O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 10
Um mergulho no Rio


Notas iniciais do capítulo

Mais um agradecimento super especial a PetitChic, obrigada por ter recomendado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/491421/chapter/10

— Tem certeza de que não quer comer nada antes de seguirmos viagem? — Sasuke perguntou a Sakura quando se preparavam para deixar a hospedaria.

Ela negou com a cabeça e acrescentou:

— Tomei um desjejum reforçado esta manhã enquanto você estava fora. E você? Não comeu ainda hoje e nem dorme direito há horas.

Sasuke imaginou que ela pudesse sugerir que ele ficasse para trás, a fim de descansar, e depois encontrá-la, mas não estava disposto a morder a isca.

— Estou bem — respondeu apenas. E deixou o orgulho de lado ao permitir que Sakura acertasse a conta da hospedaria. Afinal, mal ocupara uma cadeira por meia hora enquanto ela dormia. Além disso, poderia ainda passar por alguma situação em que viria a precisar de todo o dinheiro de que dispunha no momento.

Assim, pouco depois, Sakura entrou na carruagem, auxiliada por seu criado, e Sasuke montou o cavalo que Shikamaru lhe emprestara. Mas ela colocou a cabeça para fora da janela e sugeriu:

— Por que não amarra seu animal à carruagem ou deixa que Ned siga nele, e você viaja aqui dentro? Poderia dormir um pouco, se quisesse.

Sasuke não entendeu o motivo de tal oferecimento, já havia pouco, Sakura se mostrara tão ansiosa por ver-se livre da sua presença. Preferiu negar com a cabeça sabendo que a proximidade de Sakura, bem como seu perfume, seriam uma tortura à qual ele não conseguiria resistir por muito tempo. Prometera comportar-se e na intimidade da carruagem, sua promessa poderia ser facilmente quebrada.

— Muito bem, então. — Ela pareceu irritada com a negativa. — No entanto, se mudar de ideia... Sabe de uma coisa? Eu não sabia que você podia ser tão teimoso!

Sasuke sorriu de lado e observou tranquilo:

— Isso faz de nós muito parecidos, Lady Haruno. — E, incitando seu animal, se pôs na estrada. Logo atrás de si, ouviu a porta da carruagem ser fechada com força, para depois o veículo colocar-se em movimento.

Durante toda à tarde, seguiram por aquela estrada antiga, primeiramente construída pelos romanos. Sasuke mantinha-se firme em sua sela, evitando olhar para a carruagem. Ainda mais porque, quando o fizera havia algum tempo, notara que Sakura o observava com insistência. Naquele momento, seus olhos tinham se encontrado, e fora como se suas almas pudessem ter se tocado. Uma sensação deliciosa passara pelo corpo de Sasuke, fazendo-o imaginar que dividiam algo muito particular e íntimo, muito mais do que durante o tempo em que dormiam juntos.

O momento mágico durou pouco, porém, pois logo um posto de pedágio surgiu após uma curva. Sasuke desceu do cavalo, pagou a taxa e perguntou ao funcionário da cabine:

— Imagino que possa ter visto uma carruagem alugada com um casal ainda muito jovem, que passou por aqui ontem à noite. Talvez se lembre da moça... Uma garota vistosa, alegre, com cabelos longos, cacheados e ruivos.

O homem logo sorriu.

— Ah, sim! — recordou-se. — Uma criatura linda com certeza! Linda!

— De fato. É minha irmã. — Sasuke lembrava-se muito bem do poder de sedução que Emily sempre tivera. Mesmo quando, ainda muito jovem, ela era colocada de castigo por alguma travessura que cometera seu olhar e aquele sorriso maravilhosos eram suficientes para abrandar a autoridade que ele tentava manter e faziam-no desmanchar-se em ternura.

— No entanto, senhor — continuou o funcionário federal, tirando Sasuke de seus pensamentos — não foi ontem à noite que eles passaram por aqui. Foi esta manhã.

— Tem certeza?

— Claro que sim, senhor. Tiveram um pequeno problema com a carruagem e pararam aqui por algum tempo. E o rapaz levou umas três horas para consertar o veículo.

Sasuke sentiu-se animar. Ofereceu uma moeda ao homem, para agradá-lo pela ajuda, e disse sorrindo:

— Obrigado pela informação. Saberia precisar á quanto tempo eles partiram?

O homem consultou seu relógio de bolso.

— Bem, eu diria que saíram daqui a umas três horas, talvez um pouco menos. Espero que não estejam com problemas.

