A filha do diretor escrita por The Drama Queen


Capítulo 50
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei. Demorei mais do que séculos para postar o epílogo. Mas vamos lá, me perdoem uma última vez. As forças do universo estiveram contra mim. Mas eu explico isso depois. Agora, leiam o epílogo e sejam felizes (ou não.) Uma última boa leitura e nos vemos lá embaixo!



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Hoje eu volto para minha cidade. Acho que vai ser bom. Afinal, faz uns 4 anos que eu não visito ninguém naquele lugar. Sim, eu parei de visitá-los no segundo ano em que eu estava aqui. Não era fácil ir lá e esbarrar uma ou duas vezes com a Alysson pelas ruas, ou ainda lembrar dela em qualquer lugar que eu fosse. Então, eu simplesmente desisti. Sei que parece egoísta demais da minha parte, mas eu tenho que pensar em mim também, e sei que aquele lugar não me faz bem, lembrar dela não me faz bem.

Como a própria Alysson disse naquele dia, quando se despediu de mim no aeroporto, muita coisa pode acontecer em 4 anos. Imagine em 6! Depois de 3 anos, eu me obriguei a seguir com a minha vida. Alysson deixou bem clara a sua posição. Não tinha por que ficar me prendendo a alguém que me jogou fora. Me foquei completa e exclusivamente na minha música. Me formei com excelência, iniciei minha carreira fazendo pequenos shows e, há 1 ano mais ou menos, assinei meu contrato com uma gravadora. Estaria sendo modesto se dissesse que não estou fazendo sucesso. Hoje namoro com uma modelo, mas não é nada sério. Apenas questão de status. A parte boa disso, é que eu ganhei uma amiga. Lara é uma pessoa legal, mas eu não sinto nada além de amizade por ela. Confesso, até tentei sentir algo a mais, para tentar esquecer a Alysson, mas não deu muito certo. E eu sei que parece ridículo, depois de tanto tempo, ainda pensar nela. Enfim, nossa relação não é como a de muitos artistas que eu conheci, que não se suportam na realidade e fingem um grande amor para as câmeras. Eu e Lara não temos que fingir tanto. Somos amigos mesmo, nos divertimos muito juntos. A parte romântica, os beijos e essas coisas, são as únicas partes encenadas.

O fato de eu ter seguido com a minha vida, não significa que eu tenha perdido o contato com todo mundo. Ainda falo com Sarah, James, Zac e, claro, com meus tios, com Dylan e Ruby de vez em quando, e com Anthony, quase nunca.

Sarah cursou moda, como disse que faria; James fez engenharia e está bem perto da sua paixão: a matemática. Por falar nesses dois, eles estão noivos há dois anos. O casamento será nesse final de semana, e é exatamente por isso que eu estou voltando, para ser o padrinho de casamento deles. Lara, é claro, vai ter que ir comigo. Não podemos manchar a imagem de “casal apaixonado”. A mídia inventa cada coisa…

Voltando, Anthony e Alysson fizeram direito; Zac fez medicina (todo mundo se surpreendeu com isso); Lilyan cursou dança, e Dylan, assim como Ruby, continuou fazendo droga nenhuma da vida, em relação aos estudos, claro. Porque Ruby continua trabalhando em lanchonetes e sorveterias e Dylan conseguiu um emprego numa transportadora. Não sei o que ele faz lá, mas pelo menos está trabalhando.

A última vez que tive notícias da Alysson, ela havia trancado a faculdade de direito e começado a fazer literatura. Não sei se ela já terminou a faculdade, mas soube que ela publicou um livro, um romance que fez, e ainda faz, um grande sucesso: “A filha do diretor”. Esse é o nome. Até onde eu sei, conta um pouco da história dela, não sei que parte exatamente, mas deve ser bem interessante. Já pensei em comprar e ler (não abandonei o hábito da leitura), mas não sei se aguentaria viver com mais uma parte dela tão próxima a mim.

