Heróis do Amanhã escrita por WDes


Capítulo 3
Capitulo 1 - Encontro conturbado




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Faltzer está em um enorme salão feito completamente de mármore, que devia possuir uns 200x 300 m de área, com estranhos cristais negros que lembravam estalactites por todo o teto e grandes “lareiras” que eram esculpidas na parede de cinquenta em cinquenta metros, iluminando calidamente o lugar. Ele está com a espada na bainha e seu escudo encaixado no braço, e agora veste jaqueta, camiseta e calça brancas, junto a botas militares pretas, com faixas em vermelho nas laterais das pernas e dos braços, nos ombros, descendo pelas golas altas e se juntando na linha do zíper, antes de terminarem se esticando de um lado ao outro da jaqueta, bem na base. Em suas costas, está gravado na jaqueta o símbolo de dois machados cruzados, atravessados por uma espada, com um escudo medieval ornamentado com uma cruz vermelha no centro, ao fundo. Nas golas da jaqueta, próximo aos bolsos da calça e nas laterais dos braços, está incrustado em prata o símbolo dos Hoshikawa. Pendia em seu pescoço o colar que fora presente de Marianne na infância. Ele passara a usá-lo muito mais desde que deixara a aldeia de seu clã. Muito embora a roupa tenha mudado bruscamente, a espada e o escudo são os mesmos.

—Começar!

De imediato, toda a luz se apaga, e os cristais começam a brilhar perigosamente. O que parece ser feixes de uma esquisita luz acinzentada sai destes e se transforma em muitos monstros, como guerreiros esqueléticos que pareciam ser da época da Grécia, devido à vestimenta e equipamento, cavaleiros medievais sem cabeça, e, em menor número, seres que se assimilavam a ogros em questão de tamanho, vestidos com armaduras de malha que cobriam quase todo seu corpo, de pele cor de madeira e cujos rostos eram totalmente cobertos por enormes capacetes de ferro medievais, armados com grandes varas de madeira amarradas a bolas de ferro com espinhos por correntes de aço (conhecidos por “Falanges”), todos emanando uma aura fantasmagórica. As fogareiras tornam a acender, iluminando o salão novamente.

Faltzer está olhando o salão repleto de monstros, parado e sem se mexer. Não demora para que notem ele, e então partam para cima dele. Os primeiros a chegar são os guerreiros esqueléticos, mais ágeis que o resto. Ele tira a espada da bainha em suas costas tranquilamente com a mão direita, enquanto analisa os monstros que se aproximam. Um dos guerreiros esqueléticos chega a ele e lança um corte lateral a fim de fatiá-lo. A grande espada se move com rapidez ao mesmo tempo em que ele gira suavemente seu pulso, interceptando o ataque com força brutal, jogando o guerreiro esquelético para trás. Ele então se aproxima correndo e se abaixando ao mesmo tempo, cortando as pernas do monstro e interceptando seu corpo que caía com um punho fechado que, como se notava após atravessar o monstro, estava protegido por o que parecia ser uma luva de aço articulada, com reforços nos ossos que eram usados para socar. O monstro se desfaz em um brilho fantasmagórico e volta aos cristais. Um mínimo sorriso se abre no rosto do rapaz, praticamente uma simples entortada dos lábios, enquanto ele rapidamente guarda a espada na bainha.

Outro guerreiro grego já estava atrás dele, e levantava a espada em um corte vertical para matá-lo. Ele dá um pulo para a direita, desviando com facilidade da espada mortal. Cai de lado, põe a mão no chão e a usa como apoio para girar o corpo, chutando a perna do esqueleto, que cai no chão. Ele então põe a outra mão no chão e planta uma rápida bananeira, usando o impulso para cair para trás, em seus pés, e usa novamente esse impulso para pular para trás assim que toca o chão. A sua jaqueta, que estava aberta, esvoaça, revelando o cinto de couro que ele vestia, que carregava dezenas de pequenos dardos com um centímetro de diâmetro e sete de comprimento, pretos com pontas vermelhas. Ele pega um daqueles com a mão esquerda e o lança no monstro com precisão. A princípio, nenhum efeito. Enquanto ele cai em seus pés, dois guerreiros esqueléticos se aproximam da direita e da esquerda. Ele nem mesmo faz menção de tirar a espada da bainha.

