O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 15
Encontramos!?


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela demora, mas conteceram algumas coisas.
Prometo tentar explicar em breve, por enquanto fiquem com esse capitulo.
Até outro dia.



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— Há uma coisa que ainda não entendo — disse Sakura, momentos depois de ela e Sasuke terem trocado de lugar com seus criados, na boleia. — Como seu cunhado conseguiu tornar-se proprietário de um lugar tão grande quanto Heartsease? Parece-me que você disse que ele não tinha fortuna...

— Não tinha, de fato, quando éramos adolescentes. — Sasuke mantinha sua atenção voltada para os cavalos e a estrada que se abria à sua frente. — Pelo menos, não muito. Mas possuía o suficiente para conseguir pagar a escola e ainda sobrar um pouco. Porém meu grande amigo voltou da Espanha, onde viveu durante algum tempo ao lado do general Jiraya, como um grande herói. E, como resultado da fama que conquistou como soldado acabou chamando a atenção de... — Ele se interrompeu.

Sakura olhou-o, estranhando a interrupção da narrativa. Mas logo entendeu.

— Chamou a atenção de uma mulher muito rica — ela completou por ele. — Seu amigo se casou com uma herdeira muito rica.

Sasuke assentiu.

— Que pena — Sakura comentou. Sentia o estômago apertar. — Eu estava gostando desse Sr. Uzumaki... Até agora.

— Naruto não se casou com essa mulher por causa dinheiro dela — Sasuke explicou. — Não é como está pensando, Sakura. — Ele a amava. Bem, pelo menos, achava que sim. A princípio.

Uma carruagem dos correios os alcançou nesse instante, e parecia estar atrasada, pois o cocheiro não poupava os animais, seguindo a toda velocidade. Dois rapazes, que ocupavam os locais mais baratos do lado de fora do veículo, olharam com certa curiosidade para Sakura, já que ela, uma dama, estava sentada no local onde deveria estar o acompanhante do cocheiro. E ela quase não pôde resistir à tentação de mostrar a língua a eles.

Quando, por fim, a carruagem dos correios se distanciou o suficiente para que não precisasse gritar para ser ouvida, Sakura observou:

— Pelo que parece, a primeira esposa de seu cunhado não estava à altura das expectativas dele.

Quando o amor desaparecia num casamento, nenhuma quantia em dinheiro conseguia ser um bom remédio. Sakura sabia que, diferentemente da primeira esposa de Naruto Uzumaki, ela, pelo menos, sobrevivera ao seu casamento para levar uma vida independente. A ideia de morrer e não ter sua perda lastimada pelo marido, e, além disso, saber que ele poderia estar gastando sua fortuna para atrair uma segunda esposa, fez com que Sakura se sentisse ainda mais indignada.

Por isso preferiu guardar silêncio, a fim de que a história que Sasuke acabara de lhe contar não servisse de pretexto para enveredarem numa discussão. Minutos depois, porém, ele falou novamente:

— A verdade é que Naruto não estava à altura das expectativas da esposa. Nunca o ouvi dizer uma só palavra que fosse contra a primeira sra. Uzumaki, mas Hinata acabou por revelar alguma coisa, certa vez. E conheço meu amigo muito bem para saber que seu primeiro casamento não deve ter sido nada fácil.

— E como acha que foi esse casamento? — Sakura quis saber, sentindo que seu tom era mais agudo do que pretendia.

Sasuke deu de ombros e olhou-a por instantes. Então explicou:

— Parece-me que aquela senhora achava que havia comprado Naruto. Pela fama que ele tinha, suponho, ou, talvez, por sua boa aparência. Embora tenha tido uma infância e adolescência difíceis, Naruto tornou-se um homem muito atraente. E sua esposa, provavelmente, achava-se no direito de dar-lhe ordens como se ele fosse um de seus criados.

Mesmo se Sasuke a tivesse golpeado com o chicote, que ele não usara uma única vez com os cavalos, Sakura não se sentiria tão atingida quanto por aquelas palavras. Jamais tratara Kakashi da forma que a primeira esposa de Naruto Uzumaki fizera com o marido. Pelo menos achava que não.

