Hanna escrita por Fernanda


Capítulo 1
Capítulo 1 - Conhecendo




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“Algumas folhas resistem ao inverno” .

As folhas de outonos já haviam caindo a um bom tempo, aos poucos o frio ia chegando, tomando seu lugar, eu sempre gostei de frio, de inverno, algo nele me fazia me sentir em casa, o frio era algo em que eu me identificava, não que eu fosse fria, embora as vezes talvez até fosse, mas depois de ter passado por tudo que eu passei , aposto como você também se tornaria frio, uma coisa que eu aprendi é que não se pode prender-se a ninguém, até as pessoas com quem mais nos importamos, um dia nos deixam , infelizmente essa é a única consequência que a vida não nos deixa mudar , por isso não tenho muitas pessoas em minha vida, e não faço questão de tê-las.

Ushuaia, na Patagônia argentina, é o fim da América do Sul e uma espécie de final feliz ou cereja no topo do bolo pra um continente tão lindo e cheio de paisagens deslumbrantes. O nome Terra do Fogo veio dos povos que colonizaram os confins do continente e acendiam fogueiras pra se aquecer diante do frio intenso. Ushuaia é uma pequenina cidade entre uma cordilheira e o canal de Beagle.Elaé, simplesmente, a cidade mais meridional do mundo. Em outras palavras, você está muito, muito perto da Antártida – são 800 km rumo sul até lá, e bem longe de Buenos Aires, que está a 3.600 km ao norte.

A região é famosa há séculos, pela suas características de topografia, vegetação, clima, animais, tudo muito diferente daquilo que se está acostumado. Unindo os oceanos Atlantico e Pacífico, até à construção do Canal do Panamá este extremo sul da América do Sul -conhecido como Terra do Fogo – foi a única ligação possível, por mar, entre as costas leste e oeste das Américas, e suas condições dificílimas de navegação já se tornaram lenda.

A cidade, portuária, está à beira do Canal de Beagle, e no pé de uma série de montanhas que, durante boa parte do ano, estão cobertas de neve.

Meu nome é Clara, fazem seis meses que me mudei para o “ Fim do mundo “, como é que uma brasileira com 24 anos veio parar aqui ? É realmente uma pergunta interessante, acabei de me formar em psicologia, eu sempre estive sozinha, meus pais já faleceram e não me restou ninguém, nenhuma família, na verdade acho que estou melhor aqui, onde estou agora, nunca me senti parte de algo, mas algo me diz que posso recomeçar minha vida, aos poucos sem pular fases, só quero um lugar em que eu me sinta bem, que me sinta em casa de novo, um lugar que me faça esquecer do que ficou no passado. Lembro-me exatamente, eu tinha seis anos, a garota do cabelo ruivinho, morava na serra em Canela RS, fazia frio naquela noite eu me lembro bem, mamãe estava fazendo meu bolo predileto, enquanto eu e papai entravamos pelo hall de entrada tínhamos ido até o mercado da esquina comprar algumas coisas, leite, pão e café, papai até me comprou um chocolate, não posso esquecer daquele dia, eu não consigo as memorias estão vivas em minhas cicatrizes, no caminho de volta eu e o papai estávamos brincando de não pisar em nenhuma linha, era divertido estar com ele, papai tornava algo tão simples, em algo tão magnifico, passamos pelo seu zé, um vovozinho que vendia flores na praça, ele passou e comprou uma rosa para mamãe, nós éramos uma família perfeita aos meus olhos, aos olhos de uma garotinha de seis anos que viu seu mundo se desmanchando em chamas causada por uma vela acessa em cima do piano, depois do jantar mamãe deixou algumas velas acessas na sala, ela e o papai estavam sentados me admirando, ali tão pequenina cabelos longos pela cintura, um loiro em tom avermelhado, pálida como sempre, as mãozinhas tão pequenas tocando tão suavemente o piano, enchendo todo o ambiente por uma bela melodia, mal sabia que aquela seria a ultima vez em que veria seus pais e tocaria piano, era aproximadamente meia noite quando a pequena casa pegou fogo, por um pequeno descuido, por uma vela que foi esquecida em cima do piano uma família foi destruída!

