Hope, Mais Uma Vez Amor escrita por Nynna Days


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Oi, flores, capítulo novo *---*

Ah, novidade. Chegou o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=oHqc-gtJG40

Espero que gostem.



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Eu estava sendo observada.

Enquanto meus dedos digitavam o maldito trabalho de história que estava atrasado e que poderia me reprovar – Sério, mesmo sendo irmã do professor, ele nunca pegava leve comigo. E ainda ameaçou me repetir. Isso demonstra o quanto ele me ama – meus pelos da nuca se arrepiaram. Era como se aquele ponto específico queimasse.

Não me permitir olhar em direção á janela. Meu medo de ver algum tarado apreciando a visão de meu corpo vestindo pijamas – ainda que fosse pijama rosa e infantil – me congelava. Continuei concentrada no trabalho, sabendo que quem tivesse ali, uma hora iria se cansar.

Mas não se cansou.

Aquela inquietude que me tocava, foi se ampliando ao passar da noite. E quando dei por mim, eram quase quatro da manhã. Cocei meus olhos e me espreguicei. Tudo para parecer o mais natural possível. Me levantei – ainda evitando olhar da direção da janela – e desliguei o computador. Contrariando os meus instintos, finalmente me virei.

Não havia ninguém ali. Pelo menos que meus olhos pudessem ver. Passei os braços ao redor do meu corpo, sentindo um frio incomum atravessar minha coluna. Pensei em ligar para Harper e tentar passar o tempo até o sono tomasse conta de mim. Harper tinha uma insônia idêntica á minha, só que, ao contrário de mim, parecia se satisfazer com poucas horas de sono.

Andei até a janela, expulsando aquele pensamento estúpido de minha mente e puxei as cortinas. Precaução. Movi os dedos por meus cachos e respirei fundo, tentando relaxar. Mas meus ombros continuavam tensos. Aquela sensação não passava por nada. Sentei na cama e sacudi a cabeça. Eu estava paranoica.

Determinada a terminar com aquela cisma, me levantei e – praticamente corri – abrindo a janela subitamente, escutei um barulho. Não era o barulho das janelas – que quase nunca eram abertas – se arrastando. Era um baque surdo. Como se alguém tivesse caído. Inclinei meu corpo para baixo, mas estava muito escuro. Estreitei os olhos, tentando enxergar alguma coisa.

Nada.

Entretanto eu tinha certeza que alguém sabia que estava sendo observado e me encarava de volta. Com cuidado, mas mantendo a rapidez, peguei o meu robe preto e o vesti. Desci as escadas, nem me dando ao trabalho de amarrá-lo. Meus passos eram silenciosos para não acordar Nicolas ou Caliel. Eles tinham um sono leve que me surpreendia.

Abri a porta, sendo recebida pelo ar gélido da madrugada. Pus meus chinelos e andei até onde – por meus cálculos iniciantes – o corpo deveria ter caído. Esperava encontrar nada e tirar a conclusão de que tudo aquilo tinha sido causado por noites pernoitadas. Porém, na grama fofa e úmida tinha uma marca perfeita de que alguém havia estado deitado ali. Fechei os olhos por um segundo, sendo tomada pelo choque. Alguém realmente estava me observando.

“Espero que não seja um sádico sexual nem nada.”, sussurrei para mim mesma. Olhei ao redor, percebendo a escuridão que me envolvia. A única luz era a da lua. Me levantei devagar, engolindo a seco. “Acho que está bom por hoje, Sherlock.”

Não queria admitir, mas estava com medo. Se realmente estava sendo observada – e a marca bem á minha frente – não mentia, o doido ainda poderia estar por ali. Só que aquela sensação se cessou. Pus a mão em meu peito, percebendo o quanto o meu coração estava batendo forte. Deveria ter acordado alguém para vir comigo.

Um barulho me fez soltar um grito alto e dar um pulo de onde estava. Demorou alguns segundos para reconhecer o ronco alto de uma moto. Os faróis iluminaram meu rosto, me fazendo cega por alguns segundos. Pus meu braço na frente do meu rosto, tentando desviar da luz. Conforme a moto passava e acelerava, consegui focar minha atenção nela o suficiente para reconhecê-la.

Era uma Harley Davidson.

A moto de Adriel.

**************************************

Não consegui me concentrar em nada no dia seguinte. Não que fosse a aluna mais aplicada de St. Loise, mas pelo menos pescava algumas palavras no ar. Nem isso eu tinha sido capaz de fazer. Tudo porque milhares de perguntas soavam em minha mente. Passei a mão por meu rosto e bufei. Tinha que tirar aquilo da cabeça. Não que fosse fácil.

Ele estava me observando.

Ele era doente? Pervertido? Curioso?

“Está tudo bem, Brown?”

Não percebi que estava andando sem rumo pelo corredor, até uma voz me despertar. Encarei os olhos azuis sérios de Jeremy. Seu rosto estava franzido, demonstrando sua preocupação. Aliel não estava com ele. O motivo era óbvio. Nós dois estávamos atrasos para a aula. Como sempre. Me perguntei o porquê dele não ter um monitor também.

