O tempo estava terrível lá fora. Raios e a chuva incessante. Pior ainda para eles, que estavam todos dentro da quadra coberta.

Cada trovão fazia um barulho tremendo e o eco que o lugar produzia só piorava as coisas, afinal, era como um amplificador natural.

No entanto, mais alto que aqueles trovões, só a risada de um certo moreno.

– Takao! Pelo amor de Deus, pare de rir! Não seria engraçado se fosse com você!

– Mas... Mas Shin-chan! - ele disse com dificuldade; as mãos na barriga, ainda rindo muito.

Mais um trovão, o esverdeado deu um pequeno pulo.

Sim, é o que vocês estão pensando. O grande lançador da Geração dos Milagres, Midorima Shintarou, tinha medo de tempestades. Raios, para ser mais preciso.

Estava encolhido num canto da quadra enquanto Takao rolava de rir no chão.

– Takao, eu também acho melhor você parar de rir dele. A sua risada é meio exagerada. - disse Otsubo.

Quando o moreno finalmente conseguiu se recompor, respondeu:

– Certo, Otsubo-senpai...

Mais um trovão, mais um susto, mais riso. Dessa vez ele tentava abafar o som mas simplesmente não dava.

– Por que não fazemos alguma coisa para nos distrairmos enquanto a chuva não passa? - sugeriu Kimura.

Takao se mostrou interessado.

– Tipo um jogo? Parece interessante!

– Um jogo? De que tipo? Eu estou meio cansado para basquete e já tomei banho então... - disse Miyaji.

– Que tal verdade ou desafio? Podemos usar o item da sorte do Shin-chan para rodar!

– Não contem comigo nisso.

O item da sorte de hoje deveria ser algo que girasse. Como ele estava atrasado demais para comprar um item mais especial, teve que usar sua simples garrafa dos treinos. Devia ser por isso que sua sorte estava tão ruim naquele dia.

– Vamos, Midorima! É por você que estamos fazendo isso - Otsubo disse.

Mais um trovão, o moreno ameaçou rir. Nessa hora, o esverdeado percebeu que não tinha como recusar, precisava mesmo se distrair, afinal.

– Certo, como se joga isso?

Todos arregalaram os olhos.

– Você nunca brincou de interrogatório ou sacanagem, Shin-chan?!

Midorima ficou confuso.

– Mas não íamos jogar verdade ou desafio?

– Dá no mesmo. Explica pra ele as regras, Otsubo-senpai.

O mais velho explicou de forma simples mas de fácil entendimento as regras do jogo. E completou:

– Aliás, ninguém é permitido de contar para pessoas que não participaram do jogo sobre o que foi dito nele. A primeira regra é que quem não manter o sigilo está praticamente assinando que autoriza ter tudo que disse espalhado pela escola.

– Parece justo. Vamos logo com isso.

Os cinco sentaram em um círculo e começaram o jogo.

Má sorte com o clima era esperado, mas o seu horóscopo dizia que em jogos de azar ou do estilo roleta russa ele teria sorte naquele fatídico dia. E estava certo. Já passavam de 10 rodadas e em nenhuma a garrafa se virou para o lado de Shintarou.

Ele não sabia dizer qual segredo era pior que o outro, e ficou até surpreso com alguns de Takao. Mesmo assim, a garrafa não caía no esverdeado. Nem para perguntar, nem para responder. Estavam achando que talvez o piso tivesse um erro de nivelamento, por isso trocaram de lugar para ver se alguma rodada iria cair nele, mas mesmo assim, não ia.

Midorima percebeu que a chuva parecia ter diminuído. Deu um sorriso discreto, talvez não precisasse responder nada, afinal.

Bem no momento em que ele pensou isso, a garrafa foi girada novamente. Takao perguntava e Midorima (finalmente) teria que responder.

– Até que enfim Shin-chan! Verdade ou desafio?

– Verdade. - não gostava da ideia de ter que expor algo pessoal entre aquelas pessoas, mas gostava menos ainda de ter que fazer algum desafio maluco na frente delas.

– Como foi o seu primeiro beijo? - ele perguntou. Takao parecia estar esperando o jogo inteiro para ter a chance de fazer essa pergunta.

Todos olharam para Midorima que fez uma careta. Definitivamentenão gostavade lembrar do seu primeiro beijo.

– Eu quero um desafio.

– Dance macarena com um pé só e uma bola de basquete na cabeça sem deixá-la cair.

