Cidade da Escuridão.

Alguns dias antes, Simon se deu conta que seu trabalho na oficina de motos não iria ser suficiente para sustentar ele e suas irmãs, e ainda fazer as vontades delas. Ele não queria que nenhuma das duas fossem trabalhar, mas Debbie, insistente que é, bateu o pé que iria arranjar um emprego para ela, já que já tem dezoito. Simon deu-se por vencido, e deixou que a irmã trabalhasse, e ela arrumou um emprego em uma lanchonete vizinha.

E hoje ela começaria no novo emprego.

Já é pelo menos umas sete horas da manhã quando Debbie sai. Simon vai uma hora depois. Simon sai do trabalho às 17:00 horas e Debbie às 18:00. Alexia está sozinha em casa, sem nada de especial para fazer. Hoje, às 20:00 horas, todos os três iriam para a festa de aniversário da irmã de Erick, e amanhã, Megan começaria na grande Escola de Armas. Alexia havia insistido muito para que Debbie não fosse trabalhar, pois, diferente da irmã, ela não aprova a ideia de ficar sozinha em casa.

Um dia na escola de armas, o outro trabalhando, é assim que funciona. As aulas não são todos os dias, um dia sim, e outro não.

Alexia tem a obrigação de arrumar a casa e cozinhar, pois só há ela em casa.

O dia de Alexia foi normal, ela não saiu, não se entupiu de biscoitos, não passou o dia inteiro vendo TV... Apenas se ocupou fazendo as tarefas domésticas, e quando terminou, se jogou no sofá e aguardou os irmãos chegarem.

Simon chega primeiro, e vai direto para o banheiro tomar banho. Alexia vai para a cozinha preparar o jantar, sem esperar Debbie voltar. Ela está tão entretida com o que faz, que nem vê a hora que Simon sai do banheiro, com os cabelos encharcados e pingando, pés descalços, calças pretas e blusa azul-marinho. Ela só volta seu olhar para ele quando este abre a porta do armário, que faz um rangido. Alexia o observa pegar um pacote de salgadinhos.

–Se eu fosse você, não pegaria isso.- Ela avisa, com as mãos na cintura.

–Por que?- Ele pergunta, virando-se para ela.

–Por que isso pertence à Debbie.- Ela sorri.

–O.K., e o que você acha que ela vai fazer se eu pegar?- Ele pergunta com ironismo.- Me bater?

–O que ela vai fazer eu não sei, mas boa coisa que não vai ser.- Ela se vira para a panela.

Simon vai até a porta, mas antes de sair, diz:

–Estou morrendo de medo dela.

Alexia sorri.

Simon vai para seu quarto.

Depois que acaba de preparar a janta, Alexia vai para seu quarto se aprontar para a festa da irmã de Erick. Debbie chega e para à porta enquanto Alexia coloca os brincos. Depois ela entra e se senta na cama.

–E o Simon?- Ela pergunta.- Está de bem com a vida hoje?

–Parece que sim.- Alexia responde, sem a olhar, admirando-se no espelho de uma penteadeira.

–Sabe o que eu acho?- Debbie diz, colocando os pés em cima da cama e cruzando as pernas.

–O que?- Alexia pergunta sem entender.

–Que ele está de saco cheio da Judy.- Ela fala, e Alexia dá um meio sorriso

–Por que você pensa assim?- Pergunta Alexia, agora se maquiando.

–Não sei...- Ela fala, indiferente.- Todas as vezes que ele vai na casa dela, volta mal humorado desse jeito. Acho que ele não gosta mais dela.

Alexia franze os lábios e dá as costas para o espelho para encarar a irmã, já que sua maquiagem já está pronta.

–Então por que será que ele ainda não mandou ela pro espaço?- Ela pergunta.

–Acho que ele tem medo de magoá-la.- Ela diz, se levantando da cama.- Mas acho que agora eu tenho que me arrumar, não é?

Alexia sorri.

–É, e vê se não demora.- Diz.

