Agarrei o travesseiro de Helena e fechei meus olhos inalando o perfume impregnado ali. Joguei meu corpo sobre a cama e acabei dormindo de mal jeito. Sou despertado duas horas depois com alguém batendo na porta do quarto! - Entre! - falei me sentando.

– Bom dia, Renê! Cadê a aniversariante?

– Ele se foi Lúcia?

– Não pode ser! - abri os armários e constatei que seus pertences ainda estavam ali. - As coisas dela estão todas aqui, Helena deve ter ido caminhar, ela costuma fazer isso nas manhãs que tem livre.

– Tia a senhora se esqueceu da ligação da tal Emma? Helena disse que levaria poucas coisas.

– É verdade Renê, mas não imaginei que fosse tão rápido assim. O que essa menina tem na cabeça?

– Sinceramente não sei. Pensei que ela me amasse! - peguei um travesseiro e o apartei forte em meu colo, deixando algumas lágrimas caírem sobre ele, era como se eu pudesse abraçá-la.

– Claro que Helena te ama! - afirmou tia Lúcia se sentando na cama e me abraçando. - Se realmente ela se foi nós vamos buscá-la de volta. - completou ela.

– Que melancolia é essa gente? Cadê minha irmã? - perguntou Paty entrando no quarto, não tive forças para responder outra vez.

– Ela foi embora filha! - disse tia Lúcia.

– Eu falei, eu falei que ela ia escondida da gente! O que vamos fazer agora? Como enfrentarei meus problemas sem Helena ao meu lado? - disse Paty chorando ao mesmo tempo se virou e saiu correndo com as mãos na boca. Parecia estar passando mal.

– Vou atrás dela Renê, com licença! - me retirei do quarto e fui ver o que minha filha tinha. - Paty está tudo bem meu amor? - perguntei parada na porta do banheiro.

– Sim mãe, foi só uma azia! - respondeu ela saindo do banheiro e se deitando encolhida na cama.

– Paty, sou sua mãe, estarei aqui para todas as horas. Se Helena tomou a decisão de ir temos que aceitar.

– Não consigo te contar tudo mãe, tem coisas que mais fácil contar para amigos e irmãos. A Helena transmite uma paz e um conforto tão grande.

– Vem cá, me dá um abraço! - Mãe, a gente podia fazer um vídeo desejando feliz aniversário pra ela e depois postar no facebook. Assim ela verá que apesar de brigas todos nós a amamos.

– É uma boa ideia, vamos chamar o Renê e contar a ideia. - contamos toda a ideia a Renê e após fomos colher depoimentos de família e alguns alunos da escola. Aproveitamos também para pegar o endereço do antigo apartamento onde Helena residia na Suíça, Adolfo o tinha. Já se passara das 4 da tarde quando resolvemos tudo, Júlio postou o vídeo a três horas atrás, várias curtidas, vários comentários mas nenhum deles era de Helena. Com certeza ela ainda não o teria visto. O que mais chamava atenção no vídeo era a declaração de amor que Renê fez, além dos parabéns era o assunto mais comentado ali. A diretora da escola comentou indignada ao saber do caso dos dois, inclusive, Renê foi demitido.

– Será que ela viu o vídeo e não quis comentar?

– Acho que não Renê. - Melhor voltarmos para o apartamento dela, talvez ela ligue. - Muda essa cara, amanhã mesmo iremos atrás dela. - disse Júlio.

– É! - dei um sorriso forçado. - Ao chegarmos ao apartamento de Helena tivemos uma grande surpresa, ela estava parada na porta de seu quarto espreguiçando com seu cachorrinho do lado. - Que caras são essas gente? - perguntou ela, senti um tom de deboche em sua voz! - A vontade de abraçá-la era tanta que todos corremos em sua direção.

– Pensei que nunca mais iria te ver! - disse Paty e Júlio ao mesmo tempo.

– Eu não seria louca de viajar e deixar as pessoas que amo aqui.

– Solta, solta! - ordenou Renê afastando todos de mim e me puxando para os braços dele! - ela é só minha! - me abraçou e me encheu de beijos. Meu cachorrinho Dumbo começou a latir de ciúmes, agarrou a barra da calça de Renê na tentativa de afastá-lo de mim. - Sai cachorro chato! - disse Renê sacudindo os pés, fazendo que o cachorrinho caísse de barriga pra cima. - Tadinho Renê! - falei me agachando para pegar o coitado do chão.

– Onde você estava Lena?

– Fui visitar minha amiga Emma.

– E nos mata de desespero desse jeito? - Agora posso chamar sua atenção com razão! -vem aqui! - tia Lu, me pegou pela orelha e me levou até o sofá, Dumbo foi latindo no meu colo pensando que estavam judiando de mim. No sofá coloquei meus pés em cima do Júlio e apoiei minha cabeça nas pernas da tia. - Por que não nos avisou que iria visitar sua amiga? Pensamos que tivesse mesmo voltado à Suíça. - me reprendeu tia Lu.

– Pensaram por que vocês são abelhudos, prestaram atenção em algo que não era da conta de vocês.

– Somos abelhudos mesmo, quanto se trata da minha irmã favorita eu fico de orelha em pé.

