O Príncipe e o Mendigo escrita por AmyKaulitz


Capítulo 3
3. A Prova Real


Notas iniciais do capítulo

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3. A Prova Real

Naquele momento, a última coisa que Tom poderia querer era uma prova. Tinha fome e suas pernas ainda estavam cansadas. Mas o pior era o seu nervosismo ao se defrontar com o rei da Inglaterra, que pensava que ele era seu filho. Por isso, criou coragem e tentou explicar a situação.

— Senhor rei, está havendo um engano brutal aqui. Eu não sou o príncipe Bill. Eu sou um mendigo. Houve...

 A palavra “mendigo” arrancou gargalhadas dos nobres que assistiam ao diálogo em frente do trono. A zombaria tirou Henrique do sério e ele bateu com seu cajado contra o piso de mármore, gritando:

— Calem-se! Quietos! A partir de hoje está proibido rir, zombar e até mesmo mencionar a doença de meu filho. Ele é o príncipe de Gales e, louco ou não, será rei da Inglaterra em pouco tempo. Quem desobedecer minha lei será preso, condenado a trabalhos forçados. Fui claro?

Um silêncio rochoso tomou conta do palácio e então o rei, num tom de voz calmo e macio, perguntou a Tom:

— Filho, por favor não nos conte mais essa história de mendigo. Você deve ter batido a cabeça ou alguém deve ter feito um feitiço contra você. Mas não se preocupe, pois eu lhe prometo que ficará bem.

Sem alternativas, Tom concordou com o soberano que iniciou o teste intelectual. Fez uma pergunta em latim. O garoto respondeu com alguma hesitação. O rei prosseguiu seu teste fazendo uma pergunta em francês, mas o garoto   disse   que   não   conhecia   aquela   língua.   O rei sentiu uma   tontura   e recostou-se nas almofadas do trono. Os médicos reais correram para acudi-lo, mas o monarca dispensou-os com um gesto.

 — Bill, vejo que seus conhecimentos apresentam-se aquém da instrução que lhe temos proporcionado. Mas creio que seja um problema passageiro. Até que se cure ninguém mais vai lhe importunar e será crime zombar de sua atual condição. Hoje, ainda lorde Hertford cuidará de tudo para que você seja invesido e confirmado como príncipe herdeiro do trono inglês.

— Vossa Majestade — disse o lorde Hertford, dirigindo-se ao rei —, o marechal Norfolk segue como prisioneiro  na Torre e, por lei, cabe a ele investir oficialmente nosso jovem príncipe...

— Não me venha com essas tolices, Hertford! Convoque o parlamento. Quero que Norfolk, aquele miserável traidor, seja julgado e condenado à morte antes que o Sol volte a nascer no dia de amanhã ou todos irão se arrepender  amargamente!                                                                           

— A vontade do rei é lei — murmurou Hertford.                        

Mais calmo, o rei se voltou para Tom e disse:

— Fique tranqüilo, meu filho. Seu caminho para a coroação está sendo muito bem planejado por mim; retire o medo de sua jovem face.

— Senhor, pelo que entendi, um homem vai morrer por minha causa e isso me aflige!

O rei soltou um sorriso de satisfação e disse:

— Vejo que a doença lhe confunde o cérebro, mas não lhe afeta o coração. Continua sendo um jovem gentil. O duque Norfolk é um empecilho entre você e as honras a que tem direito, por isso vou eliminá-lo. Você não precisa se preocupar com esses assuntos. Norfolk não merece sua atenção.

Agora volte para seus estudos e suas distrações. Estou cansado. Minha doença vem se propagando e preciso dormir um pouco para melhor combatê-la.

Nos corredores, de volta ao “seu” aposento, o príncipe via a agitação e a preocupação dos criados em lhe servir bem. As pessoas faziam reverencias a ele e podia sentir no olhar que muitos o temiam. Era como se fosse inatingível, intocável, imperturbável. Era como um belo passarinho emplumado em sua gaiola de ouro. Fazia poucas horas que estava nas funções de Bill, mas já sentia muita saudade de sua mãe e irmãs e dos amigos de Offal Court. Tom passara anos sonhando em ser um príncipe e agora que, sem querer, havia conseguido, achava a realidade assustadora e trágica.

Mais tarde, em seu aposento, Tom recebeu a visita de Hertford que pediu, a mando do rei, para o príncipe ocultar ao máximo sua doença e não mais negar suas origens reais em público. Era uma ordem real para a proteção e segurança dos assuntos do reino. Sem alternativas, Tom foi obrigado a concordar.

Com um ar de satisfação no rosto, lorde Hertford perguntou se o príncipe desejava alguma coisa. O garoto quis um copo d’água. Imediatamente um criado o serviu um copo e, agachado com o joelho ao chão, ergueu a bandeja de ouro para Tom. Sem dúvida, a partir daquele dia a vida dos dois garotos nunca mais seria a mesma.

      Sentindo muita sede, Bill teve que bater à porta de seis famílias para que somente na sexta casa uma bondosa senhora lhe oferecesse um copo de argila com uma água um pouco turva. O príncipe bebeu e agradeceu, prometendo retribuir em ouro o favor prestado por aquela senhora ao jovem príncipe de Gales. A mulher riu e fechou a porta, pensando que os mendigos começavam a beber e a falar loucuras cada vez mais cedo.

