O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 8
Alarme Falso


Notas iniciais do capítulo

Bom... Capitulo dedicado especialmente a sthe que recomendou a fic.
Obrigada sthe e seja bem vinda ao nosso grupo de pequenas amantes. ;-)



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Sasuke acordou em tamanho sobressalto que poderia ter lançado Sakura ao chão da carruagem, não estivesse ela tão firmemente presa entre seus braços. E o sobressalto acabou por despertá-la também.

— O que houve, meu querido? — ela indagou assustada, ainda meio adormecida. — Sonhou com aquele salteador?

— Ah... Algo assim — Sasuke resmungou, passando a mão pelos cabelos, ainda sentindo a terrível pressão que o pânico causara em seu peito.

Mal podia lembrar-se do sonho que tivera, mas sabia que ele lhe parecera tão real e urgente que ainda estava preso em sua mente. Tratava-se de um jogo de cartas, com certeza, no qual as apostas iam ficando cada vez mais altas. Muito altas. E ele estava a ponto de ficar arruinado. Mas havia uma impressão de medo e de confiança louca em si próprio que o fizeram baixar a mão sobre a mesa, mostrando as cartas que, estranhamente, possuíam a aparência de notas bancárias.

Não ganhara no jogo. Seu adversário, sim, com notas mais altas. E ele, Sasuke, perdera tudo: sua honra, seu coração...

— Onde acha que estamos agora? — perguntou, tentando esquecer as lembranças do terrível pesadelo. Procurava também controlar a respiração acelerada e afastar-se de Sakura, sentindo que, de alguma forma, assim seria mais seguro. O dia amanhecia e parecia-lhe absurdo estar ainda abraçando-a, mesmo ali, na privacidade da carruagem. Embora quisesse muito continuar com Sakura nos braços, precisava afastar-se dela.

Ela tentou disfarçar um bocejo e olhou pela janela. Já não parecia disposta a permanecer nos braços de Sasuke, e ele chegou a imaginar que não passara de impressão sua a ternura que chegara a sentir em sua voz. No entanto Sakura lhe acariciara o rosto...

— Estamos prestes a passar por uma pequena ponte — Sakura informou, ainda olhando para fora. — Imagino que Newport esteja do outro lado e sinto que iremos encontrar nossos fugitivos em breve.

Ela preferiu sentar-se no banco oposto e contou a Sasuke sobre seu costume de passar por ali todas as vezes que vinha de Bath. Depois perguntou:

— Que horas são?

Ele procurou pelo precioso relógio de ouro no bolso do colete.

— Já passa das sete — disse. — Acho que seu cocheiro e o rapaz que o acompanha devem estar exaustos, isso para não falar dos cavalos.

— Espero que alcancemos Oliver e sua irmã antes que eles nem sequer tenham tempo para descansar. Assim, todos nós poderemos descansar um pouco antes de retornarmos a Bath.

Sasuke apenas assentiu, mas sem muita convicção, queria sim e muito, alcançar sua irmã antes que ela arriscasse colocar sua reputação em cheque. Mas isso significava que teria de afastar-se de Sakura novamente e, dessa vez, sem chances de uma volta.

അഅഅഅഅഅഅഅ

Seis horas depois de ter partido de Bath, a carruagem de Lady Haruno parava diante de uma hospedaria elegante, de boa aparência. E estacionou bem abaixo da placa, onde um brasão de armas antigas era a imagem que mais sobressaía no metal. Sakura encarou Sasuke e tentou parecer casual:

— Com certeza, Oliver e sua irmã ainda não devem ter saído para tomarem a estrada. — Estava envergonhada pela forma como se deixara dominar pelo medo e pela aflição na noite anterior, gritando como uma louca enquanto Sasuke e o homem lutavam dentro da carruagem, depois atacando seu defensor como cega histeria. E, com se isso não fosse suficiente, acabara por humilhar-se ainda mais ao chorar feito uma criança, agarrando-se a Sasuke como se ele fosse seu último recurso.

Ele suportara tudo com classe e compreensão, mas isso não aliviava amaneira como Sakura se sentia agora. Se aprendera alguma coisa em sua vida, era que uma mulher deve saber como viver sozinha, cuidando de si mesma contra todas as adversidades do mundo. Ninguém mais poderia fazê-lo por ela, muito menos um homem. E não permitiria que Sasuke Uchiha a convencesse do contrário.

No assento diante dela, Sasuke esticou as longas pernas e permitiu-se rir, antes de comentar:

— Bem, se o jovem Armitage conseguir tirar minha irmã da cama assim tão cedo, então ele é um homem bem melhor do que eu.

