A Vitória escrita por KWriter


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

Se você acha que já está ruim. Saiba que pode tudo pode piorar ainda mais



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3

Retira o que tinha no porta luvas.

Ao chegar a casa, Roberto estaciona o carro supersilencioso e lindo que acabara de comprar em frente à garagem. Sai do carro às pressas, pronto para dizer para sua mulher que deve trabalhar todo o dia em casa por estar estressado demais para trabalhar na empresa. Abre a porta, sobe para o andar dos quartos correndo e abre a porta com um sorriso no rosto.

–Querida, chegu-... ei. –Ele se depara com uma cena totalmente impossível de ele mesmo imaginar. Uma coisa louca, muito, muito, muito incapaz de ele mesmo... fazer. –Que pouca vergonha é esta? Com a Luna? Isso não pode está acontecendo!
Roberto deixa o buquê de flores cair ao chão. Ele está atordoado, tremendo.

Sua mulher, Judith, estava de camisola, por cima de uma de suas alunas que não estava tão vestida assim... e Judith acariciava o pescoço da garota.

–Oh meu Deus! Roberto! –Ela falara pulando da cama e ao mesmo tempo vestindo a moçoila que estava deitada na cama de casal dos dois.

Roberto fecha a porta e sai, vai até o andar de baixo e começa jogar as coisas da cozinha para o alto. Ela desce correndo as escadas, tão rápida quanto uma gazela e para observando Roberto.

–On... de... es-stá? –Ele indaga ofegante.

–Meu bem, você está tendo outra crise! Ai!

Ele tenta procurar mais, mas suas forças já cessaram. Ele se deita com o tórax para cima e fica piando por conta da intensa crise de asma.

–P-por... favor...

–Sim... sim! Vou pegar, espera... –Judith tenta procurar em meio às coisas jogadas para o alto. E abre a porta da geladeira, lembra-se de que pôs a bombinha lá na porta. Pega-a e corre até o seu marido deitado no chão e injeta dois jatos na sua boca. O que o faz respirar bem fundo. –Vamos... vamos.

Uns segundos se passam.

Roberto começa a tossir e levanta-se, novo em folha. Tenta ajeitar a gola da camisa e toca o ombro da esposa.

–Por quê? Eu não dei o bastante? Não trabalhei o bastante para vocês? Esse é o pagamento que eu mereço? Quantas garotas você já paquerou e fez sexo? E tudo isso... –ele fala entre soluços, com lágrimas nos olhos. –Tudo bem. Eu sou estúpido, entendo. Só não entendo o que eu fiz de errado...

–Roberto, não vamos falar sobre isso agora.

–Não agora? Agora a pouco você estava fazendo amor, o nosso amor, com uma garota! Se essa não for a hora quando vai ser? –Ele ergue o tom de voz quase gritando, dá para ver que ele não aguentará tudo isso em um dia só.

–É só que, não quero te ver irritado...

–Pelo menos eu tenho motivos para estar. Não saio escondido por aí trepando com os meus clientes. –Roberto fala ainda embargado.

–Trepando? –Judith fala meio abrindo um sorriso no rosto.

–É... trepando. –Ele dá um curto sorriso. –Não faça eu me sentir pior do que já estou. Só responda as minhas perguntas. Sim?

–Okay... vamos nessa.

“Tudo começou quando você aceitou o emprego de executivo. Assim que você acabou de formar-se em mestrado de Administração de empresas, MBA.

Foi o começo de todos os nossos problemas. Eu, que na época só era uma menina boba, estava começando a fazer meu mestrado em música. Nós tínhamos acabado de completar quatro anos de casados. E eu estava grávida, você sempre ia comigo em todas as consultas médicas, para vermos o avanço do nosso bebê. Até você entrar na Emílio... sei lá o quê. Tudo o que eu mais queria naquela hora era ter meu marido presente, e no dia em que eu fui entrar em trabalho de parto e tive a Helena, você só veio aparecer bem depois de ela ter nascido...

Sabe o quão foi difícil ter passado por todo aquele sufoco sem você por perto para me dar segurança?

