Hope, Mais Uma Vez Amor escrita por Nynna Days


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

DOMINGO. Dia de CAPÍTULO NOVO. E, infelizmente, o último capítulo.

Queria agradecer a todos que acompanharam e comentaram. Amo vocês. E dizer que já escolhi a música do trailer de Mirror. Só que é surpresa.

Em falar de Mirror, o primeiro capítulo já está postado. Então termine aqui e corre para lá.

http://fanfiction.com.br/historia/521783/Mirror_O_Reflexo_da_Verdade/

Mas antes disso, vamos aproveitar o último capítulo de Mellany e Adriel. Bjs.



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Eu lembrava pouco da minha mãe. Tentava evitar esse assunto ao máximo por razões óbvias, mas acho que era falta de educação fechar a porta na cara dela – mesmo que fosse bastante tentador. Ela abriu um sorriso, fazendo os dentes perfeitamente brancos artificialmente entrassem em contraste com a pele tão pálida contra a minha.

Franzi o cenho ao perceber o quanto ela ainda era a mesma. E o quanto éramos parecidas – contra a minha vontade obviamente. Os mesmo cabelos escuros como carvão definidos em cachos desordenados, os olhos azuis acinzentados e a baixa estatura. Poderia olhar para Vanessa Carter e saber exatamente como seria no futuro. Tirando o fato de abandonar os filhos.

“Querida”, ela me cumprimentou.

Meu corpo se tencionou totalmente quando seus braços me envolveram. Não fiz esforço para retribuir o afeto. Permaneci parada, esperando que ela terminasse. Estava me segurando para não empurrá-la e perguntar que palhaçada era aquela. Ela não tinha o direito de aparecer de repente agindo como se tivesse ido até a esquina e voltado.

“O que você quer?”, questionei rude.

Antes que ela tivesse a chance de responder, senti a presença de Harper atrás de mim. Quase sorri. Ela tinha um espírito de vigia perceptível. Escutei-a sugar o ar quando perceber as semelhanças entre mim e a mulher parada na minha frente. Cruzei os braços, me recostando no batente. Não dando nenhum sinal de hospitalidade.

Minha mãe franziu o cenho olhando para Harper.

“Quem é essa?”

Levantei a mão, impedindo que minha amiga respondesse.

“Não te interessa.”, encarei a Nephilim e forcei um sorriso. “Mais tarde a gente se fala. Não se esquece do seu violão.”

Minha amiga estava contrariada em ir embora, mas o meu olhar deve tê-la compelido a ir adiante. Assentindo lentamente, ela voltou e pegou seu violão. Sua única troca de palavra com minha mãe foi um rápido pedindo de licença. Vanessa acompanhou Harper com os olhos, vendo-a subir algumas quadras depois.

Seus olhar se tornou rude quando se voltou para mim. Os lábios pressionados e a expressão rígida. Exatamente como ficava quando iria me dar uma bronca. Mantive-me com o rosto neutro, mesmo que por dentro estivesse fervendo de raiva e curiosidade. Agradeci a Deus que Nicolas não estava presente. Sua reação seria muito pior do que a minha.

“É essa educação que eu te dei?”, ela reclamou.

Levantei uma sobrancelha.

“Esse é o modo que eu trato os desconhecidos.”, dei de ombros. Ela deu um passo para trás, pondo uma mão no peito como se tivesse sido atingida. “O que você quer? Não me darei nem ao trabalho de perguntar de onde esteve, porque não quero saber. E quanto menos tempo permanecer, melhor.”

Ok, estava sendo dura. E Deus estava vendo tudo. E Miguel. Segurei a vontade de erguer o meu dedo médio para o céu. Reprimi o meio sorriso e pus uma perna no batente, tirando uma mecha do meu cabelo do rosto. Vi o lábio inferior da minha mãe tremendo e seus olhos se umedecendo.

“Você não entende.”, ela sussurrou. Passou a mão pelo sobretudo preto – tinha que admitir que ela tinha um maldito bom gosto. “Eu não consegui...”

“Para, ok”, me ajeitei na frente dela. Ela mordeu o lábio e as lágrimas começaram a correr por suas bochechas. A raiva me fez fechar os punhos. “Como nos achou?”