O da esquerda é o primeiro, e vai matá-lo com um corte vertical. Faltzer porém simplesmente levanta o braço com o lado do escudo para fora, e a espada do monstro é repelida pela proteção, atordoando o guerreiro e fazendo a arma voar longe de seu alcance. O do lado direito chega logo em seguida, tentando acertá-lo com uma estocada. O rapaz então dá um passo para trás enquanto o ataque erra miseravelmente seu alvo, pega o braço do guerreiro esqueleto, que ainda está em seu embalo para frente, e assim direciona a espada para o monstro à esquerda, perfurando-o e travando os dois juntos. Então acerta um soco forte em cada um com seus dois braços, jogando-os em direção ao guerreiro grego que ele havia derrubado e alvejado antes. O dardo agora soltava uma fumaça preta alarmante, ainda espetado ao monstro. Os três monstros se chocam e caem. Segundos depois, o dardo libera uma explosão de fogo que cobre uma área de três metros de diâmetro, consumindo os monstros, que voltam aos cristais como uma luz acinzentada.

Ele olha para a explosão com um leve sorriso, desta vez um pouco mais intenso que o anterior. Porém, sua audição aguçada detecta um ruído metálico, e ele se vira apenas para confirmar a suspeita: ele passaria a enfrentar os cavaleiros medievais também. Apenas um deles está à sua frente, enquanto os outros estão ainda distantes, mas se aproximando. Porém, o cavaleiro não é nada pequeno. Maior que Faltzer, ele devia ter dois metros e dez ou vinte centímetros de altura. Ele então puxa a espada da bainha novamente, enquanto se agacha para evitar o ataque horizontal que tinha como objetivo cortar sua cabeça.


Faltzer tenta atingir o cavaleiro com um corte horizontal, mas tem seu ataque bloqueado pelo enorme escudo medieval. Não contente, ele inicia uma sequência de ataques contra o cavaleiro, que esperava Faltzer se cansar para atacar, procurando repelir seu escudo e assim ter a abertura de que precisava para destruir aquele monstro.

Corte horizontal para a esquerda, corte diagonal descendente de volta para a direita, corte para cima. Pular para trás, corte diagonal ascendente, da esquerda para a direita, aproveitando a força multiplicada pela distância da lâmina, corte vertical para baixo, trazer a espada de volta para cima, levá-la acima da cabeça, segurá-la com as duas mãos e descê-la com velocidade e força máxima. Ele executou tudo aquilo rapidamente, levando algo como cinco segundos.

A força do último golpe, combinada ao estresse gerado pelos anteriores, repeliu e desajeitou o enorme cavaleiro, criando uma abertura para Faltzer. Ele então dá um forte impulso com a perna esquerda enquanto prepara uma cortada horizontal à esquerda, fatiando ao meio o cavaleiro, mesmo com a armadura que este utilizava. O cavaleiro se dissolveu em um brilho sinistro e voltou aos cristais.

Um alarme ressoou na cabeça de Faltzer: e os guerreiros gregos? Eles haviam ficado assustados com o feito impressionante do rapaz e criado distância, mas provavelmente sentiram a vulnerabilidade dele enquanto lutava com o cavaleiro. Ele olha por cima do ombro bem a tempo de ver um guerreiro grego pronto para fatiá-lo, e bruscamente se vira, interceptando a espada grega com o escudo em seu braço esquerdo e atordoando o inimigo. Dá um passo para trás, ajeita a espada e corta a cabeça do monstro com um ataque diagonal descendente à direita. Outros cinco se aproximam rapidamente. Ele então energicamente levanta o braço esquerdo com força e velocidade, fazendo deslizar e soltar no ar o escudo que estava encaixado lá. Pega-o pela alça e o empunha, e em seguida corre ao encontro dos guerreiros gregos, com o escudo à frente e a espada de prontidão sacudindo ao seu lado. Prevendo que ele bloquearia os golpes com o escudo em seu braço esquerdo, os monstros se posicionam para cortá-lo pela direita, mas ele dá uma guinada para a direita no último momento, ajustando a posição do escudo e esmagando violentamente o rosto de um dos esqueletos, além de empurrar e derrubar os demais que estavam no caminho.

Ele então impala um dos esqueletos caídos no chão, destruindo-o. Os outros já haviam se recuperado do ataque e o rodeavam. Ele escuta um ruído metálico e se abaixa bem a tempo, quando uma espada medieval passa por cima de sua cabeça e corta ao meio os guerreiros esqueletos. Ele então se vira violentamente enquanto se levanta, já preparando um corte diagonal ascendente da direita para a esquerda, que intercepta bem a tempo a espada do cavaleiro. A pressão é forte e faz rachar o chão a seus pés, e tanto a sua lâmina quanto a do cavaleiro estão paradas. Ele então aplica mais força e repele a espada do cavaleiro.