– Anda logo, Lara! Você está indo pegar um avião, não para um casamento!

– Na verdade - A cabeça dela apareceu dentro do quarto. -, estamos indo pegar um avião para ir a um casamento. Então, sim, eu estou indo para um casamento.

– O casamento é no sábado. Hoje é terça!

– Deixa de ser chato, Scott!

– Temos 20 min. para estar no aeroporto. Se você não estiver no carro em 5 min., eu vou embora e te deixo aqui sozinha!

Eu disse que temos uma boa relação, e realmente temos, mas isso não significa que ela não me tire do sério de vez em quando.

Saí do apartamento batendo a porta. Desci pelo elevador até o térreo. Dois seguranças me esperavam na recepção.

– Um de vocês fique aqui. Lara ainda esta se arrumando - disse para os seguranças.

Para sair do prédio foi uma confusão. Algumas fãs não batem muito bem da cabeça. Quero dizer, eu as amo, de verdade. Eu não teria metade do que eu tenho se não fosse por elas. Mas, vamos combinar, algumas exageram. Eu tento ser legal com todo mundo, mas… Me perseguir? Tentar invadir meu apartamento? Bater na Lara só por que ela está comigo? Tentem olhar pelo meu lado também.

Depois de aproximadamente 10 min., eu estava quase saindo, quando Lara entrou no carro.

– Pensei que iria embora sem mim.

– Não posso correr o risco de estragar a imagem do nosso namoro. Bart arrancaria minha cabeça. - Bart é o meu empresário e um dos meus melhores e únicos amigos por aqui.

– Por falar em Bart, ele vai conosco? - Neguei com a cabeça.

– Ele tem uns problemas com alguns contratos para resolver.

Olhei para ela pela primeira vez desde que entrou no carro. Seus cabelos castanhos médios estão presos num rabo de cavalo mal feito, veste uma calça cinza, uma camiseta preta e um casaco fino também cinza. Seus olhos castanhos estão contornados por uma linha preta fina. Não consegui reparar mais nada, mas sei que ela está sem batom, porque eu odeia beijar garotas com batom. Por isso, ela nunca usa quando saímos em público.

Não conversamos muito mais até a chegada ao aeroporto e, no avião, Lara adormeceu. Não a culpo por isso. Ela fez três viagens esse fim de semana, para dois desfiles e três sessões de fotos. Chegou hoje de manhã. Agora já é noite. Nada mais justo do que ela dormir.

Eu, por outro lado, só fiz um show esse fim de semana. Certo que foi em outro país e que os ensaios foram puxados, mas não estou tão cansado quanto ela. De qualquer forma, acho que não conseguiria dormir. Não pensando que, daqui a algumas horas, tem grande possibilidade de eu encontrá-la. Pensar que ela pode ter seguido com a vida dela me aperta o coração. Não consigo imaginá-la com ninguém que não seja eu. Certo que eu tenho a Lara, mas, como eu já disse, nada do que temos é real, a não ser a amizade. Tanto eu quanto ela estamos cientes disso. Só não sei se Alysson vai entender.

Mas que raio eu estou pensando? Ela terminou comigo, ela disse que não daria certo. Prometi a mim mesmo que não correria mais atrás dela. Lutei durante um ano para que ficássemos juntos. Passei por poucas e boas, e ela não moveu um dedo para que tudo desse certo. Pelo contrário, atrapalhou e muito.

Alysson não merece nem um mísero olhar meu.

Fui idiota, cego, estúpido por muito tempo. Demorei muito para perceber que essa coisa de amor só vem para nos prejudicar. Por causa do tal amor, eu me machuquei, machuquei outras pessoas e quase matei outras.

Vai ver, lá no fundo, Alysson nunca me amou. Talvez ela estivesse brincando comigo durante todo esse tempo. E eu caí feito um patinho.

Ingênuo.

