O Príncipe e o Mendigo escrita por AmyKaulitz


Capítulo 6
6. Um rei na prisão


Notas iniciais do capítulo

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6. Um Rei na Prisão

Na prisão os dois amigos passaram por situações que os fizeram rever vários conceitos.

 Nos primeiros dias, Bill ficou muito irritado. Não admitia que pudesse estar preso numa cadeia imunda, já que era a autoridade máxima de toda a Inglaterra.  Mas, aos poucos, foi tirando proveit6o da situação e aprendendo com ela. Por exemplo: desde pequeno, Bill foi criado para acreditar que a Inglaterra era um país justo. Entretanto, com menos de uma semana no cárcere, aprendeu que o sistema judiciário era deficiente e corrupto. Julgava a maioria dos crimes de acordo com a posição social de quem os cometia.   Os nobres raramente iriam para a cadeia, mesmo que tivessem cometido crimes gravíssimos. As celas da prisão estavam lotadas de homens, mulheres e crianças. Todos pobres.

Conversando com seus colegas, o rei ficou horrorizado. Duas mulheres tinham sido presas e depois queimadas em fogueiras montadas em praça pública apenas por serem da religião batista. Um garoto havia sido enforcado por roubar roupas num varal. Um homem havia achado um falcão e o levou para casa. Quando encontrou seu animal de estimação, o dono do falcão denunciou o homem, que foi condenado à morte por chibatadas

Naquele ambiente de sofrimento, Bill obteve ensinamentos valiosos sobre as imperfeições da justiça em seu país e jurou para si mesmo que, quando retornasse ao poder, faria de tudo para melhorar a vida daquelas pessoas. Georg Listing também apresentou mudanças na cadeia. Ficou muito envergonhado por ter sido renegado por seu irmão e por sua prima e condenado como impostor e mentiroso. Disse a Bill que desde criança seu irmão Gustav apresentava distorções no caráter, mas que não esperava que ele fosse tão longe em sua ambição a ponto de assassinar o próprio pai e o irmão.

Como Bill parecia perdido em seus pensamentos, Georg perguntou a ele:                                                                               

— Você acredita em mim? Acredita que eu digo a verdade quando falo que sou irmão de Gustav e herdeiro LEGÍTIMO do solar dos Listing?            

— É claro que acredito Sir Georg.   Somos amigos e eu confio em meus amigos. Não se preocupe com sua situação. Assim que eu reassumir o trono da Inglaterra, darei um jeito em Gustav. Agora, deixe-me trabalhar. Tive uma idéia: vou escrever uma carta em inglês, latim, francês e grego, endereçada ao lorde Hertford, contando sobre nosso paradeiro e toda essa confusão. Quando souberem que estou aqui, virão nos salvar e esse pesadelo terá um fim.

Vendo o garoto escrevendo e falando com tanta seriedade e determinação, Georg teve vergonha por não acreditar nele antes. Sentiu na própria pele o que era ser chamado de lunático e mentiroso e aprendeu a confiar nos verdadeiros amigos por mais estranhas que possam ser as coisas que eles dizem.

Escrevendo a carta, Bill pensava que lorde Hertford deveria estar organizando uma busca por todo o reino para encontrá-lo. Pensava também em quem estaria governando o palácio depois da morte de seu pai. Essas dúvidas martelavam sua cabeça, mas não tinha como SANÁ-LAS. Somente quando Blake, um antigo criado do solar dos Listing, foi visitar Georg na prisão é que Bill pôde esclarecer suas dúvidas:

— Diga-me, Blake, agora que o rei Henrique está morto, quem está governando o reino da Inglaterra?

— Ora, quem...   O novo rei!   — disse Blake, admirando-se com a desinformação do garoto.

— Que novo rei? — perguntou Bill.

— Em que planeta você vive, rapazinho? O rei Bill VI, filho de Henrique VIII!

— É mesmo? — perguntou o verdadeiro Bill num tom de voz incrédulo.