O significado de tais palavras acabou por atingir o próprio Sasuke, fazendo-o franzir a testa logo em seguida e perguntar:

— Seu sobrinho teria a decência de alugar quartos separados para ambos, não?

Por algum motivo que ela mesma desconhecia, tal pergunta a irritou.

— É claro que sim — respondeu um tanto brusca. — Meu sobrinho é um rapaz honrado. E não é pelo fato de ter sido tolo o suficiente para fugir para a Escócia com sua irmã que vai fazer algo para manchar a honra da moça. Afinal, ela não é nenhuma herdeira rica, nem ele um caça-dotes.

A emenda apresentada por alguém de uma classe mais alta na Casa dos Lordes tornara bem mais difícil para homens inescrupulosos seduzirem moças de grande fortuna. E, agora, poucos se aventuravam a seguir até a Escócia, onde as mulheres menores de idade ainda podiam casar-se sem o consentimento de suas famílias. E a maior parte dos que o faziam acabavam por desonrar a garota durante a viagem, para que o casamento acabasse sendo inevitável.

Sasuke olhou para Sakura, preocupado. Uma ideia surgira-lhe na mente e o deixava irritado.

— Está querendo acusar minha irmã de perseguir seu sobrinho por causa do dinheiro que ele tem?

— Bem, ela não seria a primeira...

Sakura arrependeu-se do que dissera assim que as palavrassoaram, mas já era tarde para recuperá-las. Emily podia ser atirada e imprudente, mas era também carinhosa e franca. Muito diferente das garotas interesseiras que haviam investido contra Oliver nas últimas temporadas que ele e Sakura haviam passado em Bath.

E, se Sakura e Sasuke encontrassem os dois namorados na Hospedaria King Arms, como ela estava certa de que aconteceria talvez nunca mais o visse. E, se pudessem brigar antes de se separarem, se sua despedida fosse cheia de mágoa e rancor, talvez fosse melhor para ambos, avaliava. Mas temia aquele olhar de dignidade ultrajada que via em Sasuke. Ainda mais porque aqueles belos olhos negros, magoados, a perseguiriam todas as noites de sua vida, por mais distante que ele estivesse.

— Poderia ficar surpresa com a quantidade de homens e mulheres que formam casais felizes, sem preocupações quanto ao dinheiro, senhora — disse Sasuke, muito sério. Poderia jogar suas palavras contra ela, numa acusação fria, mas preferia manter a calma, deixando Sakura ainda mais embaraçada com isso.

E a resposta dela veio rápida e cáustica, antes mesmo que pudesse controlá-la:

— Quando não há uma fortuna envolvida no caso, talvez.

Sasuke não demonstrou seus sentimentos, manteve-se impassível como sempre. Mas alguma coisa no brilho de seus olhos mostrou a Sakura que ela acabava de perder mais pontos diante dele.

Nesse momento, o jovem criado que acompanhava o cocheiro abriu aporta da carruagem. Tirou o chapéu e colocou-o junto ao peito, em sinal de respeito, enquanto observava Sasuke preparar-se para descer.

— Vamos acabar logo com isso — disse ele, em tom baixo.

— Com certeza — Sakura concordou, não querendo perder a pose. Deixou que ele a ajudasse a descer, sabendo que aquele toque em sua mão poderia ser o último.

Soltou-se, virou-se para a entrada da hospedaria e seguiu para lá, sem esperar para ver a reação de Sasuke. Ele que a seguisse, se quisesse.

Havia alguns hóspedes no saguão de entrada e eles pareciam estar se preparando para partir. Sakura prestou atenção para ver algum sinal de Oliver ou de Emily entre aquelas pessoas, mas não os encontrou.

Reconheceu a esposa do dono do estabelecimento, que passava por entre os hóspedes que iriam embora, levando uma bandeja com o desjejum de outros, que ela serviria no quarto, com certeza, pois se dirigia às escadas.

A bandeja estava coberta por um guardanapo e Sakura imaginou que tipo de comida haveria ali. Seu sobrinho insistia em comer ovos e peixe todas as manhãs, dizendo que esse tipo de alimentação estimulava seu raciocínio. Mais uma vez indagara-se de que maneira um cientista como Oliver podia ter se deixado enfeitiçar por uma criaturinha como Emily Uchiha. Fosse como fosse, ele precisava recuperar seu bom senso, avaliou, mesmo que tivesse de ameaçar deserdá-lo.