Mas nada disso importa agora. Ela vai estar lá, provavelmente, com seu namorado, ou até mesmo solteira. E eu estarei com Lara. Desde aquele dia no aeroporto, vejo Alysson como uma desconhecida. Ou pelo menos tento vê-la assim. E é assim que a tratarei, como apenas a amiga da Sarah. Apenas. Como se nada tivesse acontecido entre nós.

Chegamos de manhã cedo. O sol ainda está nascendo. Acordei Lara e fomos para o apartamento. Ninguém veio nos receber, apenas alguns fotógrafos. Nada anormal.

Como é de manhã, o trânsito foi um pouco complicado, porque, afinal, estamos no meio da semana e esse é o horário em que a maioria sai para trabalhar.

Dormi algumas poucas horas depois que cheguei. Perdi o costume de levantar tarde. Não consigo ficar na cama até às 10:00h. Me sinto desconfortável.

– Pedi seu café - Lara informou assim que entrou no quarto. - Do jeito que você gosta. É melhor não demorar, se não vai esfriar.

– Não estou com fome, mas obrigado.

Você não está com fome? Alguém chame a imprensa! O fim do mundo está próximo! - ela começou a gritar.

– É sério isso? Escândalo logo de manhã?! Tenha um pouco de piedade da minha pessoa - dramatizei.

– Piedade é a última coisa que você merece, Scott. Agora levanta e se arruma logo. Hoje você vai me levar para conhecer a sua cidade.

Conhecer a cidade. Ainda me lembro dessas ruas como se nunca tivesse saído daqui. Lembro com perfeição de cada lugar, e de cada lembrança que cada um me traz, e isso não é uma boa coisa. Conhecer a cidade definitivamente não é uma boa ideia.

– Hoje não vai dar - eu disse. - Ainda estou meio cansado da viagem. Não dormi quase nada. Vamos só ir na casa da tia Sally. Ela vai ficar louca se eu não aparecer por lá hoje.

– É por causa dela, não é?

– Dela quem? - perguntei, mesmo sabendo de quem ela fala.

– Alysson Cooper - respondeu, sentando-se ao meu lado. - Até quando vai deixar essa garota atrapalhar a sua vida?

– Ela não atrapalha a minha vida só.. Ela só…

– Só impediu que você visitasse sua família e seu amigos nos últimos anos e quase impediu que você aceitasse o convite de ser padrinho de casamento dos seus melhores amigos. Sem falar que ronda sua cabeça noite e dia, tirando a sua concentração. E isso tudo depois de tantos anos. Scott, você vai acabar enlouquecendo!

Cada palavra dela doeu como mil socos no estômago.

– Você tem que esquecer essa garota de uma vez por todas! - finalizou.

Mas eu não quero esquecer, pensei, Eu a quero de volta.

– Não consigo - sussurrei.

Tenho plena consciência de que estou parecendo aquele adolescente imaturo e inconsequente que eu era, mas é inevitável. Não tenho como negar: Alysson ainda mexe comigo. Sei que isso é ridículo. Eu devia lidar com isso de forma natural. Afinal, foi apenas mais um romance de colegial. Não iria durar para sempre, certo?

Sarah e James ainda estão juntos e vão se casar, lembrou-me meu subconsciente. Depois de tanto tempo, ele ainda não perde a mania de atrapalhar meu otimismo.

– Posso te ajudar - uma voz despertou-me dos meus pensamentos.

– O quê? - perguntei.

– Eu te ajudo a esquecer a Alysson - ela repetiu. - Fica comigo, Scott, de verdade. Não por causa da mídia ou por ordem do Bart. Tenha um relacionamento sério comigo.

A princípio, fiquei indignado. Como ela se atreve a dizer uma coisa dessas? Nunca dei a liberdade para ela se quer comentar sobre a minha vida pessoal. Mas então, algo dentro de mim me disse: “Ela está certa”.

