Hope, Mais Uma Vez Amor escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Enfim a continuação de Light. Então, só queria dizer que não vou poder postar com tanta precisão quanto antes, mas prometo não demorar muito para postar. E espero que todos acompanhem. Mellany comandando, pessoal!!!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/491449/chapter/1

O suor escorria por meu rosto, enquanto os meus punhos acertavam o saco de pancadas com toda a minha força. Todos os meus membros queimavam, mas não tanto quanto a lembrança de que Austin estava com a chinesa vadia da Melissa. Cacete, fazia menos de duas semanas que havíamos terminado. Eu o queria se rastejando aos meus pés. Mas parecia que sua condição de jogador do time principal de futebol, o fazia superior.

Meu punho atingiu o alvo mais uma vez e eu bufei. A última coisa que Austin Parker seria era superior. Tinha que quase me estuprado e me desmerecido. Se não fosse por Nick, eu não sei onde estaria. Talvez Austin estivesse na cadeia, mas eu? Fechei os olhos, encostando meu corpo exausto na parede e bebendo água. Não queria mais pensar naquilo. Eu queria que minha mente me obedecesse pelo menos uma vez e parasse de pensar no homem errado.

Alguém bateu na porta da minha academia particular – também conhecido como porão – e eu me vi encarando os dóceis olhos de Caliel Crista, minha cunhada. Era incrível como antes não conseguisse respirar no mesmo lugar que ela. Mas, Caliel que havia me encontrado naquele dia. Ela quem me abraçou quando eu pensei que estava tudo perdido. Ela me pôs na linha por Nicolas. E estava agradecida por meu irmão ter ficado com ela.

Ah, e tinha o, porém dela ser minha professora de religião. Esse fato era um pouco irônico se contar o quão angelical era a aparência dela. Os cabelos loiros e curtos nos ombros, ondulados e sempre arrumados, mesmo de um dia desgastante de aula. Os olhos azuis claros e dóceis, como se ela pudesse ver a minha alma – mesmo me deixando bastante desconfortável. A pele pálida e brilhante contra a luz pálida do porão. E tudo isso somado ao fato dela aparentar apenas ter 18 anos.

“Mellany, está tudo bem?”, ela se recostou na porta e olhou o meu estado. Levantei uma sobrancelha. Uma resposta sarcástica queimava em meus lábios. Caliel sorriu. “Acho que isso é um não.”, fechou o rosto e suspirou, dando um passo a frente. “Se isso tiver a ver com a mudança...”

“Caliel, relaxe, ok?”, eu disse me levantando e colocando a garrafa em cima da mesa improvisada. Tirei as luvas e as pus ao lado. “Não tem nada a ver com você morando conosco. Eu fico até feliz. A alma do meu irmão já deve estar marcada só por ele ter que ir à casa de um padre te encontrar para que possam namorar.”

Caliel soltou um riso baixo, mas isso não tirou a apreensão de seus olhos. Eu sabia que ela estava preocupava e isso me causava um ressentimento. Não queria esse sentimento á ela. Nem ao meu irmão. Suspirei, resolvendo dizer o que se passava por minha mente. Afinal, naquela família não se poderia guardar nada.

“É que depois do término com Austin, eu consegui perceber o quão sozinha estou.”, fiz uma careta. “Quero dizer...”, encolhi os ombros. “Não sou como você, Caliel. Você é boa, bonita e inteligente. Eu sou uma rebelde de cabelos azuis.”

Caliel estava balançando a cabeça antes que eu tivesse a chance de terminar meu discurso. Ela entrou de vez na minha academia e pegou em minha mão. Era naqueles momentos que eu percebia uma leve diferença em Caliel. Antes, jurava que via seus olhos mudando de cor subitamente. Depois do dia da festa com Austin, algo pareceu mudar.

Não só nela, quanto em Nick. Eles pareciam conectados, como se o mundo lá fora não importasse. Mesmo que isso me deixasse feliz, minha boca ainda sentia o gosto amargo da inveja. Queria viver um relacionamento assim, mas desde que havia chego à Nova Jersey, tudo o que tinha arrumado, era Austin.