O dono da hospedaria apareceu, então, por trás do balcão, trazendo as contas dos hóspedes que partiam. E assim que percebeu a presença de Sakura no saguão, deixou-os para que averiguassem as contas e seguiu em direção a ela. Curvou-se exageradamente diante de Sakura e exclamou sorridente:

— Lady Haruno! Mas que grande prazer tornar a recebê-la aqui!Imaginamos que ainda ficaria algumas semanas em Bath. Eu lamento, mas o quarto que costuma ocupar estará tomado até depois de amanhã. Porém, é claro, poderemos acomodá-la muito bem, mesmo assim. Na verdade, afirmei ao Sr. Armitage ontem à noite, assim que chegou, que também a presença dele, embora surpreendente, era muito bem-vinda em nosso estabelecimento.

— Ah, então ele está aqui! — Sakura exclamou, aliviada. Tinha vontade até de abraçar o militar reformado e dar-lhe um beijo ali mesmo, diante de todos, tamanha era sua alegria por saber que sua busca tivera sucesso mais cedo do que esperava. — Se puder, por favor, levar-nos até os aposentos em que ele se encontra... Tenho um assunto urgente a tratar com meu sobrinho.

O sorriso do homem diminuiu um pouco.

— Mas... Deve haver algum engano, então, senhora. O Sr. Armitage e sua jovem noiva jantaram aqui ontem à noite, porém partiram logo em seguida para Gloucester.

Logo atrás de si, Sakura sentia a presença de Sasuke, que chegara a murmurar algo quando o hospedeiro dissera a palavra "noiva". Mas, agora, ele se mantinha calado.

— Gloucester? — ela repetiu. — Tem certeza?

— Absoluta senhora. O Sr. Armitage foi bem claro quanto a isso. Eu até pensei que a hora era muito adiantada para que eles seguissem viagem. Cheguei a dizer-lhes que talvez fosse difícil encontrarem alojamentos em Gloucester, pois era muito tarde. - O homem olhou para seus outros hóspedes, que pareciam impacientes com a demora. — Por favor, queira me desculpar, senhora, mas preciso atender aquela gente.

— Claro, claro...

Assim que ele se afastou, Sakura voltou-se para Sasuke.

— Por que ele estaria com tanta pressa? — indagou, contrariada. —Sempre paramos aqui quando estamos seguindo para Trentwell.

— Parece-me que o motivo é bastante óbvio, não? — Sasuke rebateu. —Estão ansiosos para chegarem a Gretna quanto antes. Além do mais, seu sobrinho é esperto, deve ter imaginado que, se você viesse atrás dele, este seria o primeiro lugar em que pararia.

Sakura respirou fundo. Ele estava visivelmente calmo e controlado, enquanto ela sentia que o chão lhe fugia sob os pés. Contava em encontrar Oliver ali e acabar com aquela perseguição o mais rápido possível!

— Se continuarmos a viagem, poderemos chegar a Gloucester antes que eles saiam de lá? — perguntou ansiosa.

— Bem, são mais de trinta quilômetros... E com a feira de rua para nos atrapalhar... Vamos chegar apenas por volta do meio-dia.

Sakura se impacientava. Se pudesse pôr as mãos em Oliver e Emily, poderia estrangulá-los por lhe causarem tantos problemas. A última coisa de que precisava no momento era continuar perseguindo-os pelo país.

— Além do mais — Sasuke acrescentou pensativo, apontando para a janela por onde Sakura podia divisar a carruagem. — não podemos simplesmente entrar na carruagem e seguir viagem. Precisamos de cavalos descansados e alimentados, e seu pobre cocheiro e o coitado do rapaz precisam descansar. E temos também o problema do bandido. Precisamos entregá-lo às autoridades locais e prestarmos queixa do que aconteceu.

O mundo inteiro parecia estar conspirando contra ela, Sakura analisou aborrecida. Sentiu as mãos suadas e o estômago revirando. Não tivesse ficado tão nauseada na noite anterior, ficaria agora, ali, diante de todas aquelas pessoas. Pior ainda: diante de Sasuke Uchiha!

അഅഅഅഅഅഅഅ

Seria bem feito para ela se a deixasse ali mesmo, Sasuke dizia a si mesmo. Com o que ganhara no jogo da noite anterior, poderia continuar perseguindo Oliver Armitage e Emily sozinho deixando Sakura para trás. Mas aquelas doces horas, depois que a defendera do bandido, ainda estavam em sua memória, mesmo tendo ela deixado bem claro, depois, que não queria seus conselhos, sua ajuda ou sua companhia. Então, analisava, por que não a deixava e seguia seu caminho? Lady Haruno que cuidasse de si mesma!Qualquer homem racional agiria assim.

