Era noite e o mar estava escuro, com poucos raios de luz que penetravam a água grossa e fria. Uma mulher de meia idade, mas que o tempo não o castigou, ainda era bela, ainda mais na forma de sereia. Nadava ao lado de seu marido, estavam de mãos dadas, como um casal que passeia na praça, mas nadava no fundo do mar gélido. Eles sorriam para mim e nadavam em minha direção. A água ficou mais fria, podia sentir a água formar pequenos cristais de gelo, mesmo com todo o sal do mar e era difícil de respirar. Uma onda forte e lenta se aproximava do lindo casal e eu tentei gritar, mas minha voz não saia, era como berrar engasgada. A onda se tornou negra como carvão e enroscou no casal como serpentes, mas eles continuavam a sorrir e me olhar nos olhos, olhos opacos sem vida, com o escapar das almas de seus corpos.

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Passei o resto da tarde nadando no mar, até ver o sol tocar o oceano. Quando me toquei de quanto tempo tinha ficado no mar eu me concentrei, deixando a magia escapar do meu corpo. Em alguns segundos minha calda grande, mágica e misteriosa saiu, dando espaço para as minhas pernas humanas. Corri pela praia, querendo logo chegar a casa e encontrar minha prima, fazia tanto tempo que eu não a via.

Assim que me aproximei da casa vi um porsche estacionado na rua. Bati com as mãos sobre as pernas, tirando a areia do meu corpo. Quando eu ia passar pela porta eu recuei, me lembrando de um truque que a vovó tinha me ensinado há alguns meses. Fechei os olhos, focando meus pensamentos na água, em cada partícula de água e depois as vi evaporarem. Quando abri os olhos meu corpo estava totalmente seco, assim como meu cabelo, como se nunca tivesse entrado no mar naquele dia. Abri a porta da casa e encontrei a família reunida na sala de visitas, todos me encarando com olhos curiosos.

– Samantha, como ela está grande! – Disse minha tia Vona a minha mãe. Vona era a solteirona da família, e por isso sempre acompanhavam os pais de Jhynn. – Quantos anos ela tem?

– Vou fazer 15. – Eu disse, me intrometendo, não gostavam quando falavam de mim com os meus pais como se eu não tivesse ali, escutando. Vona fez uma cara de espanta e depois abrir um sorriso.

– Nossa você aparenta ter mais... uns 18 anos talvez. Lembra a sua mãe aos dezoito. – Realmente eu não parecia ter apenas 15 anos, tinhas os peitos avantajados, assim como os da minha mãe. Eu era alta, mas não muito magra para ser modelo como minha mãe gostaria. Mas meu leve excesso de peso deixava minha bunda grande, e eu gostava disso, chamava atenção dos garotos. Eu tinha o mesmo tom de castanho de cabelo que minha mãe, assim como os olhos de mel dela, por isso deveria lembrar minha mãe mais nova.

– Ah, Vona. Aos meus dezoitos eu tinha peitos maiores, era mais magra e já era uma grande modelo. Daiana ainda precisa emagrecer alguns quilinhos para parecer comigo.

Minha mãe como sempre queria ser a mais bonita, mais gostosa, superior a tudo e a todos. E ainda achava que tinha idade para isso, não se tocava que já estava quase na casa dos quarentões.

– Deixe de bobagens, Samantha. Ela é linda, quase mais linda que minha filha. – Tia Skyler disse logo depois soltou uma gargalhada, não sei se foi de veneno ou de brincadeira. Pelo que eu me lembrava da Skyler, ela era sempre contente e bom humorada, diferente da minha mãe. E Jhynn nunca reclamou dela na infância, pelo menos. Toda aquela gente pertencia a minha família, mas me pareciam quase estranhos, não os via há muito tempo. Estava perdida nos meus pensamentos quando fui surpreendia com alguém me abraçando. Primeiro pensei que foi o tio Clark, por ser grande o suficiente para tampar minha visão. Meu rosto deveria estar batendo em seu peito, mas quando envolvi meus ombros nele percebi que não era gordo como Clark, mas era magro e forte.

– Há quanto tempo priminha!

– Nossa Roger, você está tão...grande. – E era verdade. Quando ele se afastou eu pude notar o qual grande ele estava. Era quase um meio metro mais alto do que eu, loiro (como a maior parte da família), um largo sorriso, olhos azuis e um corpo largo também. Sem mencionar algumas espinhas no rosto, ele tinha um rosto extremamente bonito.