E realmente está. Já está mais do que na hora de eu seguir com a minha vida e deixar Alysson no passado, onde é o lugar dela, junto com toda a história que vivemos.

– Tudo bem - concordei. - A partir de agora, nosso namoro é pra valer - disse, tentando convencer a mim mesmo de que esse é o melhor a se fazer.

– Scott! - tia Sally praticamente gritou. Eu ainda estou no jardim, não esperaram que eu entrasse na casa.

– Oi, tia! - A envolvi num abraço apertado. Só agora percebo o quanto senti sua falta. - Tio Paul! - Dei um abraço rápido nele.

Me afastei dos dois e encarei Dylan e Anthony. Quem passasse por aqui e nos visse com esses sorrisos enormes estampados no rosto, pensaria que somos loucos. Andei a passos apressados até eles e os abracei, um de cada vez. Senti a falta desses dois mais do que de qualquer um, apesar de não termos nos falado muito nos meus últimos dias aqui, nem quando eu estava longe.

Observando tia Sally, percebo que os anos já a estão alcançando. Algumas rugas, olhos fundos, aparência cansada… Ela me parece mal, talvez doente. Tio Paul continua com o mesmo físico: uma barriguinha não muito grande, pele pouco bronzeada, cabelos já começando a ficar prateados, seus mesmos óculos retângulos de alguns anos atrás. Anthony deixou um pouco mais de barda crescer. Agora sim ficou com cara de homem (tenho quase certeza de que foi Dylan quem o convenceu a fazer isso). Ele me parece mais alto e mais forte. Com certeza anda pegando muitas garotas na universidade. Dylan está velho, quase idoso. Entrando na terceira idade. Quase 30 anos de idade e continua com a mesma cara. Mas sei que logo, logo esses cabelos cor-de-meia-noite estarão todo embranquecidos. Não, não estou rogando praga. É apenas a verdade. Mas também não fará tanta diferença para Dylan. Ele certamente dará um jeito dos cabelos brancos ficarem bem nele. Tirando a aparência, é possível notar alguma diferença em Dylan. Ele ainda tem alguns traços daquele adolescente irresponsável, que eu sei que ele já foi um dia, mas, com certeza, vejo um pouco mais de amadurecimento nele. Sem falar que eu ele continua com a Ruby.

– Quer dizer que agora meu primo é um cantor famoso?! - Dylan disse.

– Garotas suspiram por mim em todo o mundo - brinquei.

– Grande Scott Miller! - ele exclamou.

– Partiu muitos corações por aí? - Anthony perguntou.

– Não parti corações - respondi. - Ganhei um. - Nesse momento, Lara surgiu ao meu lado. - Dylan, Anthony, tios, essa é a Lara. Lara, essa é a minha família.

– Lara? - Anthony perguntou. - Não é a modelo que participou do desfile da Sarah?

– Sarah Foster? - ela perguntou. - Vocês a conhecem?

– Sarah é uma grande amiga nossa - Anthony comentou.

– Isso é brincadeira, não é?

– Lara - comecei. -, você está indo para o casamento de Sarah Foster e não percebeu isso ainda?

– Ai meu Deus! Eu estou indo para o casamento de Sarah Foster! - ela começou a gritar.

– Por favor, Lara. Nada de escândalo desnecessário. Não quero que pensem que arranjei uma namorada maluca.

– Escândalo desnecessário? Você, por acaso, sabe quem sua amiga é? Simplesmente uma das mais jovens e famosas estilistas que esse mundo já conheceu!

– Não é pra tanto - comentei, rolando os olhos.

– Scott, deixa de ser estraga prazeres! - ordenou tia Sally. - Lara está feliz. Você deveria ficar feliz com ela e pela Sarah também. Não acompanho o mundo da moda, mas sei que ela faz sucesso.

Não falei mais nada. Não vale a pena tentar discutir com mulheres. Elas sempre vão sair ganhando.

