– O que você tá fazendo aí. – Ben sussurrou no ouvido de Anita chegando à cozinha, e se deparando com ela de costas para a pia.

– Ai, nossa que susto, você me deu. – Disse ela, pega de surpresa soltando a faca dentro da pia, e vendo uma sensação de arrepio lhe percorrer ao ouvir a voz do garoto.

– Nossa digo eu. – Ele esboçou uma risada serena. - Me desculpa, eu não queria te assustar. – Ben falou, sorrindo debochado, ao presenciar o pulo que a garota deu com o susto.

– Ai é que sei lá, eu me acostumei a viver em um cubículo com dois quartos, sala e cozinha, banheiro, e lavanderia, sem escada nada. – Falou ela, ao se referir a sua casa em Londres. – E principalmente onde a única voz que eu escuto, é de uma certa loira falastrona, acho que eu me desacostumei com a agitação dessa casa, esse monte de cômodo e de gente, que as vezes quando fica tudo em silêncio, eu até me esqueço que eu não estou em casa, esses corredores vazios, aquele vento que vem do nada, até parece que vai sair alguma fantasma junto, ai não dou pra isso não. – Anita falou sorrindo.

– É, o que não falta é gente nessa casa, e olha que eu não to falando só de pessoas não, mas também de lembranças, pessoas que passaram e por aí vai. – Disse ele, um tanto melancólico. – Mais o que você faz aí, com esse monte de chuchu hein, vai fazer uma dieta só de chuchu agora. – Implicou ele, ao vê-la voltar a descascar os chuchus.

– Não, o seu idiota, é que isso aqui tava na geladeira desde que a mamãe fez as compras da semana, antes dela cair no hospital, e a gente não fez nenhum chuchu, vou descascar pra fazer uma salada pra amanha, imagina ela chegando aqui depois de amanha, e achando eles intactos na geladeira, vai dizer que eu enfiei pizza na molecada a semana inteira, já que hoje ninguém fez almoço, não é, por causa da arrumação. – Anita se justificou.

– Ah muito obrigada pela parte que me toca inclusive. – Falou Ben, alfinetando Anita. – Mais olha, vê se não vai querer enfiar todo esse monte de chuchu goela abaixo na molecada, porque não vai dar certo. – Disse ele. – E não, a gente até que fez comida, mas hoje realmente, não deu. – Argumentou o garoto.

– É pode ser, mais você não vem de preconceito com o pobre do chuchu não, que ele até que da uma ótima salada, e se a gente não come quando é novo por pirraça, como depois pra não ficar gorda, e de certa forma eu entendendo ele, afinal já fui chamada de chuchu muitas vezes. – Afirmou ela.

– Ai Anita, que papo é esse, socorro. – Proferiu Bem, em meio às gargalhadas pela ultimas palavras dela.

– Ué simples, as pessoas me vinculam a ele pra dizer que eu sou, sem graça, até tua mãe já fez piada com isso, quando nós nos vemos pela ultima vez e discutimos como nunca. – Anita afirmou.

– Ah entendi, mais com certeza eu posso dizer que eles estão muito enganados. – Ben falou, encarando a garota com um olhar abusado.

– Quem sobre o que, o chuchu. – Anita desconversou, abalada.

– Pode ser com os dois, mas principalmente com você. – Reafirmou ele, não deixando que ela virasse a situação.

– Ah entendi. – Disse evitando dar corda pro garoto.

– Mais vem cá, você disse que brigou com minha mãe, que papo é esse que eu nunca fiquei sabendo. – Indagou ele.

– É eu. – Anita se viu pensativa, materializando a cena em sua mente.

– É isso mesmo, você é uma menininha sem graça, se depender de mim o Benjamim continua namorando com tua irmã, e até casa com ela. – Disparou Cícera altiva. – Alias, meu filho tem uma queda por esses tipos, só pode, porque primeiro foi a Meg que também é outra sonsa, e agora você, mais caiu muito o nível, eu tenho que admitir, ele só pode ter herdado isso do traste que eu tive o azar de dar para ele como pai. – Acrescentou ela.

