Manhã de segunda, faltando três dias para o casamento.

– Não pode ir embora, Charles. - grunhiu George franzindo o cenho, enquanto ele terminava de colocar suas roupas dentro da mala.

Havia muito tempo que não via Charles com tanta raiva. George permaneceu parado junto a porta sem entender.

– Algo aconteceu, não é? - quis saber.

Charles arfou.

– Sim. E pelo visto quer saber, não é? - perguntou - Acho melhor sentar-se, ou irá ficar entediado em ouvir minhas palavras. - George permaneceu em pé esperando, Charles colocava as roupas de forma rápidas dentro da imensa mala. - Por que não confiei em minha intuição, mas não, novamente coloquei os burros na frente do carro e saí mal.

George fez uma leve careta, sabia que Charles ficava descontrolado quando estava furioso, mesmo não ouvindo da boca dele já tinha uma leve intuição sobre o que estava alterando seu humor.

– É a Naomi, não é?

– E de quem estaríamos falando, meu caro irmão. - disse com uma pontada de cinismo, era de se esperar. - Não posso ficar mais um dia dentro desta casa ao lado dela, por isso irei embora.

– Mas que diabos ela fez, então? Diga-me algo plausível, pare de ficar bancando o bobo da corte. - retrucou George.

Charles sentou-se na beirada da cama e deixou a camisa que estava segurando cair no chão.

– Pela primeira vez em quase dez anos, achei que estava amando alguém e de novo quebrei a cara. Na noite passada, fui ao quarto dela para dizer sobre meus sentimentos e a peguei agarrada com o Michael aos beijos.

George soltou um longo suspiro. Céus, seu irmão estava perdidamente apaixonado por Naomi Gooding, era evidente em seus olhos o quanto estava sofrendo por conta daquilo. Sabia que um simples dizer deixe isto para lá ou esqueça não iriam resolver.

– Por isso irei embora esta tarde, não preocupe-se, já comprei a passagem aérea. - disse voltando a colocar as roupas dentro de sua mala.

– Pelo amor de Deus não faça isso, eu te peço, sei que está chateado pelo que ela fez, mas não posso deixar que meu irmão falte no dia mais importante de minha vida. - suplicou George.

Charles parou de arrumar as malas e o encarou, sabia que George tinha razão, pois um tinha o outro e era isto o que importava. E deixar seu único irmão na mão, não teria perdão. Ele assentiu, George o abraçou.

[...]

Claire permanecera com a expressão fechada quase toda manhã daquela segunda, sabia que algo sairia errado, ela estava sendo boba novamente de acreditar que as intenções de sua irmã eram apenas amigáveis. George pousou a mão sobre de sua noiva fazendo-a sair de seu transe.

– Todos estão começando a falar. - murmurou próximo ao seu ouvido. - Tente relaxar querida, sei que sua irmã terá uma explicação para esta confusão.

Suspirou. Precisava admitir que ficar com aquela expressão só iria lhe causar problemas, já que apenas ela, seu noivo e Naomi sabiam sobre a confusão da noite passada. Charles nem sequer apareceu, inventou um mal estar e permaneceu trancado no quarto amanhã toda.

– Não é certo o que ela fez, pobre Charles, se mamãe ou Steve descobrirem, imagine a confusão. - choramingou aos ouvidos do noivo. - Isso estragará tudo.

Claire percebeu, pelos olhares curiosos ao redor, que erguera o tom a um nível de quase histeria. Respirou fundo e se obrigou a reduzi-lo.

Antes que Steve começasse seu pequeno discurso do almoço, o som da porta se abrindo pegou todos de surpresa. Naomi estava usando óculos de sol escuro, caminhando lentamente e sendo seguida pelos olhares curiosos. Ao sentar-se ao lado de sua mãe, Claire se levantou furiosa e caminhou em direção da irmã, pegando todos de surpresa.

