O quarto estava escuro, eu não podia enxergar o que estava ao meu redor, eu apenas sabia que estava encolhida no canto da parede, tremendo de frio e medo. Podia sentir a minha perna latejar levemente, como se a tivesse machucado, meus cabelos estavam úmidos e meus dedos enrugados. Não lembrava do que havia acontecido, minha última lembrança era de estar caminhando para casa após sair do trabalho e tudo parecia normal na Rua 12.

Era possível escutar o vento soprando do lado de fora, fazendo as janelas se baterem, não era possível enxergar através delas, mas na medida que meus olhos se acostumavam na escuridão, era possível ver ao menos o semblante de algumas coisas, além da janela eu conseguia perceber a dimensão do ambiente, cerca de 5m³.

Discerni que era um quarto no momento que percebi uma cama em outro canto e um criado-mudo ao lado. Também havia um sofá e nele algo que eu não consegui entender o que era, parecia um amontoado de panos, assim como em cima da cama uma figura parecida se encontrava.

Eu precisava sair dali, tentei me apoiar nas paredes e levantar, mas na primeira tentativa senti uma dor imensa em minha perna e imediatamente caí. Gritei brevemente e fiz força para calar meu grito. Do lado de fora começou a chover forte, trovões constantemente me assustavam, mas ainda assim tentei levantar mais uma vez e tive que suportar a dor para conseguir. Fui me apoiando nas coisas e andando em direção a janela, eu mancava e dois metros pareciam alguns quilômetros. Ao chegar na janela consegui ver que fora dali haviam pessoas passando normalmente, era uma rua comum, mas do outro lado da rua, percebi que tinha uma criança estática debaixo da chuva, completamente abandonada e desprotegida, um garoto ruivo por volta dos 7 anos e estranhamente ele olhava na minha direção, mas não tinha certeza se era para mim aquele olhar, as pessoas que passavam fingiam não vê-lo, aquilo era um absurdo e eu já não entendia mais nada. Um relâmpago tão forte clareou todo o céu, tão forte e repentino que me assustei, botei a mão nos olhos e pouco tempo depois, quando me recuperei e olhei novamente através da janela, o garoto havia sumido.

Mesmo com essa situação, eu precisava sair dali e caminhei na direção da porta logo depois da cama. Ao dar alguns passos percebi algo se mover no pequeno sofá, meu coração acelerou e recuei um pouco. Observei por um momento mas nada aconteceu. Eu precisava avançar e quando finalmente cheguei na porta eu ouvi uma voz atrás de mim. Meu corpo congelou de susto e minha única reação foi virar para ver de onde vinha.

– Não vá embora...

Era a voz de uma criança, encolhida no mesmo canto que eu stava, ela parecia chorar e eu não conseguia enxergá-la direito. Perguntei:

– Quem é você? Como você chegou aqui?

E nada me foi respondido, perguntei mais uma vez, tentando abrir a porta e percebi que não estava tranca, tentei puxá-la e ao abrir tomei um outro susto, a mesma criança que estava na rua apareceu em minha frente, completamente encharcada da chuva e eu mal podia ver seus olhos, até que olhou para mim e pude perceber que ele não tinha olhos.

– Eu avisei...para você não ir embora. Nós precisamos de você, mamãe.