– É, não se ele souber que você também ajudou a esconder a falsa gravidez da Sofia. – Anita esbravejou.

– Pois conte, eu vou negar, você não tem provas contra mim, e na boa Anita, a Sofia é linda, uma perfeição, meu filho vai acabar perdoando ela, ela é linda vai conseguir ter o Ben sempre que ela quiser. – Cícera disse taxativa.

– Eu realmente fico me perguntando se o Ben não foi trocado na maternidade, porque ele não se parece nem um pouco com você, nem no caráter, em nada. – Anita não se intimidou.

–-------------------------------------------------------------------------------------------------

– Anita, hey, Anita, oi terra. – Bem trouxe a garota de volta para sua realidade.

– Oi que, desculpa tava lembrando de um negocio que eu tinha que fazer. – Anita disse disfarçando.

– Vai conta, porque você brigou com minha mãe, como que eu nunca soube disso. – Ele questionou novamente.

– Nada Ben é besteira, bobagem sem importância, nem sei por que eu falei nisso agora. – Anita ponderou. – Eu nem lembro direito, acho que foi um dia que ela veio te visitar e nos duas trocamos umas farpas. – Exclamou ela, não prolongando o assunto.

– Mesmo, porque conhecendo minha mãe, sei não. – Disse ele, um pouco desconfiado.

– Sério, não tem nada de mais, juro. – Anita garantiu, mesmo mentindo, ela achou sem cabimento dizer agora a Ben que Cícera de alguma forma, sabia que Sofia não estava gravida, e quando descobriu ajudou e loira a sustentar a mentira para o filho.

– Bom já que você esta dizendo, só me resta acreditar. – Afirmou ele, mesmo um pouco intrigado.

– Ah entendi, bacana, então quer dizer que eu virei à mentirosa da história. – Disse a menina, o encarando. – Na verdade, isso não me surpreende nem um pouco. – Anita afirmou.

– Não, eu não disse isso. – Ben garantiu, colocando sua mão sobre a de Anita, que estava apoiada sobre a bancada da pia.

– Bom, se tá dizendo, eu acredito também. – Anita pronunciou, retirando sua mão de baixo da dele, Ben apenas sorriu desviando o olhar. – Apesar de que eu não simpatizo nem um pouco com a tua mãe, nem antes e nem nunca, não é. – Anita afirmou sem se importar. – Alias, talvez você seja um caso a ser estudado, porque, ser criado pelo Cícera e não se deixar influenciar pelos valores dela, realmente, o DNA do Ronaldo deve ser muito forte. – Anita acrescentou.

– Nossa. – Debochou ele. – Eu não sei, se eu tomo isso como um elogio ou uma critica, né. – Falou Ben, fitando Anita de maneira curiosa.

– Pensa você. – Respondeu ela, mexendo os ombros apenas.

– Olha só, não vamos falar de mãe não, até porque em matéria de mãe, nós temos alguns percalços. – Ben quis mudar o rumo da conversa.

– Por quê? - Apesar de tudo eu não posso reclamar da minha, mas já você, deve ter sido duro ter que ouvir da minha mãe no passado, que a culpa da minha briga com a Sofia era tua, e mais que você enganou e tentou ficar com as duas, de uma forma leviana. – Anita soltou, as risadas por conta da lembrança.

– Eu não acredito que você, ainda lembra disso. – Ben afirmou, sem graça, ou se lembrar da bronca de Vera.

– Se eu lembro! – Muito. – Anita riu. – Com certeza, eu não nunca esqueci, porque sem duvidas, ver você tomando aquele esculacho naquela época, foi a forma mais precisa que eu tive pra lavar minha alma por tudo que houve. – Ela admitiu. – Eu me lembro de muita coisa, até de algumas que eu já devia de ter esquecido pra sempre, essa é a pior coisa de se ter uma boa memoria. – Falou ela, sensibilizada, olhando Ben que parecia ter perdido a reação.