E convenhamos. Austin não era muita coisa.

Devo admitir que em Seattle eu visse mais opções. Mas, todas as lembranças que aquele lugar me causava... Tremi e balancei a cabeça, tentando expulsar as memórias sombrias de minha mente. Caliel me fez sentar em duas cadeiras de plástico que tinha no canto mais empoeirado dali. Ela fez uma careta com aquela sujeira, mas preferiu manter a atenção em mim.

“Você é uma menina linda, Mellany.”, ela deu um pequeno sorriso. “Só precisa tomar o rumo certo. E um pouco de juízo nessa cabeça oca.”, ela cutucou minha têmpora, enfatizando. Então levantou uma sobrancelha. “Isso é sobre Austin ou sobre Jeremy?”

Levantei com a menção do namorado da prima de Caliel. Ficava um pouco frustrada com esse assunto. Jeremy era ideal para mim. O jeito rebelde e como ele não tinha filtro para dizer tudo o que sentia e o que pensava. Nós poderíamos ser o par perfeito. Só que seus incríveis olhos azuis se focaram em Aliel Sky, a prima – quase santa – de minha cunhada. Isso a fazia ser minha prima?

“Isso tem a ver com o fato que nenhum homem presta.”, eu disse tirando o rastro de suor do meu rosto com uma toalha.

“Acho que essa afirmação a fez perder a carona para a escola, mocinha.”

Revirei os olhos e encarei Nicolas. Ele estava sorrindo encostado no batente da porta de braços cruzados. Quando morávamos em Seattle, todos diziam o quanto nós dois éramos parecidos. Os mesmos olhos azuis acinzentados, os cabelos escuros – mesmo que os meus fossem cacheados e tivessem mechas azuis – e a pele pálida. Mas Nick era o sensato e eu era a impulsiva, o que nos fazia trocar farpas incontáveis vezes.

Tirando isso, eu e ele tínhamos uma relação saudável. Eu não tinha ciúmes de Caliel com ele. Na verdade, me sentia aliviada que eles estivessem juntos. Odiava Erin de um jeito incomum. Como ela forçava meu irmão a fazer coisas que ele não queria. Como casar. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Em duas semanas, Caliel conseguiu morar com Nick. Coisa que Erin – em cinco anos de relacionamento – nunca conseguiu.

“Se eu for atropelada por um doido na rua, saiba que a culpa é toda sua, Brown.”, eu disse brincando. Ele sorriu. “Já está na hora de me arrumar para aquele inferno?”

A expressão de Nicolas se fechou e ele olhou para a sua namorada. Soltei um suspiro. Caliel tinha certo incomodo com palavrões e menções ao inferno. Eu evitava, mas tinham vezes que simplesmente saiam. Deveria fazer parte da religião dela. Todo o domingo Caliel ia a igreja de manhã. Ela nunca me forçou a ir com ela, mas eu me sentia mal algumas vezes.

“Está sim.”, Caliel respondeu passando por mim e dando a mão para meu irmão. “Se arrume rápido para não se atrasar.”, ela deu um meio sorriso e seus olhos se estreitaram. Tinha alguma coisa estranha. “Aposto que hoje será um dia especial.”

*******************************

“Então, o ensaio está de pé?”, perguntei á Harper assim que a encontrei no corredor. Sabia que não poderia me atrasar para a aula de matemática. Meu histórico escolar não era o melhor. Harper assentiu. “Já avisou á Dexter e Mary?”

Ela pôs uma mão em meu ombro e sorriu.

“Calma, Mel.”, ela revirou os olhos tão azuis quanto os meus. “Está tudo pronto.”, ela abaixou o tom de voz e olhou ao nosso redor. “Estaremos afiados para Nova York. Irão aclamar o nosso nome.”

Franzi o cenho.

“E Teddy já está com as identidades prontas?”

Seu sorriso se apagou, formando uma careta.

