Uma Chance para Recomeçar escrita por Eire


Capítulo 1
Uma Chance Para Recomeçar


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa fic para o concurso. No início deu um pouco de trabalho, porque eu não conseguia fazer ela ficar com o número de palavras permitido. Decidi por fazer parte dela se passar no passado porque até hoje eu não tinha usado os conhecimentos da minha profissão em nenhuma fic (sou professora de História). Como não aprendi muita coisa sobre a História do Japão na faculdade, eu tive que pesquisar um pouquinho para escrever esta fic, espero ter sido fiel, em algumas coisas eu tenho certeza de que não fui, a Kagome mesmo, não sei muito bem se haviam mesmo mulheres contestadoras no Japão dos anos 30 e 40, mas ela precisava ser assim para a fic ter sentido. Bem, como a fic é uma obra de ficção que tem por trás um cenário histórico, eu me permiti extrapolar um pouquinho,coisa que não faria se estivesse realmente escrevendo um relato sobre a época citada.A parte em que aparece a bisneta eu tive que acrescentar para a fic ficar maior e, sinceramente, eu acho que ficou sendo a melhor parte. Quero saber o que acharam, portanto estou esperando comentários.



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Uma Chance Para Recomeçar

Interior do Japão, Inverno de 1945.

Kagome respirou fundo  e apertou o passo, a neve estava começando a aumentar. No caminho para a estação viu um menininho vendendo o jornal do dia. Ouvira o garoto anunciar que o general MacArthur tinha tomado mais uma decisão no caminho da reconstrução do país. Kagome não se importou muito com a notícia, mas ela sabia que muitos ainda não viam com bons olhos a presença de um general americano no país, principalmente comandando  a recuperação. Outros, achavam que era uma boa forma de o país poder enfim se modernizar de verdade e se reerguer depois da guerra. Kagome, talvez pela primeira vez em sua vida, estava agindo como uma boa mulher japonesa deveria agir: estava evitando fazer qualquer comentário sobre a situação política de seu país. Por dentro ela estava se remoendo com tudo o que estava acontecendo, queria poder gritar para o mundo tudo o que achava, mas não ia fazer. Não agora! Tudo que lhe importava agora era poder pedir o perdão dele. Afinal, foi por os dois terem opiniões diferentes em relação ao que estava acontecendo em seu país anos antes que acabaram brigando.

  Ela finalmente chegou à estação, viu a neve aumentar lá fora, perguntou a um senhor sobre as horas e sentiu um alívio ao perceber que não estava atrasada. Seguiu para um dos bancos, sentou-se para esperar, ainda faltavam cerca de 15 minutos até o trem chegar. Mas o que são 15 minutos para alguém que esperou por 4 anos? Olhou para o lado e viu ao longe a família dele.  Rin, a irmã dele sorriu para ela e fez menção de sair de onde estava, mas foi segurada pelo irmão mais velho, Seshoumaru, que comentou algo com a mãe. Kagome sabia que ela não devia estar muito feliz de vê-la lá.  Procurou ignorá-los.  Cinco minutos depois uma bela moça sentou-se ao seu lado e puxou conversa com ela. 

_Então, você resolveu vir recebê-lo Kagome? 

_Eu preciso vê-lo Sango. Só assim vou saber que ele está bem de verdade e além disso precisamos resolver nossa história. 

_Vai pedir pra que ele volte pra você? 

_Vou pedir que me perdoe. Se nós vamos voltar a ficar juntos, isto só o tempo vai dizer. 

Sango sorriu para Kagome. 

_Vai dar tudo certo, você vai ver. Vocês dois merecem ficar juntos, afinal se amam há tanto tempo. 

_Obrigada. Você veio receber o Miroku? 

_É, ele também está chegando hoje. Ficou por um tempo internado na capital também. Você sabe que ele me pediu em casamento  na última carta dele. Acho que finalmente ele tomou jeito. 

_Que bom!  

_É, acho que ficar tanto tempo longe de mim fez ele perceber que precisava me valorizar mais. Acho que agora ele vai parar de ficar flertando com todo tipo de garota. 

_Torço pra que isso seja verdade Sango. Todo mundo percebe que você o ama muito. 