Ela passou os longos dedos pelas bochechas avermelhadas e engoliu a seco. Teria oferecido água, mas não tinha segurança o suficiente que não iria jogar o copo na sua direção. Temerosa, olhei para a rua com medo de que Nicolas aparecesse. O seu show faria o meu parecer apenas abertura. Minha mãe nos abandonou deixando todas as responsabilidades com os filhos. Gerard foi esperto e foi embora. Nicolas que perdeu a sua adolescência para que eu mantivesse a minha.

“Gerard me ligou.”, ela choramingou.

Decepção resumia a minha expressão. Aquela não parecia a mulher que tinha me criado e posto para dormir noite a fio. Vanessa Carter tinha morrido no momento em que o mundo se desestabilizou na sua frente. E ela nem se deu ao trabalho de tentar reconstruí-lo. Balancei a cabeça, surpresa por Gerard estar envolvido nisso.

“Contou-me que Nico vai se casar. Eu vim porque...”, ela pausou abaixando os olhos, parecendo envergonhada. “estava com saudade de vocês. Perdi o casamento do meu filho mais velho, não quero perder o do outro.”, ergueu os olhos e começou a esticar a mão na minha direção, desistindo logo em seguida. Boa ideia. “Senti sua falta, Mellany.”, estreitou os olhos e começou a me estudar. Diferente do que eu faria, estufei o peito e levantei uma sobrancelha. “O que aconteceu com você?”, perguntou tristonha.

Bufei.

“Eu cresci, mãe”, disse com ironia, fazendo-a se retrair. “Sem a sua ajuda. E acho que Nico dividi da mesma opinião que eu.”, ela abriu a boca para se defender, mas a cortei. “Não tente se justificar. A verdade é bem clara. Você nos abandonou com um bêbado.”

Seus olhos se arregalaram de susto.

“Mas Phillip nunca pôs uma gota de álcool na boca...”

Soltei um riso amargo.

“Ele não punha uma gota de álcool. Era a garrafa inteira.”, argumentei. Ela meneou a cabeça como se não acreditasse. Irritada, assenti. “Não importava que seu coração estava quebrado, Vanessa. Seu único trabalho era saber se estávamos bem. Você não ligou. Nem mandou notícias.”, passei as mãos por meus cabelos, reprimindo a vontade de puxá-los. “O quanto eu chorei...”, pausei sentindo minha raiva se tornando torpor. “Me arrependo de cada lágrima.”

Minha mãe voltou a chorar. Meu coração batia normalmente e eu não mexi um músculo para consolá-la. Queria que ela sofresse exatamente o que eu sofri. Se Gerard tinha tido o sangue frio de perdoá-la, o problema era todo dele. Não que fosse melhor.

Apostava minha mão direita que meu irmão mais velho só ligava quando sua esposa insistia e o lembrava de que tinha uma família. A verdade era que todos três éramos fugitivos do passado. No entanto, diferente de Gerard, não tinha preguiça de enfrentá-lo. E se minha mãe achava que era só se desculpar e começar a chorar na minha frente para me comover...

Bom, ela realmente não me conhecia.

Meu coração se aliviou quando vi a Harley sendo estacionada do outro lado da rua. Adriel encarou a cena, confuso. Mas ao perceber a minha cara de poucos amigos, acelerou os passos. Minha mãe soluçava, pondo as mãos no rosto e balançando a cabeça. Fiquei fria, mas amoleci quando os braços de Adriel me envolveram. Ele deu um beijo em minha testa e fitou a mulher à sua frente com a testa franzida. Senti seus lábios em minha orelha em seguida, arrepiando meu corpo.

“Mellany, por que sua mãe está chorando?”

Não deveria me sobressaltar por ele saber quem era aquela mulher, mas o encarei com os olhos arregalados. Claro que sua atenção não estava em mim. Sua compaixão era perceptível. Tentei impedi-lo, mas quando dei por mim, ele já havia passado os braços ao redor de minha mãe e a abraçado. Ela chorou mais um pouco em seu ombro, até que tudo se resumisse em fungadas. Vanessa encarou meu namorado, maravilhada.

“Quem é você?”, ela murmurou sem desviar os olhos dele.

Movi-me, removendo os dedos dela de seus braços. Adriel me encarou, sério. Bufei, o ignorando. O ciúme começou a me corroer e me pus entre os dois, forçando minha mãe a me olhar. Quase revirei os olhos. Ter um namorado lindo e com o coração tão misericordioso era foda. Ainda mais com a sua mãe babando nele.