Enfim, para me motivar eu a inscrevi na Royal Academy of Dance aos três anos. Eu a ajudei em todos os ensaios em tudo... mas após um tempo quando ela começou a ser mais independente, resolvi voltar para a faculdade e continuar de onde eu havia trancado. Depois de formada, eu estava amando ter conseguido o que queria. Quando a faculdade me convidou para lecionar, eu não pude dizer não. Era a minha segunda casa, eu sempre amei tocar... e com você sempre em reuniões e viagens com as quais eu iria apenas em algumas, passava maior tempo sem saber o que falar, a música foi o que me animou, fez eu me sentir viva novamente. Com objetivos! Eu queria mostrar esse ser mágico e surpreendente para os meus alunos. Depois de certo tempo, me desmotivei novamente, e eu fui pedir a sua ajuda. Você me “ajudou”, mas não do jeito que eu queria ser ajudada, eu queria ser útil em suas mãos, mas aparentemente o que lhe satisfaz é só o trabalho. Você me levou para uma consulta em um psicólogo... me senti horrível.

Eu queria a sua ajuda. Não de um estranho qualquer.

Roberto... desculpa, eu fiquei fragilizada por não ter nem uma pessoa para encostar o ombro. Eu chorava todas as noites sem sequer um motivo. Helena percebeu que a minha cabeça estava na Lua, que eu estava muito fechada e veio falar comigo, mas eu não quis ouvir. Então ela suplicou para que você prestasse atenção em mim. Depois de algumas lutas consigo mesmo, você veio e eu dei ouvido.

Senti-me outra vez amada. Eu comecei a tomar a medicação pesada, mas você não saíra do meu lado até eu ficar boa novamente.

Quando fiquei boa, você desapareceu. E isso foi o estopim, eu decidi acabar com tudo.

Deitei-me na banheira e cortei os meus pulsos e esperei pela morte, mas não, ela não apareceu. Acordei em um hospital, numa cama, em uma sala com você me olhando e eu morri de vergonha por ter desistido de tudo. Fui levada para lá pois: a minha existência trazia perigos eminentes para a minha vida.

Eu não queria que você me visse como uma derrotada de novo, mas você me acolheu novamente. Porém eu já tinha desistido de você, sabia o que aconteceria, de novo e de novo.

E entre os intervalos eu acabei me esbarrando com a filha dos nossos vizinhos e melhor amiga de Helena, a Luna. Nós conversamos bastante, ela me ouviu e me consolou... eu fiquei tão amiga dela, tão feliz por achar alguém que realmente se importava comigo, que me recuperei rapidamente e consequentemente, ela também. Nós voltamos para casa, já recuperadas, ela contou-me que estudava no mesmo campo ao qual eu lecionava, mas na área de psicologia. Então passei a levá-la e trazê-la de carro todos os dias.

Mas certo dia, ela apareceu com parte da blusa rasgada. Chorando. E. Soluçando.

No caminho para nossas casas, eu perguntei-a o que houvera com ela, mas ela não contou e ficou lá, calada. Fiquei nervosa, não sabia o que fazer. Quando estacionei em frente de casa, para ela atravessar a rua, ela desabafou. Disse que já fazia alguns meses que ela fazia Aquilo. E que Aquilo estava destruindo a vida dela. E ela não sabia como parar de fazer Aquilo.

Aquilo: fazer sexo com estranhos aleatórios do campus.

Alguns eram covardes, outros eram mais suaves e a procuravam depois, mas ela não queria um “fixo”. Ela chorou no meu ombro, e aquela era a minha vez de pagar a dívida que havia com ela. Consolei-a e ela se acalmou, porém tão rápido quanto se acalmou, ela deu um sorriso de orelha a orelha e beijou-me os lábios. Sem língua, nem nada. Ela saiu. E só.”

...

–Pode parar Judith, eu acho que já entendi, eu posso montar na mente o resto. A culpa é minha... –Roberto se agacha tentando limpar um sujo de seu sapato lustroso.

–Não Roberto, a culpa não é sua, é minha eu alimentei um sentimento totalmente impossível.

–Não, não É! –Ele grita, com lágrimas nos olhos quando levanta o rosto fitando Judith.

–Meu bem, não grite. Helena está no... Helena!

Os dois trocam olhares por alguns poucos segundos e Roberto é meio que atingido por um pensamento súbito.

–Helena! –O pai lembra-se da filha, que não ver a mais ou menos uma semana e corre na esperança de revê-la.

–Espere por mim! –A mãe também sai correndo ao encontro da filha. Helena.


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Notas finais do capítulo

...



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