E imaginava se Sasuke estaria achando que ela poderia tratá-lo dessa forma caso ele fosse tolo o suficiente para desposá-la.

Puxou o casaco mais sobre os ombros, como para se proteger dos próprios pensamentos, e olhou para a paisagem que parecia correr ao longo da estrada. Ali estavam os limites de Shropshire, Worcestershire e Staffordshire, misturando-se de forma estranha e interessante. Uma mistura de divisas tão inquietante quanto suas próprias emoções.

— Uma diferença muito grande na conta bancária pode estragar um casamento — comentou. E não sabia ao certo se estava tentando desculpar suas atitudes passadas ou acautelar a si mesma e a Sasuke quanto a flertar com ilusões perigosas de felicidade.

Mais uma vez, um pesado silêncio caiu entre ambos, e foi Sasuke, novamente, quem o quebrou:

— Naruto disse quase a mesma coisa a Hinata quando voltou pela primeira vez com seu filhinho, depois da morte da esposa.

Tais palavras foram seguidas por um breve sorriso de Sasuke, o qual Sakura estranhou. Ouviu-o prosseguir, ainda rindo:

— Meu pobre amigo quase arruinou suas chances com minha irmã naquele momento. Não fazia ideia de quanto nossa fortuna fora diminuída naqueles últimos anos, e Hinata era orgulhosa demais para dizer-lhe a verdade. E, quando, por fim, ele acabou descobrindo, imaginou o pior: que Hinata nada lhe dissera por que estava atrás do seu dinheiro!

— Oh, que horror! — Sakura exclamou, achando todo esse assunto sobre dinheiro simplesmente horrível. Mas seu coração era solidário para com Naruto e Hinata e o amor profundo que parecia uni-los. Se estivesse no lugar de qualquer um deles, ponderava, teria agido e pensado da mesma forma.

— Não é um bom negócio guardar segredos — Sasuke observou sério. — Em especial quando escondemos algo da pessoa amada. De alguma forma, aquilo que estamos tentando esconder acaba por vir à tona nos piores momentos possíveis! E isso torna a situação ainda pior do que antes.

Sakura sentiu como se todo o ar tivesse sido drenado de seus pulmões. E, por uma fração de segundo, imaginou que poderia até cair da boleia da carruagem. Como Sasuke reagiria se soubesse que ela estava escondendo dele algo tão importante? Perguntou-se, aflita Não era difícil de imaginar a resposta. Ele a detestaria por não lhe ter contado e nada o impediria de insistir mesmo assim, para que se casassem, apenas por responsabilidade e senso de dever. E isso não seria uma boa base para um relacionamento duradouro, como não fora a troca de fama e riqueza entre Naruto Uzumaki e sua primeira esposa.

Algum sinal de seu desassossego devia ter surgido em seu rosto ou em sua atitude, pois Sasuke segurou as rédeas com uma só mão e passou o outro braço por seus ombros, atento, carinhoso.

— Algo errado, meu amor? Já ouvi dizer que a velocidade e o movimento da carruagem podem deixar as pessoas zonzas, em especial aqui em cima. Quer que eu pare para que troquemos de lugar com o Sr. Hixon novamente?

— Não, não... Estou bem — ela assegurou, tentando parecer sincera. — É que imaginei que deve ter sido terrível para o Sr. Uzumaki e sua irmã... Como tudo se resolveu, afinal?

— Para dizer a verdade, eu dei uma ajudazinha. Sasuke reduziu a velocidade dos cavalos, já que estavam se aproximando de uma pequena aldeia. — Foi uma pequena armação, sabe? — Ele parecia orgulhoso do que fizera. — Eu sabia que nem o meu amigo nem minha irmã poderiam suportar a ideia de que ela poderia estar interessada nele por sua fortuna. Assim, sugeri que ele dissesse que havia perdido tudo o que possuía em maus investimentos.

— Ah, mas isso foi um truque baixo! — Havia uma semana, Sakura não acreditaria que Sasuke fosse capaz de criar uma mentira desse tipo, mesmo que para ajudar alguém. Mas, desde a noite em que ele invadira sua casa em busca de Emily, mostrara-se um homem de características ocultas e sempre muito agradáveis... — E sua irmã acreditou nessa história? — quis saber.