– O que estou fazendo aqui, mamãe ? Papai? Cadê vocês ? eu não consigo respirar, tá doendo mamãe, tá muito quente, por favor mamãe me tira daqui, socorro! – Gritava a pequena Clara enquanto a sua casa era tomada por chamas.

– Calme Clara, acalme-se, foi só um pesadelo estou aqui, estou bem aqui do seu lado, você não está em chamas! – dizia a irmã rosa calmamente.

Eu tinha acabado de completar doze anos, fazia seis anos que estava naquele orfanato, no meu lar, depois da tragédia como eu não tinha ninguém, me trouxeram para cá, mas eu não digo que sou infeliz ou que não gosto daqui, sempre fui bem cuidada pelas irmãs, sempre tentaram de tudo par me ajudarem a vencer meus traumas, mas essas eram cicatrizes profundas que não voltariam ao normal nunca.

Minhas noite eram assim com pesadelos sem fim, eu não tinha amigos, eu passava a maioria do tempo lendo, organizando minhas coisas, e foi assim o tempo inteiro até completar meus dezoito anos, eu fui para faculdade como qualquer outra adolescente, tive um namorado, Bernardo, ele sempre foi muito paciente comigo, namoramos dois anos, ele foi o primeiro homem da minha vida, éramos felizes, éramos apaixonados, até ele partir e me deixar, eu estava acostumada em ser deixada, abandonada, aquela não era primeira vez, primeiro meus pais, a vida me tirou eles, depois a irmã rosa, agora o be, estava todas as pessoas com que eu conseguia construir algum laço simplesmente partia, decidi que eu não poderia mais viver aqui, os pesadelos, eu estava muito perto do centro da minha dor, eu visitava todos os dias onde costumava ser a minha casa, brincava sozinha de tentar não pisar nas linhas um dia eu caí e machuquei a testa, por que eu não tinha mais aquela mão firme me segurando toda vez que eu pisasse em falso, eu cai e comecei a chorar como um criança que se perde, eu chorei tanto, depois de tanto tempo sem chorar sem me permitir sentir a falta que meus pais faziam, a forma cruel em que eles foram tirados da minha vida, eu era tão pequena, não me restou muita coisa, não me restou nada, apenas a lembrança dos momentos em que tivemos, dos momentos em que eu fui feliz, fazia dois anos que a irmã rosa também havia se despedido desse mundo, Bernardo foi a única família que me restara, mas em uma noite nós havíamos discutido, por que eu sempre era fechada e não contava muito para ele como me sentia em relação ao meu passado, ele não compreendia que eu ainda não estava preparada para enfrentar os meus fantasmas, ele não ficou em minha casa eu lembro-me bem, era umas três da manha quando eu escuto o celular tocar.

– Alô? Bê ? – atendo o celular sonolenta.

– Você não confia em mim, você tem sido uma chata, você não tem tempo para nós dois e quer saber eu estou cansado de te amar sozinho, Clara, você não se importa com as outras pessoas, você se fecha no seu mundinho, o mundinho da Clara, supere seus pais viraram churrasco, você ser assim não muda a realidade! – era a voz do Bernardo embriagado, mesmo sonolentas aquelas palavras foram fortes demais pra mim, foi difícil controlar o bolo na garganta, as lagrimas invadiram minha face, meu cérebro se recusava a processar o que eu havia acabado de escutar, e se não bastasse todas essas palavras a voz de uma mulher o chamando para voltar para cama, foi o que contribuiu para que eu ficasse abalada.

Respirei fundo e o respondi apenas com seis palavras :

– Acabou Bernardo. Não me procure mais! – E desliguei, aquela noite eu chorei tanto, depois de tanto tempo segurando o choro aguentando firme eu simplesmente desabei, ele trouxe meu fantasmas de volta, ele havia cravado uma estaca em meu peito.

Quatro anos depois – Ushuaia/ Patagonia – Argentina.

Havia passado uma semana desde que cheguei aqui, é frio, como eu sempre gostei, moro saindo da cidade numa casa antiga com campos, bem ampla, afastado de todos, exatamente Ushuaia já estava no fim do continente, e eu consegui morar ainda mais distante de tudo, sem vizinhos, sem ruas movimentadas, apenas eu.