Entramos em casa, finalmente. Tia Sally nos apresentou uma mesa farta para o almoço. Se eu não estava com fome antes, só de olhar para essa mesa minha barriga esvaziou. O cheiro tão familiar de comida caseira.

– Ah, tia! Não sabe como eu senti falta disso! - exclamei, já me sentando a mesa, com Lara ao meu lado.

– Eu disse pra você não sair de perto de mim - ela disse. - Mas aí você colocou na cabeça que tinha que fazer faculdade fora do Estado. E, como se não bastasse, ainda parou de me visitar. Falando nisso, posso saber por qual motivo você deixou de vir aqui? Sei que não foi por falta de tempo. Te conheço muio bem, Scott.

E foi aí que eu fiquei sem saber o que falar. Entramos num assunto um tanto delicado. O que eu vou falar? “Ah, tia, eu não estava afim de ficar encontrando a Alysson por aí toda vez que eu vinha, então, eu resolvi abandonar minha família e amigos pra tentar esquecê-la.” Acho que ela me estrangularia se ouvisse uma coisa dessas. No fim, eu acabei por dizer:

– Muitas viagens, tia. Tente entender. Nesses últimos anos, teve a minha formatura e, logo depois, minha carreira começou e deslanchou. Isso significa muita fama, muito shows… Eu realmente não tive tempo.

Isso não é totalmente mentira… Quer dizer, eu realmente estava sem tempo.

Ela suspirou antes de me responder:

– Tudo bem, Scott. Vou fingir que acredito, mas só porque não quero estragar esse dia. - Ela abriu um sorriso. - Fico feliz que esteja de volta, mesmo que não seja para sempre.

O que eu poderia dizer depois disso? Apenas abri um sorriso. Não quero correr o risco de estragar esse dia, assim como tia Sally está evitando. Apesar dos pesares, hoje é para ser um dia feliz. Também estou feliz em estar de volta. Aqui foi o lugar onde uma triste parte da minha vida terminou, e outra, muito melhor, começou. E, mesmo que tenha me causado muitos problemas, eu não poderia querer vida melhor.

– Scott? - Lara chamou. Dei permissão para que ela entrasse no quarto. - Só quero dizer que eu sei que não vai ser fácil pra você estar no mesmo lugar que a sua ex, mas tenha em mente que o passado ficou para trás. Temos uma nova vida agora, Scott. Já passou da hora de esquecer a tal Alysson.

– Eu já sei disso tudo, Lara. Não precisa repetir toda vez que você me vê.

– Então prova que você não pensa mais nela. - Suspirei. Talvez tenha sido o suspirou mais longo e mais entediado que já dei.

– O que você quer?

– Um beijo. Mas não um beijo como os que você dá para as câmeras. Eu quero um beijo de verdade.

Achei muita ousadia dela. Desde quando eu tenho que provar alguma coisa para alguém? Eu dava satisfações aos meus pais e aos meus tios, mas não devo satisfações a namorada! Até porque, sei que isso não vai durar.

Mas, como eu já não estou bem e realmente não estou com paciência para discutir, tratei logo de agarrá-la pela cintura e lhe dar o meu melhor beijo. Afinal, não foi nenhum grande sacrifício. Lara não beija tão mal. Mas não posso dizer que foi o melhor beijo da minha vida. Talvez o beijo tenha durado mais tempo e sido melhor do que deveria. Quando fui ver, Lara estava me jogando na cama.

– Ei, vai com calma - me apressei em dizer. - Você me pediu um beijo. Não confunda as coisas. - Ela apenas revirou os olhos e caiu em cima de mim. - Lá vamos nós - murmurei.

Com ela em cima de mim, rolei na cama e fiquei por cima dela, segurando seus braços. Ela abriu um sorriso.

– Você tem que aprender a se controlar, sabia? - eu disse. - Ou vou começar a achar que você é uma maníaca.