– Deixa pra lá. O que você quer saber sobre meu primeiro beijo? - ele disse. Tentava se consolar com o fato de que sabia de mais segredos de Takao do que o moreno sabia dele.

– Então você confirma que já beijou alguém. - o mesmo sorriu sarcasticamente.

"Droga, eu poderia ter respondido que nunca beijei ninguém." pensava o esverdeado, frustrado.

– Certo, podemos começar com quem você beijou. Só um nome basta, mesmo se nós não conhecemos essa pessoa.

Midorima colocou as mãos na face e as passou no cabelo.

– Eu só vou dizer uma vez e sequer sonhe em contar para alguém. Você ainda quer viver mais um pouco, não quer, Takao? - Shintaro o olhou malignamente. O moreno engoliu seco.

Todos encaravam, tensos. O lançador suspirou e disse:

– Foi o Akashi.

O choque foi inevitável. Os quatro ficaram com os olhos do tamanho de pratos. Kazunari deu uma risada nervosa.

– Haha, Shin-chan... Você por acaso não está falando do Akashi que era seu antigo capitão, está?

– Haha, é claro que ele não está, Takao. Esses dois não tem nada haver... tem? - Miyaji deu uma risada igualmente nervosa.

Se passou um minuto de silêncio até que todos pudessem digerir a ideia. O primeiro a falar foi Otsubo.

– Eu estou realmente surpreso... Quando Takao disse a pergunta eu pensei que era o tipo de questão que uma garota do fundamental faria para outra mas... De repente estou muito interessado em saber como foi isso.

– Acho que todos estamos. - disse Kimura.

– Espere um pouco. Shin-chan, com quem foi o seu segundo beijo?

– Akashi.

– E o terceiro?

– ...Akashi.

– E o quarto?

– ...

A cada pergunta o sorriso malicioso do moreno se alargava.

– Eu já joguei contra vocês quando estavam na Teiko, ele não me parece do tipo que namoraria sério. Por acaso vocês ficaram se pegando em algum lugar? - Takao perguntou.

Midorima não disse nada, mas estava suficientemente óbvio que a resposta era sim. Ele ajeitou os óculos e olhou para o lado.

– Não é algo que eu me orgulhe, se querem saber.

– Certo, agora conte todos os detalhes!

~~ Flashback ON ~~

Midorima encarava o tabuleiro de shogi pensativo. Sempre ia jogar sabendo que iria perder, mas não era por isso que desistia facilmente. Estava claro que o ruivo já ganhara a partida, mas se ele tivesse a chance de atrasar a vitória, mesmo que um pouco, já estava de bom tamanho. Ficou pelo menos dez minutos avaliando as possibilidades até finalmente mover a peça.

– Sua vez, Akashi. - ele disse. O ruivo não se mexeu.

Pela primeira vez depois da última rodada, Shintarou o olhou e se surpreendeu. Akashi estava com as costas para trás na cadeira e a cabeça apoiada no ombro esquerdo e na parede. Parecia dormir profundamente. Suas mãos estavam apoiadas no colo.

Midorima não sabia o que fazer. Deveria acordá-lo? Talvez não, ele parecia bem exausto naquele dia, merecia um pouco de descanso. Marcou no alarme do celular vinte minutos. Depois disso o acordaria.

Ele usou esse tempo para observar Akashi. Ele lutou internamente para admitir que parecia um anjo dormindo. Tudo nele parecia incrivelmente adorável. Tanto a franja ruiva que parecia ter crescido demais e agora tampava um pouco de seus olhos fechados, tanto a respiração baixinha que podia ser ouvida, graças ao silêncio da sala em que costumavam jogar. Olhou as horas, se passaram quinze minutos.

Percebeu subitamente, que algo a mais podia ser escutado naquele silêncio. Um sussurro. Olhou para os lados, não tinha mais ninguém por ali. Seria possível que... Akashi estivesse falando enquanto dormia? Prestou mais atenção. Sem dúvidas. Era o ruivo que sussurrava.

Não lembrava porquê, mas ficou curioso em relação ao que Akashi possivelmente sussurrava em sua cama, todas as noites. Se aproximou.

– Shin...tarou...– sussurrou o ruivo.

O esverdeado arregalou os olhos. Akashi tinha... dito seu nome? Se aproximou mais ainda.

– Shintarou... O que... você... Ngh...