06:00 hr da manhã estava 0° graus, eu acordei coloquei meu casaco, fiz minha higiene, chequei minha agenda, peguei a agenda e o meu tablete e desci, na cozinha eu arrumei a mesa de café, alguns morangos com cereais, e o meu indispensável café preto, enquanto eu tomava o meu café, cheguei tudo que faria durante o dia, eu tinha uma visita a um orfanato no começo da manhã fora os meus pacientes no meu consultório novo, embora eu não acreditasse muito em compaixão por outras pessoas eu costumava atender crianças de orfanatos afinal era o meu trabalho.

Estava vestida, bem vestida pois fazia muito frio, estava toda de preto, com um casaco longo, usava botas pretas, e eu ficava ainda mais branca por usar preto, mas eu gostava, coloquei todo meu material no seu devido lugar e fui em direção a cidade, precisei usar meu gps, pois eu ainda não estava familiarizada com a nova cidade, digitei o endereço antes de ligar o caro, e segui pela estrada em direção ao norte, pois eu estava no extremo sul saindo da cidade, e o orfanato ficava no norte da cidade ou seja demoraria um pouco, eu não escutava musica, preferia o silencio, apenas o barulho do motor rugindo, algo que eu nunca soube foi andar de vagar, quarenta e cinco minutos depois eu estava chegando ao orfanato, haviam muitas crianças, por um momento me vi ali entre elas, sendo uma delas, quanta historia não haveria de existir ali, quantas criança abandonadas por força do destino ou não, meu coração chegou apertar, pois estar ali, era lembrar de tudo que passou.

Já havia atendido cinco crianças quando a ultima da minha agenda chegou.

*Juan

*Diego

*Laura

*Natalia

*Hanna

Uma garotinha de casaco vermelho entrou em minha sala, sorridente olhando-me nos olhos, ela tinha cinco anos e tinha autismo, porém aos meus olhos ela não tinha nada de diferente das outras crianças, ela se sentou na minha frente e me olhava encantada.

Hola mi llamo Clara, y tu nombre es Hanna ? – aquele sorriso encantador me fez sorrir, algo naquela criança me fazia me sentir em paz, pela primeira vez na vida.

Sim eu me chamo Hanna, e eu também vim de onde a senhora veio. – ela sorria encantada apenas de me olhar, ninguém havia me falado que ela era brasileira também e que tão pouco era tão inteligente para uma criança de cinco anos e autista.

– Você quer fazer um desenho pra mim Hanna ? – eu lhe perguntei calmamente.

– Posso desenhar o que eu quiser? – ela se inclinou na minha mesa ficando de joelhos na cadeira.

– Pode se sentar-se corretamente, não faz bem para coluna sentar-se assim Hanna . – eu a olhei entregando o papel e os lápis de cor.

– A senhora faz tudo certo né, eu sei como é, mas perde toda a diversão assim, quando a senhora ficar velha vai ter uma coluna perfeita, mas não vai ter lembranças que a façam sorrir. – ela falou calmamente enquanto desenhava algo na folha que eu havia lhe dado, notei que ela não parava de mexer a perna, nem um segundo, como uma garotinha como ela sabia de tantas coisas.

Ela me entregou o desenho em meio de rascunho pude ver o que era, uma garotinha de vestido vermelho tocando piano, ela me sorriu e sussurrou – é a senhora, a senhora gosta de pianos ? Eu gosto mas minha mãe não voltou para me buscar, ela me deixou aqui, sua mamãe sente sua falta Sta. Clara. – eu fiquei sem reação diante daquela criança, eu não sabia o que fazer, o modo como agir, ela me surpreendia a cada instante a mais que eu passava ao seu lado, eu estava no corredor em direção a saída, cumprimentei as irmãs, e sai no pátio, havia crianças brincando, eu fui em direção ao estacionamento quando eu vi uma voz me chamar, sem folego, como de alguém que estava correndo, sim era ela.

– Sta. Clara, sua mãe sente sua falta! – eu a olhei por que aquelas criança não parava de me perguntar por que ela sempre falava aquilo, foi quando eu vi um carro se aproximando muito rápido em direção a Hanna eu corri o mais rápido que eu pude, meus pés pareciam que estavam colados no chão coberto de gelo.

Hannaa ! Cuidado! – eu gritei e temia que fosse tarde demais.


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