“Esse é o meu namorado.”, respondi, rude. Virei-me para ele, que tinha a expressão suavizada com o minha demonstração de dor de cotovelo “E respondendo a sua pergunta, ela está chorando porque não aguenta escutar a maldita verdade.”, pus as mãos na cintura e tornei a encarar minha mãe, pressionando minhas costas no peito de Adriel. Ele passou a ponta dos dedos em minha cintura, mas isso não desviou o foco da minha raiva. “Pode parar de secar meu namorado?”

Minha mãe estreitou os olhos, especulativa.

“Quantos anos ele tem?”

Joguei as mãos para cima, exasperada.

“Quando vezes vou ter que repetir que isso não te interessa.”, praticamente gritei, fazendo-a se encolher. “Cacete, por que você ainda está aqui?”

Senti Adriel se curvando na minha direção e revirei os olhos, sabendo que diria alguma coisa para me acalmar. Suas mãos se fecharam em minha cintura, fazendo-me fechar os olhos e segurar um suspiro. Não era o melhor comportamento na frente de minha mãe, mas quem se importava? Sua boca se pressionou em minha orelha novamente, fazendo seu hálito quente entorpecê-la.

“Não seja uma pessoa cruel, Mellany.”, ele sussurrou suavemente. “Eu sei que dói, mas ela ainda é a sua mãe. Além disso, dê a chance dela se explicar com Nicolas.”, ele pausou, respirando ali e me fazendo ficar arrepiada. “Perdoar é uma virtude. Deixe-a ter a sua chance.”

Encolhi os ombros, vencida. Dei um passo para o lado e gesticulei para casa, convidando-a em silêncio. Minha mãe explicitou sua gratidão com um pequeno sorriso que não fiz questão de retribuir. Ela caminhou hesitante e se sentou no sofá, pegando uma das revistas de noiva que estava na mesa de centro.

Adriel me olhou orgulho e começou a caminhar para dentro da casa. Impedi-o, segurando seu antebraço. Seus olhos verdes estudaram desde a minha mão até o meu rosto, fazendo com que tudo dentro de mim se esquentasse. Ele não estava facilitando nem um pouco. Passei a língua pelos lábios, tentando manter o rosto impassível.

“Se começar com o papo de como você cresceu, não vou ser dona dos meus atos.”, aproximei nossos rostos – ficando na ponta dos pés, obviamente – e vi seu sorriso crescendo. “O que eu fiz foi pouco perto do que Nicolas irá fazer.”

Sua mão acariciou a minha, me incitando a soltá-lo. Permanecemos na mesma posição, nos encarando e medindo nossas forças. Meu coração pedia passagem por minha boca para observar de perto o quanto os olhos de Adriel brilhavam de diversão. No final, ele se inclinou e pressionou os lábios em minha bochecha. Toquei ali, dando um sorriso bobo e o vi senti entrelaçando os nossos dedos.

“Deixe que eles resolvam isso.”, moveu os dedos por minha face enrubescida. “Nós já tivemos batalhas demais.”

***************************

Quando disse que Nicolas não iria gostar nada da visita surpresa de Vanessa, tinha sido um eufemismo. Minhas ofensas havia sido carinho perto de tudo o que ele disse para a nossa mãe. Caliel foi a sua tábua de racionalidade. O manteve distante suficiente para que não cometesse um homicídio. Podia parecer cruel, mas senti prazer ao vê-la chorar e pedir perdão.

Ela tentou explicar que ficou ferida com o que aconteceu. Que amava nosso pai e que o modo como ele a havia traído tinha deixado marcar que nós dois nunca entenderíamos. Ela precisava se recompor. Mas, porra, por cinco anos? E que nós – os filhos que tiveram que se virar sozinhos – eram a prova de que ela tinha errado em alguma coisa.

Sinceramente, tive vontade de mandá-la ir para o inferno. Mas assim como Nico explodiu, ele se comoveu com a história de nossa mãe. E a perdoou. Quando pensei que havia tinha atingido o máximo de anormalidade, ele teve a ousadia de convidá-la para o seu casamento e que passasse um tempo conosco, dormindo no quarto de hospedes. Não aguentei mais aquilo e fui para o meu quarto.

Adriel me seguiu.

“Você deveria perdoar a sua mãe.”, ele disse fechando a porta suavemente. Joguei-me de cara na cama e gritei o máximo possível. Como esperado, o colchão abafou o som. Senti sua mão acariciando meus cabelos, ao mesmo tempo em que se sentava ao meu lado. “Ela não é tão ruim assim, sabe?”