— Problemas? Não, não, claro que não. — Sasuke imaginava que poderia alcançar sua irmã e Oliver antes do entardecer, e estava ansioso. — Na verdade, quero alcançá-los para dar-lhe notícias. Boas notícias.

— Ah, então não vai demorar a encontrá-los, senhor. Além do mais, apesar de o rapaz ter consertado a carruagem, imagino que ela não esteja tão boa assim para poder ser páreo para o veículo que segue com o senhor. — O homem apontou de leve para a carruagem de Sakura.

Sasuke agradeceu mais uma vez e seguiu até a carruagem, levando o cavalo pelas rédeas.

— O que tanto falou com aquele sujeito?— Sakura quis saber assim que ele se aproximou.

— Eu estava perguntando sobre minha irmã e seu sobrinho. Aliás, se você tivesse vindo sem mim, imagino que nunca teria conseguido as informações que aquele homem me passou, porque não teria falado com ele. — Sasuke explicou a ela tudo que acontecera.

Sakura ouviu em silêncio, interessada. Quando ele terminou seu relato, sorriu e perguntou:

— Está me dizendo que já os teríamos alcançado se não tivéssemos parado esta manhã?

Sasuke entre abriu os lábios, mas nada disse, e ela se pôs a rir. E aquela risada pareceu-lhe extremamente contagiosa. Talvez os muitos anos de seriedade que passara o tivessem esgotado um pouco e estava ansioso por poder rir também, o que passou a fazer, com gosto.

— Imagino que estamos quites agora — ele afirmou depois. — O que acha? Vamos entrar num acordo sobre o que fazer agora?

— Bem, creio que nem há necessidade de pensarmos muito. — Sakura secou as lágrimas que sua risada provocara. — Se estamos assim tão perto deles, temos que prosseguir depressa para alcançá-los logo!

— Está bem, então. Vamos!

— Só acho estranho que...

— Sim?

— Se Oliver e Emily deixaram a hospedaria ontem à noite, seguindo direto para Gloucester... Por que levaram a noite toda para chegarem aqui?

— Boa pergunta. Talvez por causa do problema com a carruagem sobre o qual o funcionário do pedágio comentou. Ou acha que acabaram passando a noite em Newport, afinal, e deram dinheiro ao hospedeiro para que mentisse para nós?

Sakura ergueu os ombros.

— Só vamos saber quando os encontrarmos. Agora, pela última vez, será que vai se deixar persuadir a seguir viagem aqui dentro? Mais algumas horas juntos não nos farão tão mal assim, ainda mais se você dormir...

O convite era tentador, mas Sasuke tornou a negar com a cabeça e explicou:

— Vou dormir bem apenas quando levar minha irmã de volta para casa. É melhor seguirmos como estamos, porque assim poderei pagar os pedágios mais prontamente, abrir portões e coisas assim.

A expressão de decepção no rosto de Sakura quase o fez repensar sua decisão, mas as palavras dela, não:

— Você é quem sabe. Se preferir assim, que assim seja!

Sasuke tornou a montar, dizendo:

— Sabe de uma coisa? Isto está me parecendo uma caça à raposa.

— Ah, eu bem que gostaria de ter dois bons cães farejadores para encontrar aqueles fujões bem depressa!

Logo em seguida, retomaram viagem, dirigindo-se, apressados, para Gloucester. O sol começava a se pôr por trás das colinas galesas, a oeste, e Sasuke seguia compenetrado, os pensamentos involuntariamente voltados para seu futuro com Sakura. Um futuro que, ao que parecia, não haveria.

De dentro da carruagem, ela o observava e notava sua expressão pensativa. No que ele estaria pensando tanto? Indagava-se curiosa. Talvez estivesse arrependido por ter insistido em que parassem em Newport.

Ouvira dizer que as náuseas no início da gravidez tendiam a diminuir e achava que talvez já não as tivesse mais. Se assim fosse, poderia até retomar seu romance com Sasuke, pois ele nada perceberia. Não haveria mais o receio de que ele a surpreendesse nauseada e desconfiasse de seu estado. Tal pensamento trouxe um sorriso de felicidade aos lábios de Sakura. Havia dias não estava com ele e queria muito poder desfrutar seu amor mais uma vez. Sentia falta de seu toque, de seus carinhos.

A carruagem seguia pela estrada costeira, e Sakura continuava observando Sasuke cavalgando logo ao lado, embevecida com sua força, sua seriedade, sua masculinidade. Lembrava-se muito bem daquela primeira noite, em março, quando haviam se tornado amantes.

