A Garota do Cabelo Lavanda escrita por Chibieska


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Voltei, rápido dessa vez. A inspiração voltou, então tenho que aproveitar antes que ela vá embora.
Fico muito feliz que vocês não me abandonaram e pelas teorias divertidas que vocês confabulam.

O capítulo de hoje ficou enorme, então tive que dividir em duas partes. Talvez vocês achem meio chato porque é tem muitas explicações, mas isso é necessário. Espero que gostem.

Tema: Passado

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/493668/chapter/26

AS OPÇÕES DE KARIN, AS OPÇÕES DE KARIYA

“Eu só estou contando tudo isso porque estou preocupada com o Kariya.” Hanamizuki Karin deu um pequeno muxoxo e se acomodou sobre uma pilha de caixas de madeira, ajeitando o vestido florido para que não enroscasse nos pregos salientes que fechavam a caixa.

O grupo permanecia no beco atrás da loja de conveniência dos Inoue. Takaishi Takeru estava encostado em uma das paredes, próximo à porta dos fundos da conveniência, Patamon permanecia aninhado em seus cabelos, bastante atento a conversa. Motomiya Daisuke estava ao lado do loiro, costas contra a parede, braços cruzados sobre o peito. Inoue Miyako estava ao lado dos garotos e constantemente empurrava os óculos que escorregavam para a ponta do nariz.

“Então você teve um Digimon, isso te torna uma Digiescolhida, certo?” Daisuke arqueou a sobrancelha sem acreditar. A pergunta acabou sendo mais dirigida aos companheiros do que a menina, mas ninguém ali sabia realmente a resposta daquilo.

“Se você diz isso por eu ter tido um Digimon, então pode se dizer que sim.” Deu de ombros. “Mas como eu não tenho mais, não se ainda me enquadro nisso.”

Miyako ainda não podia acreditar que Hanamizuki tivera um parceiro Digimon, a história toda era muito confusa e distante, mas se Karin tinha procurado por eles, não fazia sentido mentir, ainda mais que ela parecia genuinamente preocupada com o irmão.

“Bem, vocês são Digiescolhidos faz tempo, certo?” A menina começou. “Então vocês devem se lembrar de quando os Digimon começaram a atacar o nosso mundo.” Claro que se lembravam, vários locais do mundo tinham sido afetados e eles precisaram viajar pelo planeta para resolver o problema. “Algumas semanas antes disso, eu encontrei um ovo de Digimon no jardim da casa onde morava.”

O trio curvou as sobrancelhas, não se lembrava de nenhuma vez que apenas um Digitama tivesse vindo para o nosso mundo. Sempre os monstrinhos vinham já evoluídos, mesmo na sua forma mais básica, um Digitama seria muito inseguro, pois o monstrinho não teria chances de se defender.

“Eu não fazia ideia do que era, achei bonitinho e levei para casa.” Prosseguiu a garota. “Eu cuidei dele e tentei fazê-lo chocar. Mas como nada do que tentei deu certo, acabei desistindo e só não me livrei dele porque Kariya acabou se responsabilizando em cuidar.” Puxou uma mecha do cabelo. “Ele era tão pequeno que mal conseguia carregar o ovo direito, e o levava para todo lugar, nossa mãe até ficava brava.” Takeru engoliu em seco, se lembrava muito bem da sensação de carregar o Digitama de Patamon para todo lado na esperança que o monstrinho chocasse novamente.

“Então os ataques começaram e foi aquele caos, a maioria das pessoas sabia muito pouco do que estava acontecendo, eu inclusive. Eram apenas monstros que apareciam e nós não sabíamos por que...” Se ajeitou no caixote. “Um dia, enquanto voltava do colégio, apareceu um Digimon diante de mim. Ele se apresentou como Tyrannomon e disse que era meu parceiro. Eu não fazia ideia do que ele estava falando, mas ele me deu um dispositivo e disse que juntos nós poderíamos lutar e derrotar os malvados.”

“Então você teve mesmo um parceiro, com Digivice e tudo?” Motomiya parecia incrédulo.

