Caretrisse escrita por Millena


Capítulo 14
Vai ficar tudo bem




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14

Eu entro no meu quarto e me jogo na cama, começo a chorar de novo. Não faz muito tempo que eu cheguei do enterro da Dona Luiza, por que esse tipo de coisa acontece? Quero dizer, por que as pessoas morrem?

Eu olho para meu relógio e fico observando o tempo passar, as lágrimas ficam descendo pelo meu rosto mesmo que eu tente segura-las.

Tentei ajudar o Quatro de todas as maneiras que eu consegui. Você junta todas as suas forças e coloca sobre a pessoa que você ama tentando proteger e fica aflita, esperando que seja suficiente.

Não tinha tanta gente, o senhor Augusto e alguns dos vizinhos deles, os meus pais estavam lá porque eu pedi que eles fossem. Cristina ate disse algumas palavras para o Miguel e o pai dele, o que eu achei muito legal da parte dela. Tenho a melhor amiga do mundo.

Jeanine e Lucas foram e ficaram por um tempinho, eles estavam de mãos dadas e falaram comigo e com Miguel.

Ah, a enfermeira também estava lá. No final foi ela quem pediu para que eu fosse embora indiretamente, falando para o senhor Augusto e Quatro que eles precisavam ficar sozinhos e conversarem. Que era um momento que só incluía a família e eles precisavam de tempo para pensar.

Acho que ela não gosta de mim, foi o que eu conclui.

Eu abro uma gaveta e procuro pelo meu antigo caderno/diário. Eu pego uma caneta e tento escrever alguma coisa. Perda de tempo.

Sento na cama e ligo para Miguel. Toca uma vez. Duas, três vezes e nada. Começo a ficar impaciente.

“Oi, Tris. Aqui não é o Miguel, ele não pode falar agora.”

“Quem está falando?”, pergunto.

“Eu acredito que você conheceu minha mãe, ela é enfermeira. Eu sou a melhor amiga do Miguel, fomos colegas na escola e nos conhecemos desde criança, sabe?”

“Não, não sei. Será que você pode passar o celular para ele?”

“Ele está dormindo. Eu não pude ir no enterro porque estava fora do país e não cheguei a tempo, queria te agradecer por ter sido legal com o Miguel quando ele precisou. Mas agora, eu estou aqui para ele.”

“Você não pode falar por ele, eu quero falar com ele.”

“Você não vai falar com ele e nem ouse chegar ao menos perto da casa dele, está me ouvindo?”

“Não, você não sabia que eu sou surda?”, eu falo e desligo.

Levanto e caminho lentamente em direção a cozinha, minha mãe está sentada tomando café ou chá e lendo alguma coisa.

“Mãe.”, eu digo e ela nota que eu estou ali.

Ela me olha como se estivesse lendo meus pensamentos.

“Beatrice.”, ela diz e dá um sorrisinho.

“Senhora Natalie.”, eu falo e começo a chorar, de novo. “Me fale algo que faça melhorar.”

Minha mãe levanta e me abraça.

“Eu não sei o que fazer.”, digo.

“O que você deveria fazer?”, ela pergunta.

“Não queria que isso tivesse acontecido.”

“Você não pode mudar as coisas, filha.”

“Eu não sei se sou a pessoa certa.”

“Eu tenho certeza que você vai aguentar.”, minha mãe fala e me oferece a xicara com café.

Passo bastante tempo sentada bebendo café e esperando o tempo passar.

Depois pego o celular e ligo para Miguel, de novo.

“Miguel?”

“Tris, o Miguel não quer falar com você. Quantas vezes vou ter que te falar isso?”

Eu desligo na cara dela e ligo para Cristina.

“Oi, Cris.”

“Tris, você está bem?”

“Não sei. Eu liguei para o Miguel e uma garota ridícula atendeu e não me deixou falar com ele.”

“O que?”

“Ele estava tão triste, eu não sabia o que fazer. E aquela enfermeira me fuzilando com os olhos, agora eu entendo, porque a garota ridícula é filha dela. Mas eu estou tão triste que nem consigo ficar com raiva, entende?”

“Essa garota é uma ridícula, o que ela te disse? Você tem que ir na casa dele.”

“Cris, você acha que eles tem alguma coisa?”

“Não sei, Tris.”

“Você acha que eu fui fraca porque deveria ter ficado com ele? Eu pensei que estava atrapalhando por causa da história com o pai dele.”

“Que historia com o pai dele?”

“Nada. Acho que não devo ir na casa dele, vou desligar. Obrigada pelo apoio.”, eu falo.

“Esta certo. Vai ficar tudo bem.”

“Como vai o Will?”, pergunto.

“Ele tá bem. To feliz porque ele vem na quarta-feira.” , ela diz.

“Que bom. Vou desligar agora.”

Coloco mais café na minha xicara e continuo no mesmo lugar. Meu pai entra na cozinha e me dá um beijo na testa.

“Tudo bem?”, ele pergunta.

“Mais ou menos. E você?”

“Vai ficar tudo bem.”

“Por que todo mundo me fala isso?”, eu pergunto.

“Porque é a verdade.”, meu pai responde e sorri.

Ele sai e eu fico sozinha de novo. A campainha toca duas vezes e ninguém vai atender. Me pergunto onde está minha mãe, levanto e vou até a sala.

Eu abro a porta e fico me olhando pelo espelho, estou parecendo um fantasma ou um monstro.

“Beatrice?”, Miguel fala.

E eu percebo que ele está ali sorrindo para mim, eu começo a rir.

“Eu estava aqui me olhando nesse espelho.”, eu falo e aponto para o espelho. “E pensando que estou parecendo um fantasma ou um monstro.”

Ele ri e eu continuo parada olhando para ele.

“Você vai me deixar envelhecer aqui fora?”, ele pergunta.

“Sim. Quero descobrir como você fica grisalho. Se vai valer a pena e tudo mais.”

“È o certo. Eu acho que um velho não tem medo de fantasmas.”

“Você está querendo dizer que eu estou parecendo um fantasma?”

“Você mesma disse isso.”

“Que coisa horrível.”, eu falo e faço uma careta.

Miguel me puxa pela cintura e me beija.

“Tudo bem aqui?”, minha mãe pergunta.

Eu e Quatro caímos no sofá com o susto, mas ele levanta rápido e responde a minha mãe.

“Tudo ótimo.”, Miguel diz.

Eu tento segurar mas começo a dá risada da cara dele de assustado.

“Não consigo me levantar. Me ajuda?”, eu digo.

“Você está me ouvindo?”, ele pergunta. “Alguém me disse que você é surda.”

“Eu sou surda-muda, na verdade.”, eu falo e ele ri.

Minha mãe olha para nós com a expressão confusa.


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