—Aaaah! Maldito!

Um corte diagonal ascendente à esquerda, outro vertical descendente ao meio e por fim outro corte horizontal à esquerda. O cavaleiro medieval explode em um brilho sinistro e fantasmagórico. Outro alarme ressoa em sua cabeça: e os Falanges? Ele se vira, apenas para ver um bem à sua frente. Agora, olhando mais de perto, era bem assustador. O monstro lança a bola de ferro em sua direção, e ele, sem outra opção, a intercepta com a espada. A força, porém, é demais para ele, e Faltzer é lançado dez metros para trás, de algum jeito conseguindo cair de pé e com espada e escudo em posição. A bola de ferro estava a caminho novamente.

Ele pensa rápido: joga a sua espada para o alto e para frente, empunha o escudo nos dois braços e recebe a pancada com a proteção. O chão em volta de seus pés racha e ele é arrastado mais ou menos quinze centímetros para trás. A bola de ferro cai no chão e, antes que o monstro possa prepará-la para o próximo ataque, ele dá uma pequena corrida e pula na corrente, jogando o escudo para cima e encaixando-o no braço enquanto isso. Quando seus pés tocam na corrente e a mesma é forçada para baixo, ele pula novamente, aproveitando-se da força extra que a corrente voltando à posição normal lhe dá, pega a espada que caía girando e cai de pé na vara de madeira. Equilibrando-se e ajeitando a espada, ele corre pela vara e pula em direção ao monstro, atravessando a região do pescoço com um corte horizontal da espada executado com as duas mãos, assim cortando a cabeça do enorme monstro. Ele cai no chão e rola para frente antes de ficar de pé, enquanto o monstro se desfaz em uma luz acinzentada e volta aos cristais. O sorriso em seu rosto agora é visível.

—E não é que isso é um excelente passatempo, e ao mesmo tempo treinamento?

Ele então olha em volta. Ainda há muitos monstros para derrotar, todos se aproximando com intenção assassina. Ele volta a empunhar o escudo e parte para cima dos monstros.

MARIANNE

Ela estava encostada numa parede branca, ao lado de duas grandes portas de madeira, olhando a noite por uma janela bem à sua frente. Vestia uma blusa branca sem mangas, com listras vermelhas nas laterais, e uma saia curta, também vermelha, além de botas, também brancas. Nas costas da blusa estava gravado o mesmo símbolo que havia nas costas da jaqueta de Faltzer. O colar de seu clã pendia em seu pescoço como sempre.

O som de aço chocando com aço saía por detrás das portas. Fazia mais de uma hora que Marianne estava lá, esperando alguém importante para ela sair e dar-lhe um pouco de atenção. Ela já não aguenta mais esperar, e resolve ir embora. Porém, quando se desencosta da parede e sai andando, ela escuta um fortíssimo “BLAM!” vindo detrás das portas. Assustada com o que poderia ter acontecido, ela não hesita e vai correndo até as portas. Esquece-se da promessa que tinha feito, de não abrir aquelas portas. Abre-as de uma vez, com um forte chute. O que ela vê é um salão enorme, com lareiras esculpidas nas paredes, cristais negros e estranhos no teto, e muitas rachaduras e pequenas crateras no chão. Um Falange e um rapaz moreno, de aproximadamente um metro e noventa de altura, que usava uma espada grande, de folha reta, e um escudo retangular preto, também de tamanho considerável. Um de costas para o outro. O Falange se transforma em um pó fantasmagórico, que volta para os cristais. O rapaz continua parado, tenso, segurando espada e escudo.

–Faltzer Hoshikawa! Você está bem?– O grito estridente da garota ecoou pelo salão.

O rapaz abaixa as armas e se vira, ainda tenso.

—Marin? Você prometeu que não iria… – Ele perde as forças e cai no chão, soltando a espada e o escudo, que caem barulhentamente no chão à sua volta.