_Amo sim. Mais ai dele se voltar a mexer com alguma mulher. 

_Tenho até pena dele pensando no que você vai fazer. 

As duas riram. Apesar de tudo pelo que tinham passado, apesar da situação do país, elas ainda eram capazes de sorrir e se divertir. A vida prosseguia afinal. Os quinze minutos que faltavam para o trem chegar passaram rápido enquanto as duas amigas conversavam.  Uma multidão se formou próximo ao local de desembarque, quase não dava para elas verem as pessoas que estavam descendo do trem. De repente Sango avistou o noivo e saiu correndo ao seu encontro, logo elas puderam perceber que ele tentava ajudar o amigo a descer do trem, mas este parecia não querer a ajuda apesar de estar de muletas. Kagome ficou parada no mesmo lugar, agora que ele estava ali ela não sabia como agir. Seu corpo não se mexia, ela apenas não conseguia tirar os olhos dele, sem perceber logo ela sentiu uma lágrima rolando por sua face. Ele ainda não a tinha visto, cumprimentou Sango depois que ela se separou do abraço de Miroku e foi recebido pela família, Rin quase o derrubou ao abraçá-lo e foi repreendida pela mãe que estava chorando muito. Kagome deu alguns passos para frente, mas parou sem coragem ao perceber que tinha sido percebida de novo pela família dele. Agora que estava tão perto ela estava com medo, mas imensamente feliz por ver que ele estava bem. Miroku e Sango vieram até perto dela. 

_Senhorita Higurashi! É muito bom poder vê-la novamente. Ainda está mais bela do que me lembrava. 

_Obrigada Miroku! 

Ao ouvir  a voz dela ele olhou na sua direção e  os olhos dos dois finalmente se encontraram. Ele deixou a família e caminhou em direção a ela. Seu irmão tentou impedi-lo, mas ele fez sinal para que o deixasse. Não conseguiu deixar de sorrir ao vê-la ali. 

_Kagome! 

_I...Inuyasha... – ela não se conteve e o abraçou. Desajeitado, por causa das muletas, ele procurou retribuir abraçando-a também. 

_Mocinha, não percebeu que quase derrubou meu filho no chão? 

Kagome se separou dele muito constrangida. 

_Me desculpe. Eu não quis, não foi minha intenção. 

_Está tudo bem. Mãe, será que podia me deixar conversar com minha noiva sozinho? 

_Ela não é mais sua noiva, deixou de ser quando você se alistou. 

_Para mim ela nunca deixou de ser.  

Inuyasha disse a última frase olhando diretamente para Kagome.  A mãe dele se afastou dos dois, juntamente com os outros filhos, Rim sorriu para Kagome. 

_Estou torcendo por vocês dois. Miroku e Sango também se afastaram. Sango olhou para trás. 

_Boa sorte Kagome! 

Inuyasha e Kagome caminharam até perto de um dos bancos da sala de espera e lá se sentaram.  Kagome ficou olhando para ele sem tomar coragem para falar. Ambos olharam um para o outro por alguns minutos até um deles resolver começar a conversa. 

_Er...Kagome...eu...não sei bem o que falar...eu – Inuyasha estava se engasgando com as palavras. Kagome tomou então coragem para falar. 

_Inuyasha, eu...eu – lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela, ela não procurou escondê-las – eu acho que fui dura demais com você da última vez que nos vimos. Não sabe o quanto sofri nesses anos, as notícias sobre a guerra eram sempre desencontradas. Tive tanto medo de que...o pior acontecesse com você. Quando soube dos kamikazes, eu tive mais medo ainda de que você tivesse...

 _Ei, pare de falar tudo tão rápido!  Não perde mesmo essa mania de falar as coisas de uma vez quando está nervosa. Olhe, nunca passou pela minha cabeça fazer uma loucura daquelas. 

_Como eu ia saber? Você sempre foi um maluco de carteirinha, por isso tem esse apelido, Yukio. E não fique bravo comigo por causa do meu jeito de falar, sabe que sempre fui assim. 

_Eu não sou tão maluco assim quanto você pensa, nunca acabaria dessa forma com a minha vida. 