— E por que não acreditaria, depois do que havia acontecido a nosso próprio pai? Como eu esperava a perda da fortuna de Naruto, mesmo sendo uma grande mentira, não abalou os sentimentos de Hinata por ele. E se casaram pouco depois, são felizes até hoje, sabe? Muito felizes. Eu seria até capaz de invejá-los se não os amasse tanto.

Sakura sorriu, percebendo a sinceridade dele.

— E o que Hinata disse quando descobriu que seu marido tinha mentido sobre a perda da fortuna? — perguntou. — Afinal, essa mentira não foi tão ruim quanto o fato de ela ter escondido que seu pai tinha perdido tudo, não é mesmo?

— Talvez não. — Sasuke pensou por instantes, depois acrescentou: — Mas acho que Hinata entendeu que aquela mentira serviu apenas para torná-los muito felizes e foi capaz de perdoar tudo. — Sasuke sorriu de leve, depois disse ainda: — Ou talvez ele apenas lhe tenha contado tudo após fazerem amor em sua noite de núpcias...

— Oh, verdade? — Sakura riu também, mesmo sentindo certa inquietação. Poderia perdoar qualquer coisa a Sasuke caso ele lhe contasse o que acontecera depois de terem se amado? Indagava-se, sem saber qual poderia ser a resposta. E, apenas por brincadeira, perguntou: — E se eu lhe dissesse que perdi a minha fortuna?

Sasuke riu abertamente. Mas, depois de pensar por alguns segundos, respondeu sincero:

— Eu lhe diria o que Hinata disse a Naruto. Não faria diferença alguma para mim se você fosse rica ou pobre.

Sakura gostaria de poder acreditar. Mas aquilo tudo não passava de uma conjectura.

— Espere — ele acrescentou logo em seguida. —Acho que faria certa diferença, sim. Porque eu preferiria ter você sem fortuna alguma, sabe? Porque, assim, você poderia ter certeza de que os meus sentimentos são verdadeiros, e não haveria nenhum comentário detestável sobre eu a querer pelo seu dinheiro, muito menos sobre você querer comprar um marido.

Com aquelas palavras, ele fazia a calamidade da perda de sua fortuna parecer uma bênção, Sakura avaliou pensativa. A não ser pelo fato de que isso também significaria a perda de sua independência tão duramente conseguida. E ela jamais desistiria da liberdade que conquistara.

— E se eu lhe dissesse que o fato de eu não poder ter filhos foi apenas um engano e que sou perfeitamente capaz de engravidar? — perguntou, de repente, arriscando muito mais do que estava pronta a ouvir.

Desejou não ter feito àquela pergunta, mas já era tarde. Assim, insistiu:

— Isso faria alguma diferença para você, Sasuke?

Sakura prendia a respiração, na ansiedade de ouvir a resposta. Se ao menos isso não significasse tanto para seu coração!

— Eu gostaria de poder lhe dizer que não, minha querida. — Ele apertou o braço que ainda a prendia, depois a soltou para segurar as rédeas com ambas às mãos outra vez. — Mas acho que isso, sim, faria uma grande diferença.

Para Sakura, foi como se seu coração tivesse caído por entre as rodas da carruagem e sido esmigalhado por elas. Estava muito bem para Sasuke falar sobre guardar segredos, mas sua consciência pesava ao ouvi-lo. Mesmo deixando de lado aquela detestável questão do dinheiro, jamais poderia se casar com um homem que a visse apenas como uma égua parideira. Mesmo tendo o filho desse homem crescendo em seu ventre naquele exato momento...

അഅഅഅഅഅഅഅഅ

Ele a ferira profundamente. Mas ela não se deixava dobrar. Ao contrário, tinha no rosto uma máscara de puro divertimento ao continuar a conversa com uma trivialidade que deixava Sasuke admirado, imaginando que ele poderia estar conversando com qualquer amigo despreocupado, irresponsável até, como Nara Shikamaru.