– Não precisa falar que ela é sua irmã favorita. - enciumada Paty tacou uma almofada na cabeça de Júlio.

– Mas amor, tudo que você falou na ligação fazia sentido sobre a viagem.

– Isso porque não escutaram o outro lado da linha. Resumindo, eu disse que estava com saudades de Emma e que iria visitá-la em breve no hotel em que ela estava hospedada aqui em São Paulo. Ou seja, ela está morando na cidade vizinha, a menos de 30min daqui.

– E aquela coisa que você falou de levar pouca bagagem, que não gosta de ficar muito tempo no avião, e a pior que não pretendia voltar nunca mais.

– Pra que levar muita coisa se Emma está morando aqui? A respeito da viagem, ela disse que chegou muito cansada por ter andado tanto tempo em um avião, e eu disse que não gostava de ficar muito tempo viajando de avião mas que era necessário atravessar continentes e oceanos com um. E ela me perguntou se eu pretendia voltar a morar na Suíça e eu disse que nunca mais pretendia voltar pra lá. Tá explicado?

– Sim! - todos responderam. - Tínhamos preparado algo pro seu aniversário só que você estragou tudo. - disse Júlio.

– É eu havia me esquecido, só lembrei quanta Emma me deu os parabéns.!

– Lerda, lerda!

– Lerda nada Júlio, minha cabeça estava a mil.

– Pelo visto você ainda não viu nosso vídeo! - resmungou Renê!

– Claro que vi amor! - me levantei e fui sentar no sofá onde ele estava! - Eu amei o vídeo e todas as outras mensagens que você me mandou. Você é um fofo mas mereceu o susto assim como os outros.

– E por quê não curtiu, nem comentou? - Paty me perguntou.

– Comentei assim que o vi, isso já tem uns 20min. Já fui até demitida da escola.

– Você também? - perguntou Renê!

– Aham!

– Eu prometo que amanhã cedo irei conversar com a diretora para convencê-la de te deixar lá!

– Não precisa, D. Olívia não vai com minha cara, ela aproveitou a oportunidade para me demitir e tenho certeza que não voltará atrás.

– A culpa é minha!

– Não culpe seu amor por isso, eu adorei aquela declaração. - sai do sofá e me ajeitei no colo dele.

– Gente, são 19:00h vamos comemorar o niver da Helena num restaurante já que ela estragou a festa! - falou Paty apontando o dedo pra mim.

– Estou com preguiça de sair.

– Então vamos todos para cozinha preparar o jantar e fazer um bolo.

– Gostei da ideia. - Todos se levantaram e foram para cozinha mas Renê puxou meu braço fazendo com que eu ficasse na sala com ele. O que foi? - perguntei.

– Amor, por acaso você voltou a sentir aqueles sintomas de ontem?

– Não Renê, Como eu disse era só um mal estar por eu não ter me alimentado bem.

– Tem certeza?

– Renê, não crie falsas esperanças, eu não estou grávida. Estou no meu período menstrual.

– Que pena!

– Sei que quer muito ser pai assim como eu quero ser mãe, mas faz pouco tempo que perdemos nosso bebê. Vamos esperar por volta de 6 meses a um ano para que meu útero possa se recuperar da perda, quero que nosso filho nasça saudável.

– Tem razão. Então quer dizer que parte desses mal humor desses últimos dias era TPM?

– Também, rs!

– A emoção foi tão grande de te encontrar que nem te dei parabéns pessoalmente, então vamos lá. Amor, te desejo tudo de lindo na sua vida, que a tristeza te esqueça, que seu sorriso lindo no rosto sempre permaneça. Te amo mais que a mim mesmo, com você encontrei o verdadeiro motivo para se viver.

– Obrigada meu lindo!

– Eu ainda não acabei, quero dizer que você é igual a vinho, quanto mais velha melhor.

– Você está me chamando de velha? - coloquei as mãos na cintura

– Não, quero dizer que a cada dia que passa você fica mais linda, mais gostosa.

– Quando eu ficar velha você vai continuar me olhando com esses olhos?

– Claro, continuarei te olhando com os olhos do amor. Não vou deixar ninguém trocar suas fraldas.

– Renê! - soltei uma risada e dei um tapa no ombro dele.

– Ué, não posso ter ciúmes da minha véia? Vai tá tudo murchinho mais vai continuar sendo meu, só meu, ué! - fui me aproximando mais dela, rodeei minhas mãos por volta da cintura de Helena e dei-lhe um beijo! - tava com saudades dos seus lábios sabia?

– Eu também! - falei voltando a beijá-lo!

– Vamos parar com essa melação! - disse Júlio nos interrompendo

– Você e essa sua mania de nos interromper nas horas inadequadas.

– Depois vocês namoram. Renê, vai ajudar na cozinha preciso conversar com ela.

– OK, né!

– Feliz aniversário magrela! - abracei-a apertado e a girei no ar!

– Obrigada! -agora me coloca no chão.

– Lena, eu quero te pedir perdão mais uma vez, fui um imbecil, prometo que nunca mais te tratarei assim!

– Já esqueci.