— É! Mas dizem que está louco — disse Blake baixando seu tom de voz. — Guardem segredo, pois agora é crime comentar a saúde mental do rei. Deus ajude a Inglaterra! O rei morto era um tirano! E dizem que o rei posto está maluco! O pior é que vai ser oficialmente coroado dia 20 em Westminster!

Bill ficou desnorteado com aquelas notícias. Quando se perguntava quem estaria tomando o seu lugar, não imaginava ninguém, a não ser Tom. Mas Tom era um mendigo, praticamente ignorante, sem nobreza, sem uma linhagem real! Tom não tinha o sangue azul e seria muito perigoso para a Inglaterra ser governada por alguém sem preparo, pensava o jovem monarca. Mais do que nunca, Bill precisava deixar a prisão e rumar para Westminster, com o objetivo de impedir a coroação.

No dia seguinte um carcereiro leu a sentença de Georg Listing. Por ser réu primário, o cavaleiro foi condenado a receber cinqüenta chibatadas e mais uma semana de prisão. Bill assistiu à punição do amigo sem nada poder fazer e depois foi libertado. Aquele espetáculo doloroso o motivou a enfrentar quem quer que fosse para retomar o trono e mudar de vez os destinos da Inglaterra, conduzindo-a pelo caminho da justiça.

 Georg ficou muito mal após o açoitamento, praticamente só dormiu durante a semana a mais em que passou na prisão. Solto antes, Bill queria ficar preso para cuidar de seu amigo, coisa que os guardas não permitiram. Por isso resolveu partir para a abadia de Westminster. Tinha que estar lá para a coroação do rei.

Quando Georg deixou a prisão, faltavam apenas dois dias para a cerimônia real. Georg procurou seu amigo nas periferias de Londres, sempre tentando identificar pequenos grupos de pessoas ou sinais de arruaça, pois acreditava que Bill estivesse por aí, arrumando confusão a cada vez que dizia ser o rei. Embora se esforçasse bastante, Georg não conseguiu encontrar o garoto. Estava muito cansado e as costas ainda ardiam devido às chibatadas. Para piorar, foi roubado duas vezes. O primeiro larápio levou seu dinheiro e os outros dois assaltantes levaram suas botas. Georg pagou um preço caro por circular na periferia. Cansado e faminto, dormiu embaixo da ponte.                     

Enquanto isso, Tom passeava radiante e orgulhoso pelas ruas de Londres e era saudado pela multidão. O novo rei trazia esperança para o povo sofrido.   Naquelas poucas semanas em que trocara de lugar com Bill e, sem querer, assumira o trono da Inglaterra, Tom aprendera muitas coisas e já começava a fazer fama pela sua bondade e pelo seu olhar atencioso para com os pobres. Por isso cada vez mais os nobres diziam que estava louco, embora fosse crime maldizer a pessoa sagrada do rei. Por isso também o povo saía às ruas e seguia o cortejo dando vivas à Bill VI, abanando lenços e sorrindo.

A própria mãe de Tom e suas irmãs gêmeas estavam na multidão. Quando a carruagem dele passou perto delas, ele não as viu direito. Ficou em dúvida se aquelas eram mesmo sua mãe e suas irmãs e depois se arrependeu por não haver ordenado que a carruagem parasse. O descaso para com sua mãe foi o que bastou para Tom esquecer-se da felicidade que sentia ao ser saudado pelo povo no passeio e lembrar-se da vida chata que levava no palácio. A rotina do falso rei era cansativa: participava de reuniões longas, na maioria das vezes discutindo assuntos de pouca importância. Lia, estudava, examinava e assinava diversos documentos enfadonhos, muitos dos quais ele nem entendia para que serviam. Além disso, não tinha amigos e não se sentia à vontade com toda aquela bajulação. Só para vestir-se era auxiliado por catorze pessoas!   E tinha que comer utilizando vários talheres, vários copos, um para cada tipo de bebida, e vários pratos também, de acordo com o cardápio.

Quando a comitiva entrou na abadia de Westminster, Tom sentiu um frio na barriga.  Em pouco tempo seria proclamado e coroado oficialmente como o novo rei da Inglaterra. 


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