Refeito pelo líquido turvo, mas refrescante, Bill seguiu seu caminho rumo ao centro da cidade, onde pretendia colher novas informações sobre a localização de Offal Court. Quando chegou ao centro seus pés doíam. Nunca havia   caminhado   tanto   e   nunca   havia   enfrentado   tantos   contratempos   e indelicadezas como naquela tarde. Perambulou pelas ruas e praças. Sentiu seu estômago se contorcer de fome ao ver doces, bolos e salgados na vitrine de uma confeitaria.  Pensou em roubá-los, mas sua educação nobre o impediu. Para distrair-se, caminhou até uma fonte onde três mendigos conversavam. Aproximou-se e perguntou-lhes se conheciam Offal Court.

Os mendigos riram do jeito educado com que Bill falava, mas in- dicaram a direção e o garoto seguiu seu caminho. Percorreu ruas e vielas cada vez mais pobres, sempre na direção indicada pelos mendigos. Ao passar em frente de um beco, sentiu que lhe agarravam o pescoço com um puxão.

— Onde está meu dinheiro, moleque?

— Hein?!

— Não se faça de besta, passe logo pra cá o dinheiro que mendigou hoje.

— Eu não sou um mendigo, seu bêbado  decrépito. E tire suas mãos de mim ou será enforcado em nome do rei Henrique VIII, meu pai!

— Seu pai sou eu, Tom! — disse o bêbado Jorg Canty, caindo na gargalhada. — Essa piada foi boa, mas eu quero saber onde está o dinheiro!              

— Você é Jorg Canty, o bêbado ladrão que bate na mulher e nos filhos?   — perguntou o príncipe Bill.                                   

 — Sim, e você é o meu filho Tom e eu vou recuperar sua memória com este pedaço de pau

Jorg ergueu o bastão acima da cabeça e desceu com força contra o garoto, mas, como estava  embriagado, desequilibrou-se e errou o golpe. Bill queria fugir, mas estava preso no fundo do beco. O pai de Tom voltou à   carga   com   o   bastão,   mas   o   jovem   príncipe   conseguiu  esquivar-se  do segundo golpe. Contudo, seria difícil desviar de mais uma investida do ladrão enfurecido, pois Bill estava prensado contra a parede.

— Agora tu não me escapa, fedelho! — disse Jorg ao erguer o sarrafo.

Estava pronto para golpear o garoto quando ouviu uma voz rouca e firme gritar:

— Pare com isso, Jorg Canty. Pare com isso em nome de Deus!

Quando o ladrão se virou para ver quem falava com ele,  Bill saiu correndo e passou pelo seu defensor “voando”, sem nem ao menos ter tempo para agradecê-lo. Furioso, Jorg saiu correndo atrás do garoto e, ao passar pelo homem que o tentara defender,  desferiu  um   golpe   certeiro   em   sua cabeça. O sujeito foi ao chão e sobre seus cabelos brancos começou a brotar a tinta vermelha de seu sangue.

Apavorado com tudo aquilo, Bill não sabia para onde correr. Não foi difícil para Canty, conhecedor dos atalhos daquela periferia, pegar o garoto e levá-lo para o cortiço em Offal Court.  Debaixo de cascudos, chutes e petelecos, chegando no quarto miserável em que viviam, Bill foi saudado com carinho pela mãe de Tom:

— Meu filho! O que aconteceu? Você está todo machucado! O que você fez com ele, Jorg?!

— Alguém tem que educar esta peste! — disse o ladrão com sua voz bêbada.

A mãe de Tom abraçava Bill sem se dar conta de que aquele não era seu filho. Tinha vontade de esmurrar seu marido bronco, mas se tentasse algo não teria a mínima chance, por isso ficou quieta, engolindo em seco seu ódio e sua submissão.

Quando anoiteceu, não havia comida para todos. Jorg e a avó de Tom comeram pão e tomaram um pouco de vinho, enquanto as crianças apenas olhavam. Ficariam sem comida como castigo por não terem conseguido mendigar nada naquele dia. Jorg estava horrorizado com as injustiças e as péssimas condições de vida da família de Tom. Queria fugir, mas tinha medo de se dar mal e apanhar uma nova surra. Além disso, estava cansado e com fome e por isso sentia dor de cabeça.   Ao deitar-se nas palhas seu corpo dolorido relaxou e ele logo dormiu. A mãe de Tom dormiu ao seu lado, com pena, e passou uma compressa morna com folhas de um arbusto medicinal nos hematomas do garoto.

No meio da noite, todos acordaram assustados.   Um homem batia com insistência na porta. Irritado, Jorg foi ver quem era. Um gordo barbudo deu o recado:

— Jorg, você tem que sumir daqui. O homem que você atingiu lá no beco...

— O que tem ele?

— Ele morreu! Com a pancada que recebeu.

— E daí? — perguntou Jorg com desdém.

— E daí que você matou o padre Andrew e duas pessoas viram você saindo do local do crime. A polícia não deve demorar para chegar aqui. Você tem que fugir! 


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Notas finais do capítulo

Espero Reviews



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