Até o momento, porém, ele sempre se vangloriara de ser um homem racional. Mas conhecera Sakura, perdera-se na beleza de seus incomparáveis olhos verdes, e sua vida estava perdida...

Prestou mais atenção a esses mesmos olhos e notou-os opacos; na verdade, Sakura estava com uma aparência muito deprimida.

— O que houve minha cara? — perguntou. — Não me parece bem.

— E você ainda tem que aprender muito sobre ser um cavalheiro, Sr. Uchiha! — ela rebateu subitamente ríspida. — É claro que não pareço bem! Como queria que eu estivesse?! Fui acordada no meio da noite com os seus gritos, levada a fazer uma viagem no meio da madrugada! Fui atacada por um salteador de estrada! E agora estou diante da possibilidade de perseguir meu sobrinho por metade do país! Eu, provavelmente, quebraria um espelho se olhasse para um no estado em que me encontro!

Os outros hóspedes estavam lançando olhares inquisitivos e curiosos para eles agora. Sasuke detestava ser objeto de curiosidade. Puxou Sakura para um local mais discreto, pouco abaixo das escadas, e explicou:

— Eu não disse que a sua aparência estava ruim, e você sabe muito bem disso. Está linda como sempre. Mas é que... Parece-me... Doente.

Ela se preparava para rebater novamente, porém Sasuke ergueu as mãos, num gesto de defesa e rendição:

— Está bem, admito que tenha todo o direito de sentir-se doente pelo que vem acontecendo nas últimas horas. Mas não diga nada agora, apenas ouça o que tenho a dizer: você precisa de descanso e de comida, bem como seus criados e os cavalos. Vou cuidar disso com o hospedeiro. Então, enquanto estiver se recuperando da viagem desta noite, vou cuidar para que alguém cuide daquele fora da lei.

Sakura esperou até que Sasuke terminasse, para perguntar:

— E o que propõe que façamos depois?

— Bem... Vamos ter que conversar. Para decidirmos nosso próximo passo.

— Está bem, então.

Ele estava surpreso por ter conseguido convencê-la tão facilmente.

— Tem certeza?

Mais uma vez, os olhos dela lançaram chispas verdes de irritação em sua direção.

— Mas que tipo de pergunta é essa?! Acha que me oponho a você por... Diversão?

— Não, claro que não! — Sasuke mentiu. — Eu só quis dizer que... Bem, não importa. — O que poderia dizer que não o metesse ainda num problema maior?

Os hóspedes, tendo pago suas contas, partiram com um certo burburinho, o que chamou a atenção de Sakura, desviando-a da conversa, para alívio de Sasuke.

Assim que o saguão ficou vazio, ele se aproximou do hospedeiro e explicou:

— Vamos ter que seguir viagem antes do anoitecer, mas, nesse meio-tempo, Lady Haruno, seu cocheiro e o criado que a acompanha precisarão de acomodações para poderem descansar.

Os olhos do homem brilharam.

— É sempre um prazer abrigar Lady Haruno, senhor!

— Ah, e os cavalos também precisam de cuidados.

— Providenciarei para que os rapazes do estábulo deem um tratamento todo especial a eles, fique tranquilo, Senhor...

— Uchiha. Sasuke Uchiha. — Sasuke não gostou muito da forma com que o homem o olhava. — Sou um velho amigo da família de Lady Haruno. A... Noiva do sobrinho dela é minha irmã.

— Ah, de fato, senhor? — O rosto do hospedeiro se iluminou como sempre acontecia quando as pessoas falavam de Emily. — Ela é uma criatura adorável! Não imagino como um rapaz calado e sisudo como o Sr. Oliver Armitage conseguiu ficar noivo de alguém tão cheia de vida, mas eu sei que o amor é frequentemente cheio de contrastes, não é mesmo?

— Acredito que sim — Sasuke concordou, imaginando se era assim também em relação aos sentimentos intensos e profundos que ele tinha em relação à Sakura. — A propósito, minha irmã ou o Sr. Armitage mencionaram algo sobre o local onde se hospedariam assim que chegassem a Gloucester?

— Para falar a verdade, senhor, eles me perguntaram se eu poderia aconselhar algum local em que fossem bem recebidos tãotarde da noite.

— E o senhor o fez? — Sasuke esforçava-se para não parecer tão desesperadamente interessado nas informações quanto estava de fato.

— Bem, minha esposa tem um primo que possui uma taverna na parte antiga da cidade, entre a catedral e a prefeitura. Ela não fica tão lotada quanto às hospedadas das estradas que ligam Londres a Bristol. Eu disse ao Sr. Armitage que seria fácil ele e sua noiva encontrarem acomodações por lá, mesmo que chegassem muito tarde.

