She will be loved escrita por Mermaid


Capítulo 1
I hate you, don't leave me




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– Essa mesa tá livre? - uma garota me perguntou, com uma bandeja cheia em mãos.

– Não. Estou esperando alguém... o meu namorado. - respondi, sem a menor paciência.

A mesma cena já tinha se repetido umas 20 vezes - tá bom, talvez só umas 6. A garota da bandeja se aproximava e me perguntava se os outros lugares da mesa estavam desocupados, bufava depois de ouvir minha resposta, ia embora, e voltava depois de alguns minutos - já tinha até me perguntado se ela poderia ter alzheimer.

– Olha aqui, eu já dei umas 500 voltas por esse shopping - uau, e eu pensei que fosse exagerada– e essa mesa em que você está é a única que me resta. Todas as outras estão ocupadas.

– Essa mesa também. Eu já disse, e estou esperando o meu namorado.

– Seu namorado? Sério? Aqui tem umas 300 pessoas e, até agora, nenhuma delas é teu namorado. O meu dia foi HORRÍVEL - sim, ela gritou a palavra "horrível"...– e eu vou me sentar nessa MERDA DE CADEIRA - e ela gritou isso também.

Depois de sentar, apoiou a bandeja na mesa e eu encarei-a.

– Você deve estar querendo me matar na sua mente, né? - sua voz tinha um tom mais suave agora.

– E por que eu te mataria? - tive vontade de rir.

– Quando eu tenho raiva de alguém, fico com vontade de matar essa pessoa. Aí eu tenho que me controlar pra não bater e nem xingar ninguém... - ela abriu um pacotinho de açúcar e despejou-o na caneca de café-com-leite que havia sobre a bandeja. - Eu até deixo você fazer isso, mas tem gente demais aqui.

Desviei meus olhos, olhando para o chão, e ela pareceu se decepcionar com aquilo.

– Esquece o que eu falei agora - ela mexeu no próprio cabelo, jogando todos os fios no ombro direito. - Como se chama?

– Kylie - respondi.

– Você é quieta, Kylie. Sou Serena Savannah Young, mas pode me chamar só de Savannah, porque eu não gosto muito do "Serena". Eu tenho 18 anos e já fui demitida de uma lanchonete de frangos por bater em uma cliente com uma coxa de frango, - ela apoiou os cotovelos na mesa - mas ela tinha merecido... E você?

Tentei me controlar, mas quando vi, já estava quase perdendo o ar de tanto rir. Bater em uma mulher com uma coxa de frango, sério?

– Acabo de dizer que bato em pessoas quando penso em matar elas, e depois te digo que perdi um emprego por bater em um dos clientes com o produto que era vendido... E você ri. Você pode me achar divertida, Kylie. Só não me ache uma louca.

– Por que eu te acharia louca?

– Ah, eles acham. Sabe? Os outros... Ahn, enfim. Eu perguntei de você.

Confesso que aquilo tinha me deixado curiosa, mas na hora eu não pareci ligar muito. Procurei mudar de assunto logo, voltando ao anterior...

Ela tirou um celular de seu bolso e apoiou-o na mesa.

– Kylie Joan Kirsch. Eu tenho 17, já trabalhei como bibliotecária e saí do emprego porque aquilo me deixava muito cansada. Eu tenho um namor... - ela interrompeu, me impedindo de terminar a frase.

– Se você for falar do seu namorado, eu vou te dar um tapa - como se ela fosse fazer isso, aham.

– Mas qual é o problema de... Ai! - droga, ela fez.

– Namorados só servem para namorar outras garotas... Que vão jogar na minha cara que eu vou ser sozinha pra sempre.

– Quem disse que você vai ser sozinha pra sempre? - ok, ela fez isso de novo.– Para com isso!

– Para você.

– Eu não fiz nada.

– Você estuda?

– Sim, estou terminando o último ano. E você?

– Eu também... Sei que sou mais velha que você e tal, mas eu repeti a oitava série.

– Nossa, por que?

Essa é uma das piores perguntas que pode se fazer para Savannah Young. Palmas para a eu do passado.

– Ah, é uma longa história. Mas será que dá pra você parar de fazer perguntas que fazem com que eu me sinta mal? Por mais que "mal" já esteja escrito na minha testa.

– Foi mal, eu não sabia. E não tem nada escrito na sua tes... - aí eu percebi que ela não ia parar de fazer aquilo (sim, três tapas em menos de 5 minutos).

E aquele último foi o suficiente pra minha ficha cair: eu estava deixando que uma estranha psicótica - que bate em pessoas com frangos - me agredisse por motivos desnecessários?!

– Savannah, preciso ir embora - eu disse, me levantando da cadeira. - Foi ótimo te conhecer, poderia ficar a tarde toda falando contigo, mas preciso mesmo ir.

– Você está mentindo - ela observou cada movimento meu, com uma expressão fechada em seu rosto, e os cotovelos ainda apoiados na mesa.

– Tchau, Savannah - tentei me despedir, pegando o celular de cima da mesa e guardando-o dentro de minha bolsa.

– Acabei de te conhecer e consegui pensar que é diferente. Merda. Estou cansada de me iludir com as pessoas, também. Pode ir - ela se levantou, carregando a bandeja e passou a andar para alguma outra direção - Droga, perdi a fome.

Naquela hora, eu não soube o que fazer. Não disse mais nada, e ela também não. Observei-a jogando a bandeja toda dentro de uma lixeira, entrando no elevador, e, por fim, desaparecendo de minha vista.

Eu senti um peso cair sobre mim.


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