Parece que tudo não se passou apenas de um sonho. Não sou mais feliz como era.

   Toda minha felicidade se fora junto de Kiro, quando ele me trocou pelo outro, o responsável por toda dor que eu estava sentindo agora, o destruidor de minha vida.

   Tudo estava tão bem: eu tinha Kiro, o amor da minha vida ao meu lado, em todos os momentos, tanto nos tristes como nos alegres, um apoiando o outro. Nos amávamos incondicionalmente, não havia obstáculos entre nós. Me sentia vivendo em um conto de fadas, onde tudo é mágico, onde tudo que mais queremos nunca termina.

   Porém, foi uma questão de tempo. Meses depois, Kiro simplesmente afastou-se de mim: não me beijava da mesma forma, não me tocava da mesma forma, não me amava da mesma forma. Eu realmente não sabia o que tinha feito para ele agir desta forma, e estranhei seu comportamento.

   Tentei conversar, queria saber se havia feito algo que teria deixado meu pequeno magoado comigo, se ele estava com problemas, disse que ele podia se abrir comigo, mas não, eu não o havia deixado magoado. Ele também não estava com problemas, estava bem. Disse que estava agindo daquela forma sem perceber, e desculpou-se por isso, dizendo que tudo voltaria ao normal.

   Como sempre, acreditei nas palavras do meu menino, e realmente, as coisas se normalizaram um pouco.

   Quando achei que tudo estava voltando ao normal, após um show, presenciei a pior cena que eu poderia presenciar na vida: meu menino, meu pequeno, minha vida nos braços do outro, beijando-o e acariciando-o como ele fazia comigo.

   Nesse momento, meu mundo caiu. Perdi o chão, não sentia mais meu corpo; apenas conseguia ver a cena que estava me matando lentamente enquanto lágrimas escorriam involuntariamente de meus olhos.   

   Todas minhas juras de amor, todo meu sacrifício por ele foram em vão. Kiro não dera valor a nada, simplesmente esqueceu-se de tudo isso, jogou tudo fora. Ele não me amava mais.

   No dia seguinte mesmo, eles assumiram o romance. Tudo estava acabado entre nós. Depois disso, não conseguia mais conviver com Kiro sabendo que não iria mais poder tocá-lo da mesma forma.

   Agora, tudo o que resta são lembranças. Lembranças que são dolorosas para mim, lembranças que eu faria questão de esquecer – assim como eu faria questão de também ser esquecido.

   As chamas da lareira que aumentavam a cada foto jogada estavam embaçadas devido às lagrimas que tomavam conta de meus olhos e escorriam cada vez mais. Jogava as fotos uma por uma, apagando todos meus momentos com Kiro, vendo-as desmanchar igual fora feito com meu coração.

   Após jogar a última foto na lareira, observei-a enquanto se transformava em cinzas juntamente das outras. Peguei o estilete que estava depositado ao meu lado, olhei-o atentamente e passei o dedo em sua face cortante, fazendo um pequeno corte no meu dedo, onde uma pequena gota de sangue verteu. Em seguida, passei o mesmo em meu pulso, cortando-o, vendo o sangue escorrer por meu braço e minha mão, sem me importar com a dor. A dor em meu peito era muito maior.

   Passei novamente o estilete no mesmo local, atingindo pontos mais profundos, fazendo com que mais sangue vertesse de meu pulso.

   Minha visão estava ficando turva, mas mesmo assim, cortei meu outro pulso. O sangue pingava em minhas roupas e no chão, manchando-os com meu sofrimento.

   Estava perdendo as forças, não conseguia mais sustentar meu próprio corpo, até tombar no chão, forçando meus olhos, para que eles ficassem abertos um pouco mais.

   Não sabia se alguém iria sentir minha falta, se iriam lembrar de mim depois. Mas isso não me importava; pelo menos minha dor iria diminuir, e eu não teria mais de ver meu pequeno amando e sendo amado por outro.

   Após perder-me em meus pensamentos, deixei meus olhos se fecharem, caindo na inconsciência, onde só havia escuridão, esperando, talvez, que a mesma me levasse para um lugar onde não existisse dor nem sofrimento.