Cidade da Escuridão.

Depois de tudo o que foi dito por Wesley, o homem que dizia ser pai de Alexia, a garota não pensa mais em nada além disso. Passa grande parte do seu tempo comparando-se aos irmãos e descobrindo cada vez mais diferenças entre eles. Por que Debbie e Simon são tão parecidos e ela tão diferente de ambos? É uma das perguntas que ela se faz, mas não consegue responder. Gostaria que o homem estivesse enganado, que tudo não passasse de um mal-entendido, que sua verdadeira filha fosse qualquer outra pessoa, não ela.

Sentada no terceiro degrau da escada que dá acesso aos quartos, seus pensamentos vagueiam. Sua mente está confusa. Acreditar ou não? Eis a questão. Todos os pontos indicam que Wesley falara a verdade. Porém, para a moça, é muito difícil acreditar nele.

Simon vêm da cozinha, carregando um fardo de refrigerantes. Quando avista a irmã na escada, franze o cenho sem entender.

–O que está fazendo aí?- Pergunta o rapaz.

–Nada.- Alexia responde.

Simon dá de ombros e sobe a escada, passando por ela.

Alexia solta um suspiro.

Passados mais alguns minutos, Debbie chega em casa. Ela joga a bolsa no sofá e se dirige à cozinha, ignorando a irmã na escada. Ela abre a geladeira e pega a garrafa d'água, depois enche um copo e volta à sala. Seu olhar pousa em Alexia.

–Faz o que aí?- Pergunta, bebericando a água.

–Pensando...

Debbie engole a água, e fita a irmã com os olhos semicerrados.

–Não me diga que está pensando naquele velho caduco outra vez?

–Pois é...- Alexia levanta-se e encaminha-se à Debbie.

–Alexia ele é louco- Debbie diz.- Não acredite nele.

–É...- Alexia pensa um pouco.- É, você tem razão. Ele está colocando minhocas na minha cabeça.

Debbie sacode a cabeça e vai até o sofá, sentando-se nele. Alexia permanece atrás do sofá, com os olhos fixado na cabeleira vermelha de Debbie. Talvez ela tenha mesmo razão. Mas talvez o homem estivesse dizendo a verdade...

Alexia vira-se para a escada e sobe dois degraus por vez, afim de chegar logo. Ela passa pelo quarto de Simon e percebe a porta entreaberta. Ela para e fica um longo tempo observando-o jogar vídeo game. Os cabelos negros e lisos, pingando como sempre. Os olhos verdes intensos fixados no jogo. As roupas folgadas... Bem, Simon e ela são muito diferentes.

Os olhos dele saem do jogo e encontram a irmã parada à porta. Ele estreita os olhos.

–Você está me espiando?- Ele diz, franzindo o cenho.

–Eu? Eu não...- Ela responde, um pouco atrapalhada.

–Então o que está fazendo parada aí?

–Nada...- Ela passa a mão nos cabelos.- Eu só estava vendo você jogar...

–Você quer jogar?- Pergunta ele, oferecendo-lhe a manete.

–Não...- Ela recua.- Eu vou para o meu quarto.

Ela sai dali e dirige-se ao quarto.

Simon continua olhando para a porta, confuso.

–Eu hein.- Ele murmura.

Simon levanta-se e sai do quarto. Olha para os lados, mas ela já se fora. Então, ele desce as escadas, e chega à sala. Debbie permanece no sofá assistindo alguns programas de TV. Simon joga-se ao seu lado.

–Você sabe o que aconteceu com Alexia?- Pergunta.

–Não.- Debbie mente.- Por que a pergunta?

–Sei lá, ela anda meio estranha ultimamente.- Simon dá de ombros.

–Sério? Eu não acho.- Debbie diz- Para mim ela está perfeitamente normal.

–Ah tá. Você acha normal a pessoa ficar horas observando você?- Pergunta, com cinismo.

–Por que? Ela fez isso?

–Fez. Ela estava parada na porta do meu quarto me olhando.- Ele explica.

–Certo, Simon, eu vou falar com ela.- Debbie suspira.

Ela se levanta e vai até a escada, subindo até o quarto. A porta de seu quarto está encostada, então ela a empurra lentamente, o que causa um mínimo ruído. Alexia está sentada em um banquinho, frente à penteadeira, penteando os cabelos azuis. Debbie senta-se na cama, atrás dela.

–Simon quer saber o motivo de você estar assim.- Diz Debbie.

–Fala que não é nada.- Diz Alexia, olhando Debbie pelo espelho.

Ambas ficam em silêncio, e Alexia não desgruda os olhos da irmã.

–Quer parar, Alexia?- Debbie gira os olhos.

–O quê? Eu não estou fazendo nada!- Alexia diz, desviando o olhar.

–Está sim.

–Não, eu estou quieta aqui.- Ela diz, guardando a escova de cabelos na gaveta da penteadeira.

–Você está me olhando. Pelo espelho.- Explica Debbie.

–Desculpa.- Alexia suspira, virando-se para Debbie.- Sabe o que é?

–O que?

–Eu acho que esse senhor tem razão.- Desabafa.- Eu acho que ele é meu verdadeiro pai.

–E por que acha isso?- Quer saber Debbie.

–Meus olhos são cor de mel. Como os dele.- Ela diz.- Meus cabelos são mais claros que os seus e os do Simon. Meu rosto é mais fino... eu sou diferente de vocês.

–Isso não quer dizer nada.- Diz Debbie.- Você só descobrirá a verdade por meio de um exame de D.N.A. Por enquanto, ele não é nada além de um estranho, certo?

–Certo.- Ela ri.- Mas o Simon vai ficar furioso quando descobrir que foi o último a saber.

Debbie ri

–Verdade...- Ela deita na cama.- E agora e vou dormir.

–Mas já?- Pergunta Alexia, surpresa.

–Claro. Estou exausta de tanto trabalhar.- Diz Debbie.

–Certo, então.- Ela sorri, mais tranquila.