No começo da tarde, pararam em Wolverhampton Para cuidar dos cavalos. Depois o Sr. Hixon e Ned reassumiram seus lugares na boleia, parecendo bastante recuperados por terem podido dormir por algumas horas. Sasuke e Sakura voltaram para dentro da carruagem, usufruindo novamente o conforto e a privacidade de seu interior durante a última parte da viagem até Trentwell.

Sasuke começou a contar outra história sobre as escapadas que ele, Emily, Hinata e Naruto tinham feito naqueles verões passados em Barnhill, mas Sakura logo mudara o assunto para algumas trivialidades da vida social em Bath.

E ele percebeu que estava sendo forçado a ficar novamente a certa distância dela; era como se tivesse cometido o grave erro de querer, de alguma forma, ficar próximo demais. E, mesmo rindo com o que ela dizia, sentia-se ferido.

Aos poucos, porém, passou a prestar menos atenção ao que Sakura dizia, e só assentia e sorria de vez em quando, quando lhe parecia que era isso que ela estava esperando de sua parte. Preferia olhá-la, maravilhar-se uma vez mais diante da beleza daqueles olhos tão verdes, daqueles cabelos sedosos, daquela pele clara, daquela boca sensual, rosada. Gostava de ouvi-la falar, de vê-la mover a cabeça e as mãos para enfatizar o que estava contando.

Sentia-a agradavelmente familiar, uma intimidade que crescera naquelas últimas semanas que ambos haviam partilhado. Também sentia uma ponta dolorida de tristeza ao lembrar-se de que logo teriam de se separar, e que aqueles momentos todos se tornariam meras recordações suaves para o futuro.

Uma semana antes, no entanto, a atitude de Sakura poderia tê-lo enganado. Mas o tempo e as confidencias que haviam partilhado desde muito antes daquela viagem tinham-no presenteado com uma visão interior muito mais intensa de Sakura. O que ele dissera sobre sua esterilidade fazer diferença no relacionamento de ambos a tocara fundo, tinha certeza. Ela estava magoada. E agora criava uma espécie de divertimento para disfarçar seus sentimentos feridos. Não podia arriscar que ele lhe desse outro golpe tão dolorido. E Sasuke indagava-se se estava assim tão errado por ter dito a verdade.

Outro homem poderia ter sido diplomático e teria encontrado uma evasiva ou uma mentira que a mantivesse calma. Mas Sasuke nunca fora muito bom em enganar. Além do mais, amava Sakura demais para dizer-lhe qualquer outra coisa que não fosse à verdade. Queria ter seus próprios filhos, não para ter simplesmente herdeiros em uma dinastia de tradição, ou para levar adiante o nome da família Uchiha, mas porque gostava de crianças, queria ter as suas, amá-las, criá-las com carinho e compreensão. Queria poder ensinar tudo o que sabia e dar a seus filhos as oportunidades que ele nunca tivera. Conseguira dar uma boa educação a suas irmãs e achava que poderia fazer ainda melhor com seus próprios filhos, pois neste caso abraçaria a responsabilidade que teria com eles desde o momento em que chegassem ao mundo. Antes até, por vontade própria, e não porque o destino lhe colocasse nas mãos a incumbência de educar alguém. E estaria pronto para ser o provedor e educador, o pai carinhoso, sempre presente, que o seu próprio nunca fora.

Se tivesse a mais vaga chance de trocar toda a fortuna de Sakura pela oportunidade de ter filhos com ela, sabia que aceitaria de imediato, sem pensar duas vezes. Mas, infelizmente, algumas coisas na vida eram preciosas demais para poder ser compradas.

— Imaginei que a minha história fosse divertida — Sakura comentou, em tom de queixa. — Talvez eu não a tenha contado muito bem, pois você está sério e pensativo.

— Não, não. Não se trata disso. — Sasuke não queria magoá-la de forma alguma. Mas nem se lembrava do que ela estivera dizendo nos últimos minutos. — Você sempre tem um jeito todo especial de contar fatos.

— É mesmo? Por que, então, essa expressão apreensiva em seu rosto?

Sasuke ergueu os ombros, sem saber como explicar. Por fim, declarou:

— Acho que não tenho sua habilidade para esconder meus reais sentimentos, Sakura.