“Sim, mas eu não fazia ideia do que tudo aquilo significava. Eu simplesmente disse que não queria nada daquilo e fui para casa. Sei que Tyrannomon me seguiu e ficou esperando uma oportunidade para me convencer, mas eu não queria me envolver com nada daquilo.” O grupo ouvia em silêncio o relato de Karin. “Com a presença dele ali, próximo a nossa casa, vários Digimon começaram a aparecer e desafiá-lo. Ele derrotou todos, mas...” Sentiu as mãos tremerem, fazia anos que não buscava aquelas lembranças. “Todas as coisas deram errado em um único dia.”

=8=

“Eu estava tão feliz que o Digitama tinha chocado.” Os olhos infantis brilharam como se o momento estivesse acontecendo novamente.

Ken se ajeitou no tufo de relva seca que tinha encontrado para sentar e encarou o menino diante de si, sentado no chão úmido, sem se importar. As mudanças de humor enquanto narrava seu passado e o porquê de querer dizimar a irmã eram bruscas e intensas, chegava ser assustador como ele mudava da felicidade para ódio toda vez que o nome da irmã era citado.

“Era um filhote lindo, todo preto com olhinhos amarelos e todo peludinho.” Havia um sorriso bobo e encantado que deixava Kariya incrivelmente bonito. “Eu soube na hora que olhei para ele que seriamos melhores amigos para sempre.” Pela descrição só poderia ser um Botamon e Ken instintivamente desejou poder ter visto a cena do garoto com o recém-nascido. “Então, o Tyrannomon apareceu. Ele era o parceiro da Karin e eu estava feliz que minha irmã tivesse um Digimon para ela também.”

O mais velho se ajeitou novamente na relva. Pelo que Kariya contara, Hanamizuki encontrara o Digitama ao acaso e o verdadeiro parceiro da menina era o Digimon dinossauro, mas ela não parecia muito satisfeita com isso. Até entendia o lado da menina, afinal não é fácil aceitar que você está destinado a lutar e salvar um mundo totalmente desconhecido em companhia de um monstro digital. Mas Kariya, assim como Ken também fora, era muito jovem quando recebeu seu parceiro e isso o ludibriava.

“Tyrannomon era incrível. Ele derrotou vários malvados sem precisar que Karin pedisse.” Voltou a narrar. “Ele era tão forte, até protegeu Botamon e eu de um Digimon enorme enquanto brincávamos no jardim de casa.” Enfatizou, embora Ken suspeitasse que o Digimon não fosse tão grande assim. Para uma criança de cinco anos que mal conseguia conter Botamon nos braços, um Greymon já seria enorme. “Então, um Ravemon apareceu...”

=8=

“Eu nunca tinha visto nada como ele.” A voz de Karin saiu tremida. “Ele não era tão grande, mas havia algo nele que o tornava ameaçador.” Daisuke, Miyako e Takeru não se lembravam de já terem lutado contra um Ravemon, nem ao menos se lembravam de já ter visto algum, mas pelo que Hanamizuki descrevera, era uma forma humanoide, parecida com Angemon, mas com características de um corvo. “Eu nunca soube por que ele foi até nossa casa, nem se tinha uma missão a cumprir, mas ele parecia muito determinado em nos matar.”

“Tyrannomon fez de tudo para combatê-lo, mas era visível que ele era muito mais fraco.” Lágrimas grossas começaram a escorrer pelo rosto bonito e maquiado. “Ele me pediu para ajudá-lo. Ajudá-lo a lutar e ajudá-lo a vencer. Disse que se eu me concentrasse na luta e desejasse de todo o meu coração, nós dois juntos poderíamos vencer Ravemon.” As mãos apertaram a barra do vestido. “Mas apesar do que ele dizia, eu não queria verdadeiramente lutar, eu só desejava não estar envolvida em nada daquilo. Eu acreditava piamente que se Tyrannomon nunca tivesse aparecido, não haveria Digimon aparecendo para lutar perto da nossa casa.”

“Então o que você fez?” Daisuke perguntou confuso. Takeru se moveu desconfortável, retirou Patamon dos cabelos e envolveu-o em um abraço.