“Claro que sim.”, abanou a mão, como se aquilo não importasse. “Pelo menos eu ter namorado um nerd serviu para alguma coisa.”

Eu sorri. Era por esse e outros muitos motivos que eu e Harper éramos melhores amigas. Desde que cheguei a Nova Jersey e ela riu quando joguei suco de melancia do uniforme de uma líder de torcida, propositalmente. Também tinha o fato de sermos tão parecidas fisicamente. Mesmo que os olhos de Harper fossem mais escuros que os meus e os cabelos fossem mais claros e sem mechas. Ainda tinham algumas características que faziam as pessoas nos parar e perguntar se éramos irmãs.

“Hey, alerta de piranha.”

Olhei na direção que Harper apontou e vi Austin com o braço ao redor dos ombros de Melissa Chin. Fechei o rosto, ficando totalmente séria e cruzando os braços. Harper me imitou, traindo a atenção de meu ex para mim. Seus olhos castanhos se estreitaram e ele deu um meio sorriso, como estivesse gostando daquela cena ridícula.

Passou os dedos por seus cabelos loiros platinados – e tingidos – e deu um beijo na bochecha de Melissa. Ela sorriu, fazendo seus olhos ficarem menores ainda. Revirei os meus, e escutei Harper bufando. Dei um meio sorriso para a minha melhor amiga e observei Laisa Fernandez vendo a mesma cena que eu. Só que, diferente de mim, ela parecia sentir inveja de Melissa.

Harper havia me contado que Laisa era a rainha da escola St. Loise quando namorava Jason Hastein. Mas Jason a largou – depois de humilhá-la em uma festa de Jeremy Read – e ficou com Sarah Burke, sua melhor amiga de infância. Mas, olhando para Laisa em seu top rosa e calça listrada, sentia um pouco de pena dela. Para sentir inveja de Melissa – que era a popular mais sem sal que eu conhecia no mundo – ela deveria estar muito desesperada.

Mas, eu também não estava desesperada quando comecei a namorar Austin para ser popular e aceita? E, depois de tudo o que ele fez, eu só sentia nojo. E ódio. Muito ódio. Por isso, quando ele piscou um de seus olhos para mim, Harper teve que segurar para eu não arrancá-lo com as minhas próprias mãos.

“Calma, Mel.”, ela disse. Mesmo com o seu pedido, em minha mente passava vários jeitos de me livrar das mãos de Harper e empurrar Austin contra algum armário. Talvez eu empurrasse o armário na cabeça dele. “Austin só está querendo te provocar.”

Bem, ele estava conseguindo. Ele parou diante do corredor inteiro – localização mais exata: A minha frente – e beijou Melissa. Revirei os olhos. Realmente não sentia ciúmes. Depois do que ele havia feito comigo na festa, tudo o que eu sentia era raiva. Muita raiva mesmo. E como um raio de sol, vi o outro casal mais comentado de St. Loise.

Jeremy Read e Aliel Sky. Eu pensava que Sarah Burke e Jason Hastein eram um casal improvável, mas diante dos dois primeiros, eles eram um pouco óbvios. Sarah era a sua amiga de infância, sempre esteve ali para ele e por ele.

Jeremy e Aliel eram... Confusos. Jeremy sempre teve a fama de pegador. Inclusive, era ex de Melissa. Mas, quem não resistiria a ele? Com aqueles belos olhos azuis escuros, cabelos pretos desalinhados, pele pálida e brilhante, lábios cheios e maxilar quadrado. E isso era só o rosto. Seus ombros largos estavam bem vestidos com a jaqueta vermelha do time, mas não escondia os músculos bem desenhados.

Aliel era quase como um acessório do seu lado. Os cabelos escuros cacheados soltos e descendo até o meio de suas costas. Os olhos escuros atentos á tudo o que acontecia ao seu redor. Era quase tão alta quanto Jeremy e magra, o que fazia fácil confundi-la com uma modelo. Tinha um jeito que ela andava, que era como se ela estivesse pisando no quente, mas que logo se acostumava com a temperatura.