— Esconder? — Ela deixou de lado o sorriso e abriu mais os olhos. Mau sinal, ele sabia. Estava irritada. — Não faço ideia do que esteja falando!

Mas Sasuke queria levar adiante o assunto que começara; então rebateu sério:

— Faz, sim. — E inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, para olhá-la mais de perto e fazer com que o brilho de seus incríveis olhos negros mergulhasse-nos dela. — Mas talvez eu não devesse estar mencionando o fato, certo? Não é uma atitude, digamos... Política de minha parte. Eu não diria que estou apreensivo, como você observou, mas apenas um tanto arrependido.

— Ah, arrependimentos... — Sakura comentou, mordendo o lábio inferior e olhando-o com ar caprichoso. Em seu tom de voz, agora, havia seriedade, e ela deixou de lado a máscara que, de fato, estivera usando até o momento. — E quem não os tem?

— Você se arrepende, não? De haver se envolvido com um sujeito sem dinheiro e aborrecido como eu, que se recusa a manter uma distância respeitável de você, que a sufoca com a sua presença, e que não sabe reconhecer quando um romance chegou ao fim.

Sakura sentiu-se atingida por aquelas palavras. Porque não era isso o que pensava dele, mas fora o que lhe dissera para conseguir que Sasuke se afastasse de seu caminho. E, num esforço, tentou sorrir e usar a máscara novamente. No entanto, diante dos olhos dele, sentia-se como um livro aberto, no qual ele podia ler nas entrelinhas.

— Jamais me arrependerei do que vivemos juntos, Sasuke — declarou, por fim, sem conseguir fingir. E estendeu as mãos para tocar as dele. — Mas eu me arrependo do que lhe disse ontem à noite, e muito mais se lhe dei a impressão de que não quero estar mais em sua companhia.

Aquele carinho tão singular nas mãos dele mostrava a Sasuke que ela estava sendo sincera, que se encontrava diante da verdade dolorida que a ferira, como a ele próprio.

— Eu não o culparia por arrepender-se de se envolver com uma herdeira mimada e caprichosa, egoísta demais para se importar com os sentimentos alheios. — Sakura completou, num murmúrio.

— Você não é egoísta — ele discordou. — O que faz é agir em defesa própria, nada mais.

— Acha mesmo? — O olhar dela, suave, terno, fazia-o querer tomá-la em seus braços. — Talvez sim. Porque desde que me entendi como gente, eu sempre tive de me proteger sozinha. — Sakura baixou a voz até torná-la um sussurro, como se o teor do que estava dizendo a assombrasse de alguma forma. — E, muitas vezes, até mesmo daqueles que estavam mais próximos a mim.

— Jamais de mim, Sakura.

Ela retirou suas mãos das dele abruptamente, rindo de leve, num tom que o lembrava do vento frio do inverno passando por delicados desenhos de gelo nos ramos das árvores. E ouviu-a afirmar, fria:

— De você, principalmente, Sasuke Uchiha. Porque você me entende bem demais, e isso o torna muito próximo. Demasiado. E é mais difícil me proteger assim. E você insiste em fazer com que eu me importe a cada dia mais com a sua presença, com o seu carinho... Faz com que eu me apegue a você, o que não quero.

Tal declaração deixou-o calado por momentos, tomado de surpresa. Sakura continuou falando, vendo a expressão de assombro que surgia no rosto de Sasuke, fazendo-o recostar-se muito lentamente no banco:

— Não me arrependo do que partilhamos, Sasuke. Mas temo vir a arrepender-me demais se não for cuidadosa.

Ele ia responder, porém a carruagem dobrou subitamente à direita, chamando-lhe a atenção para a estrada lá fora.

— Estamos tomando a estrada que vai para Trentwell — Sakura explicou, retomando a compostura superficial de Lady Haruno. — Mais meia hora e estaremos vendo a casa, imagino. — Olhou pela janela, talvez para se distrair ou para recompor-se da conversa tensa que estavam tendo. — Está vendo aquele grupo de árvores lá adiante? Faz parte de Cannock Chase. Kakashi costumava ir caçar ali com frequência.

