Acordei e olhei o despertador, eram 4 da manhã. A ansiedade havia tirado o meu sono. Em menos de 10 horas eu vou estar em um avião, rumo a uma vida nova, ou assim pelo menos diz meu pai. Ele e minha mãe viajam muito por causa do trabalho, e em geral eu fico muito sozinha. Então eles resolveram me mandar para casa da minha tia em uma cidadezinha chamada Amor Sucré.

Levantei da cama me arrastando, até fica de frente ao espelho. Eu dormia com uma camiseta colada e uma calça larga. Procurei algo de especial em mim: cabelos longos e negros. Olhos de cor azul. Eu era magra e estava longe de ser uma tábua, até que não era tão ruim. Cambaleei um pouco para fora do quarto até a cozinha, onde me surpreendi em ver minha mão sentada. Ela me encarou e um sorriso se formou em seus lábios.

– Bom dia, Alasca. O que faz de pé tão cedo?- Ela me encarou. Antes de tudo, meu nome tem um motivo. Minha pele é bem branca, mas não acho que me colocar o nome de branca de neve ficaria legal, por isso foi Alasca.

– Estou ansiosa, apenas isso- Eu disse dando de ombros e sorrindo de volta. Peguei um copo de água e me sentei a mesa junto dela, bebericando devagar.- E você? O que faz acordada?

– Não é todo dia que se vê uma filha indo embora- Seus olhos marejaram um pouco ao falar. Me levantei e a envolvi em um abraço.

– Eu vou estar com a tia... Vocês vão sempre me visitar, certo?- Perguntei.

– Claro! Agora vai dormir que hoje o dia será longo- Ela disse. minha mãe sempre foi distante de mim, imagino que por causa das viagens. Sempre que as coisas começavam a ficar sentimentais ela desviava o assunto. Suspirei e voltei para o meu quarto. Deitei na cama e adormeci.

***

– Alasca? Alasca! Vamos filha, está na hora- Acordei com meu pai me chamando. Ele me lançou um sorriso quando abri os olhos e saiu do quarto. Minhas malas ja estavam prontas ao pé da cama, com minha mala de mão ao lado. Levantei e peguei a roupa separada no closet e fui correndo para o banheiro tomar banho, já eram 13 da tarde, eu havia dormido muito.

Depois de tomar banho, vesti minha calça jeans e minha camiseta vermelha lisa, junto com meu fiel e inseparável All Star preto. Coloquei meu casaco de couro preto que ia apenas até o meio das minhas costas e o final do meu ante braço. Penteei os cabelos e escovei os dentes, agora ja eram 13:50. Peguei minha mochila de mão e minha mala e sai correndo. O vôo era as 15:30. Chegando no hall de entrada, meus pais me aguardavam.

– Tudo pronto?- Meu pai perguntou.

– Tudo! Agora posso ficar em casa?- Brinquei. Não que eu não quisesse ir, só estava um pouco chateada.

– Pare de brincadeiras! Sabe que gostaríamos que você ficasse conosco- Minha mãe disse a ponto de chorar de novo. Sorri e a abracei.

– Ok ok, daqui a pouco vou cair no seu planinho de perder o avião- Meu pai disse piscando para mim.

– Droga! Como você descobriu?- Perguntei e ele girou os olhos enquanto pegava minha mala e colocava no porta-malas. Entrei no carro e fomos cantando as musicas do radio durante o caminho inteiro.

Quando chegamos ao aeroporto, meu pai pegou minha mala e foi fazer meu chek-in, enquanto eu e minha mãe conversávamos. Ele voltou e fomos juntos até a sala de embarque. Parei em frente as portas de vidro e encarei meus pais.

– Acho que é aqui que nos despedimos- Eu disse.

– Alasca... Sentiremos a sua falta. Isso é para seu próprio bem. Não somos presentes na sua vida, mas espero um dia mudar isso- Meu pai disse enquanto colocava meu cabelo atrás da orelha.

– Filha... Você é tudo para mim. Nunca duvide disso ok? Como você cresceu! Ainda lembro de você pequeninha correndo pelo jardim. Agora ja está com 16... E juizo em? Vou sentir sua falta- Minha mãe disse desabando em lagrimas.

– Pai, mãe, vocês são a minha vida. Quer dizer, literalmente, vocês me colocaram nesse mundo. Obrigada por cada lembrança e cada momento até agora! Espero noticias em breve- Eu disse abraçando meus pais. Eu não era muito sentimental, tentava esconder isso de tanto ficar sozinha.

– Amamos você- Eles disseram juntos.

– Também amo vocês- Eu disse me separando do abraço e entrando para dentro da sala de embarque. Meu vôo havia acabado de ser chamado e eu entrei dentro do avião. Olhei pela janela pela ultima vez, antes de dormir.

***

Quando desci do avião senti a brisa da nova cidade e sorri. Peguei minha mala na esteira e fui atrás da minha tia. Ela estava sentada mexendo no celular. Usava um vestido azul e havia pintado os calos de roxo. Apesar de ter 40 anos, aparentava 30.

– Tia?- Chamei. Ela olhou para mim e sorriu.

– Alasca! Finalmente! Preciso dizer o quanto estou animada? Vai ser fantástico ter você morando comigo!- Ela disse animada me abraçando.- Vamos!

Minha tia pegou minha mala e colocou no carro. Cantamos um pouco no radio, mas ela estava mais curiosa sobre minha vida, e eu sobre a cidade. Eu contei que estava bem, super animada por ir morar com ela, estava sem namorado. Ela me contou que eu iria estudar numa escola perto da casa dela, chamada Sweet Amores. Disse que era uma cidade pequena e eu logo aprenderia a andar perfeitamente por ela.

Chegamos até a casa da tia e subi, atrás do meu quarto. Ele tinha paredes brancas, uma escrivaninha, uma cama de casal, uma janela grande e um banheiro.

– Quero que você decore do seu gosto- A tia disse. Eu sorri e concordei com a cabeça colocando a mala em cima da cama. Desci para comer alguma coisa e a tia era realmente muito divertida. - E você paro de tocar?- Perguntou.

– Jamais!- Eu ri- Vendi meus instrumentos, pretendo comprar novos aqui.- Eu disse.

– O que você toca mesmo?- Perguntou tomando um gole de café.

– Piano e violão- Eu disse. Ela sorriu.

– Está cansada? Acho melhor você ir dormir, terá aula amanhã cedo!- Ela disse. Fiz uma careta.

– Boa noite!- Ela me deu um aceno com a cabeça e eu subi. Coloquei as roupas dentro do closet, separando apenas um pijama. Tomei meu banho e escovei os dentes e vesti meu pijama. Me deitei na cama e fiquei encarando o teto em branco ate que peguei no sono com o pensamento "como será amanha?"