Suas roupas também eram bastante diferentes. Jeremy usava a jaqueta do time por cima de calças jeans escuras, uma camisa branca e tênis Nike preto. Tudo isso expunha o seu estilo básico e de Bad Boy. Aliel, por outro lado, estava com uma saia longa branca e uma camiseta florida. Além de sapatilhas rosa. Eles eram tão diferentes, mas de um jeito bizarro, pareciam se completar.

O que me doía um pouco, já que eu sentia algo por Jeremy. Poucos sabiam que o outro motivo por eu ter começado a namorar Austin, tinha sido para fazer ciúmes em Jeremy. Assim, iria frequentar o mesmo círculo social. Mas não funcionou de nada. Jeremy não me notava. Era como se eu não existisse, mesmo que tivéssemos diversas aulas juntos. Seus olhos, infelizmente, eram apenas para Aliel. Assim como os olhos de Nicolas eram apenas para Caliel.

“Cuidado para não babar, Mellany.”

Me virei para o dono da voz, dando de cara com Dexter Castelli, um de meus melhores amigos. Tinha os cabelos pretos tingidos e alisados, tentando passar o ar de emo. Sempre usando roupas pretas e que não combinavam com a sua atitude feliz e bem humorada. Seus olhos escuros se focaram em Jeremy e Aliel e voltaram para mim.

“Não sei do que você está falando.”, eu retroquei. “E se estiver falando de Jeremy, tenha o conhecimento de que eu já o superei.”

Harper e ele bufaram.

“Ok.”, minha amiga disse, irônica. Levantei uma sobrancelha. “Você o superou tanto quanto Dexter superou a ex-rainha da beleza, ali.”, apontou para Laisa, que saía para a próxima aula.

Dexter corou e desviou o olhar. Eu segurei o riso. Era ótimo quando a vingança acontecia. Cruzei os braços e continuei estudando todos os que passavam no corredor, enquanto Harper e Dexter falavam animados sobre nossa viagem para Nova York. Era óbvio que iríamos escondidos, mas não seria a primeira vez que fugi de casa. Nicolas piraria, mas quando visse o sucesso que minha banda faria, entenderia.

Caliel também iria ajudar. Ela tinha um poder em cima do meu irmão que era quase inexplicável. Ele escutava tudo o que ela dizia e quase nunca discordava. Ela era bem convincente, mas meu irmão era quase um pau mandando. Ao mesmo tempo, tinha coisas que Caliel parecia tão inexperiente que Nicolas parecia seu pai ensinando. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios quando me lembrei da primeira vez que Nick a ensinou á mandar mensagem.

Mas aquilo era o amor, não era? Aprender com o outro o que a vida havia ignorado. E eu não conseguia mais imaginar Nicolas e Caliel separados. Muitos achariam a decisão de morarem juntos em menos de um mês muito apressado, mas parecia uma coisa natural para eles. Sabia que em breve, eles estariam noivos. Ás vezes, eu tinha medo daquela intensidade ser demais para eles. Só que, ao invés de parecer que estava indo rápido, eles estavam sentindo como se estivessem indo devagar demais. Vai entender os adultos.

Passos apressados na nossa direção me fez despertar dos pensamentos. Levantei os olhos para Mary Bogossian, a nossa baterista, que trombava em todos ao seu redor, desastrada. Revirei os olhos. Isso já era uma coisa natural. Mary – diferente da maioria das garotas daquela escola – era loira natural, o que gerava uma bateria de piadas. Seus olhos eram verdes oscilando para o azul. Ela parou a nossa frente, com o rosto sardento totalmente vermelho por conta do esforço.

“Vocês viram o novo monitor?”

Harper, Dexter e eu trocamos olhares.

“Monitor?”, perguntamos juntos.

Mary revirou os olhos claros, se recuperando.

“Ok, a Brown eu até entendo.”, Mary apontou suas longas unhas na minha direção, mas manteve o olhar dura na direção de Dexter e Harper. “Mas vocês dois são uma vergonha. Nem parece que estudam aqui á anos.”