Sasuke lançou um olhar despreocupado na direção que ela apontava, vendo que, por trás das árvores, fechava-se um bosque. Tentava lembrar-se de algo que Nara Shikamaru lhe dissera pouco depois de lhe apresentar Sakura, tempos antes, algo que se referia ao fato de Kakashi Hatake ter morrido durante uma caçada. Imaginava agora se o marido de Sakura teria morrido ali, em Cannock Chase.

— Ah, estou tão ansiosa por dormir na minha própria cama esta noite! — Ela se espreguiçava e bocejava como uma criança. — Isso para não falar em todas as outras doces amenidades de uma casa bem administrada.

Sasuke apenas assentiu. Não tinha dúvidas de que a cama de Sakura devia ser simplesmente exuberante, luxuosa. Mas nenhuma cama poderia ser para ele o que fora aquela simples da hospedaria na noite anterior, onde vivera intensos, maravilhosos momentos com Sakura. No entanto, se pudesse, em qualquer outro lugar, ter Sakura novamente entre seus braços, esse lugar seria da mesma forma, magnífico em sua opinião.

— Você e sua irmã são bem-vindos para ficar em minha casa por alguns dias antes de voltarem a Bath — ela ofereceu, num sorriso. Mas seus olhos ainda estavam presos a Cannock Chase. — E pode levar minha outra carruagem em sua viagem de volta.

Sakura queria livrar-se dele e, ao que parecia, quanto antes, melhor. Sasuke entendia. Mas em sua mente ainda perdurava a admissão que ela fizera havia pouco sobre o que sentia, sobre o esforço que fazia para não se afeiçoar demais a ele.

E ela sempre falara com tanta naturalidade sobre o momento em que teriam de se separar! Era muito mais fácil imaginar que estivesse cansada da sua companhia, e não que temesse gostar demais dele.

— Você e seu sobrinho não vão voltar a Bath?— Sasuke indagou. — Poderíamos viajar todos juntos.

Sakura franziu o nariz, como se não gostasse da idéia.

— Ah, seria muito... Esquisito. Além do mais, a temporada já está quase no fim e acho que vou preferir ficar em Trentwell.

Estava ainda mais claro, ponderava Sasuke, que ela não queria arriscar encontrá-lo em alguma das últimas recepções dadas em Sydney Gardens ou em outro salão de bailes qualquer. Mas tentava não demonstrar sua tristeza com isso.

— Bem... Nesse caso, se encontrarmos Emily e seu sobrinho em Trentwell, imagino que seria muito melhor para todos nós se eu e minha irmã partíssemos imediatamente de volta para Bath. Se tivermos sorte, poderemos chegar a Wolverhampton bem antes do anoitecer.

Fosse o que fosse que Sakura estava pensando, Sasuke teve a nítida impressão de que ela empalidecia. Por isso achou melhor explicar-se:

— Já que os dois conseguiram nos ludibriar por duas vezes, imagino que seria possível imaginar que eles poderiam escapar durante a noite, caso eu não levasse Emily embora de pronto.

— Entendo...

— Obrigado por nos oferecer a carruagem. Mas eu prefiro voltar na que Oliver e Emily estão usando agora. — Ele jamais aceitaria caridade de Sakura. — Poderemos não voltar a Bath e seguir diretamente para a nossa casa em Lathbury. Acho que Emily estaria bem melhor sob a supervisão de Hinata, e há menos possibilidade de haver comentários em Bath se ela não voltar para lá. Longe dos olhos, longe do coração, é o que se diz.

— É um raciocínio sensato, esse seu — Sakura concordou. — Como sempre, aliás.

Mesmo sabendo que ela estava sendo apenas gentil, Sasuke ainda se ressentiu. Não queria ser sensato para ela. Queria ser seu amor, sua paixão. Parte de seu ser queria deixar de lado a sensatez e o respeito e todas essas outras virtudes tediosas pelas quais era famoso, mas não ousaria jamais arriscar ser como seu pai tinha sido.

— Mas não é sensato falar sobre encontrarmos Emily e Oliver em Trentwell com certeza. — Sasuke observou ainda. Sabia que soava sério demais, mas não se importava. — Acho que precisamos planejar uma saída para o caso de eles não terem chegado, ou, pior ainda, para o caso de já terem alcançado Trentwell e partido antes da nossa chegada.

