Cidade da Escuridão.

Depois da história do pai de Erick, Megan resolve sair um pouco. Ela não sabe bem o que vai fazer lá fora, mas simplesmente não quer mais ficar lá dentro. A festa está incrível, toda decorada de lilás, que provavelmente é a cor favorita da pequena irmã de Erick. Tem crianças para todo o lado, correndo, brincando... Quando Megan começa a andar para fora da casa, um grupo de crianças quase a derruba, na correria, e ela fica meio perdida. Então ela se vira bruscamente para trás, esbarrando em Debbie, que tenta equilibrar o pratinho de salgadinhos que Megan quase derrubara. Ela também segura uma latinha de refrigerante

–Desculpa.- Ela diz, um pouco sem jeito.- Eu sou uma desastrada.

Debbie começa a rir, o que acaba fazendo com que Megan sorria também.

–Que foi?- Megan pergunta, sem entender.

–Sei lá, é que você está tão perdida, que chega a ser engraçado.- Debbie sorri.

Megan não responde.

–Qual é o seu nome?- Pergunta Debbie, enfiando uns salgadinhos na boca.

–Megan.- Ela responde.

–Ah.- Debbie engole os salgadinhos.- Você é a irmã do Oliver que vai entrar na escola de armas amanhã, não é? Meu nome é Debbie.

–Sou.- Megan coloca uma mecha de seus cabelos ruivos cacheados atrás da orelha.- Você também é da escola?

–Há um bocado de tempo.- Responde Debbie.- Agora eu já vou indo. Quer vir comigo ou ficar parada no meio das crianças?

–Ir para onde?- Pergunta Megan com as sobrancelhas franzidas.

–Para lá.- Ela aponta para a garagem.

–O que você vai fazer numa garagem?- Ela pergunta sem entender.

–Nada. Só ficamos conversando. Meu irmão e meu namorado também estão lá, sabe?- Ela diz.- Então? Você vem?

–O.K., então.- Ela concorda.

As duas caminham lado a lado até a garagem. Ao chegarem lá, Debbie apresenta Megan aos outros. Nota-se que Finn está bem alegre, mas Simon nem tanto. Ele não fica muito tempo na garagem, acaba pegando um punhado dos salgadinhos de Debbie e o refrigerante que ela truxera para ele e saindo sem dizer uma palavra sequer, deixando todos, principalmente Megan que ainda não o conhece direito, confusos.

–O que ele tem?- Pergunta Megan, olhando para a entrada da garagem, por onde Simon acabara de sair.

–Não sei.- Finn dá de ombros.

–Ele tem andado meio triste.- Debbie diz, pegando um salgadinho e mordendo-o.- Ninguém consegue falar direito com ele.

–Será que eu consigo?- Pergunta Megan, voltando a olhar para os dois, tentando ajudar.

–Tenta a sorte.- Diz Finn.

–É, talvez ele fale alguma coisa com você.- Diz Debbie.- Só não fique chateada se ele gritar contigo.

Megan olha de novo para a saída da garagem e em seguida para Debbie.

–Ele não vai.- Ela sorri.

Megan sai da garagem e encontra Simon sentado na calçada, pensativo, com a cabeça baixa e segurando a latinha de refrigerante. Ela suspira, tentando encontrar o que dizer, então se senta ao lado dele. Na realidade, ela nem sabe o por que de estar fazendo aquilo, mas não voltaria atrás. Simon ergue seus intensos olhos verdes para Megan, e ela é capaz de notar que eles estão, não apenas tristes, mas cansados. Depois ele abaixa a cabeça novamente.

–Por que você saiu de lá sem dizer nada?- Ela pergunta com a voz calma.

–Porque eu quero ficar sozinho.

–Mas isso não resolve nada.- Ela diz, fixando seus olhos amarelados em um ponto distante.- Quero dizer, não adianta se isolar. Tem que enfrentar seus problemas.

Simon, pela primeira vez em dias, não sentiu vontade de gritar.

–Eu sei...- Ele suspira entristecido.- Mas não sei como vou resolver as coisas, entende?

–Enfrentando.- Ela diz.- Não pode se isolar do mundo, porque isso só irá te torturar.

Ele a olha novamente, e beberica o refrigerante.

–E porque você está me dando conselhos?- Ele pergunta, se dando conta que nem mesmo conhece essa garota.

–Realmente não sei.- Ela o olha também.- Eu nem ao menos sei o que vim fazer aqui.

–Mas por que está dizendo isso?- Ele pergunta.

–Eu não conheço ninguém direito.- Ela diz.- E você, por que fica tão sozinho?

–Só estava afim de distrair a cabeça.- Simon fala.- Mas acho que não deu certo.

Megan sorri.

–Te atrapalhei?

–Não.- Simon responde, se levantando e estendendo a mão para ajudá-la. Megan segura sua mão e se levanta também. Os dois caminham lado a lado até onde está a moto de Simon.

Ele monta na moto e a liga.

–Estou indo embora.- Ele informa.- Se ver minhas irmãs, diga que já fui.

–Pode deixar.- Megan diz, o observando.

Simon sorri.

–Quer saber?- Ele diz.- Gostei de você.

Megan sorri timidamente.

–Tchau Megan.- Simon diz.

E a moto dá a partida. Megan fica mais uns instantes o observando se afastar e depois começa a andar até a garagem, sorrindo feito boba.

No caminho ela encontra Debbie, mais uma vez comendo.

–Nossa, demorou, hein?- Debbie sorri.- Mas cadê o Simon?

–Já foi embora.

–E você conseguiu falar com ele?- Debbie pergunta, mais preocupada com a torta que comia.

–Falei.

Debbie a fita, engolindo o que mastigava.

–Ele gritou com você, não foi?

Megan franze as sobrancelhas.

–Não, ele não fez isso.- Ele diz.

–Curioso.- Debbie observa.- Ele sempre grita com todo mundo quando está mal humorado.

–Acho que tive sorte.- Megan sorri.

Debbie come o resto da torta.

–Agora vamos entrar para pegar o bolo, senão ele acaba e eu fico sem comer.- Debbie diz, e Megan ri.

A festa acaba tarde, e as duas irmãs só chegam em casa meia noite. Debbie vai direto para a cozinha, e Alexia se senta no braço do sofá. Simon está no sofá assistindo TV, mas sua atenção é roubada por Alexia que não para de olhá-lo estranhamente.

Ele olha para Alexia um tanto irritado.

–Por que tá me olhando? O que quer?- Ele pergunta.

–Fiquei sabendo que você não gritou com a Megan quando ela veio falar com você.- Alexia diz.

–Lógico que não.- Simon revira os olhos.

–Estranho, você sempre grita com qualquer um que toque no assunto.- Ela diz.

–Que assunto?

–Você sabe...- Ela diz.- Seus problemas.

Simon fica mais sério.

–Como você ficou sabendo disso?

–A Megan contou para a Debbie e a Debbie me contou.- Ela dá de ombros.

Nessa hora, Debbie adentra a sala enfurecida segurando um pacote vazio de biscoitos.

–Quem pegou os meus biscoitos?!- Ela diz, esganiçadamente.

–Não fui eu.- Diz Alexia rápido demais erguendo as mãos no ar.

–Simon, você me paga!- Ela diz entre os dentes.

E depois disso, todos vão dormir, afinal já é madrugada.