– Precisamos conversar. - resmungou Claire sem se importar com os convidados, que observavam a cena sem entender nada. - Agora! - antes que Naomi pudesse dizer algo sentiu a mão de sua irmã a puxar pelo braço.

Steve encarou George que fez um gesto, como se não estivesse entendendo nada, ao se virar para Marie notou que a esposa retirou o guardanapo do colo e se levantou.

– Momento de euforia, coisas de irmãs, não preocupem-se. Agora aproveitem o almoço, já retornamos. - explicou antes de sair.

Marie caminhou apressadamente em direção ao quarto. Ao abrir a porta, se deparou com Claire que andava de um lado para o outro eufórica enquanto Naomi estava sentada na beirada da cama.

– Não tenho como te perdoar pelo que fez Naomi, como pôde brincar desta forma com o sentimento de alguém que mal conhece. - berrava descontrolada. - Mas que droga, eu pedi-te ara não fazer isto. Agora caso ele for embora estará tudo acabado, sua imbecil egoísta.

– Já lhe disse que não fiz nada, apenas aconteceu do Charles entrar na hora errada, mas que droga, ninguém pode acreditar em mim pelo menos uma vez?. - grunhiu, Claire encarava com uma expressão apática enquanto Marie permanecia calada.

– Tudo foi um grande erro, eu disse que não daria certo, eu disse. - disse Claire chorosa. - Como acreditar, depois de anos fazendo-se de vítima para que os outros tivessem pena de você, realmente acreditei que tivesse amadurecido, mas vejo que permanece a mesma, a garota mimada e egoísta de sempre.

– E você uma egocêntrica mandona, todos tem que agradá-la, não é, Claire? - retrucou enquanto se levantava. - Amem a Claire, pobre menina inteligente, querida, paparicada. Não é, mamãe? Diga para ela o quanto a venera. - se virou em direção a Marie. - A garota que ingressou em Harvard, a pérola da família Gooding. Não faz idéia do quando odiei cada minuto de sua maldita arrogância.

– Não tenho culpa de ser tão desagradável, Naomi. - grunhiu Claire. - Não foi culpa minha a morte do papai, ou você acha que eu não sei que vivia dizendo esta mentira sobre mim.

Marie sentiu o rosto esquentar, sabia que estava na hora de intervir ou ambas acabariam se magoando profundamente.

– PAREM JÁ! - berrou Marie, ainda parada próxima à porta. - Pelo amor de Deus, parem. - suplicou. - Não vêem que estão se machucando por algo irrelevante? Naomi, minha querida, tente ao menos entender sua irmã, este é o seu grande dia, tente ser educada.

Naomi estreitou o olhar e se inclinou para a frente. “Como assim ser educada?”

– Educada? Mas do que está falando? - questionou Naomi boquiaberta - Esta é a educação que recebi, agora diga à esta sua filha para que entenda que o mundo não gira em torno de seu umbigo.

Claire engoliu em seco.

– Sínica! Acha que brincar com os sentimentos alheios é correto.

Naomi se virou em direção a Claire.

– Não fiz isso, quantas vezes terei de dizer. - se defendeu.

– Quantas forem necessárias para que o Charles não vá embora. - respondeu Claire, pegando Naomi e Marie de surpresa, como assim ele iria embora? a noiva se aproximou de sua irmã. - O pobre está arrasado, disse ao George esta manhã que não pôde aceitar algo tão vergonhoso, todos sabemos que já dormiu com ele noite retrasada, e ontem deitou-se com o Bolton, ou acha que ninguém iria ficar sabendo? - perguntou. - Como pôde se abaixar tanto, como pôde.

– Isso é verdade? - questionou Marie assustada.

Naomi sentiu os nervos alvoroçarem dentro de suas veias.

– Isso é mentira. - berrou entre lágrimas, antes que alguém dissesse algo, Naomi saiu correndo e direção à porta, deixando sua mãe e Claire sozinhas.

Marie tapou a boca enquanto Claire tentava controlar seus pensamentos, se alguém soubesse daquilo o casamento seria um fiasco.