Assim que Roger me largou, me deixando respirar mais aliviada, notei vovô Hefesto bajulando Jhynn, ao lado do meu tio Clark e meu pai Hermes. Jhynn também tinha crescido. Era da mesma altura que eu, seu cabelos dourados batiam no ombro de forma ondulada, como um mar de ouro em ondas. Não tinha muito peito e nem bunda como eu, mas era dez vezes mais magra, como uma modelo, não tão magra, era o suficiente para ser considerada “gostosa”. Assim que ela notou o meu olhar ela sorriu e veio em minha direção e do Roger.

– Daiana Maicoom, por que você sempre tem que ofuscar minha beleza. – Jhynn disse em um tom de brincadeira enquanto beijava o meu rosto.

– Está tirando sarro de mim? – E só poderia se, ela era umas mil vezes mais bonita do que eu. Estava curiosa para saber quem que o Roger achava mais bonita.

Jhynn balançou a cabeça negativamente e depois de um tempo disse:

– Não fui apresentada ao seu quarto, onde irei dormir, obviamente.

E era verdade, com tanta gente da família que veio, não teríamos quartos suficientes para todos. Conduzi-nos para o terceiro e ultimo andar e entramos no meu quarto. Me senti um pouco infantil, com os meus primos olhando os meus pertences no meu quarto. Ainda tinha guardado alguns brinquedos e bonecas, nas paredes tinha desejos de crianças e fotos com minha amiga Nicole, onde parecíamos duas retardadas chapadas. Enquanto Roger parecia um garoto popular da escola, usava moletom e bermuda jeans, junto com um tênis de marca, sem falar em Jhynn, que usava um vestido curto e justo, verde escuro que fazia contraste com a pele clara e os brincos de ouro que brilhavam. Me deparei me olhando rapidamente no espelho, para verificar se não estava vestida ridiculamente.

– Não acredito que você ainda tem isso! – Disse Jhynn ao pegar na escrivaninha uma pulseira de conchas feita quando éramos crianças.

– Eu vou ir ao banheiro. – Disse Roger já fora do quarto. Fiquei pensando por que ele queria sair com tanta pressa e logo Jhynn falou.

– É difícil para ele se lembrar da infância. Faz seis meses que os seus pais morreram. – Jhynn então largou a pulseira de concha e me encarou. – Não é estranho, um casal de sereias morrerem no mar?E ninguém me explicou como, simplesmente morreram? Alguém te disse algo sobre isso?

– Não. – O meu sonho, eu pensei. Mas os pais de Roger não eram mais jovens. – Não fiquei sabendo sobre o que ocorreu com os pais dele. Isso é trágico. Mas o que aconteceu ao certo?

– E eu também não fiz muitas perguntas, por que o Roger estava sempre por perto nos últimos tempos. – Ela ficou quieta por um tempo e então disse algo que eu queria falar. – Falando no Roger, ele mudou bastante não? Ficou assim... bem gostoso.

Mal ouvi ela dizer e então cai na gargalhada. E ela também riu, quase que envergonhada do que disse. – Pois é, mas pena que é nosso primo. – Já nós estava deitadas, cada uma em sua cama.

– Que feio Daiana, desejando um homem do seu próprio sangue. Mas espero que na festa da Matilde esteja cheia de gatinhos, como e melhores que o Roger. – Só quando Jhynn tocou no assunto que eu me lembrei dessa festa que eu tão pouco queria ir. Matilde não era só uma garota popular da minha escola, mas ela pertence a umas das principais famílias de sereias da região, a cidade inteira e mais um pouco estará presente. Sem contar com o grande numero de serias, fadas, bruxas e seja mais lá o que irá aparecer, sem contar com os humanos da escola e da cidade. Tirando o fato de que sempre acontecia algo errado quando um grande numero de seres mágicos se reúnem perto de humanos, Matilde tinha um ódio mortal por mim.

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Novamente eu estava em um mar escuro e frio, aparentemente sem vida. Onde a luz do sol não refletia estava se movendo uma sombra, não muito grande, mas o suficiente para me deixar com medo. Mas era apenas uma criança, um garoto nu com poucos fios de cabelo. Ele se aproximou rapidamente e eu pude notar que seus lábios estavam presos com anzóis e linhas de pescas, e seus olhos eram apenas abismos brancos.