Forcei um sorriso.

“Preocupado que eu vá colocar fogo na escola, Read?”

Jeremy riu movendo os dedos por seus cabelos escuros. Era incrível como a beleza dele conseguia me atingir. A pele pálida – até mais do que a de Adriel, os ombros largos vestidos com a jaqueta vermelho do time, os olhos azuis escuros e os cabelos negros. Ele passou a língua pelos lábios deixando o piercing exposto.

“Por favor, caso for fazer isso, comece com os arquivos.”, ele se aproximou e abaixou o rosto até que estivéssemos na mesma altura. “Eu não tenho uma boa ficha. E aposto que você também não.”, riu.

Eu ri também, ainda o observando. Senti meu rosto corando estupidamente e bufei. Parabéns, Mellany. Você finalmente consegue ficar sozinha com o cara que gosta e não consegue nem se comportar. Jeremy pôs as mãos nos bolsos e se recostou na parede, sem nenhuma pressa de ir embora. Deu um meio sorriso e olhou para os corredores, despreocupado.

Novamente o contraste entre ele e Aliel me abateu. Era quase impossível ele ter se apaixonado por uma pessoa tão diferente. Mas a prova estava ali, parada na minha frente. E mesmo que a chance de flertar com ele estivesse bem na minha frente, a curiosidade foi maior. Limpei a garganta e vi seus olhos voltando a se focar em mim. Cacete, ele tinha que ter um sorriso tão bonito?

“Jeremy, por que você namora Aliel?”, questionei subitamente.

Isso o pegou de surpresa. Seus olhos se arregalaram lentamente e vi seu rosto se avermelhando. Quase fiquei orgulhosa por ter causado esse efeito nele. Meneou a cabeça, como se tivesse debatendo consigo mesmo. Nervoso, pôs uma das pernas na parede e cruzou os braços. Ele estava tentando se defender? Um sorriso nervoso tomou os seus lábios e o brilho de seu olhar me desconcertou.

“É complicado.”, ele encolheu os ombros. “Somos muito diferentes, não é?”, deu um meio sorriso, sem graça. Acho que era mais óbvio do que pensava. Dei de ombros, ajeitando a alça da minha mochila. “Só que é isso. Sermos diferentes é o que me faz ficar mais apaixonado por ela. Aliel é o que eu nunca poderei ser.”, fez uma careta. “Literalmente falando.”

“E isso não gera conflito?”

Jeremy levantou uma sobrancelha, pensativo.

“Entre nós dois? Não.”, o sorriso voltou, mas parecia nervoso, como se estivesse escondendo um porém “Garanto que é bem mais divertido do que namorar uma pessoa exatamente igual á você. Tipo se eu e você namorássemos.”, ele deu um riso e levemente me empurrou com o ombro. “Seria um tédio.”

Forcei um riso, sentindo o meu estômago se revirando. Jeremy estava despedaçando o meu sonho bem na minha frente e não sabia disso. Fechei os olhos por um segundo, sentindo-os arder e assenti. Abri-os lentamente, mas desviei para o corredor ainda deserto. Mantive minha expressão a mais imparcial possível, mas por dentro estava quebrada.

Jeremy acabou de revelar que nunca namoraria comigo.

Por sermos muito parecidos.

“Acho que é melhor irmos para a aula.”, eu disse depois de limpar a garganta e ter certeza de que minha voz não soaria rouca. Mantive meus olhos longe dele. Dei um meio sorriso. “Ainda tenho esperanças de que conseguirei ir para a faculdade.”

Jeremy, não percebendo o que tinha feito comigo, pôs um braço ao redor dos meus ombros, me guiando pelo corredor. Continuei com o olhar perdido, sentindo minha alma se fragilizando. Caliel tinha me avisado, mas não havia acreditado. Ele continuou falando, mas meus ouvidos estavam totalmente entorpecidos. Eu apenas sorria e assentia. Na entrada da sala, ele me deu um beijo na bochecha e se despediu – Até mais, Brown ­– e me deixou ali.

Perdida.

*****************************

“Não acredito que Jeremy disse na sua cara que vocês nunca ficariam juntos.”, Harper disse enquanto íamos pelo estacionamento. Fiz uma careta. De tudo o que eu havia contado, ela tinha apegado ao assunto que menos queria comentar. “Caralho, Mellany. Essa deve ter doído.”

Meneei a cabeça. Ela não sabia da metade da dor que eu estava sentindo. Como se Deus quisesse ver meu sofrimento prolongado por tempo indeterminado, Aliel e Jeremy passaram do nosso lado. Eles nem nos notaram. Estavam concentrados um no ombro, sorrindo e trocando olhares confidentes. Aquilo doeu.

“Não, Harper.”, balancei a cabeça. Apontei na direção do casal. “Isso dói.”

Fiquei olhando por mais um tempo até que eles entraram no carro de Jeremy e aceleraram para longe. Fixei os meus olhos, acompanhando o carro até que sumisse pela estrada. Um desejo interno queria que Jeremy visse a dor que tinha me causado e tivesse o mínimo de respeito de me pedir desculpas. Mas ele não faria isso. Porque não sabia de nada.

