O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 4
Expulso




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No quarto, Sakura arrumava suas roupas, prestando atenção a Sasuke do lado de fora. Os argumentos dele para seguir em seu lugar atrás do casal fugitivo eram bons, quase chegara a aceitá-los. Mas acabara por não fazê-lo devido a uma última consideração do caso.

Sasuke Uchiha tinha um coração muito mole e seus motivos para querer evitar aquele casamento tolo eram bem menos urgentes do que os dela. E se, ao alcançar Oliver e Emily, acabasse por deixar-se convencer de que eles se amavam e que entendiamtodas as consequências do que estavam fazendo? Avaliava. Como se eles pudessem entender alguma coisa...

Provavelmente, Sasuke acabaria até abençoando a união dos dois... E os três voltariama Bath para dizer-lhe que tudo estava resolvido. O que ela poderia fazer a respeito, então?!

Sakura fechou a mala, ainda pensando, Sasuke podia ter uma influência legal sobre a irmã, mas era ela, Sakura, quem tinha influência financeira sobre Oliver e não teria escrúpulos em exercê-la, se fosse preciso. Aquela fuga do casal a colocara numa situação muito difícil. Uma situação em que seria a única a perder, e muito. Não podia vacilar.

Não ouvia mais nada do outro lado da porta, e sentiu-se aliviada. Chegou mais perto e perguntou, em voz baixa:

— Sasuke? Você ainda está aí?

Houve alguns segundos de silêncio, depois ele respondeu:

— Sim.

Sakura respirou fundo. Olhou para o vestido que separara sobre a cama, precisava trocar de roupas, mas, de alguma forma, não conseguia fazê-lo com Sasuke assim tão perto. Nem mesmo com aquela grossa porta de madeira maciça entre ambos.

— Então... Adeus — disse. — Prometo trazer Emily para você sã e salva, assim que puder.

— Se... Está assim tão decidida a ir, Sakura, poderia, então, levar-me com você?

Ela cerrou os olhos. Agradecia a Deus por aquela porta estar entre ambos. Se tivesse de olhar nos olhos de Sasuke agora, sua resposta seria outra.

— Não, Sasuke.

— Sei que pode parecer estranho diante das circunstâncias, mas somos dois adultos civilizados. Podemos fazer essa viagem juntos, por um ou dois dias, sem...

Sakura pegou a sineta que usava para chamar os criados e sacudiu-a com violência.

— O que propõe está fora de cogitação, Sr. Uchiha — disse em voz alta e clara. — Agora, por favor, vá embora!

Ela ouviu os passos apressados que se aproximavam pelo corredor e depois a voz de Sasuke, complacente:

— Está bem, está bem, estou saindo!

Se aquelas palavras eram dirigidas aos criados ou a ela, Sakura não saberia afirmar. E, enquanto esperava que o tumulto no corredor se acalmasse, sentou-se diante da penteadeira e começou a se pentear. Pegou a escova e viu que, logo ao lado, encontrava-se, bem dobrado, o lenço que Sasuke costumava usar ao pescoço. Sakura tocou-o com dedos trêmulos. Uma de suas criadas devia tê-lo encontrado enquanto arrumava o quarto.

Aquela era a primeira e única peça que ele deixara ali, traindo sua presença. E Sakura agora se lembrava, com saudade, dos momentos em que Sasuke estivera ali, com ela, despindo-se antes de se amarem... Tinham sido tantas às vezes e de formas diferentes. Em muitas ocasiões eles se ajudavam mutuamente a retirar as roupas, deliciando-se a cada momento, acariciando-se, vivendo aqueles momentos com um prazer indescritível.

Apertou o lenço de seda entre os dedos e levou-o ao rosto, aspirando-o de leve, deliciando-se com o suave aroma de colônia que ainda restava no tecido. Sentiu que seus olhos se enchiam de lágrimas e, deixando a peça sobre a penteadeira, olhou-se no espelho, resistindo, teimando em ser forte. Não queria sentir-se uma tola sentimental. Aquele não era o momento para chorar ou para ter devaneios com Sasuke Uchiha. Precisava manter-se sensata e fria para agir, para sair da situação em que se encontrava não por vontade própria, mas pela impulsividade de seu sobrinho e de Emily Uchiha.

Ouviu batidas suaves na porta e seu coração se acelerou de imediato.

— Sr. Uchiha! — gritou. — Será que vou ter de chamar meu mordomo também e fazer com que meus advogados movam uma ação contra o senhor por invasão de privacidade?!

— O cavalheiro já se foi, senhora — Hetty, sua criada pessoal, informou em tom tranquilo. — Na verdade, ele não causou problema algum para sair. E, como vi a luz sob a sua porta, imaginei que a senhora talvez estivesse precisando de mim...

Sakura acalmou-se, foi até a porta e a destrancou.

— Obrigada, Hetty — agradeceu à criada quando esta entrou no quarto. — Acho que vou precisar de você, sim. Imagino que a presença do Sr.Uchiha já tenha acordado a casa inteira. Por favor, peça a Ned e ao Sr.Hixon que preparem a carruagem e façam suas malas para viajarem comigo para o norte. Pretendo partir dentro de uma hora.

A criada encarou a patroa com olhos assustados, mas, como não lhe competia indagar nada, disse apenas:

— Pretende ficar fora muito tempo, senhora? Quer que eu faça suas malas? Ou que me arrume para ir em sua companhia?

Sakura chegou a considerar a ideia, depois respondeu:

— Não, acho que não.

Caso se tratasse da antiga criada Alice, que ficara com ela por mais de oito anos, Sakura teria aceitado a oferta pela companhia. Mas, desde que Alice deixara sua casa para casar-se com um próspero açougueiro, Sakura acabara ficando com Hetty, que era muito diligente, muito solícita, mas falava demais.

Em breves conversas, Hetty podia até ser divertida, porém numa carruagem, por tantas horas, sua companhia não parecia ser muito interessante para Sakura. Preferia ficar sozinha com seus pensamentos e seus planos para o futuro.

— Não vou me demorar muito — acrescentou. — Um ou dois dias no máximo. E acho que posso ficar sem uma criada nesse meio-tempo.

Hetty pareceu sentir-se aliviada e abafou um bocejo.

— Se é assim, vou dar seu recado a Ned e ao Sr.Hixon.

A moça fez uma pequena mesura e deixou o quarto, mas, antes que Sakura fechasse a porta novamente, voltou para dizer-lhe:

— Quer que eu peça a Cook para preparar-lhe uma xícara de chá antes que parta senhora? Ou então que prepare uma cesta com algo para a senhora comer durante a viagem?

A simples menção à comida fez o estômago de Sakura revirar.

— Para os homens, sim, mas não para mim — respondeu. Fechou a porta e correu até a bacia que mantinha sobre a cômoda, para aliviar as náuseas que a tomavam.

Depois molhou a ponta de uma toalha na água morna que era mantida em sua lareira e passou-a pelo rosto. Em seguida, sentou-se mais uma vez diante da penteadeira. Olhou-se no espelho e notou sua palidez.

Depois de doze anos de casamento e de viuvez, a providência parecia ter-lhe pregado uma peça. Acordava todas as manhãs nauseada e seu ciclo menstrual fora interrompido. Logo seu ventre começaria a crescer e, no verão, ela estaria tão redonda que não caberia mais em seus vestidos... Sasuke Uchiha, sem saber, realizara-lhe o grande sonho de sua vida; um que ela não mais esperava poder transformar em realidade. Um filho. Mas, justamente por isso, ele criara a necessidade de ser expulso da vida de Sakura...


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