Bem no fundo de seu coração, Sasuke imaginava que, se ele e Sakura fossem forçados a seguir viagem juntos, talvez todos os obstáculos que se interpunham entre ambos desaparecessem como por encanto enquanto seguiam rumo ao norte. Vãs esperanças, ele sabia, mas ainda as tinha.

— Isso não é possível! — Sakura exclamou. — Eles devem estar em Trentwell! Oliver jamais passaria tão perto de casa sem parar. Espero que ambos estejam tão ansiosos por uma boa refeição e descanso apropriado quanto nós estamos! Mais até, já que estão viajando durante a noite e alojando-se nas hospedarias mais baratas.

— Espero que esteja certa Sakura.

Mesmo com todo o desconforto, a inconveniência, a correria e o tumulto dos últimos dias, Sasuke preferia viver tudo de novo a afastar-se definitivamente dela. Oliver Armitage era esperto, analisava; se desconfiasse de que estava sendo seguido, e devia estar desconfiado, a casa de sua tia seria o último lugar em que pensaria para pernoitar. Assim, Sasuke assegurava a si mesmo, conforme a belíssima mansão aparecia na distância, entre altas e esguias árvores, que poderia ter mais tempo para ficar junto de Sakura.

A carruagem diminuiu a marcha consideravelmente ao entrar numa alameda larga, em cujos lados os elmos gigantes formavam uma espécie de cortejo natural, como sentinelas do tempo.

Não era de admirar, ponderava Sasuke, que Kakashi Hatake tivesse se obrigado a casar com uma das herdeiras mais ricas da Inglaterra a fim de poder conservar aquela mansão espetacular. A visão da casa era simplesmente assombrosa, com os detalhes em mármore, as fontes, os jardins impecáveis. Devia custar uma fortuna manter aquela beleza toda.

A carruagem parou com suavidade diante do pórtico principal, que se elevava, suntuoso, em oito gigantes colunas. Sasuke estava abismado. Percebeu seus lábios abertos, então os fechou, sentindo-se um tolo.

Um criado de meia-idade apareceu vestido de forma impecável, e abriu a porta do veículo com elegância.

Lady Haruno, que adorável surpresa, senhora! — disse, com educação reservada e um sorriso calculado.

— Obrigada, Dunstan — Sakura agradeceu, erguendo de leve a mão enluvada para aceitar a ajuda do criado e descer da carruagem. E indagou de imediato:

— Diga-me, tem visto meu sobrinho nos últimos dias?

"Não, não, não!" A palavra rebatia na mente de Sasuke com uma insistência que chegou a irritá-lo. Mesmo com a magnificência daquela mansão diante de si, um obstáculo a mais a colocar-se entre ele e Sakura, agarrava-se à ridícula ideia de que poderiam permanecer mais alguns dias juntos, como se isso fosse fazer alguma diferença em seu romance próximo do fim.

— O Sr. Oliver? — Dunstan indagou, sem necessidade, num tom que deixou Sasuke ainda mais ansioso. — Ah, sim, senhora! Ele chegou esta manhã em companhia de uma adorável senhorita. Imagino que os dois estejam, neste momento, dando um passeio pelos jardins em companhia do Sr. Rupert.

— Oh, que maravilha! — Sakura exclamou. — Estamos tão ansiosos por encontrá-los! — Certa hesitação em sua voz parecia trair-lhe os verdadeiros sentimentos diante do fato.

Mas Sasuke achou que isso fosse apenas reflexo de sua própria decepção. E, sem esperar por mais nada, apeou também e deu alguns passos largos até a fonte mais próxima. Olhou ao redor, tentando divisar sua irmã, mas não viu ninguém. Então, olhou para os graciosos cisnes de mármore de cujos bicos saíam um fio de água cristalina. Talvez não fosse o caso de Sakura imaginou, mas ele precisava de algum tempo e certo esforço para também criar uma máscara de indiferença e forçada alegria, por trás da qual esconder o desespero que, de fato, sentia.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar, mesmo q seja brigando comigo por demorar tanto.