Suspirei, me virando para Harper. Ela me estudava com os olhos astutos e um pouco estreitos. Balancei a cabeça, como se aquilo não importasse. E talvez não importasse mesmo comparado com o que eu tinha descoberto na noite anterior. Harper aproveitou o silêncio e prendeu o cabelo castanho em um coque frouxo.

“Esqueça isso.”, abanei minha mão. “Ainda existem muitos homens no mundo. E metade deles irá cair aos meus pés.”, joguei meus cabelos negros por cima dos ombros e Harper riu. “Você ainda não disse nada sobre aquilo.”

Esse simples comentário fez com a expressão dela ficasse rígida. Pressionou os lábios em uma linha reta. Revirei os olhos. Aquelas reações á menção de Adriel já estavam me cansando. Talvez fosse tesão recalcado. Ou alguma coisa parecida. Era impossível que ela tivesse tanto ódio de uma pessoa que mal conhecia. Se bem que meus sentimentos por Aliel também não eram os mais agradáveis do mundo.

“Esqueça aquilo, Mellany.”, ela disse séria. Nenhuma inflexão na voz. “Você só deve ter imaginado coisas. E existem milhões de Harley Davidson no mundo.”, abri a minha boca para protestar, mas ela estava irredutível. Me cortou antes que eu proferisse meu argumento. “Esqueça. Ele vai ser da sua família. Não pode sair acusando o irmão de sua cunhada, sem achar que isso vai ferir o relacionamento deles.”

Bufei, fazendo careta. Não queria admitir, mas ela estava certa. Não poderia simplesmente contar essa história absurda para Caliel e Nicolas, acusando seu irmão de ser um pervertido e esperar que eles não briguem ou coisa parecida. Não queria estragar o relacionamento deles. Mas também não poderia ignorar isso.

“Já percebi que você não vai esquecer.”, Harper disse, cansada.

Dei um meio sorriso.

“É assustador o quanto você me conhece.”, gargalhei. “Tenho que ir antes que meu monitor venha atrás de mim. Pela vigésima vez essa semana.”, revirei os olhos e vi a Harley Davidson entrando no estacionamento. “Tarde demais.”

************************************

“O que você está aprontando?”

Pisquei com força, saindo de meus pensamentos com a voz de Adriel. Encarei os livros de química na minha frente e fiquei tonta com a quantidade de números. Fitei meu monitor e o encontrei com uma sobrancelha loira perfeitamente levantada. Ele me estudava, procurando o motivo por eu estar tão dispersa. Se bem que não era difícil ficar disperso com a quantidade de número jogados á minha frente.

Estreitei os meus olhos, ofendida.

“Quer dizer que não posso ficar pensativa que já estou aprontando alguma coisa?”, comecei a juntar os conteúdos. “Então, eu acho que já está na hora desse estudo dirigido acabar por hoje...”

Minhas palavras foram cortadas quando senti o toque quente de sua mão sobre a minha. Primeiro, tudo ao meu redor congelou, menos o meu corpo. Tudo em mim estava pegando fogo. Como se tivesse acendido um isqueiro e jogado na gasolina. Ou como um choque de alta vontade transpassasse o meu corpo e chegasse até a minha alma.

Abaixei os meus olhos, lentamente até onde nossas mãos se tocavam e levantei-os até o seu rosto. Adriel estava sério, mas jurava que seus olhos tinham escurecidos. Senti seus dedos me envolvendo e a força da gravidade me puxando para mais perto dele. Só que lutei contra aquilo, ignorando o jeito que meu coração queria quebrar meus ossos e se libertar. Meus pulmões travaram, impedindo que o ar saísse ou entrasse.

“Adriel...”, sussurrei. Não conseguia desviar meu olhar do dele. Pisquei, pensando que essa era a solução para sair daquele encanto. Não adiantou. “Eu não estou aprontando.”, finalmente consegui pronunciar.

Ele ficou me fitando por mais alguns segundos e senti seus dedos se movendo pela palma de minha mão. Todo o meu corpo respondeu aquele pequeno toque e se arrepiou. Engoli a seco. Não deveria estar sentindo aquilo de maneira nenhuma. Pelo menos não com aquela intensidade. Adriel pareceu se dar conta daquilo ao mesmo tempo em que eu e me soltou, se levantando. Imitei os seus movimentos, sentindo o meu corpo rígido.

“Melhor eu ir.”, passou os dedos pelos cabelos loiros. “Até. E continue estudando.”

Assenti e o vi hesitando. Abriu a boca, querendo dizer mais alguma coisa, mas desistiu apenas se afastando. Esperei que até a porta se fechar e larguei o que estava fazendo. Corri para pegar a minha mochila e fui para a rua, fazendo sinal para o primeiro táxi que vi. Sentei-me, mandando mensagem para Nicolas, dizendo que iria jantar na casa de Harper, ao mesmo tempo em que o motorista me perguntou o meu destino.

E eu disse a frase que sempre quis em toda a minha vida.

“Siga aquela moto.”


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Notas finais do capítulo

E será que Mellany vai descobrir o que Adriel é de verdade?



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