Mal se dera conta da falta de experiência dele, embora devesse tê-lo feito. Sasuke nunca se casara e não era do tipo de homem dado a encontros amorosos fáceis. E o fato de ele ter aberto uma exceção em seu caso a encantava. E a sua falta de experiência chegara a ser muito interessante.

Seu antigo marido era muito experiente, um amante cheio de talentos, mas dedicado a muitas mulheres. E Sakura sentia-se feliz por ser amada e tocada por um homem que a via como uma deusa, em cujo corpo podia perder-se de amor e desejo. Isso acontecia sempre com Sasuke.

Na verdade, ela lhe ensinara muitas técnicas amorosas, e ele mostrara-se um excelente aluno. Agora, ela se arrepiava só em lembrar os momentos intensos de amor e paixão que haviam vivido.

Era estranho, mas Sasuke conseguia excitá-la até sem tocá-la. Era assim que se sentia agora. Excitada, ardente, querendo-o mais do que nunca. E ele nem sequer a estava olhando...

Seria tão bom se pudessem continuar seu romance! Analisou ansiosa. Depois de recuperarem Oliver e Emily, quem sabe pudessem reencontrar-se em alguma hospedaria em Gloucester e fazer amor mais uma... ou muitas vezes.

Mesmo sentindo aquela paixão renascer em seu peito, Sakura ainda se lembrava do que dissera a Sasuke na King´s Arms. Se seria doloroso separarem-se agora, quanto não sofreriam se viessem a se separar mais tarde, quando seu envolvimento seria ainda maior?

Para ela, a promessa de prazer poderia valer a pena correr o risco, mas... E para Sasuke?

Ao escrever aquela carta de despedida, jamais lhe correra que sua separação fosse aborrecê-lo. A não ser, talvez, pela perda imediata do prazer físico.

No entanto, quando Sasuke irrompera em sua casa, na noite anterior, todo seu comportamento demonstrara a profundidade de seus sentimentos. Havia nele muito mais do que a perda do prazer carnal ou o orgulho masculino ferido. Ao perceber quanto gostava de Sasuke, Sakura também notara que ele estava mais envolvido do que deveria. E agora que ela queria retomar seu relacionamento, talvez ele já não quisesse por ter sido magoado uma primeira vez.

Mesmo sem querer, Sakura sentiu as lágrimas inundarem seus olhos. Detestava chorar, porém não havia como controlar-se. Desde que se tornara amante de Sasuke, seus sentimentos pareciam estar à flor da pele. Pior ainda: não se encontravam mais sob seu controle. Talvez fosse mesmo muito melhor se tirasse Sasuke de sua vida para sempre quanto antes, para não sofrer ainda mais. Ele a fazia querer tanto da vida, da paixão...

അഅഅഅഅഅഅഅ

Em seu cavalo, Sasuke de repente sentiu como se despertasse. Tivera um cochilo, tão exausto estava. Não Podia deixar-se dominar dessa forma, avaliou. Tornava-se a cada instante mais e mais difícil manter o bom raciocínio e clareza de pensamentos.

Andara pensando demais sobre Sakura e os motivos pelos quais não podiam mais ser amantes. Continuava meditando, numa tentativa para manter-se acordado: havia a fortuna dela, é claro. Muitos homens veriam todo aquele dinheiro como um excelente motivo para forçar um casamento, mas Sasuke arrepiava-se de horror diante de tal perspectiva. Na verdade, jurara a si mesmo não se casar antes que suas duas irmãs estivessem casadas e a fortuna de sua família restaurada.

Sabia muito bem quanto se falaria se um homem em suas condições se casasse com uma mulher tão rica quanto Sakura. Sua imagem seria a de um aproveitador, um canalha, e ela, uma criatura patética que precisava comprar um marido. Tal ideia parecia-lhe tão absurda que poderia rir dela. Mas não estava disposto a rir. Tanto ele quanto Sakura eram pessoas com orgulho próprio e que não queriam se expor a fofocas e comentários humilhantes.

E, pelo que sabia, ela não queria casar novamente, e nem precisava. Tinha um título, possuía uma fortuna enorme sobre a qual mantinha absoluto controle, desde que permanecesse viúva. E, se quisesse ter um filho, por exemplo, teria de adotar um, fosse ou não casada.

Se pretendesse apenas a companhia de um homem, poderia, sempre que desejasse arranjar um amante. Uma mulher interessante e inteligente como Sakura, bonita, culta, teria sempre muitos candidatos à sua disposição.