Outro grito de susto é escutado pelo rapaz enquanto ele cai e tudo fica escuro. Ele sente água pingando sobre seu rosto, e então abre os olhos com dificuldade. Num primeiro momento, está tudo borrado e ele apenas vagamente vê um vulto. Mas os seus olhos se ajustam e ele consegue ver o rosto de Marianne, ajoelhada ao seu lado, com lágrimas nos olhos. Quando vê os olhos abertos do rapaz, ela se acalma um pouco. Ele se levanta vagarosamente e fica sentado, colocando uma das mãos na lateral da cabeça.

–Ai, ai, ai… Por quanto tempo eu fiquei desmaiado?

Embora estivesse mais calma, Marianne ainda estava chorando.

—Só o tempo de eu chegar até você e começar a chorar… você está bem? Eu fiquei assustada…

Ela abraça Faltzer com tanta força que ele quase morre sufocado.

– Ai! Estar bem eu estou, mas não vou ficar assim por muito tempo se você continuar me abraçando com tanta força…

Ele se solta da garota a muito custo, apenas para ela tentar deitá-lo novamente. Desiste de resistir e apenas a deixa fazer o que quer. Ela encosta o ouvido no peito do rapaz para ouvir seus batimentos cardíacos. Ela os ouvia fortes e definidos, mas num ritmo normal. Perguntou-se se o coração dele sempre batia assim.

— Seu coração está batendo normal, graças a Deus…será que você não está ferido, com algum corte feio?

Ela tira a jaqueta do rapaz e examina os braços, procurando algum ferimento. Então Marianne puxa a gola da camiseta dele. Nesse momento o rosto de Faltzer fica vermelho e ele a pega pelos pulsos, evitando-a de fazê-lo.

—Não. Eu estou bem, se tivesse algum ferimento já teria te falado. Eu só estou… muito cansado.

—Se você estivesse realmente bem, não resistiria.

Diante daquela situação constrangedora, ele rolou para o lado e se levantou rapidamente. Pegou a espada e o escudo no chão, e guardou a arma na bainha, também encaixando a proteção no braço logo em seguida.

—Viu? Eu estou bem, só muito cansado. Se você está assim preocupada, eu vou na enfermaria, sem problemas.

Marianne se levanta e seca as últimas lágrimas de seu rosto. Consegue abrir um pequeno sorriso.

—Então vamos…

Os dois saem do salão e vão andando pelo corredor de paredes brancas, finalmente virando à esquerda depois de uns cinquenta metros. Marianne pega na mão do rapaz depois de andar mais alguns metros além da curva.

—Por que isso, Marin?

—Quero ter certeza que você não vai desmaiar no meio do caminho e cair no chão sem eu poder te segurar.

Mal sabiam eles, um rapaz de cabelos castanhos médios um tanto desgrenhados, olhos marrons e pele morena, um metro e oitenta de altura, com vestimenta parecida à de Faltzer, mas sem os símbolos de clã, espiava e escutava os dois, de uma das “esquinas” do prédio.

—Então esse novato, Faltzer, venceu a sala de treinamento mais difícil em três horas, sozinho, com uma semana e meia aqui? Interessante…

Chegando lá, o resultado é como Faltzer disse: ele apenas está exausto. Marianne perguntou à enfermeira de plantão, sem que Faltzer soubesse (ele estava fazendo a triagem com outra enfermeira) se a força dos batimentos cardíacos do rapaz era normal. Ela revelou que, no dia em que os novos alunos chegaram, ele foi fazer o exame médico com ela. Disse que averiguou isso em vários momentos do exame e que no caso dele devia ser normal.

Tranquilizada, ela acompanha o rapaz até o quarto compartilhado pelos dois. Por obra do acaso, os dois foram sorteados para o mesmo quarto. Faltzer já estava acostumado em não ter um banheiro só para si, pois compartilhava um com Subaru em sua casa. Ele entrava no banheiro vestido, com as roupas que ia usar, o desodorante e o perfume nas mãos, e já saia vestido e arrumado. Já ela sempre tivera um banheiro só para si em seu quarto e tinha dificuldades para se acostumar. Depois de uma situação constrangedora onde ele quase a vira nua, mas teve o mínimo de bom senso de presumir que não devia olhar para trás, eles haviam combinado que Faltzer devia deixar o quarto enquanto ela tomava banho.

Eles chegam no quarto simples, com paredes brancas, piso de madeira, um beliche, dois criados-mudos, dois armários, uma estante e uma televisão embutida na parede. Faltzer deixa o equipamento ao lado de seu criado-mudo, tira o cinto cheio de dardos, agora contendo apenas metade da carga inicial, e vai direto para seu armário para guardá-lo e pegar seu pijama. Porém, assim que percebe o que ele pretende fazer, Marianne vai até ele e lhe dá um leve toque no ombro.