_Tem que concordar comigo que se alistar para uma guerra é quase suicídio. 

_Nós não vamos começar a discutir essa questão de novo, por favor. A guerra já acabou. 

_É, e nosso país perdeu. E da pior forma. Quando ficamos sabendo da bomba em Hiroshima, eu pensei que seria questão de tempo até que fôssemos atingidos aqui também. Eu pensei que ia morrer sem ver você de novo. E depois quando a guerra acabou e não tínhamos mais notícias...só acreditei que você estava realmente vivo há poucos minutos atrás. 

_Você não recebeu as cartas que mandei durante esses anos? 

_Sim.  

_Então por que não respondeu? 

_Eu estava com raiva, com ódio do mundo, de você, de mim, de tudo. Depois, quando algum tempo passou e eu percebi que...não conseguia viver sem você, achei que não fosse me perdoar, por isso não escrevi. 

_Mas, você leu as cartas? 

_Só recentemente. Tinha medo de abri-las e encontrar o seu rompimento definitivo em uma delas. 

_E veio até aqui hoje por quê? 

_Pra pedir desculpas pelas coisas que eu te disse.  

_Você já me perdoou? 

_Eu, perdoar você? Mas... 

_Também errei com você. Perdôo você se me perdoar também. 

_Já te perdoei há muito tempo. 

_Acha que nó podemos ter uma chance pra recomeçar? 

_Nosso povo sempre foi forte, vamos sair dessa mais fortes ainda. Você vai ver, logo nós vamos estar nos reerguendo de novo.  

_Também acho, mas não estou falando do país. Estou falando de nós dois. Do relacionamento que tínhamos antes de eu entrar na guerra. 

_Ainda sou sua noiva? 

_Nunca deixou de ser. Foi você que disse que se eu entrasse naquele trem estaria tudo acabado entre nós. Pra mim, não acabou. Eu sempre te amei Kagome. Se sobrevivi a tudo isso foi por causa de você.  

_Eu também nunca deixei de te amar. 

_Sabe, eu sempre pensava em você. Em voltar pra você. Todas as noites eu sempre sonhava com você, com tudo aquilo que nós tínhamos planejado pra nós. Creio que, agora vai ser tudo diferente. Ainda mais que eu estou desse jeito. 

Inuyasha olhou para as próprias pernas, Kagome percebeu que uma certa tristeza estava perpassando pelos olhos dele. Ela não sabia o que dizer para reconfortá-lo, então apenas o abraçou procurando passar no abraço a confiança de que ele precisava.  

_Eu não estou mais como estava antes de ir. Minha perna direita, nunca mais vai ser a mesma. Não vai ser qualquer trabalho que vou poder realizar. Não acho que vou poder dar a você a vida que merece. 

_Eu me contentarei com a vida que você puder me dar. E depois, eu posso trabalhar. Não vejo vergonha nisso. 

_Não é apenas fisicamente que estou mudado. Vi a morte de perto muitas vezes, depois que se participa de uma guerra, nunca mais se é o mesmo. 

_Ainda existe um pouco daquele Inuyasha que eu aprendi tanto a amar dentro de você. Posso ver isso nos seus olhos que nunca foram capazes de me esconder alguma coisa.  Kagome olhava fixamente para os olhos de Inuyasha, olhos que ela conhecia muito bem. 

_Você quer mesmo se casar com um aleijado? 

_Isso não faz nenhuma diferença pra mim. Você está vivo. Isso é o que importa. Não quero vê-lo falando desse jeito. Ainda amo você, talvez até mais ainda, agora que sei o que é ficar sem você. 

_E aquela história de que se eu entrasse naquele trem, há quatro anos atrás, estaria tudo acabado entre nós. 

_Acho que disse aquilo da boca pra fora. No fundo eu achava que falando daquele jeito ia conseguir te obrigar a ficar. 

_E eu pensava que indo ia acabar convencendo você de que aquilo era o certo a se fazer. No final, acho que ambos estavam errados. 

_Eu já perdoei você, mas ainda não me disse com todas as letras se me perdoa. 