— Bem, obrigado por tê-los aconselhado. — Sasuke retirou uma moeda do bolso e ofereceu ao hospedeiro, e fez uma pequena cena para não aceitá-la, até que enfiou rapidamente no bolso da calça, dizendo:

— Vou cuidar imediatamente das acomodações de Lady Haruno e seus criados, senhor.

— Ah, mais uma coisa! — Sasuke pediu.

— Pois não, senhor.

— Tivemos um pequeno problema a caminho daqui... um salteador.

— Oh, não me diga, senhor! — Os olhos do hospedeiro se arregalaram. — Espero que ninguém tenha ficado ferido! Esse bandido tem causado sérios problemas durante toda a primavera! O senhor não é o primeiro hóspede que reclama de suas atividades.

— Espero ser o último, então. — Sasuke assentiu em direção à porta. — Trouxemos o infeliz conosco, para apresentá-lo às autoridades locais. Onde posso levá-lo?

— Bem, eu o lavaria a Berkeley, Sr. Uchiha. — O hospedeiro apontou para uma direção que, para Sasuke, pareceu ser noroeste. — Vão cuidar dele lá e acho que ficarão muito agradecidos ao senhor por entregá-lo.

O hospedeiro se afastou para tomar as providências quanto à acomodação de seus novos hóspedes, e Sasuke voltou para junto de Sakura, que se acomodara numa cadeira próxima. Notava, mais uma vez, o estado deplorável em que ela se encontrava, parecendo-lhe mais abatida do que deveria estar. Mas cuidou para nada dizer e não acender novamente a irritação dela. Culpado, imaginava que Sakura poderia ter dormido bem melhor se tivesse se deitado no banco oposto, em vez de ter ficado em seus braços. Ajoelhou-se diante dela e tomou-lhe uma das mãos. Sentia-a mais quente do que minutos antes, mas não muito.

— O hospedeiro me disse que poderão cuidar do bandido em Berkeley. Vai ficar bem até eu voltar de lá?

— É claro que sim. — Ela se endireitou na cadeira. — Não sou nem criança e nem velha. Não preciso de babá. Por mim, poderia levar aquela criatura asquerosa até Londres, se quisesse. Posso cuidar muito bem de mim mesma.

Sasuke assentiu de leve. Ela era, de fato, inquebrantável e teimosa. E desprezava seus cuidados como se ele não tivesse papel mais importante em sua vida do que o cocheiro ou o criado que trouxera. Levantou-se, um tanto irritado com a ideia, e indagou com ironia:

— Tão bem quanto ficou a noite passada, na carruagem?

Sakura fuzilou-o com o olhar.

— Ah, então agora seria o momento apropriado para a repreensão que esteve guardando desde ontem à noite! — replicou. — Imagino que não deva estar menos amarga, agora, no desjejum...

Sasuke jamais vira esse lado desagradável do temperamento de Sakura. Engoliu em seco, repreendendo-se interiormente por ter se deixado envolver por ela, pela paixão que lhe despertava. Qualquer homem de bom senso devia ter imaginado que uma rosa tão vibrante e linda devia ter grandes espinhos... E, agora, estava sentindo a dor que eles provocavam.

— Ontem à noite, você bem que merecia uma reprimenda — concordou. — Tentei mostrar certa compreensão, imaginando que já tivesse aprendido a lição de forma mais dura do que qualquer das minhas palavras poderia ensinar-lhe.

Sakura levantou-se, indignada com a audácia daquelas palavras.

— Você é bem presunçoso! Como ousa repreender-me como se eu fosse uma de suas irmãs?!

— Minhas irmãs têm muito mais res... — Ele se interrompeu, sabendo que não deveria chamar atenção sobre ambos, ainda mais porque agora outros hóspedes desciam para o saguão. Baixou a voz, porém sua irritação ainda era evidente. - Podemos continuar esta discussão em particular quando eu voltar de Berkeley. Nesse ínterim, sugiro que coma algo e descanse.

— Eu já lhe disse que sou capaz de cuidar de mim mesma.

Se ficasse ali mais alguns segundos, a teimosia dela o forçaria a agarrá-la pelos ombros e dar-lhe umas boas sacudidelas. Pior ainda: a animosidade entre ambos poderia levá-lo a tomá-la em seus braços e dar-lhe um beijo tão feroz e intenso que causaria espanto aos outros hóspedes, para depois virar folclore nas histórias que se contassem sobre incidentes acontecidos na King's Arms.


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