– Eu mereci, eu sei disso, e muitas vezes eu já me perguntei, e se eu tivesse feito diferente. – Disse ele, querendo se justificar.

– Mais não fez. – Anita falou, voltando suas atenções para a pia, e lavando as mãos.

– É você quer ajuda. – Perguntou ele, com certo receio, ao perceber o clima de ressentimento que ficou entre os dois.

– Não faz mais que a tua obrigação. – Anita respondeu, entregando uma faca a ele. – Já que vocês pensam realmente que eu sou a mamãe, só que não. – Anita disse brincalhona.

– Eu tenho que confessar que, eu fiquei feliz por você ter continuado aqui pra ajudar a Vera, se podia perfeitamente ter ido pro um hotel e não ter se importado com ninguém. – Ben afirmou lisonjeado com a atitude dela.

– Eu fiz isso pela mamãe. – Anita deixou claro. – Eu já dei muitas decepções pra ela, e algumas eu me arrependo, talvez eu pudesse ter evitado, se eu tivesse pensado mais nela. – Anita desabafou.

– Você sempre foi de um caráter único, e generosa. – Disse o garoto.

– É, só que se você tá procurando a Anita lá de trás, desisti, se for isso é melhor você nem começar. – Anita falou taxativa.

– Incrível, que a gente não consegue separar o que a gente sabe um do outro, sobre o que nós vemos hoje. – Afirmou Ben, abalado.

– Eu não sei, se o caso é esse, mas tudo bem. – Anita disse, contrariada.

– Ai que isso, cheio de espinho, esse treco. – Disse ele, reclamando.

– Ah tá vendo, descascar um chuchu, não é algo fácil. – Anita alfinetou, debochando dele.

– Não é colocaram cola aqui né, grudando tudo na mão. – Completou ele.

– Ai não. – Anita falou as gargalhadas, fazendo Ben rir também.

– Marcelo, chamou a Anita. – Questionou Meg, quando colocou os olhos no garoto.

– É não. – Marcelo respondeu.

– Porque não, o coisa lenta. – Meg resmungou. – Eu vou chamar. – Disse ela.

– Não, não, não vai, não. – Marcelo afirmou, impedindo que Meg passasse a segurando pelos ombros.

– Que isso, tá louco, a Anita precisa vir aqui. – Disse Meg confusa.

– Eu ia chamar ela, mas acontece que, ela e o Ben tão lá na cozinha. – Marcelo explicou.

– Ah meu deus, Marcelo a casa tá cheia eles piraram. – Meg falou pasma.

– Hey calma, eles estão conversando apenas, não imagina coisas. – Marcelo se justificou.

– Ah bom, ai nossa. – Meg disse mais clama.

– Tá pensando em coisa demais hein, porque será. – Provocou a garota, sorrindo.

– Vai te cata, tá legal. – Meg esbravejou se irritando. – Eu confesso que, eu fico bem preocupada com essa relação da Anita com o Ben, se dá errado, pior é que é ela que vai sair mais machucada. – Disse a loira receosa.

– Nossa poxa, meu amigo também não é nenhum mostro, o Ben é um cara legal, precisa falar assim dele. – Marcelo defendeu o moreno. – Tudo bem, que já deu meio errado, mais você também não vai meter coisa na cabeça da Anita, por favor. – Marcelo especulou.

– Eu, eu não, deus me livre tá, e mesmo que fosse, eu não sei se você já percebeu, mas pelo pouco que você conhece da Anita, acho que você já notou que ela só faz aquilo que ela quer. – Meg afirmou. – Mais vamos continuar aqui, depois a gente chama ela. – Meg ordenou.

– Ok, há entendi. – Falou Marcelo.