– Promete que nossa amizade vai ser como antes?

– Prometo! - falei e o abracei novamente. - Jú, a campainha está tocando!

– Vou lá abrir! - Oi quem é você?

– Sou Valéria, a professora Helena está?

– Sim, entre.

– Professora, você é uma danada, passei aqui umas quatro vezes para te parabenizar e não a encontrei. Sabia que não são horas de crianças está na rua? Então, só vim aqui a essas horas por você é muito especial pra mim, além de minha professora é minha melhor amiga. Te desejo todas as maravilhas do mundo, que você continue sendo sempre essa pessoa meiga, carinhosa e sempre disposta a ajudar. Te amo muito, só vou à escola todos os dias por você está lá. - falei em meio a um caloroso abraço.

– Obrigada meu anjo. Valéria, preciso te dizer uma coisa.

– Que coisa?

– Que não seria mais sua professora.

– Mas por quê?

– A diretora me demitiu por causa do meu relacionamento com Renê.

– Aquela mal amada.

– Respeite os mais velhos.

– Mas professora o que será da gente agora sem você.

– Sem mim não, eu sempre estarei aqui em casa a espera de uma visita de vocês.

– Tudo bem então, e quem é esse pedaço de mal caminho ? - disse me referindo ao rapaz que abriu a porta.

– Meu irmão, Júlio. Lindo né?

– Demais!

– Obrigado mocinha! Você também é muito linda. - disse Júlio

– Profe, antes de ir, quero escutar a frase que eu sempre quis ouvir?

– Que frase?

– Você sabe!

– Tudo bem, você é minha aluna preferida. - Valéria deu sorrisão se despediu e foi para casa. Espero que ela não arme nada contra a minha demissão..... às nove da noite jantamos e após cantaram parabéns pra mim.

– Ninguém vai me da nenhum presente? - falei brincando

– Pelo susto que nos deu, vai ficar sem. - falei e ela fiz bico.

– Nem sequer uma balinha?

– NÃO! - todos disseram alto.

– Que grosseria! - disse e eles riram em seguida cada um foi para um canto. Me sentei no chão com Dumbo enquanto eles não voltavam. - Esse aqui é meu presente! - Renê me entregou um lindo violão, pulei no colo dele o fazendo cair em cima das almofadas que estavam no chão. - Obrigada! - agradeci dando um beijo e voltei a me sentar. Da Paty ganhei um lindo vestido, do Júlio um colar com um pingente escrito amigos para sempre. Tia Lu me presenteou com um par de brincos.

– Esse presente aqui foi seu pai quem mandou te entregar.

– Não quero nada dele.

– Acho que você vai gostar, são lembranças da sua mãe!

– Quero sim!

– Mas tem uma condição!

– Qual?

– Seu pai disse para eu te entregar as lembranças de sua mãe só se você aceitar o presente dele também.

– Se não tiver outro jeito eu aceito! - peguei a caixa com recordações da minha mãe e um envelope que seria o presente do meu pai. Abri imediatamente a caixa, havia nela vários álbuns de fotos, cartas, até meu cordão umbilical estava guardado lá dentro. -Peguei uma foto que estava solta na caixa. - Éramos tão felizes, de uma hora para outra tudo mudou! - deixei escapar uma lágrima enquanto recordava o momento .... - E você papai, porque mudou tanto?....

– Ei, vamos parar com essa tristeza, hoje é dia de comemorar! - tirei a foto que estava em suas mãos e as guardei de volta ma caixa.

– Então me ensina a tocar violão! - disse secando meus olhos com as costas das mãos.

– É pra já, vem cá! - ela se sentou no meio das minhas pernas com o violão. Por vezes enquanto ensinada dava uma mordidinhas na orelha e no pescoço dela. 30 min depois de ser professor da minha namorada eu já estava exausto, Helena não acertava uma única nota. - Me dá isso aqui! - tomei o violão das mãos dela! - Já é a terceira corda que você arrebenta.

– Nem que eu nascesse com tentáculos conseguiria tocar bem, é muito difícil. - sai do meio das pernas do Renê e me sentei ao lado.

– Vamos fazer diferente, eu toco, você canta.

– Pode ser uma música que eu aprendi na Suíça?

– Não porque não goste nem de ouvir mais o nome desse país. E com certeza eu não saberia tocar!

– Pode ser palavras ao vento da Cássia Heller?

– Pode!

– Eu canto a músicas e vocês o refrão! - falei para meus irmãos e a tia.

– OK! - eles responderam

– No três começamos! 1, 2, 3

– Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

– Tá fora do tom.

– Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

– Tá fora do tom

– Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras

– TÁ FORA DO TOM HELENA! - felei entredentes

– Deixa tá fora do tom, eu quero cantar! - revirei os olhos e continuei cantando - Palavras, palavras.. palavras......... - recebi em troca uma almofada na cara, e tudo se transformou numa guerrinha... Ficamos o restante da noite conversando e cantando, fui obrigada a ser a segunda voz, rs. Foi muito bom passar esse aniversário com as pessoas que amo, e por mais que eu tivesse me divertido, por mais que eu negasse, senti a falta do meu pai aqui comigo.