—Não, você vai tomar um banho sim, mas não vai dormir agora.

—Mas por quê?

—Esqueceu que você prometeu ir ao cinema comigo, a Elizabeth e alguns amigos meus e dela também?

Faltzer se joga na cama de baixo do beliche, e se espreguiça. Fecha os olhos.

—Estou tão cansado… não podemos fazer isso amanhã à noite?

Ele sente um puxão forte nas golas de sua jaqueta e abre os olhos. Marianne estava em cima dele, olhando-o com uma expressão severa, cara a cara.

–Você simplesmente vai treinar de novo amanhã, e ficar muito cansado de novo. Aí vai dormir de novo. NÃO! Você vai parar com essa mania de treinar até ficar só o bagaço, e nós vamos no cinema HOJE!

Ele resolve não contestá-la. Estava cansado demais para brincar de se soltar dela e correr antes que levasse socos, tapas e chutes em regiões onde ele tinha certeza que não queria ser atingido.

—Tá, tá bom, senhora Rainha dos Olhos Azuis.

Depois que se livra da pessoa em cima dele, ele se levanta e vai no armário novamente. Pega as suas roupas favoritas do clã, seu melhor perfume e vai até a porta do banheiro.

—Hum, vou eu ou você primeiro?

—Pode ir você primeiro, quando sair me espere na frente da entrada de Arcadia. Lizzie estará lá, é uma boa chance de vocês se conhecerem. Ela é uma garota ruiva e branca de olhos verde-esmeralda, uns 10 cm menor do que eu.

Ele entra no banheiro e fecha a porta. Quinze minutos depois, sai vestido com a sua habitual jaqueta azul-marinho do clã, camiseta social branca de gola alta por baixo, cinto de couro preto bem discreto, calças jeans cor índigo e tênis azul-marinho, com detalhes em preto e prata, de solas grossas e com o cano longo, lembrando botas. Marianne está sentada no beliche, esperando sua vez com as roupas prontas no colo.

—Faltzer, você está bem bonito assim… A Lizzie provavelmente vai te paquerar – disse ela com um risinho maldoso.

—Bom, eu estou saindo para te esperar. Nos vemos lá…

Ele volta a pegar a espada, e coloca a bainha nas costas. Abre a porta do quarto, sai e a fecha. Em seguida tranca com a sua cópia da chave.

ELIZABETH E LEONARD

Uma garota e um rapaz estão descendo as escadas de um enorme pátio que parecia uma arena, com um portão à frente deles e um prédio gigante e branco que mais parecia um galpão atrás, iluminados apenas pela lua e uma ocasional lâmpada de poste. Aquela era Arcadia.

Ela é ruiva, de olhos verde-esmeralda e tinha algo como um metro e sessenta e oito centímetros. Veste uma blusa vermelha, camiseta branca e calças jeans pretas, na medida exata, além de sapatilhas cor bege. Ele tem cabelos cor de vinho, espetados, longos e rebeldes. É pálido e tem algo como um metro e setenta e dois centímetros. Seus olhos são castanho-escuro e brilhantes. Ele tem curativos e faixas por várias partes do corpo, além de vestir uma camiseta de mangas curtas preta, e calças jeans de cor cinza. Calça tênis pretos com detalhes prateados e tem em sua cintura a bainha de um gládio. Em suas mãos ele leva um sobretudo de cor vermelho sangue.

Ela o puxa pela gola da camiseta, dizendo:

–Vamos logo, Leo. Rubens, Marin e o tal do Faltzer devem estar esperando a gente.

— Ai! Calma aí Lizzie, você está me sufocando desse jeito. E por que temos de ir ao cinema?

—Porque eu já combinei com eles.

—E porque eu tenho que ir junto? Não posso ficar no quarto lendo e descansando?

—Porque eu disse que você vinha junto.

—E quando eu disse que concordava?

Elizabeth chutou ele na canela, bem onde ele havia feito um corte feio, que estava enfaixado.

–AAAAI! Por que bem onde eu estou machucado, Lizzie? Ai…

—Dane-se que você está machucado. Só está assim por que foi burro e quis ir treinar nas planícies proibidas a Oeste, cheias de monstros perigosíssimos. Não durou nem uma hora, e ainda voltou ferido. Devia mais era agradecer que eu tenho paciência pra te enfaixar porque você não quer ir na enfermaria.