_Pensei que tivesse ficado claro. É lógico que eu te perdôo. Não vou conseguir recomeçar minha vida se não for do seu lado senhorita Higurashi Kagome. 

_Então...isso quer dizer que nós... 

_Vamos nos casar no início da  Primavera. Por mim eu me casaria com você amanhã mesmo, mas eu quero me casar com você debaixo daquela nossa árvore. 

_A  Árvore Sagrada! 

_Sim. 

_Se aquela velha cerejeira pudesse falar... 

Ambos riram e coraram. 

_Eu quero que ela esteja toda em flor, como estava no dia em que eu te conheci, como estava quando nós nos beijamos pela primeira vez, como estava quando te pedi em casamento. 

_Mas e a sua mãe e o seu irmão? Sei que eles estão com raiva de mim. 

_Minha mãe sempre gostou de você, apenas não aceitou  que rompêssemos, eu vou fazê-los entender. Odiaria ter que brigar com eles.  

_Não quero  que brigue com sua família por causa de mim.

 _Minha mãe sempre diz que quer o melhor pra mim, ela vai ter que entender que o melhor pra mim é você.  

_Eu...ainda não acredito que você está aqui de verdade, na minha frente, vivo. 

_Eu acho que sei como te fazer acreditar. 

Inuyasha aproximou-se de Kagome, tocou no rosto dela, depois puxou uma mexa de cabelo dela e aproximou-a do nariz. Aspirou o perfume como se fosse o ar de que precisasse para respirar, nem se importou com o que poderiam pensar se o vissem fazer aquilo. 

_Senti falta do seu cheiro. Também senti falta do seu abraço, do seu calor, do seu beijo... 

Inuyasha abraçou Kagome  e depois tocou seus lábios nos dela bem de leve, ambos sorriram. Inuyasha beijou-a de novo, desta vez com mais paixão, afinal faziam já quatro anos que eles não sentiam aquelas sensações que só sentiam um com o outro. Os dois estavam  finalmente se beijando, não se importando com os olhares assustados das pessoas na estação, principalmente da família de Inuyasha. Assim como seu país e o mundo eles queriam recomeçar esperando que um novo tempo estivesse chegando. Só o tempo diria se estavam certos ou não.  

Tóquio, verão de 2007.

_Nossa, essa história de vocês é tão linda vovó! 

_Obrigada querida! Eu só espero que minhas memórias tenham utilidade para você, possam ajudar você nessa sua redação sobre o período do pós-guerra em nosso país. 

_É claro que vão ajudar vovó e além disso gosto de ouvi-la contando histórias, principalmente sobre a senhora e o vovô. Vocês dois sempre pareceram pra mim um casal perfeito. Eu nunca soube que vocês dois tinham ficado brigados durante o período da guerra. 

_Pois é, ele era muito teimoso, eu também, ele achava naquela época que a melhor coisa para nosso país era  se expandir, eu não concordava com isso, pois sempre soube que muita sede de poder pode trazer conseqüências ruins. Nós discutimos, não conseguia entender porque ele estava adiando o nosso casamento para poder se alistar. Sabe, Hikari, aqueles quatro anos foram os piores da minha vida inteira, e eu já vivi quase 9 décadas, portanto eu posso falar. Nunca sofri tanto. Era angustiante não saber o que estava acontecendo, ouvir notícias de mortes, de bombardeios, sempre que uma carta dele chegava,eu ficava feliz, pois sabia que ele ainda estava vivo. 

_Mas a senhora disse que não as tinha lido. 

_E eu não as lia. Você sabe porque. Eu tinha medo, mas se ele tinha mandado uma carta significava que estava vivo. Eu achei, por vários momentos que eu nunca mais o veria, que ele voltaria com raiva de mim. Mas se ele estivesse bem, vivo, para mim já era o suficiente. 

_A senhora sempre foi uma mulher à frente do seu tempo, por isso brigou com ele, não é mesmo? 

_Naquela época uma mulher tinha que abaixar a cabeça, ficar em seu lugar, não discordar dos homens. Eu nunca aceitei isso, por isso a família do seu bisavô tinha, vamos dizer que “um pé atrás comigo”, principalmente depois da nossa briga. 

_Como aceitaram o casamento de vocês? 