Debbie sai do quarto, e Alexia torna a olhar para a penteadeira para, dessa vez, arrumar o cabelo.

Quando chega as 19:30, todos já estão arrumados, Alexia com seu vestido azul-marinho casual, cabelos espetados, maquiagem simples, brincos desiguais, sandália preta. Debbie com seus cabelos vermelhos trançados, blusa preta um pouco decotada, calças cumpridas jeans azul, sandália simples preta, e Simon, com uma blusa verde escura de mangas, calças jeans preta, tênis pretos e o cabelo bagunçado, como sempre.

Eles foram pontuais, chegaram na hora certa.

A casa de Erick está repleta de gente, tanto do lado de fora, como do lado de dentro. Os parentes mais próximos e os amigos de Erick estão no interior da casa, inclusive Alexia, Caleb, Oliver e sua irmã Megan. Debbie, Finn e Simon, estão na garagem, pois o lugar é mais tranquilo, sem muita gente.

Dentro de casa, Alexia está sentada num sofá entre Erick e Megan, enquanto Oliver e Caleb estão em outro. Megan está um pouco tímida, afinal não conhece ninguém na festa além de seu irmão e Caleb.

Quando o pai de Erick, Tom, entra na sala, Caleb fica boquiaberto com suas cicatrizes de queimadura. Alexia se levanta e cumprimenta o sogro, e depois se senta novamente.

Caleb acompanha Tom com o olhar enquanto ele sai da casa, se encaminhando para o quintal. Depois, disfarçadamente, cutuca o braço de Oliver, querendo chamar sua atenção, mas tudo que consegue é um empurrão do mesmo.

–Quer parar de ser chato?- Briga Oliver, irritado.- O que você quer?

Caleb cora instantaneamente quando todos os olhares se voltam para ele.

–Eu só...- Ele diz baixinho.- O que você acha que aconteceu com o pai dele?

Ele pergunta timidamente. Oliver revira os olhos castanhos.

–Como você espera que eu saiba?- Ele pergunta mais baixo, para ninguém além dos dois escutar.- Pergunta para ele, ué.

–Você ficou maluco?- Caleb diz, com evidente desconforto, voltando a cor normal.- Eu não posso fazer isso.

–Então pergunta para o Erick.- Sugere Oliver.

–Isso vai deixar ele chateado.- Observa Caleb.

–O Erick é legal, não vai se importar com isso.- Afirma Oliver.

–Mas eu não posso perguntar isso para ele.- Caleb diz, baixinho.- É falta de educação, e além do mais...

Caleb não termina a frase, pois Oliver o interrompe.

–Erick, posso te perguntar uma coisa?- Diz Oliver, e Caleb, mais uma vez, cora.

–Você já está fazendo uma.- Erick ri, mas acaba recebendo um beliscão de Alexia, e volta a ficar sério.- Pode falar.- Ele diz, massageando o braço.

–Por que seu pai tem aquelas cicatrizes?- Ele pergunta.

Caleb espera que Erick ficasse furioso, mas ele simplesmente sorri. Mas Megan olha para Oliver envergonhada.

–Oliver!- Ela diz.- Isso não é pergunta que se faça...

Mas Erick balança a cabeça.

–Não tem problema.- Erick diz.- Meu pai não tem vergonha de suas cicatrizes, afinal elas representam sua sobrevivência. Se vocês quiserem, posso chamá-lo aqui para que ele conte a história.

Todos concordam, então Erick vai buscá-lo. Quando Tom está contando a história do acidente de carro que levou seus três amigos de uma só vez, todos parecem impressionados. Caleb não desvia o olhar do homem um minuto sequer, e guarda cada detalhe em sua mente. Todos os outros também parecem super interessados em ouvi-lo, com exceção de Erick, que já ouvira aquela história mais vezes do que pode contar.

Tom é muito alegre, e suas gargalhadas são frequentes, mas a lembrança do acidente ainda o assusta, embora ele realmente não se importe em contá-las uma, duas, três vezes seguidas, se preciso for.