Eu ri por aquela ser uma cena tão típica. Mary era a nerd do nosso grupo. Então, tudo de novo que acontecia na escola, ela era a primeira á saber. Eu tinha uma desculpa por ter entrado á menos de dois meses na escola. Então essa história de monitor era uma novidade. Dexter e Harper reviraram os olhos, mas aguardaram a explicação de Mary, que foi exclusivamente para mim.

“Monitor é um tipo de ajudante.”, ela disse gesticulando, como sempre. “Nossa escola tem vínculo com algumas faculdades, então alguns desses alunos se voluntariam para ajudar alunos daqui que tem dificuldade em alguma matéria.”

“Um professor particular?”, perguntei tentando simplificar.

Mary assentiu.

“Por isso que nunca ouvi falar disso.”, Dexter disse. “Minhas notas são ótimas em todas as matérias.”, ele olhou para Harper. “E Moore sempre se manteve na média.”, voltou seus olhos escuros para mim. “Já a senhorita Brown...”, deixou a frase em aberto.

“Cale a boca, Castelli.”, revirei os olhos. O sinal tocou. “Vamos para a sala.”

*****************************

Eu fui chamada da diretoria.

De novo.

Já era a segunda vez naquela semana, o que já era um avanço se comparar que mês passado eu ia quase todos os dias. A diretora Miller já estava mais que acostumada com o meu rosto, mas quando entrei e vi que meu irmão e Caliel estavam na sala também, fiquei apreensiva. Será que eles iriam me expulsar?

Só que, eu estava me comportando. Quero dizer, o máximo que eu poderia me comportar. Se o professor de matemática era um idiota egocêntrico, isso era outro assunto. E se eu tinha feito questão de gritar isso a plenos pulmões quando ele me deu D- na prova, isso também era outro assunto. Mas, chamar meus responsáveis? Sério, Miller.

“O que eu fiz?”, perguntei fechando a porta com o pé e cruzando os braços. Passei os olhos pela sala procurando a cara cansada e carrancuda de Frank Wilder, vulgo meu professor de matemática. “Eu juro que ele que começou a gritar.”

Pelas expressões confusas de todos que estavam na sala, percebi que a minha pequena discursão com o professor não havia sido divulgada. Ainda. Respirei fundo, aliviada. Mas rapidamente a apreensão me tomou. Se eu não estava ali por causa disso, o que – diabos – tinha acontecido. Depois da confusão, todos me encararam com expectativa. Era como se estivesse com medo da minha reação. Fiquei tensa.

“Senhorita Brown.”, a diretora Miller começou. Segurei o impulso de revirar os olhos e me sentei na cadeira que ela indicava. Era entre Nick e Caliel. “Estava conversando com seu irmão depois de ver as suas notas e resolvemos que você terá um monitor.”

Fiquei atônita. Mas, aliviada. Não era segredo para ninguém que as minhas notas em algumas matérias era vergonhosa. História, felizmente, era uma exceção. Religião também. Mas, química, matemática, biologia, física ou outras matérias? Era um caso perdido. Nem Deus tinha como resolver essa. Dei de ombros.

“Tudo bem.”, respondi. Nicolas levantou uma sobrancelha enquanto Miller limpava a garganta para disfarçar seu espanto. Ninguém imaginaria que eu fosse concordar tão rápido. “Onde está a monitora?”

“Monitor.”, Caliel corrigiu. Tinha alguma coisa no seu sorriso que me incomodou, mas preferi interpretar aquilo como orgulho por eu não ter tido um ataque. “E ele deve estar chegando.”

Assenti, me levantando.

“Se isso era tudo...”, olhei para Nicolas. “Vamos?”

“Claro. Vou só terminar de preencher alguns papéis.”, ele sorriu e pegou a caneta. “Encontramos-te no estacionamento.”