_Não havia nada que eles pudessem fazer. O Inuyasha, aquele homem sabia ser teimoso, convencer alguém, e tinha voltado muito mais maduro, não mais tão dependente da mãe e do irmão. Quantas vezes ele me defendeu na frente deles! Ele me apoiava, sempre me apoiou, sabe que foi ele que insistiu para que eu estudasse. Poucos maridos faziam isso,  ainda bem que hoje em dia isso mudou. Você tem sorte querida. 

_Ele quis se casar com a senhora mesmo sabendo do seu temperamento, da sua mania contestadora, ele devia amá-la muito. 

_Ele dizia que me amava em todas as manhãs, todas as noites antes de nós...dormirmos. Ele era especial. O país se reconstruía naquele momento, as coisas eram difíceis, ao mesmo tempo do lado dele pareciam fáceis, sem mim, eu sei que ele não conseguiria se reerguer depois daquela guerra, mas eu sei que sem ele, eu não seria nada, não conseguiria viver naquele mundo em transformação. Nós sempre nos completamos.  

Hikari notou que lágrimas banhavam o rosto de sua bisavó, a jovem sabia que deveria ser difícil para ela falar do marido, afinal ele já havia deixado a convivência da família. Ela sempre ouvira histórias sobre o amor dos dois, sobre a felicidade em que viviam, quase ninguém na família sabia que os dois estavam brigados durante o período da guerra. Hikari estava lá para fazer um trabalho de escola, uma redação sobre a época do final da Segunda Guerra, como seu bisavô havia lutado na guerra ela resolveu colher o depoimento da sua bisavó, queria saber como tinha sido a volta dele para a pequena cidade em que eles moravam na época. A memória de sua bisavó a surpreendeu, assim como o amor que os olhos dela ainda demonstravam pelo marido. 

_Vovó, me desculpe se estou fazendo a senhora se lembrar de coisas tristes... 

_Eu só estou com saudades dele, ele sempre me faz falta. Achei que não conseguiria viver sem ele, pensei que morreria logo depois dele, mas olhe só, já faz 10 anos, e eu ainda estou aqui, forte, de pé, a lembrança dele me ajudou a superar tudo, e vocês, você, Hikari, seus primos, seu pai, seus tios, sua avó, todos vocês têm um pouquinho dele e são aquilo de melhor que conquistamos. Ele não iria querer que eu me entregasse assim, iria querer que eu acompanhasse vocês, pelo menos por um bom tempo. Quando finalmente chegar a hora de me reunir a ele, estarei pronta, pronta para revê-lo,  como eu estava naquela tarde de inverno de 1945. Eu preciso descansar agora. Você me entende, não é Hikari? 

_Claro vovó, eu ajudo a senhora a ir para o quarto... 

_Obrigada... 

Hikari levou Kagome para o quarto e a ajudou a se deitar. Depois que ficou sozinha a velha senhora se levantou e olhou para os porta-retratos que estavam em cima da cômoda, pegou um deles e sorriu, nele havia um belo casal com trajes de casamento, ela fechou os olhos procurando se lembrar daquele dia, tudo fora perfeito, a cerejeira estava toda em flor, ele estava mais belo do que sempre fora. 

_Ah! Meu amado Inuyasha, eu ainda o amo tanto. 

Pequenas gotas de lágrimas caíram em cima do porta-retrato. Kagome enxugou-as com a ponta de seu xale e colocou-o de volta na cômoda, abriu uma gaveta do móvel e retirou de lá uma caixinha, sentou-se na cama, encostando-se em um travesseiro, abriu um papel, nem precisou colocar os óculos pois ela sabia de cor o que estava escrito lá.

“Minha doce querida, Kagome.

As coisas  estão ficando cada vez mais difíceis, acho que a derrota nesta guerra é iminente, fico pensando se você não tinha razão. Outro dia me lembrei das palavras que me disse naquele fatídico dia, realmente as coisas acabaram entre nós, só porque eu entrei naquele trem?

Você é o que de mais importante eu tenho no mundo, se tenho coragem para agüentar tudo aqui é porque eu a amo, cada dia mais e espero um dia poder dizer-lhe isso frente a frente e pedir a você, pelo menos uma chance de recomeçarmos, porque nós dois não podemos terminar assim, não com toda a história que temos por trás.