“Nada, ele acreditava em mim, verdadeiramente. Mas eu não acreditava na força dele, nem queria acreditar, então ele se transformou por conta própria.”

“Você está dizendo que ele evoluiu mesmo sem que você o ajudasse?” A garota do cabelo violáceo questionou.

“Evolução? É assim que vocês chamam? Bem, eu não entendo disso.” Mesmo que não quisesse, a voz soou prepotente e desinteressada, mostrando o quanto Karin realmente não se importava com Digimon. “Ele virou um bicho enorme, negro, como se fosse de metal, havia fiação e fluidos saindo dele e o rugido era enorme, trincava as vidraças das casas.” Pela descrição só poderia ser MetalTyrannomon, e pelo jeito era uma evolução errado, já que pelo que se lembravam, a linha de evolução do Tyrannomon não era aquela, além disso, a menina não havia sincronizado seu coração ao do bicho e o resultado disso sempre era catastrófico. “Ele começou a pisotear tudo e lançar golpes para todos os lados, não importava mais acertar Ravemon, qualquer coisa tinha se tornado um alvo.” A voz assumiu um tom aflito e desesperado. “Ravemon continuou atacando, mas nada parecia mais fazer efeito, ele se feria, mas não se importava, então...” A voz sumiu e os olhos se arregalaram como se a lembrança fosse horrenda de mais para ser mencionada. “Ele alcançou Ravemon em um dos seus rasantes e lhe arrancou as asas.”

O trio ficou em silêncio e o só a tentativa de Hanamizuki conter as lágrimas preenchia o ambiente. De repente, o dia pareceu incrivelmente frio, mesmo já sendo final do inverno e as vozes e carros que passavam na rua não pareciam mais ter som algum. Todos eles, como Digiescolhidos, já tinham presenciado cenas terríveis, mas pela narração da menina, a ação de MetalTyrannomon tinha sido chocante e cruel.

“Ele arrancou cada membro, um por um, como uma criança sádica em uma boneca, até finalmente esmagar o monstro entre os dedos.” Concluiu a menina.

“O seu irmão presenciou isso?” A veterana perguntou, se ela estava chocada apenas de ouvir a história, quão abalado uma criança pequena ficaria de ver tal cena?

“Nossos pais estavam no trabalho. Eu não tinha onde ou com quem deixá-lo, achei que se ele ficasse comigo estaria mais seguro.”

“E o que aconteceu com o Tyrannomon depois disso?” Daisuke indagou.

“Ele estava descontrolado, destruiu casas, postes, árvores, qualquer coisa. Eu não sabia o que fazer, então simplesmente não fiz nada para impedi-lo. Achei que ele se acalmaria sozinho em algum momento.” De certa forma, o pensamento não era errôneo, mas considerando que o MetalTyrannomon descontrolado estava no meio de Odaiba, não era a melhor das ideias esperar que ele se acalmasse por si só. “Eu não fiz nada, mas Kariya sim.”

Hanamizuki Karin podia ver a cena nítida diante de si, como se estivesse vendo um filme no cinema, quando o irmão menor se desvencilhou de seu abraço e correu pela rua, gritando para Tyrannomon. Ele balançava o braço fino e magrelo e gritava que eles eram bons amigos, que tinham brincado no parque juntos e que o perigo já tinha ido embora, e ele poderia voltar a ser como sempre. Ela sabia que ele estava com medo, a mãozinha tremia em meio ao aceno, mas mesmo assim, o garoto superou o temor que sentia e o horror que presenciara, na tentativa de resgatar o amigo.

“Tyrannomon parou e eu achei que os apelos do Kariya estavam funcionando. Então, ele se abaixou e envolveu meu irmão naquelas garras enormes. Eu lembro que gritei algo, embora não sabia exatamente o quê, apenas para ouvir meu irmãozinho gritar que estava tudo bem.” As lágrimas que a garota tinha controlado voltaram intensas e o corpo todo tremia. “Ele viu o Botamon que meu irmão trazia nos braços, e eu não sei se ele achou que aquilo era uma ameaça, mas com a outra mão tentou arrancá-lo do Kariya.” As mãos cobriram o rosto e ela não soube como teve forças para continuar e narrar o resto.