Tal ideia o fez apertar as rédeas entre as mãos. Não suportaria que Sakura o deixasse por outro homem. Talvez por um mais jovem e mais atraente, ponderou, o peito apertado. Alguém com um senso de humor que lhe agradasse... Alguém canalha o suficiente para satisfazer-se com o que ela oferecia numa cama e nada mais.

Então se lembrou de sua querida propriedade, passaria para algum primo distante após sua morte. Sasuke podia admitir tal ideia. Seu dever para com a família, para com seu nome, não permitia que deixasse sua linhagem acabar com ele. E Sasuke sempre fora um homem muito ligado ao dever.

Mais uma vez sentiu um sobressalto ao voltar à realidade de sua cavalgada ao lado da carruagem de Sakura. Estivera cochilando outra vez ou apenas muito distraído? Indagou a si mesmo. Respirou bem fundo e sacudiu a cabeça, na intenção de despertar por completo. Por um momento chegou a pensar em fazer um sinal ao cocheiro para que este parasse o veículo e ele pudesse entrar, aceitando a oferta de Sakura para poder dormir um pouco. Mas logo afastou a ideia.

Fosse como fosse, iriam logo encontrar Oliver e Emily.

Ele avistou alguma coisa na estrada, pouco mais adiante. Talvez outra carruagem, analisou ansioso. Imediatamente alerta, apesar do cansaço e do sono, Sasuke esforçou-se para ver melhor do que se tratava. A estrada fazia uma curva para noroeste, e ele teve de cobrir os olhos para poder protegê-los do sol. Era de fato uma carruagem!

Olhou para Sakura e, mais uma vez, encontrou os olhos dela fixos nele.

— Acho que os avistei — anunciou em voz alta para que ela pudesse ouvi-lo por sobre o ruído das rodas e dos cascos dos cavalos.

Sakura também pareceu animar-se.

— Onde?

— Na estrada, mais para frente! — Ele apontava para o que via. — Só pode ser a carruagem deles! Vou seguir até mais perto para verificar!

Sasuke instigou o cavalo com os joelhos, fazendo-o avançar de repente. Em sua mente, ele ensaiava o que iria dizer à irmã. Teria de mostrar-lhe a tolice que estava cometendo, o grande erro de fugir assim, a ansiedade e o desespero em que o deixara. E, se Emily pensava que suas expressões cativantes de arrependimento o iriam convencer dessa vez, estava redondamente enganada.

Pelo visto, o cavalo que Shikamaru lhe emprestara gostava de uma boa corrida, pois nem era necessário forçá-lo para que acelerasse a marcha. Mais alguns segundos e Sasuke conseguiria ver quem estava com as rédeas da carruagem. E sua irmã não seria a única a experimentar a sua irritação. Sasuke já tinha algumas perguntas prontas para o jovem Armitage. O rapaz era cientista, afinal; não avaliara as consequências de fugir assim com uma donzela? Não antevira que terrível engano aquele casamento seria tendo um começo tão desastroso e errado? Ainda mais porque ambos possuíam temperamentos tão opostos.

Com certeza, as horas que os dois haviam passado juntos até aquele momento já deviam ter sido suficientes para mostrar-lhes quanto não tinham sido feitos um para o outro. Na verdade, eles até se sentiriam aliviados por serem interceptados assim, em meio à sua fuga para Gretna.

Conforme emparelhava seu cavalo com a carruagem, Sasuke procurava ver sua irmã dentro dela. Mas ali havia apenas uma mulher bem mais velha e de cenho franzido, que o olhava também, profundamente aborrecida. Ela chegou a fazer-lhe um sinal para que se afastasse e disse algumas palavras que, por sua expressão, Sasuke adivinhava não serem elogiosas.

Decepcionado, ele já diminuía a marcha e preparava-se para voltar e contar a Sakura que se enganara. Deixou de olhar para dentro da carruagem no exato momento em que avistou uma ponte de pedras logo adiante, na estrada. Felizmente, seu cavalo também a viu. E antes que Sasuke pudesse reagir de alguma forma, o animal desviou para a direita e entrou no rio, diminuindo abruptamente a velocidade, o que, no entanto, não aconteceu com Sasuke. Ele foi arremessado para frente, voando acima do pescoço do animal. Seus braços se estenderam numa tentativa de aparar a queda, mas encontraram apenas ar. E, ao atingir a água Sasuke perdeu a consciência de imediato, mergulhando por fim, no sono contra o qual lutara tanto para que não o derrotasse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bjjsss minhas amantes ^♥^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Amante" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.