– Pode achar o que você quiser. Não me importo. Desde que você me dê o que eu quero.

– Você está parecendo com uma ruiva muito oferecida que eu conheço.

E foi aí que eu comecei a sentir um cheiro estranho. Cheiro de…

– Você bebeu?

– O que isso importa agora, Scott? Meu Deus, você fala demais!

Bufei impaciente e saí de cima dela, a puxando comigo.

– Eu não estou bêbada - Lara gritou.

– Eu sei que não. Mas está bem fora de si. - A joguei dentro do banheiro. - Aproveite seu banho gelado.

Parei o carro na porta do prédio de dois andares, decorado de forma exuberante e elegante, onde ocorre o casamento de Sarah.

Ainda não me encontrei com ninguém que não fosse minha família. Não sei o porquê de não os ter procurado antes.Talvez seja medo de encontrar com ela por aí. Talvez… Mas talvez não seja isso.

Ela está aí dentro, foi a primeira coisa que pensei.

Eu sei que não deveria estar pensando nela. Droga! Eu sei! Mas Alysson insiste em invadir minha mente e ocupar o lugar que não é dela. Eu não deveria estar pensando nisso. Deveria estar pensando em Lara, que é a minha namorada e está aqui do meu lado. Alysson faz parte do passado.

– E é lá que ela vai ficar - completei num sussurro.

– Scott, amor, você está bem? - ouvi uma voz dizer.

Demorei um tempo para perceber que Lara estava falando comigo.

– Aconteceu alguma coisa? - perguntou. - Não quer mais ir ao casamento?

– Não - respondi, finalmente. - Não é isso. Eu estou bem. É só… Eu só fiquei um pouco… Foi só uma tontura. Já passou.

– Tem certeza? Podemos voltar para o hotel, se quiser.

– Não. Tudo bem. Vamos entrar.

Saí do carro, dei a volta e abri a porta para Lara. Muitos (muitos mesmo) fotógrafos nos esperavam. Parece que o casamento de uma das maiores estilistas da atualidade é a notícia do momento. Sem falar que não terá apenas Sarah de famosa por aqui, apesar de ela ser a “estrela principal”.

Cheio de fotógrafos. Ótimo! Vai ser mais fácil fingir.

Quero dizer, fingir não. Meu namoro com Lara agora é real. Tenho que lembrar sempre disso.

Você tem 25 anos agora, Scott. Não aja como um adolescente imaturo e irresponsável.

Segurei a cintura da minha namorada, como sempre faço em público. Respirei fundo umas três vezes antes de entrar no salão gigante.

Pelo que me foi informado, a cerimônia será aqui, assim como a festa. A cerimônia em si não será demorada. O que mais vai ocupar a noite vai ser a festa.

Não tenho palavras para descrever o ambiente interno. Até eu, que sou homem, tenho que admitir: o pessoal da decoração fez um trabalho espetacular! E a quantidade de convidados… Acho que é a quantidade equivalente a de fãs que vão ao meu show. E isso é gente pra caramba! Mas, como eu já disse, o prédio tem dois andares, e dá para ver que as pessoas estão dividias entre o primeiro e o segundo andar.

Comecei a andar por entre as pessoas, agora segurando apenas a mão de Lara. É impossível ficar abraçado com ela enquanto ando no meio de toda essa gente. Mas, na realidade, eu não aguento mais essa garota grudada em mim o tempo todo.

Essa situação me lembra meu último ano no Ensino Médio. Lembro muito bem daquela confusão para sair da sala de aula. Fico imaginando se aquelas pessoas continuam com a mesma mania de sair dos lugares fazendo aquela confusão. Será que todos fizeram faculdade? Será que estão todos empregados, trabalhando de carteira assinada? Não tenho como saber. Quero dizer, eu nunca tive nenhum grande contato com ninguém daquele colégio que não fosse Anthony, James, Ross, Zac, Sarah, Lilyan, Alysson, Paris, Suzan e os idiotas. É, eu dediquei todo o meu ano a conquistar Alysson Cooper, e o que eu ganhei em troca? Tortura psicológica durante 6 longos anos.

