E nunca mais, nunca mais

Eles nos deram dois tiros na nuca

E estamos todos mortos agora

Bem, eu tentei

Mais uma noite, mais uma noite

Bem, estou rindo, chorando, rindo

Eu tentei, bem, tentei, bem, tentei

Porque eu tentei, mas eu menti

Eu menti

Eu tentei, eu tentei, eu tentei

Eu só estava esperando uma desculpa para fugir. Eu não tinha coragem, eu estava quebrado, eu não queria que ela morresse.

Eu não podia suportar ninguém mais morrendo por minha causa. Eu não podia suportar que Melaine morresse. Se eu ficasse, cedo ou tarde, ela morreria, como acontecia com todo mundo que tinha o azar de entrar em minha vida.

Quando Dean ligou, eu aproveitei para ir embora. Era minha tarefa. Não fugir do sobrenatural, mas sim consertar o que eu tinha feito. Lutar contra anjos e demônios e salvar o mundo do apocalipse que eu tinha começado.

Dean pediu para eu encontra-lo em Kansas City. A viagem seria longa e foi extremamente dolorosa para mim. Eu pensei em voltar. Pensei em voltar e dar as explicações que Melaine realmente merecia. Deixei para trás o celular do qual ela tinha o número e eu tinha o número dela. Ela não poderia me ligar e eu não poderia ligar para ela, embora eu estivesse morrendo de preocupação, desejando e rezando (embora eu soubesse que ninguém ouvisse) para que ela seguisse em frente, para que ninguém jamais descobrisse que ela se envolveu com Sam Winchester.

Poderíamos esquecer tudo isso e ela teria uma vida segura. Era só isso que eu podia esperar para ela. Eu sabia que eu estava partindo o coração dela, eu sabia que ela sofreria e ela não merecia esse sofrimento, mas eu sabia que era melhor assim.

Dean estava me esperando em uma ponte. Há pelo menos um mês eu tinha ligado para ele, implorando para que voltássemos a trabalhar juntos, isso antes de conhecer Melaine e ele tinha recusado. O que tinha mudado?

–Sam. – ele falou simplesmente, o olhar duro, eu sabia que ele ainda estava magoado. E segurava a faca de Ruby nas mãos. Fiquei com medo. Não sabia o que esperar de Dean, mas eu sabia o que eu merecia.

–Se você está falando sério que quer voltar a caçar – ele continuou, a voz um mistério – é melhor ter isso com você. Eu tenho certeza que você está enferrujado.

E com a última frase, ele parecia o velho Dean de sempre. Peguei a faca, o metal era grosseiro e gelado nas minhas mãos. Eu não tinha boas memórias em relação aquela faca. Mas eu poderia utiliza-la melhor agora.

Eu ainda não podia olhar Dean nos olhos.

–Olha, Sam, eu sinto muito. – Dean falou após um estranho silencio – Eu não sei. Eu estou... Qualquer coisa que eu deva estar. Mas eu estava... Hm, errado.

–O que fez você mudar de ideia? – eu perguntei, ainda olhando para a faca em minhas mãos, pensando no que a minha vida tinha se transformado, e eu agora eu era essa pessoa que eu mesmo não poderia reconhecer mais. Pensei em Melaine com um esquisito sentimento vazio.

–Uma longa história – falou Dean e eu soube com certeza que havia alguma coisa acontecido – O ponto é... Talvez nós sejamos o ponto fraco um do outro, talvez eles arrumem um jeito de usar nós um contra o outro, eu não sei. Eu apenas sei que nós só temos um ao outro. Mais do que isso, nós mantemos um ao outro humanos.

–Obrigado. – falei, o alivio me invadindo. Eu sabia que Dean não havia me perdoado, porque eu jamais me perdoaria, eu sabia que não havia perdão para mim. Mas aquilo era um começo de eu ter um pedaço da vida que eu tinha antes, que agora parecia muito melhor visto como era o presente. Eu e Dean contra o mundo. – de verdade. Obrigado. Eu não vou te decepcionar.

–Oh, eu sei disso. Afinal, você é o segundo melhor caçador do planeta.

Eu não pude evitar sorrir. Talvez alguma parte do mundo voltasse ao lugar agora. Talvez tudo fosse menos caótico.

–E o que fazemos agora? – falei.

–Nós fazemos nosso próprio futuro.

–Acredito que não temos escolha. – falei simplesmente.

Eu iria consertar os erros que eu cometi e Melaine tinha sido o primeiro deles. Sim, ela tinha sido um erro. Eu fui pego em algum momento sensível e me apaixonei inexplicavelmente. Bem, talvez não tão sem explicação assim. Eu não me apaixonava fácil, mas quando eu conhecia alguma garota que atraia minha atenção, eu de fato ia de cabeça nisso. Já tinha acontecido outras vezes.

Eu precisava parar com isso. Eu precisava reescrever minha história, mudar o caminho, parar de tomar tantas decisões erradas.

Erros, um atrás do outro e eu sempre pensava que estava fazendo a coisa certa.

Mas deixar Melaine era a escolha certa a se fazer?

Para mim parecia, quando eu sai, que sim, claro. Mas agora, conforme Dean dirigia cantando uma das mesmas músicas de sempre, mais eu sentia que tinha algo errado.

Eu não deveria ter a deixado sem explicações. Eu não queria ter feito isso.

Eu podia ter tentado ter uma vida normal ao lado de Melaine, mas... Não seria eu. E a essa altura da minha vida, eu já sabia que eu nunca poderia escapar do destino reservado a mim. Eu era o corpo que Lúcifer gostaria de usar e eu nunca teria paz enquanto isso não fosse resolvido.

Minhas vontades, meus sonhos, meus sentimentos, tudo isso era pouco importante se comparado ao destino que os Céus tinham determinado para mim.

E Melaine? Ela nem era sequer parte dessa história. No meu destino, ela não existia, por mais que eu desejasse isso. Nada de livre arbitro. Apenas um destino gravado em pedra.

Isso me destruía.