Pelo plural, sabia que Caliel também não viria comigo, mas não liguei. Seria bom ter um momento sozinha, se eu tivesse um surto de raiva repentino. A diretora também não me impediu. Aquela seria a visita mais rápida e silenciosa á diretoria da minha vida. Ou talvez não.

Quando eu estava abrindo a porta, alguém abriu primeiro. E com força. Se eu não tivesse reflexos muito bons, eu teria um nariz muito quebrado. Dei um salto para trás, meus olhos se arregalando de surpresa. Eu estava preparada para xingar quem quer que quase tinha me aleijado, mas as palavras ficaram presas em minha garganta.

Ele era alto, talvez da altura do Nicolas, mas era ali que as coincidências com meu irmão acabavam. Sua pele era clara, do tipo que brilhava mesmo com a luz precária daquela sala. Poderia arriscar dizer que era um tom de marfim e parecia ser macia. Minhas mãos coçaram para tocá-la, mas me contive. Seus lábios cheios estavam torcidos em um meio sorriso irônico, que faziam as suas maçãs do rosto mais acentuadas. Ele deveria ter uns vinte anos, por aí.

Seus cabelos eram loiros, talvez mais claros do que os de Caliel, mas por pouco. E eram arrepiados em uma bagunça perfeitamente organizada. Mas, me demorei em seus olhos. Um verde-jade que parecia queimar em contraste com os meus. Por um segundo, ele parou e me estudou de cima a baixo. Dei um passo para trás, me sentindo invadida. Parecia que ele estava vendo além de mim. Minha alma.

“Que bom que você chegou.”, a diretora disse quebrando o nosso contato.

Ele desviou o olhar e tornou a sorrir para todos na sala. Me senti incomodada por um segundo. Queria olhar mais em seus olhos. Balancei a cabeça e resolvi esperar todos do lado de fora. Mas hesitei ao abrir a porta. Parecia que alguma coisa em mim dizia para eu ficar ali por algum motivo. Venhamos e convenhamos. Aquele cara era um gato.

“Senhorita Brown, fique, por favor.”, a diretora Miller disse. Sinceramente, nunca fiquei tão feliz em ficar mais tempo na diretoria. Movi meus pés até a cadeira ao lado de Nicolas e pus minha mão no ombro dele. “Sei que foi um encontro bem...”, ela hesitou procurando a palavra certa.

“Súbito?”, ofereceu o loiro.

Fechei os olhos por um segundo sendo atingida pela intensidade de sua voz. Parecia que ele falava cantando. Em qualquer outra pessoa, isso me traria uma enxurrada de piadas. Mas nele, parecia certo. Me recusei encará-lo, mas sentia seu olhar queimando em meu rosto. Caramba, isso deveria ser pedofilia, certo?

A diretora sorriu.

“Isso. Um encontro súbito.”, ela olhou para ele e sorriu. Por um segundo me perguntei se ela estava tentando flertar com ele. E porque eu me importei com aquilo. Levantei uma sobrancelha. “Então, Senhorita Brown, esse é o seu monitor, Adriel Crista.”

Ele se aproximou de mim, sério. Minha expressão foi um reflexo da sua. Mas, no momento em que nossas peles se encostaram no aperto de mão, senti um carga elétrica de 220 volts. Arfei, me afastando por um segundo e o encarando com os olhos arregalados. Sabia que ele tinha sentido a mesmo coisa, mas não exibia isso em sua expressão perfeitamente neutra. Só em seus olhos levemente arregalados.

Por um segundo, deixei que minha mente trabalhasse. Então encarei Caliel surpresa.

“Crista?”, apontei de Adriel para ela. “Assim como você?”

Caliel nos encarava com curiosidade, então assentiu com cuidado.

“Esse é o meu irmão mais novo.”, ela olhou para Adriel e estreitou os olhos levemente, como se estivessem em alguma piada interna. “E essa é Mellany Brown, seu novo trabalho.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora quem terá que lidar com essa pestinha é nada mais, nada menos que Adriel. Nosso querido Anjinho Tentação. Gostaram? Comentem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hope, Mais Uma Vez Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.