Se lembrava perfeitamente do cabo de guerra que se travara entre Kariya e MetalTyrannomon pela posse do pequeno Digimon. Então com um tranco, MetalTyrannomon puxou o bichinho das mãos da criança, colocou tanta força que Karin, metros dali, pôde ouvir o som de ossos se quebrando, provavelmente os do braço do seu irmão. Botamon se debatia como podia, enquanto ela gritava desesperada para que MetalTyrannomon libertasse seu irmão.

O monstrengo não pareceu se abalar com os apelos da menina ou tentativas de fuga do pequeno, abriu a boca gigante e jogou-o dentro, mastigando logo em seguida. O barulho do mastigar foi mais alto que os gritos da garota, mais horrendo do que os gritos de Ravemon enquanto era destroçado, mais doloroso do que o braço quebrado que o menino ostentava.

Karin ainda estava apavorada quando viu Digimon abrir a mão e deixar que seu irmão caísse de uma altura de pelo menos três metros. Depois de engolir a bolotinha preta, o tiranossauro de metal desceu a rua, destruindo o que ainda estava em pé, enquanto Karin, com o resto de coragem que possuía, foi resgatar seu irmão.

Kariya estava consciente, além do braço, uma perna quebrada e várias escoriações pelo rosto. Ele não chorava, os olhos estavam abertos, encarando MetalTyrannomon que descia a rua e os lábios resmungando as mesmas palavras, como um mantra.

Quando finalmente as lágrimas diminuíram, a adolescente pôde divisar seus três interlocutores. Cada um deles parecia mergulhado em uma espécie de choque e torpor, os olhos de Takeru pareciam marejados e ele apertava Patamon com tamanha intensidade que era provável que estrangulasse o bichinho acidentalmente. Motomiya sorria, aquele sorriso doloroso que se dá quando não se consegue acreditar no que te contam. Não que ele achasse que a menina estivesse mentindo, mas aquilo era quase surreal.

Inoue se perguntava como nunca eles souberam de tal história, claro que existiam muito Digiescolhidos e era impossível saber o que acontecia com todos, mas tudo aquilo era muito violento e chocante para que nunca tivesse chegado aos ouvidos deles.

“As palavras que seu irmão repetia, o que eram?” Questionou a garota do cabelo lavanda, tentando controlar as mãos que tremiam.

=8=

“Seis horas e dez minutos.” E os olhos estavam carregados de amargura e tristeza. A voz havia falhado dezenas de vezes e lágrimas desobedientes escorrido pelo rosto infantil, mas Ken havia se surpreendido em como Kariya permanecera firme ao contar toda a história, ele mesmo não saberia se teria forças para contar algo assim para alguém. Seu passado não fora assim tão chocante e mesmo assim ele evitava discorre-lo para outras pessoas. “Seis horas e dez minutos da tarde, esse foi o exato momento que MetalTyrannomon devorou Botamon.” Sorriu de um jeito engraçado que Ichijouji não soube dizer o que era. “Eu sei disso porque da altura em que estava dava para ver o relógio que fica no parque perto de casa.” Informou.

610, o número que tinha marcado na parte de trás da pulseira de silicone que eles haviam encontrado. Então era isso que significava. Algo que Kariya nunca esqueceria e nem realmente desejava esquecer.

“O que aconteceu depois?” O gênio afastou uma mecha do cabelo do rosto.

“Um garoto com um Digimon apareceu e o derrotou...” Deu de ombros.

“Derrotou?”

“Sim... Conseguiu fazê-lo voltar ao normal e depois o mandou de volta para o Digital World.” Abraçou os próprios joelhos. “O garoto era um pouco mais velho do que a gente e conversou com a Karin depois. Eu não lembro sobre o que falaram, talvez sobre Tyrannomon, mas ela mesma não parecia muito interessada.” E aumentou ainda mais o abraço aos joelhos finos.

“E sua irmã voltou a vê-lo?”

“Não, ela disse que nunca mais queria se envolver com nada daquilo.” Explicou. Havia algo no tom de voz que Ken não sabia decifrar o que era, mas lhe dava calafrios.

