Cidade da Luz.

Depois daquele ocorrido com Leo, Cleo tem estado muito feliz. Ele vem vê-la sempre que pode, e ela está até mais sorridente depois disso. Os dias estavam se passando normalmente para Cleo. O inverno já havia se despedido e dado lugar à primavera, o que a animava ainda mais.

Mas um certo dia, Lara aparece na casa de Cleo aos prantos. Mayds a atende, e preocupada, a manda entrar. Cleo logo aparece, descendo as escadas de seu quarto correndo, e indo em direção à amiga, que está sentada no sofá, com Mayds ao seu lado, a consolando.

Cleo fica preocupadíssima, e se senta ao lado da amiga. Não estava acostumada a ver Lara naquele estado.

–Lara, querida, quer que eu lhe traga um copo d'água?- Pergunta Mayds, segurando uma de suas mãos. Lara balança a cabeça em afirmação.

Assim que Mayds sai, Lara desaba nos braços de sua amiga, a abraçando e soluçando.

–Lara...- Cleo sai do abraço e segura Lara pelos ombros. Ela a fita com uma preocupação evidente, mas Lara evita o olhar da amiga, e soluça.- O que aconteceu?

–Eu fui uma irresponsável.- Ela suspira, secando as lágrimas com as costas da mão.

Mayds aparece com o copo d'água e também com um lencinho de papel. Ela para de pé ao lado das meninas e entrega o que trouxe à Lara.

–Calma Lara.- Cleo afaga-lhe os cabelos louros.- Olhe, vamos para o meu quarto e você me conta o que aconteceu. Se importa mãe?

–Não tem problema.- Diz dona Mayds, continuando ali enquanto as duas saem da sala

Lara tenta engolir as lágrimas. Mas seus olhos estão inundados.

As duas sobem a escada e chegam ao quarto de Cleo. Cleo pede que a amiga se sente, e Lara obedece.

–Pois bem.- Cleo suspira, se sentando ao seu lado.- Agora pode me explicar o que houve.

Lara ainda está com o copo d'água e o lencinho que a mãe de Cleo lhe dera. Ela beberica a água, tremendo. Então se acalma um pouco.

–Ouça, Cleo, o que vou te contar agora é muito importante.- Ela diz, seriamente.

–Então diga logo!- Cleo a olhou com um misto de preocupação e curiosidade.

–É que...- Ela parece querer voltar a chorar, mas apenas diz baixinho.- Estou grávida, Cleo.

Cleo arregala seus olhos pretos e fita a amiga, sem acreditar.

–Você o quê?- Ela pisca.

–Você ouviu.- Lara desvia o olhar, corando completamente.

Cleo não tem o que dizer, primeiro tem que acreditar no que acaba de ouvir. Ela fita o chão, reorganizando suas ideias, e nisso, longos cinco minutos se sucedem.

–O Pietro sabe?- Cleo pergunta.

–Ninguém sabe.- Ela soluça.- Só você. E eu.

–Mas Lara, o que você vai fazer?- Cleo pergunta, olhando para a amiga.

–Sinceramente...- Lara dá um longo suspiro.- Não faço a menor ideia. Nem sequer pensei em como vou dar a notícia para meus pais. Eu só tenho dezesseis anos, Cleo. Dezesseis.

Cleo suspira.

–Olhe, Lara, fique calma.- Ela passa os dedos por entre os cabelos da amiga.- Primeiro, você precisa falar com o Pietro. Juntos vocês acharão a solução.

Lara beberica novamente a água e coloca o copo sobre um criado-mudo.

–Eu sei, eu sei.- Diz Lara.- Mas o problema é como vou falar com ele.

–Falando, ué.- Cleo gira os olhos.- E eu até tive uma ideia.

Cleo pega seu celular que estava em seu bolso, como sempre, e disca o número de Pietro. Quando ela leva o celular à orelha, Lara arregala os olhos.

–O que está fazendo?- Ela diz.- Vai contar para ele por telefone?

Cleo ergue a mão livre em direção à Lara, como que pedindo para que parasse de falar. Pietro atente.

–Alô, Pietro?- Ela diz.

–Quem mais poderia ser? - Ouve-se a voz dele, do outro lado da linha.

Cleo gira os olhos.

–Vem aqui em casa, é urgente.- Diz Cleo.- A Lara precisa falar com você.

–A Lara? O que tem ela?– Pelo seu tom de voz, dava para notar que está preocupado.

–Vem logo.- Diz ela.- Não demora.

Então desliga o telefone.

Lara está com o rosto riscado de lágrimas, mas as seca rapidamente com o lencinho.

–Sabe, Cleo, eu até brigaria com você agora.- Ela se deita na cama.- Se não estivesse certa.

Cleo observa a amiga, tentando compreender o tamanho de seu desespero. Talvez Pietro não aceitasse isso, afinal tem apenas dezessete. Talvez os pais dela também não aceitassem.

Cleo deita-se ao seu lado.

–Aconteça o que acontecer.- Ela diz, praticamente sussurrando.- Eu vou estar ao seu lado.

Lara sorri, apesar das circunstancias.

–Obrigado.- Ela sussurra de volta.

Pietro demora bastante a chegar, apesar do aviso de Cleo para que não demorasse. Quando Cleo escuta sua mãe lhe chamando, informando que ele chegara, Cleo desce as escadas correndo e encontra um Pietro meio desnorteado, no meio da sala. Assim que o vê, Cleo o segura pelo braço.

–O que foi?- Ele pergunta confuso.

–Vem logo, seu tapado, ela está lá em cima.- Ela o puxa.

Pietro e Cleo sobem as escadas, enquanto Mayds os observa confusa.

Quando os dois chegam à porta, Lara está em pé de costas para eles, de frente para a janela, observando as coisas lá fora. Ainda segura o lencinho.

–O que você queria me dizer, Larinha?- Ele pergunta. Lógico que não está preparado para a bomba que virá a seguir.

Cleo pigarreia.

–Vou deixar vocês a sós.- Ele olha de um a outro e em seguida sai, fechando a porta atrás de si.

Pietro atravessa o quarto e para ao lado de Lara.

–Primeiro, eu quero saber uma coisa.- Ela pergunta, reprimindo o choro.- Você me ama?

–Claro!- Ele a olha confuso.- Mas por que a pergunta?

–Você vai ficar comigo sempre, aconteça o que acontecer?

Pietro já fica meio desconfiado.

–Lara, o que está havendo?- Ele pergunta sério, a olhando e observando uma lágrima soltar de seu olho. Ela não o olha, continua olhando pela janela.

Então, Lara baixa o olhar, e em seguida o olha nos olhos.

–Pietro, eu estou grávida.- Ela diz, sem mais delongas.- Você vai ser pai.

Pietro arregala os olhos e sente o coração disparar. Seria verdade o que acabara de ouvir? Claro que sim. Ele vê como Lara está desesperada.

–Lara, você está falando sério?- Ele pergunta sem muito acreditar.

–Por que acha que eu inventaria algo assim?- Ela diz.

Pietro baixa o olhar, sem acreditar que seria pai. Uma parte dele está feliz com a notícia. Mas outra está tão desesperada quanto Lara.

Pietro se permite dar um sorriso e, sem hesitar, abraça Lara.

–Agora tenho que arranjar emprego.- Ele diz em meio ao abraço. Lara sorri, mais tranquila.