Ontem à noite sonhei que estávamos casados e tínhamos uma linda menininha junto de nós, ela era tão linda quanto você. Acho que se um dia realmente nos casarmos vou querer ter uma filha primeiro, o problema vai ser quando ela se tornar uma moça e os rapazes começarem a aparecer, porque eu tenho certeza de que ela vai ser linda, assim como a mãe. Acho que nós devemos dar a ela o nome de Sakura, por causa da nossa cerejeira e por falar nisso. Como anda a nossa cerejeira, já está florida? Sinto  a falta dela, falta das tardes que passávamos debaixo dela, sinto falta de adormecer com a cabeça em seu colo enquanto escuto a cantar, sentindo o cheiro doce das sakuras confundindo-se com o seu próprio cheiro. Ainda lembro-me daquele entardecer em que entregastes para mim o que de mais precioso tinhas, quando te jurei amor eterno. Sonho todas as noites em reviver tudo aquilo com você. Saiba que esse é ainda o nosso segredo, ninguém mais sabe, nem saberá.

Sabe, outro dia, trouxeram umas garotas de um vilarejo para cá, disseram que era para que nos animássemos. Não precisa se preocupar, eu não fiquei com nenhuma delas, sou fiel a você, minha noiva, meu amor. Além disso, você é a única mulher que eu quero no mundo inteiro, sempre vai ser. Acredite em mim.

Espero que desta vez me responda, não agüento a agonia de ficar aqui sem ter notícias suas, se bem que tenho medo do que vai me escrever, tenho medo de que escrevas terminando tudo, eu não suportaria.

Preciso terminar agora, já é muito tarde e a luz do lampião já está se apagando. Boa noite, meu anjo. Tenha belos sonhos e saiba de que eu a estou esperando neles até que possamos nos encontrar novamente.

Eu te amo, sempre amei, sempre vou amar.

Do seu,

Taishou Yukio.

Esta assinatura é apenas por formalidade, para você eu sempre serei,

Inuyasha.

Depois de terminar a leitura da carta, Kagome adormeceu. Ao abrir os olhos, não estava mais em seu quarto, mas deitada na grama, cercada de pétalas de sakura,  também estava mais jovem, podia sentir isso,tentou se levantar, mas sentiu um braço a envolvendo na cintura, aspirou o perfume e percebeu que era ele, virou-se para ficar de frente para ele, ele também estava jovem, viu o abrir os olhos e sorrir antes de falar com ela. 

_Eu estava esperando por você.  

_Desculpe a demora. 

_Tudo bem! Agora vamos continuar de onde paramos ontem à noite. 

Inuyasha a abraçou bem forte e depois a beijou profundamente. Uma brisa um pouco mais forte chacoalhou os galhos da árvore fazendo com que os dois fossem cobertos por pétalas de sakura. Ambos se separaram por um momento e começaram a rir. 

_Eu te amo, Inuyasha! 

_Eu também te amo Kagome! 

Fim.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
MacArthur: Nome do general norte-americano que comandou a política de recuperação do Japão após o fim da 2ª Guerra Mundial. Pra quem não sabe os EUA ocuparam militarmente o Japão até 1952.
Kamikaze: Literalmente “vento divino”. Em 1281 o Japão viu-se ameaçado de invasão pelos mongóis, muito poderosos à época. Houve uma longa batalha da qual os japoneses, saíram vitoriosos, possivelmente, devido a ajuda da natureza, pois durante dois dias o vento no local da batalha soprou muito forte, fazendo com que os barcos inimigos fossem destroçados. Os japoneses convenceram-se de que esse vento havia sido providenciado pelos deuses (kami). Já no século XX (20), durante a 2ª Guerra Mundial, pilotos japoneses jogavam seus aviões contra alvos norte-americanos, eles se suicidavam, mas também provocavam grandes estragos aos adversários. Esses pilotos foram chamados de kamikazes numa referência a esse “vento divino”.
Sakura: Flor de cerejeira, também é um nome muito comum no Japão.