O silêncio se estabelecia facilmente entre Rick e Daryl. Eles não precisavam de palavras.

Os dois caminhavam pelos trilhos, seguindo-os, como as placas anteriores haviam mostrado para fazer.

O Terminus era um lugar que prometia segurança, comida, abrigo e os dois homens necessitavam disso.

Mas havia perguntas a serem respondidas. E Daryl resolveu dize-las em voz alta, finalmente:

– Você acha que é realmente um lugar seguro? – A voz do caipira trazia insegurança.

Rick parou de andar, voltando-se para Daryl. Ele franziu o cenho, tentou se livrar de todas as suas inseguranças para responder, mas a tentativa foi em vão:

– Eu não sei. – Suspirou – Realmente não sei.

Daryl assentiu, seus olhos pousaram sobre uma nova placa, alguns metros a frente de onde estavam.

– Será que mais alguém viu essas placas? Quero dizer, alguém do nosso grupo?

O xerife olhou de soslaio por cima do ombro, em direção á placa. Depois voltou novamente seu olhar para o homem a sua frente.

– Acho que devemos continuar. – Rick não respondeu a pergunta de Daryl, temendo que as lembranças de semanas atrás, de seu último dia na prisão, voltassem e o assombrassem como em todas as noites desde então. – Daqui a poucas horas vai escurecer, precisamos encontrar um lugar para passar a noite.

Daryl desviou o olhar da placa e fitou o céu. Ele apenas assentiu, para si mesmo, antes de começar a andar atrás do xerife que já estava em movimento novamente.

– Você já percebeu? – A voz de Rick cortou a escuridão. Ele olhou para Daryl, alguns centímetros a seu lado, ele estava de olhos fechados, mas não estava dormindo, o xerife sabia disso.

– Percebi o que? - A voz rouca de Daryl soou de alguma maneira reconfortante para Rick, como sempre acontecia nestas últimas semanas.

– Nós conversamos sobre comida, onde vamos acampar e só! – Ele voltou seu olhar para a pequena fogueira que queimava a sua frente – Já havia me esquecido como isso era difícil.

– É, eu também me sinto assim. – Os olhos de Daryl abriram-se para a escuridão.

O assunto ainda ficou pairando no ar, mas nenhum dos dois disse mais nada, até que Daryl resolveu falar novamente:

– Você sabe que a culpa não é sua, não é? – Rick fitou-o, confuso – Tudo o que aconteceu, todos que perdemos, nada disso é culpa sua!

Quase pode-se ouvir um estalo na mente do xerife quando ele entendeu. O silêncio voltou a tomar conta do local, mas não durou muito tempo.

– Gostaria de acreditar que a culpa não é minha; mas ela é, Daryl. É sim. – A voz de Rick era carregada de coisas que Daryl compreendia perfeitamente: dor, culpa, mágoa, angústia.

– Você não podia prever o que aquele filho da puta do Governador ia fazer. Ele nos pegou de surpresa, Rick. – A voz de Daryl assumira um tom firme, convincente, mas não pareceu surtir o efeito desejado.

– É nisso que eu errei: não estávamos preparados. Enquanto estávamos brincando de fazendeiros, aquele maldito se armava e formava um novo exercito. – A voz dele saia sôfrega. – Eu devia ter previsto.

Daryl demorou pra responder dessa vez, suas lembranças de tempos atrás saindo da inconsciência e instalando-se na parte mais vulnerável de si.

– Sabe, uma vez Carol me disse algo. – Sua voz era apenas um murmúrio, mais rouca que o normal – No começo eu não acreditei, mas ela estava certa. Bem, ao menos por algum tempo – Ele soltou um riso baixo, nervoso - Ela me disse que tudo ficaria bem. Maldito seja, como eu acreditei nisso; e olhe-nos agora!

– Você pensa muito nela, não é? – Rick sussurrou e Daryl esforçou-se para ouvir.

– É claro que não! – Daryl exclamou, subitamente irritado. – Quero dizer, sim, eu penso nela. Não, eu não – O rosto do caipira assumiu um tom rosado - Não mude de assunto.

Rick riu, mas logo voltou a ficar sério.

– Você devia ter dito a ela, sabia? Porque como Edwin Jenner nos disse uma vez: Sempre achamos que vamos ter mais tempo. E ai, o tempo acaba. – A voz do xerife era carregada de exaustão.

– Eu sei. Ela sempre esteve ali, ao alcance de minhas mãos e eu simplesmente a deixei ir. – Suspirou tristemente. Daryl sentou-se e começou a fitar o mesmo ponto que Rick: a fogueira. O caipira completou, sua voz sem a mais remota emoção – Estamos sozinhos agora. Não temos mais família. Não temos mais nada.

– Temos sim. – Daryl o fitou, sem compreender. – Temos um ao outro! – Rick disse, convicto.

– E onde está á família nisso? – Daryl perguntou no mesmo tom sem vida de antes.

Rick pousou uma das mãos no obro do caipira e sussurrou, sua voz trazendo todas as certezas do mundo.

– Você é meu irmão!