

Aposto que a Sue me culpa por isso.

E não sei mais o que dizer, se eu estivesse na Dalton ao invés de estar em Nova Iorque eu não estaria perdendo a cabeça desse jeito.

“Não dói?” Me arrisco a perguntar.

“Quase sempre.” Ela diz, e deixo por isso mesmo. “Sinto muito pelo seu irmão.”

Respiro fundo “Eu também.”

Nova Iorque foi um erro. Um erro que custou a vida de Finn. Porque se eu estivesse aqui tudo podia estar diferente.

“Você sente muito?” Ela pergunta.

“Sim.”

“O que você sente?”

“Culpa, angustia, remorso, perda.” Não penso ou filtro palavras, jogo tudo que posso.

“Isso não doí?”

“Sempre.”

Quando a maldita enfermeira chama meu nome já estou cansado da vida, mas a sala de visitas esta vazia com exceção de Rachel e eu preciso de espaço para respirar. Entao corro ate ela.

“Você veio sozinha?” Oi Rachel, esqueço de dizer.

“Uma amiga me trouxe. Esta esperando no carro.”

“Imagino então que você esta com pressa.”

“Não. Não mesmo, eu só queria saber como você estava.”

“Estou bem.” Mentira “E você?”

Ela não diz nada, entendo a deixa e me sento bem ao seu lado.

“Ficamos muito preocupados.” Ela diz, mas já ouvi esse discurso antes.

“O que aconteceu com Finn?”

Ela não parece surpresa, mas não responde.

“O que houve, Rachel?”

“Não sabíamos que você ia fugir.” Ela chora “Se pudesse, ele teria vindo se despedir antes.”

“Quem, o Finn? Como assim?”

“Ele queria se despedir de você.”

“Se despedir?”

“Ele foi convocado.”

Quero atirar uma mesa nela ou algo parecido. Nela e no presidente.

“Da pra repetir?”

“Ele foi convo-“

“O Finn?! Mas que droga de seleção é essa?! Ele teria tempo sim para se despedir, ele tinha cerca de 4 meses, Rach-“

E ai eu surto. 4 meses, 4 meses e eles sabiam. E não me contaram. Planejaram ter um filho sabendo que ia crescer sem pai.

“Ele não pode est-“

“Recebi a carta um pouco depois de você ter chegado de Nova Iorque. Desaparecido, são milhões de corpos encontrados, não quero ir ate o hospital reconhecer.”

“Ele não esta morto, então.”

“Eu recebi a carta dizendo isso.”

“Não. Sua idiota, a carta dizia desaparecido. Não morto.” Me levanto, ela enxuga as lagrimas com um lenço. Ela me chama mas estou quase no meu dormitório. Chorar nunca foi tao horrível quanto é agora.

Não pude me despedir de Finn, e nunca mais vou vê-lo.

Mando Rachel embora e me sento na sala de televisão por um tempo longo, longo demais. O bastante para eu lembrar que estou vivo. Então me levanto e vou dormir.


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Notas finais do capítulo

Bye



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