Me virei, sentando-me e afastando sua mão de mim.

“Você não sabe o quão perto estou de te mandar para o inferno.”, eu disse estreitando os olhos. Ao ver seu meio sorriso irônico, amoleci. Balancei a cabeça lentamente e olhei pesarosa para a porta. “Podemos não falar da minha ausente mãe?”, pedi, tocando sua mão.

Seu sorriso se ampliou.

“O que você quer fazer?”

Levantei os meus olhos e ri.

“O que tem em mente, Senhor Crista?”

Aproximou o seu rosto do meu o bastante para sentir os seus lábios roçando nos meus. Arfei surpresa com o efeito que esse pequeno toque teve em mim. Minha boca começou a formigar enquanto todo o meu corpo parecia alerta. Minha mão deslizou por seu abdômen até o seu ombro, instigando-o a continuar. Ele soltou um riso rouco.

“Vamos fazer uma coisa proibida.”, passou os dedos por minha coxa exposta.

Minha respiração ficou pesada e esperei seu próximo movimento. Sabia que se Nico abrisse aquela porta estávamos mortos, mas não ligava. Adriel tinha os olhos fixos nos meus, então piscou um deles e se levantou. Encarei-o totalmente confusa. Andou até minha janela e a abriu de supetão. Franzi o cenho quando ele ficou encarando um espaço vazio no meu chão.

“Que tal conhecer a sua nova Guardiã, Mellany?”, Adriel propôs estendendo a mão para o espaço vazio. “Quero que conheça Isabel, da jurisdição do Gabriel.”, ele revirou os olhos, puxando o nada para cima. Era uma cena cômica. “Era óbvio que Miguel não iria indicar ninguém para cuidar de você, mas Gabriel fez uma promessa a Caliel.”, deu um tapa no nada, como se cumprimentasse alguém. “Ela precisa te ver, Isabel”

Iria começar a mencionar o fato de não ter ninguém ali, quando apareceu alguém. Aos poucos, como se estivesse translúcida, até ficar física. Seus cabelos eram castanhos acobreados e ondulados até a abaixo dos ombros – jurava que seus cabelos eram cortados em camadas – tendo a ilusão de serem ruivos.

Seu corpo eram alto e magro, quase chegando a altura de Adriel – algo que me surpreendeu – e sua pele era dourada, mas ainda clara – algo que não me surpreendeu. Aliel deveria ser uma das poucas anjas negras do universo – com algumas sardas em suas bochechas. Seus olhos eram castanhos claros esverdeados. Bem bonitos, para falar a verdade.

Suas asas estavam fechadas nas costas, então não deu para vê-las direta, só que tinham tom de branco envelhecido, como as de Adriel eram anteriormente. Eles deveriam ter a mesma idade angelical, mesmo que ela aparentasse ter apenas dezoito anos. Seu nariz era pequeno e arrebitado, o que achei uma fofura. E contra o que eu esperava, usava roupas práticas. Calças de moletom cinza e camiseta azul. Como se estivesse indo dormir. Estava descalça.

E irritada.

“Adriel, não deveria ter me exposto assim.”, disse para meu namorado com um murmúrio raivoso. Adriel mantinha um sorriso, apenas a observando. Vendo que um sermão não funcionaria, ela respirou fundo, tentando encontrar a calma e me encarou. “Olá, Mellany Elizabeth...”

“Por favor.”, a interrompi, soltando um lamento. “O nome todo não.”

Isabel deu um pequeno sorriso.

“Desculpe-me.”, ela corou. “Mellany.”, disse meu nome e assenti em aprovação. “Sou Isabel Moon. Sua nova Guardiã á pedido de Gabriel.”

Cruzei os braços, erguendo uma sobrancelha.

“Já leu a minha ficha?”, questionei. Ela arregalou os olhos por um segundo e assentiu. Dei um pequeno sorriso. “É tudo verdade.”, encolhi os ombros. “Mas tentarei dar o mínimo de trabalho para você, Isabel.”

Adriel soltou um riso sarcástico.

“Não acredite nela.”, ele cutucou Isabel.

Isabel me encarou amedrontada. Só pude dar de ombros. Afinal, ele me conhecia.

**************************

Quando era mais nova – deveria ter uns nove anos ou menos – minha família e eu viajamos para o interior de Washington. Era obrigatório para o trabalho do meu pai, visitar algumas fábricas e ver se o trabalho estava acontecendo como deveria. Levar a família tinha sido uma consequência. Uma muito boa no meu ponto de vista. Ficamos em uma casa de campo perto de um parque de diversões e todos os dias, implorava para alguém me levar.