—Por que você está ralhando comigo assim, do nada? Eu tenho sentimentos, sabia?

–Anda logo antes que eu prenda você numa coleira. Haja paciência, eu estou sempre tentando levar você para fazer amigos, e você está sempre agindo como um cabeça-dura estúpido e antissocial. —Ela disse com uma voz que ele achou melhor não contrariar.

Aquela era a primeira vez que Elizabeth lhe chamava a atenção daquele jeito, e ele já não sabia o que fazer. Resolveu ficar quieto, não estava a fim de levar outro chute na canela. Sua consciência pesava agora que pensava um pouco. Ele tinha sido muito malcriado com Elizabeth desde que chegaram a Arcadia. Se ficasse quieto e não resistisse, pelo menos seria um jeito de pedir desculpas sem ter que olhá-la nos olhos e dizer que estava arrependido.

Eles finalmente chegam em frente ao portão, onde há uma pequena porta ao lado do portão principal, e esperam por lá a chegada dos outros. Leonard coloca o sobretudo. Minutos depois, um rapaz que vestia jaqueta azul-marinho, camiseta social branca de gola alta, calça jeans cor índigo e tênis azul-marinho, preto e prata, que lembravam botas, chega andando. Ele é moreno, de olhos e cabelos pretos, levemente espetados dos lados e lisos em cima, relativamente longos, e com uma cicatriz em X na bochecha esquerda. Assim que vê os dois, ele se aproxima.

—Você por acaso é Elizabeth Vermillion?

A garota o olhou nos olhos e analisou o rapaz por alguns segundos. Ao que tudo indicava, ele era Faltzer. A descrição passada por Marianne batia perfeitamente com ele.

—Sim, e você deve ser o Faltzer Hoshikawa, não é?

—Eu mesmo, pode me chamar de Falt se preferir. Prazer em conhecê-la. Marianne me falou muito bem de você.

—Igualmente. Ela vive me dizendo sobre você. Belo cabelo esse que você tem. Posso tocar?

Faltzer abaixa a cabeça para facilitar a vida de Elizabeth, já que ele é consideravelmente mais alto que ela.

—Claro… O que a Marin fala de mim? E, me desculpe incomodar, quem é esse cara com você?

Elizabeth passa a mão pelos cabelos de Faltzer. Como Marianne havia lhe dito, eram de uma leveza, suavidade e volume fascinantes.

— Seus cabelos são até fofos, de tão suaves. Bom, ela vive falando que você é habilidoso, educado e dotado de bom-senso. E elogia seu cabelo. Esse aqui é o Leonard Shadowing, ou simplesmente Leo. Ele podia ter umas aulas de comportamento com você. E quem sabe você podia falar o segredo do seu cabelo para ele, porque ele parece até um porco espinho com esse cabelo rebelde.

—Pra falar a verdade, até eu fico fascinado com meu cabelo. Não tem receita, ele é assim mesmo. - disse ele corando com o elogio. Aquela garota era bem atraente e simpática.

Leo por sua vez exibe uma expressão de quem não gostou da indireta e solta um pequeno rosnado. Faltzer se aproxima do outro rapaz e estende a mão.

—Prazer em conhecê-lo. Shadowing… Esse é um clã bem recente, não?

Cada um dos dois analisa o outro rapidamente. Leonard percebe os brasões do clã Hoshikawa nas roupas de Faltzer, e olha-os com desdém. Faltzer percebe esse olhar e o olha nos olhos, fulminantemente, o que o Shadowing retribui imediatamente. Leonard olha para o lado e vê uma expressão de tensão no rosto de Elizabeth. Resolve parar. Quando volta a olhar Faltzer, ele também parou de olhá-lo daquele jeito.

—Igualmente. Nós não somos um clã, sinto lhe informar… - Disse ele com uma voz grave, tentando controlar a raiva.

—Bom, é uma pena. Mas acredito que logo se tornará um clã, afinal vocês já controlam a magia há quantas gerações? Nove ou dez? —Disse Faltzer ainda insistindo em ser amigável.

—Não temos a mínima ansiedade para que o nome se torne um clã. Nossa família odeia os clãs. —Disse Leonard com cara e voz de poucos amigos.