“E você?”

“Também não, bem, eu demorei muito tempo para ter uma chance e vir para o Digital World, mas eu nunca o procurei. Eu ainda tenho raiva dele.” Mordeu os lábios, nunca tentativa de reprimir alguma sensação muito intensa.

Ichijouji pôde ouvir o chacoalhar das árvores com o vento e ver que as nuvens de chuva finalmente haviam se dissipado, mas ainda assim, mesmo com o sol surgindo no céu, o dia parecia estranhamente frio e cinzento, como se o astro rei não tivesse energia suficiente para aquecê-los.

“Eu sinto muito pelo Botamon.” Quebrou o silêncio desconfortável que se instalou entre eles, mas a despeito do que sentia, a frase soou maquinal. O que era estranho, pois ele sabia a dor que era perder um parceiro. “É muito difícil perder um Digimon.” Finalizou com um pouco mais de ênfase, na esperança que isso trouxesse algum alento para Kariya.

Sua teoria estava certa afinal, mas se o menino sabia quem era seu parceiro porque procurar por Digimon diferentes?

“Eu perdi Botamon, mas não meu Digimon. Eu nunca recebi um Digivice.” O garoto corrigiu, como se isso fosse óbvio desde o começo.

“Mas e esse Digivice?” O mais velho espiou o dispositivo que o menor carregava. Diante do olhar comprido, instintivamente a criança escondeu-o nas mãos.

“Eu preciso dele para fazer Karin pagar.” Encarou o mais velho e os olhos não tinham brilho algum, havia apenas aquele lampejo que passava muito rápido pelos orbes escuros, lampejo esse que o gênio conhecia muito bem e sabia perfeitamente o que significava.

“Mas o que aconteceu não fui culpa dela.” Tentou abrandar a situação, na verdade podia considerar que sim, tinha sido culpa da garota por não ter se unido ao parceiro, mas agora não parecia a melhor hora para se discutir isso.

“Não?” Pela primeira vez Kariya pareceu titubear. Era como se alguém tivesse mostrado um caminho alternativo dentro da sua jornada cega de vingança. Ele sempre acreditara que a irmã fora culpada, afinal Tyrannomon era seu parceiro e se ela tivesse pedido que ele parasse, impedido de alguma forma, Botamon ainda estaria vivo. “Mas ela deveria ter feito algo, eles eram parceiros, ele faria o que ela pedisse...” A frase saiu carregada com um lamento infantil e os olhos encharcaram.

“Naquela hora Tyrannomon não era mais o Tyrannomon que você conheceu. Mesmo os seus apelos ou de Hanamizuki, ele não voltaria tão facilmente ao normal.” Explicou o mais velho.

“Mas...” O garoto baixou a cabeça, escondendo-a entre os joelhos e permaneceu mergulhado em um longo silêncio. Ichijouji podia vê-lo apertar o Digivice com força entre os dedos miúdos e por vezes, ouvia-o fungar, tentando reprimir as lágrimas. “Você está errado.” Levantou a cabeça, um olhar determinado, quase doentio no rosto. “Ela é uma Digiescolhida, a função dela é salvar o dia, como você faz.” Havia raiva, raiva demais para uma criança tão jovem sentir. As mãos se crisparam em torno do Digivice e um sorriso estranho se abriu nas feições delicadas.

“Você acha que ela não se sente mal pelo que aconteceu? Que ela não sabe a dor que você sente?” Intercedeu.

“Não quero que ela sinta a minha dor, quero que ela sinta a mesma que o Botamon sentiu quando Tyrannomon acabou com ele.” E o sorriso aumentou ainda mais, dando uma aparência reptiliana ao garoto.

Só então Ken percebeu porque mesmo com o sol alto no céu, o dia parecia terrivelmente frio e escuro, ali estavam elas, as trevas, mas não as suas, velhas e conhecidas, as de Kariya que ansiavam consumi-lo por completo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/T: Não sei se ficou muito enrolado, espero que gostem. Reviews e comentários são sempre bem-vindos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garota do Cabelo Lavanda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.