Gerard tinha dezenove anos e só queria saber de ficar paquerando as garotas locais, então sempre me ignorava. Nicolas, ao contrário, parecia tão ansioso quanto eu para ir ao parque. Nem parecia que os três só tinham três anos de diferença.

Nossos pais finalmente nos levaram na nossa última noite, como um jeito de se despedir da cidade. Gerard teve que ser praticamente arrastado para longe da boca da vizinha e veio reclamando por todo o caminho. Mas quando chegamos, ele foi o primeiro a gritar que queria ir na montanha russa. E o último que quis sair do parque.

Lembro-me de ver meus pais sentados juntos na Roda Gigante. Estava lado a lado, sorrindo felizes e acenavam para nós três quando pararam no alto. Fiquei com medo que eles caíssem dali, já que tinha uma certa fobia com lugares altos. Nicolas pegou minha mão direita e Gerard, a esquerda. Mesmo sem dizer nada, tinha noção do que eles estavam dizendo. Tudo ficaria bem. Eles estavam juntos, então tudo terminaria bem.

Sentada no parapeito da minha janela ao lado de Adriel, ficava relembrando disso e pensando onde erramos. Éramos perfeitos e fomos fadados á cair. Aconcheguei-me no peito do anjo dourado e suspirei melancólica. Seu braço se estreitos ao redor de minha cintura, como se ele soubesse exatamente o que se passava em minha mente.

Minhas mãos se espalmaram em seu peito, deixando-me ciente de seu ritmo cardíaco e sua respiração tranquila. Nossos olhos estavam fixos nas estrelas e o silêncio se tornou acolhedor. Era como naquele dia. Atos dizendo mais do que palavras. Fechei os olhos com força, expulsando o medo de que desmoronássemos. Tinha uma diferença palpável entre mim e Adriel. Brigávamos, discutíamos e nos resolvíamos.

Meus pais eram perfeitos demais e na primeira desavença que aconteceu, a muralha que eu julgava resistente, se rompeu. Esmigalhando nossa família e nos espalhando como poeira. Nico queria resolver isso junto com Gerard. Veria meu irmão mais velho depois de quase três anos no dia seguinte. Escutar a sua voz fez com a raiva se desfizesse. Diabos, éramos uma família! E mesmo ainda não estando pronta para perdoar minha mãe, queria que lembranças como as da minha infância, não fossem corrompidas pela mágoa.

Soltei um bocejo, atraindo o olhar de Adriel para mim. Minha cabeça estava em seu ombro, fazendo com que nossos rostos ficassem perigosamente pertos um do outro. A memória do momento em que nos conhecemos me tocou, fazendo-me dar um pequeno dar um sorriso. Ele retribuiu, mesmo sem saber o motivo inicial daquilo. Seus dedos traçaram meu rosto com delicadeza, pondo uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

“Acho que está na hora da humana dormir.”, gracejou.

“Você não dormir é um saco.”, revirei os olhos. “Tirando-te a ligação com o céu, sua imortalidade e deixaram você sem comer e sem dormir? Isso é muita maldade.”, ironizei, vendo estreitar os olhos para mim. Ergui as mãos em sinal de paz. “Pelo menos mantiveram as asas.”, cheguei perto e pus meus lábios perto de sua orelha, vendo ficar tenso. “E se quiser minha opinião, ficaram muito mais lindas douradas.”

Adriel abaixou os olhos e seu rosto ficou rosado. Vê-lo sem graça com o meu elogio me fez ficar ainda mais preenchida de adoração. O maior pecado do céu foi ter expulsado um ser tão magnífico e fiel como ele. Ainda não havia saído da minha cabeça que o retorno repentino de minha mãe tinha o dedo podre de Miguel, mas preferi ficar quieta. Declarar guerra contra um Arcanjo nunca era uma opção inteligente.

“Não fique constrangido.”, dei um pequeno sorriso, segurando o seu queixo no intuito de fazê-lo voltar a me fitar. Não conseguia ficar sem aqueles olhos por muito tempo. Ele beijou a palma da minha mão, sem desviar o olhar. “Jesus, como você é sexy.”

Ele riu.