—Eu espero que ser do clã Hoshikawa não vá me impedir de fazer amigos. —Retribuiu em tom similar o jovem Hoshikawa, exasperado.

Elizabeth sentia que havia apresentado duas bombas atômicas, e agora esperava para ver qual explodiria primeiro e qual explodiria mais forte. Ela notara que Faltzer parecia um tanto pálido e exausto, mas Leonard não estava em condições melhores, com vários cortes e machucados por todo o corpo. O clima entre os dois não estava nada amigável. Escutam-se passos suaves, que o sempre alerta Faltzer identifica primeiro com seus sentidos aguçados. Ele se vira e vê chegando Marianne, conversando com o mesmo rapaz que estava espionando os dois antes, e que Faltzer, por estar exausto, não havia detectado antes. Porém, o rapaz agora veste camiseta de mangas curtas e gola alta cinza, calças jeans azuis e tênis brancos com detalhes vermelhos. Marianne usa uma camiseta sem mangas branca, e uma saia curta azul, além de botas pretas.

—Ei, Marin. Quem é esse com você? —Perguntou Faltzer, fitando o desconhecido com uma expressão “sai de perto”.

– Esse é o Rubens Garapium, amigo da Lizzie. A gente acaba de se conhecer por acaso, vindo para cá. Ele já tem um ano de experiência aqui.

Agora que sabe a identidade do desconhecido, Faltzer volta à sua expressão calma e tranquila de sempre. Já havia formulado hipóteses mirabolantes naqueles curtos segundos, e preferia esquecê-las.

—Quantos amigos mais você tem que eu não conheço, hein Lizzie? Só com esse Faltzer, o Rubens e a Marin são três que eu apenas acabo de conhecer. Não que eu precise de mais amigos… —Perguntou Leonard a Elizabeth, vendo uma chance de provocá-la.

—Não é da sua conta, Leo. Você devia ser mais educado que nem o Falt, e fazer seus próprios amigos. —Disse ela com um olhar severo para o exibido e possessivo Shadowing.

Leonard cora e lança um olhar fulminante para Faltzer. Sentindo a raiva do Shadowing, o jovem de cabelos negros retribui o olhar de morte.Rubens troca um aperto de mão com Faltzer e Leonard.

—Me diz uma coisa, Faltzer. É verdade que você bateu a sala de treinamento mais difícil de Arcadia em três horas, sozinho, essa noite? —Perguntou Rubens, apenas para verificar a reação de Faltzer.

—Quem te disse isso, Rubens? —Perguntou Faltzer, seu corpo se eriçando e assumindo estado de batalha, seus olhos brilhando friamente, como se analisasse cada célula do ser à sua frente.

Leonard olha Faltzer com um misto de interesse e desprezo. “Ele deve ser forte, se o que o Rubens falou for verdade. Mas é só mais um babaca de um clã, e eu posso derrotá-lo com facilidade”, pensou o Shadowing.

—Ei, ei, calma! Alguém disse isso lá no grupinho dos veteranos, e vazou pra toda Arcadia. Todo mundo tá falando disso já. Mas você realmente fez isso?

Faltzer não conversava durante as aulas que eram administradas durante a manhã e parte da tarde, que iam das nove horas da manhã até as seis da tarde. Depois que as aulas acabavam, ele ia tomar um banho e depois se dirigia às salas de treinamento. Só saía destas às nove ou dez horas da noite, e de lá ia direto tomar outro banho e dormir. Logo, não tinha muitas chances de ficar por dentro de tudo o que acontecia.

Faltzer relaxa um pouco e suspira.

—Sim, eu fiz isso. Algo mais da minha vida pessoal que Arcadia queira saber? —Disse ele com cara de cansado e entediado.

—Bom, o burro do Leo foi treinar nas planícies a Oeste, e voltou em uma hora, do jeito que está agora… - Disse Elizabeth, procurando dar uma alfinetada no rapaz de cabelos cor de vinho.

Faltzer lança um olhar de comédia para o Shadowing, que apenas cora, perplexo com a situação.

—Uma hora? Até que durou bastante, Shadowing! - Disse Rubens, alegre por ter mais uma notícia a espalhar por Arcadia.

Feliz por ter a atenção desviada do fato que ele estava todo machucado por sua estupidez, Leonard não consegue evitar de esboçar um pequeno sorriso.

Leonard percebe que esqueceu de cumprimentar Marianne. Um pouco corado, ele vai até a garota e diz:

—Prazer em conhecê-la. Se me permite dizer, você é bem bonita. —Mal sabia ele que estava recebendo um olhar torto de um certo Hoshikawa.

