Fallen From God, Fallen From Grace escrita por Kass


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo


Esta fic foi um presente pra uma pessoa muuito especial pra mim, ok? Espero que vocês gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/491261/chapter/1

– Outra vez? – Era de se notar o quanto Enjolras estava exausto. Descobrira novamente as garrafas de bebida escondidas pela casa e partia o coração do loiro assistir o homem que amava se destruir daquela maneira. – Até quando eu vou ter energia para agüentar você fazendo isso conosco, Taire? Acha que consigo lidar com isso pra sempre?

– Voilá! – Grantaire fungou, a voz rouca de tanto chorar. – Esse é o momento em que você desiste de mim, não é? Como se eu pudesse te culpar...

E, realmente, não culpava! Sempre soubera que Enjolras estava fora de seu alcance. Tanto tempo havia passado desde aquele primeiro beijo cheio de calor e confusão... e o moreno ainda vivia com aquela sensação de que seu mundo ia desmoronar a qualquer momento, de estar o tempo todo pisando em falso.

A grande maldição era, na verdade, o maldito instinto rebelde de Grantaire, sua mania de confrontar os deuses. Passara toda sua infância chamando-os à luta, desfiando-os a provar sua existência, a mostrar-se para ele como em seus dias de glória, a amá-lo como ninguém na terra o amaria... até que cresceu. Pensou que seu pequeno monstro, tal como os deuses, estava morto até o dia em que se deparou com aqueles olhos azuis brilhando em fúria revolucionária.

Ali, pela primeira vez, Grantaire viu o rosto de deus. Sim, porque nada o convenceria do contrário. Enjolras era um deus, uma zombaria celeste, a resposta aos seus impropérios infantis. Era Apolo, o deus do sol, da beleza e a ele, pobre mortal embriagado e destruído, era vetado o direito a tê-lo.

Diferente de agora, quando o rosto do loiro estava marcado pelas lágrimas e pelo cansaço, ele tinha um sorriso aberto, conquistador, de quem acreditava piamente na possibilidade de mudar o mundo. Grantaire sabia que o bom e velho mundo não podia, ou pior, não queria ser mudado. Era um cético, um cínico, mas a força do olhar daquele homem abria novos espaços dentro de si. Era óbvio que Enjolras mudaria o mundo! Ele era um deus de perfeição e nada lhe era proibido ou negado. Reencontrou sua fé ao encontrar-se com o filho de Zeus e sua alma caiu de joelhos diante daquele que passou a adorar. Esquetes e mais esquetes cobriam as paredes de seu estúdio, de seus cadernos de desenho. Afirmava seu encanto e sua adoração a cada pintura, a cada cena mitológica em que colocava o rosto de Apolo em seu devido lugar... e era feliz, feliz na sua adoração distante, pois sabia que não devia tocar o sagrado com sua vida decadente e corrompida.

Seu pequeno monstro iconoclasta, porém, acordou faminto. Para Grantaire, agora, era impossível resistir à ganância de ter Enjolras para si. Compreendê-lo foi simples e, dia após dia, assistiu cada uma de suas críticas à causa estrategicamente colocadas, cada um de seus comentários inconvenientes cortarem caminho até o coração do Apolo. O brilho de irritação que metalizava o azul daqueles olhos eram nada mais que o combustível que levava o moreno cada vez mais longe naquela falsa indolência, esticando os nervos do loiro até o limite, na tentativa de ver um eco da fome e da paixão que sentia naqueles olhos. Era tão assustador! Com certeza pagaria por querer com tanta ânsia aquele a quem adorava! Mas o pintor, secretamente o mais fiel dos seguidores do deus do sol, quebrava todas as regras do sagrado. Tudo aquilo em que não cria, sua perfeita imagem de cinismo, tudo se despia diante de Apolo. Acreditava apenas nele. Mataria por ele... e morreria, também, disso estava certo.
O dia em que Enjolras correspondeu seus sentimentos foi o mais bonito que a natureza jamais produzira. Nada poderia arruinar aquele beijo estabanado, cheio de dentes, a primeira febre desesperada pelo toque um do outro, a completa perdição da primeira vez que se amaram, no chão do estúdio, as unhas do loiro marcando o piso de madeira... nem mesmo o demoniozinho por trás de seus pensamentos dizendo o quanto tudo aquilo estava errado. Quando Enjolras arrancou de si a promessa de parar de beber, o demônio riu de seus bons propósitos e começou a brincar com sua mente. Ou a dizer verdades, porque, afinal, quem era ele para que Apolo o amasse ou mesmo quisesse estar com ele? Quem era ele para desafiar os céus e sair ileso?

Todas as vezes que as vozes em sua mente falavam alto demais, não havia outra saída a não ser a bebida. Tentara de tudo, mas nada o livrava da horrível sensação de que havia cometido um crime ao se apaixonar por Enjolras e trazê-lo para o arremedo de vida que tinha. Quando estava embriagado tinha apenas o silêncio e as imagens felizes da embriaguez. Quando sóbrio, era tomado por um medo tão real de perder seu amado que simplesmente não enxergava que estava nele sua redenção. Era a loucura dos deuses! E agora, aqui estava ele, prestes a ver sua vida chutada ladeira abaixo por aquele que a havia segurado até agora.

– Não, Taire – O loiro ajoelhou-se à sua frente no sofá, abraçando-o para aproximar-se. – Essa não é a hora em que eu desisto de você. Não hoje, não assim. Amo você demais para isso.

Agarrando-se ao amante com desespero, Grantaire chorou. De alívio por não perder aquele deus que tanto amava, e de dor por tê-lo arrastado para um inferno do qual nenhum dos dois conseguia sair...


FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fallen From God, Fallen From Grace" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.