“Acho que você dizer Jesus e algo com conotação sexual na mesma frase é um pecado.”, ele disse e mordeu o lábio inferior. “Mas eu não ligo.”, olhou por cima dos ombros por um segundo. “Será que seu irmão vai nos pegar de novo?”

Meu corpo tremeu com o riso reprimido.

“Agora sim está se comportando como um namorado.”, beijei o canto de seus lábios. “Agindo feito um fora da lei. Pulando a janela da mocinha. E... Hey, por que está rindo?”

Adriel pôs a mão sobre o peito, como se estivesse com falta de ar de tanto rir. Se Nico não tivesse um sono tão pesado – e eu não me garantisse na porta trancada – estaria preocupada pelo barulho excessivo. Mas achei divertido e acabei rindo também. Adriel descontraído era uma coisa rara que eu tinha a decência de aproveitar.

“Desde quando você é uma mocinha, Mellany?”, perguntou. Balançou a cabeça com uma sombra de humor em suas feições. “Pode ser a dona do meu coração e o motivo para que eu bata minhas asas, mas mocinha não é nem de longe.”

Honestamente fiquei dividida entre derrubá-lo no chão ou beijá-lo. Mesmo com tudo o que havia acontecido nos últimos dias, ainda estava de bom humor. Por isso peguei a sua e a coloquei sobre meu coração – acelerado, claro – e o vi ficando sério. Seus olhos encheram-se de emoção e suspirou, pegando minha mão livre.

“Eu sei.”, ele sussurrou. Arregalei os olhos, surpresa por não precisar dizer nada. “Eu também sinto isso. Estou me afogando em um mar desconhecido, mas adorando a viagem.”

No segundo seguinte estava perdido por entre seus lábios e derretendo com o seu toque suave. Tive que manter em minha mente que estava no parapeito de minha janela e o movimento de ir para o colo de Adriel era impossível. Quer dizer, eu poderia tentar, mas a probabilidade de meu rosto encontrar o chão era maior do que minha coragem permitia.

O êxtase de sensações que minha pele absorvia me fez perder a noção do tempo. Por isso só nos separamos quando nossos pulmões estavam em seu último suplico de ar. Tinha uma leve noção que Isabel estava ali e me envergonhava por ela ser obrigada a ver isso. Adriel tentou oferecer uma troca de turnos, mas ela insistiu que aquele era o trabalho dela. Não sabia se a parte de voyalismo estava incluída, mas não era problema meu.

“Preciso saber de uma coisa.”, Adriel murmurou contra os meus lábios arfantes, ainda segurando o meu rosto. Seus olhos estavam semicerrados. Assenti lentamente, oprimindo minha curiosidade. “Foi você quem quebrou o carro de Austin, não é?”

Adriel ainda muito o que praticar para se tornar o namorado perfeito. Porque qualquer pessoa em seu juízo perfeito não perguntaria se sua namorada quebrou o carro no ex depois de um beijo que quase fez fogos de artifício aparecer. Só que ao invés de ficar raivosa, – como normalmente ficaria por ser acusada – gargalhei. Ele me olhou confuso e eu balancei a cabeça.

Dei um leve beijo nele, ainda sorrindo.

“Se fosse você não iria querer saber a resposta”, disse.

Adriel fingiu exasperação.

“Meu Santo Criador, por quem fui me apaixonar?”

Dei um leve tapa em seu braço, fazendo passar o outro por minha cintura e me puxar com firmeza contra si. Entrelacei meus dedos atrás de sua nuca e segurei um xingamento. Suas asas se abriram de súbito e se ele não estivesse me segurando com firmeza, o encontro entre meu rosto e o gramado seria inevitável. Ele bateu-as duas vezes, me hipnotizando e as fechou novamente, com cuidado, nas costas. Mas não as escondeu, sabendo o quando eu as apreciava.

“Você deveria agradecer, camarada.”, sussurrei preparando meu interior para a chacoalhada que levaria quando nossos lábios entrassem em contato. “Sou uma namorada que muitos matariam para ter.”, levantou uma sobrancelha, cético. “Está duvidando? Não tem problema. Garanto que teremos muito tempo para te mostrar que tenho razão.”

Ele assentiu, concordando.

“Oh sim, Mellany.”, comecei a fechar os olhos com a sua suave voz soando á poucos milímetros de meu rosto. “Teremos muito tempo juntos. Quase que uma eternidade, mas menos do que eu gostaria.”


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Notas finais do capítulo

Espero todos em Mirror, hein. E recomendações serão bem vindas e comemoradas.

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