—Que gentileza a sua, muito obrigado. —Ela respondeu com um sorriso, que amarelou assim que Marianne viu a expressão de “eu estou vendo, tá?” no rosto do rapaz de cabelos pretos.

–Então, agora que estamos reunidos, que tal irmos andando para ver o filme logo? —Disse Elizabeth sorrindo e juntando as duas mãos, tentando disfarçar o nervosismo de que, a qualquer momento, o Hoshikawa e o Shadowing matariam um ao outro.

Faltzer olhou rapidamente para Marianne. Seus olhos pareciam transmitir a seguinte mensagem: “Podemos voltar para o quarto, por favor?”. Ela retornou-lhe um olhar de preocupação que ele estranhou.Eles passaram pela pequena porta e saíram andando numa rua comum, com o que antes era uma propriedade enorme atrás deles reduzido a um prédio branco de quatro andares com os dizeres “Orfanato da Fundação Sekai” sobre a porta. Arcadia se situava num grande centro urbano, cheio de shopping centers, mercados, lojas, indústrias e todo tipo de negócio. Mal haviam andando um quarteirão e ela o puxou para trás do pequeno grupo, sussurrando em seu ouvido:

–Falt, você está ficando pálido. Está tudo bem mesmo? —Disse ela com o mesmo olhar de preocupação, que ele agora compreende.

—Estou sentindo minhas forças se esvaindo pouco a pouco, mas acho que dá pra segurar até voltarmos para o quarto e eu poder apagar em paz – Sussurrou de volta o jovem Hoshikawa com um olhar sereno, que trazia uma certa tranquilidade a ela.

—Tem certeza disso? —Marianne perguntou, ainda um tanto preocupada.

Faltzer pega a mão dela e seus olhos assumem um brilho forte, diferente do normal. O brilho que só aparecia em seu olhar quando fazia uma promessa.

—Marianne, eu estou te prometendo, nada de ruim vai acontecer comigo. Vou chegar até o quarto ileso e de pé, e vou ficar bem amanhã. Nunca deixei de cumprir uma só promessa, não é? —Disse ele abrindo um sorriso.

—Se você está prometendo, eu acredito…

Marianne sabia bem que quando o jovem de cabelos pretos prometia algo, sempre cumpria o combinado, não importava o quão difícil fosse. Aquele brilho nos olhos era só mais uma prova de que ele não fazia promessas vazias. Faltzer solta a mão dela e os dois se adiantam para alcançar o grupo.

No cinema, eles escolhem um filme de terror. Ao entrarem na sala, eles pegam as poltronas que ficavam bem no meio da sala, na posição ideal para assistir ao filme. Faltzer e Marianne sentam-se lado a lado à direita, com Leonard e Elizabeth à esquerda e Rubens no meio. Tanto Faltzer quando Leonard acabam ficando nas poltronas ao lado de Rubens, e trocam olhares desafiadores, como se estivesse dizendo “duvido você assistir sem dar gritinho!”.

Marianne rebate o encosto ao lado de Faltzer, e responde rapidamente quando vê o rapaz levantar uma das sobrancelhas em uma expressão de surpresa:

—Só quero que você segure minha mão… - Ela corou um pouco com a expressão perplexa do rapaz, que ainda estava processando o que aquilo significava- Não estou acostumada com de filmes de terror, então é só para me lembrar que é só um filme.

Um brilho de compreensão passa pelos olhos do rapaz. Rubens, escutando a conversa, quase não consegue conter o riso. Do outro lado, Leonard é quem toma a iniciativa de se aproximar.

—Ei, por que você abaixou o encosto e está chegando perto assim?

—Porque eu tenho que estar perto para cobrir seus olhos nas piores cenas.

O que ele não espera é o tapa que leva no rosto.

—Eu não preciso disso. Pare de me tratar assim, eu não sou nenhuma donzela fraca. Agora sai pra lá antes que eu perca a paciência.

Faltzer, sempre atento e de ótima audição, havia escutado tudo e lançava um olhar misto de comédia e “vai que ela é sua!” sarcástico ao Shadowing, apenas para ser recebido com um olhar fulminante e um rosto extremamente corado devido à expressão similar vinda de Rubens e o risinho que Marianne não conseguiu conter.

O filme está para começar, e todos ficam quietos.


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