Midorima ficou mais chocado ainda. Aquilo foi claramente, um gemido. Com o quê diabos ele estava sonhando? Preferia não saber. Preferia não saber mas... continuou ali, se deleitando com o que o ruivo dizia. Decidiu parar quando começou a sentir uma sensação indesejada abaixo do ventre.

Se repreendeu tanto por aquilo que esqueceu de olhar as horas. Se assustou completamente com o alarme do celular e acabou se desequilibrando, teve apoiar uma das mãos na cadeira, ao lado do corpo de Akashi. Ele, que já estava perto de Akashi, agora podia sentir a sua respiração. O ruivo abriu aos poucos os olhos e ainda parecia estar meio-dormindo, meio-acordado.

– Ér... Akashi, eu sei que essa situação pode parecer suspeita mas, acredite em mim, não é o que você está pens-

O Akashi ainda meio-dormindo, meio-acordado, tinha a impressão de que ainda estava sonhando, e pressionou fervorosamente seus lábios contra os de Midorima. Que naquele ponto, retribuiu com prazer. A língua do ruivo literalmente invadiu a boca de Shintaro e explorou aquele lugar.

Se soltaram tempo depois quando ambos estavam sem ar. Akashi finalmente parecia ter acordado e percebido o que tinha feito. Olhou para o maior, inquisidor. Deveria continuar, ou fingir que nada tinha acontecido? Se lembrava de apenas alguns pedaços meio comprometedores do sonho que acabara de ter. Tudo que disse foi:

– Esse foi o meu primeiro beijo, se responsabilize.

– Ei, foi você que me obrigou então deveria se responsabilizar. Esse também foi o meu primeiro.

Akashi franziu o cenho.

– Se eu tivesse te obrigado você poderia ter simplesmente rejeitado. O que não foi o caso.- deu um sorriso vencedor - Além disso, eu estava inocentemente dormindo e você estava perigosamente próximo de mim, o que me leva a crer que se eu não tivesse acordado você teria me atacado de qualquer maneira.

Midorima não queria ter dito aquilo, mas no calor daquela "discussão", acabou dizendo. A verdade era que aquele diálogo de certa forma o divertia.

– Eu queria ouvir o que você estava dizendo e, na minha opinião, não parecia nada inocente.

O ruivo, pela primeira vez, parecia surpreso. As orbes vermelhas se arregalaram.

– E-Espera! Eu estava falando enquanto dormia? O que eu disse?! - torcia para não ter dito nada relacionado ao sonho mas isso seria completamente improvável. Então torceria para não ter sido nada muito revelador.

Midorima fez questão de dizer no ouvido dele:

– Ngh... Shintarou...

Akashi suou frio. Levantou e agarrou o maior pela blusa.

– Ouse... ouse contar isso para alguém!

– Não vou, pode me soltar.

O ruivo estreitou os olhos e voltou a se sentar. Olhou para baixo pensativo enquanto mexia no cabelo. Depois voltou a olhar para o esverdeado que o encarava de volta.

Não demorou mais 5 segundos eles voltaram a se agarrar. Depois disso foram embora como se nada tivesse acontecido.

~~Flashback OFF~~

Quando Midorima terminou de contar, todos estavam ainda chocados. Ele omitiu as partes mais contrangedoras e a maioria do diálogo. Afinal, aquele segredo não pertencia só a ele. Envolvia Akashi também.

– Até o Shin-chan tem os seus podres! Haha!

– Que história... Depois disso vocês começaram a namorar? - Miyaji perguntou

– Não, mas... Como eu digo isso? Daquele dia em diante nós começamos a jogar shogi com muita mais frequência... se você me entende.

Otsubo suspirou:

– Acho que já está na hora de terminarmos esse jogo. A chuva já parou.

Todos concordaram e foram pegar suas coisas.

Por último, ficou Takao, que percebeu quando Shintarou esqueceu o celular em cima de um dos bancos do vestiário. Viu escrito: "nova mensagem de:Akashi". Olhou para os lados se certificando de que não havia mais ninguém, e leu.

"Shintarou, a Geração dos Milagres foi convidada para o festival esportivo na Teiko e eu estava pensando; por que não relembramos os velhos tempos com uma partida de shogi?"

Takao sorriu, apagou a mensagem e colocou o celular exatamente onde estava quando o encontrou e saiu do vestiário. Encontrou Midorima no corredor.

– Esqueci meu celular. - ele explicou.

– Eu vi. Está em cima do banco.

– Obrigado.

"Me desculpe Akashi-san, mas eu acho que esse jogo você perdeu." pensou o moreno, enquanto ia embora.