Não importa para onde eu corra. Por mais que eu não queira, Alysson está presente em todas as áreas da minha vida.

A cerimônia não começou muito tempo depois que eu cheguei. Foi bem rápida, como prometido. Sarah chorou, a mãe da Sarah chorou, até Lilyan chorou.

– Scott! - James gritou logo depois que o avistei ao pé da escada. - Que bom que veio, cara! Você não confirmou se vinha ou não, não ligou mais. O que houve? - me encheu de perguntas enquanto me abraçava.

– Não foi nada demais - respondi. - Muita coisa na cabeça. Acabo me atrapalhando todo. Devo ter esquecido de ligar confirmando. Foi mal.

– Tudo bem, novato. O importante é que você está aqui. - E só nesse momento ele percebeu que eu estou acompanhado. Essa será uma cena bem interessante. - Quem é sua amiga?

– Lara Simpson - ela respondeu por mim.

– A modelo? - James perguntou. Assenti em resposta e completei:

– E minha namorada.

– Namorada? - Não estou louco, mas sei que essa voz não saiu da boca do James.

Ela, lentamente, entrou no meu campo de visão. Está tão perto de mim. Alguns poucos passos a frente e eu colo nossos corpos.

– Alysson Cooper - sussurrei.

1 minuto, 10 minutos, 1 hora… Não sei quanto tempo ficamos em silêncio encarando um ao outro.

Ela está linda!

Curvas mais acentuadas, lábios mais sedutores, olhos de um verde mais intenso, cabelos curtos. Mais madura. Alysson está ainda mais linda do que era. E eu, pobre inocente, pensei que isso fosse impossível.

Feche a boca, Scott! Não babe por ela. Sua namorada está do seu lado!

Namorada. Certo.

Mas… Beijá-la agora é tão tentador…

Ela terminou com você.

Eu sei, mas ela continua sendo a minha…

– Sou Lara Simpson, namorada do Scott - ouvi Lara dizer, mas meus olhos continuaram fitos em Alysson, e posso dizer o mesmo dela em relação a mim.

– Sou Alysson Cooper.

– Eu sei quem você é - Lara se apressou em dizer.

Eu conheço esse tom de voz. Se eu não ficar alerto, Lara vai arrumar uma briga feia por aqui.

– Ah, sabe? - Alysson disse desviando o olhar pela primeira vez, para encarar Lara. - Que… Interessante! - Então, ela abriu um sorriso. Aquele sorriso. O que eu tanto quis ver no meu último dia aqui.

Não é possível! Será que ela não está tão incomodada quanto eu? Ela não se balançou nem um pouquinho com a minha presença? Seus sentimentos não estão nem um pouco confusos?

Raiva. Uma raiva consumidora começou a se apossar do meu corpo.

Não acredito que ela não sinta nem um pouco de arrependimento por ter terminado comigo daquele jeito.

Certo que foi há 6 anos atrás, mas, mesmo assim, a Alysson que eu conheci teria pelo menos um pouco de remorso.

– Você não vai dizer nada, amor? - Lara perguntou, agarrando meu braço esquerdo.

Anda, Scott. Fala alguma coisa, idiota!

– Eu? - Juro que, se não estivesse no meio de tanta gente, daria um tapa na minha própria testa. - É bom te ver de novo, Aly. - Não. O apelido não. Completa desconhecida, Scott. Lembra disso?

– É bom te ver também, Scott. Senti sua falta aqui nos últimos anos. Sua tia disse que você parou de vir aqui.

– Muito trabalho - justifiquei-me, talvez desesperadamente demais.

– Entendo. E como vai a carreira de músico? - Nem minha carreira ela está acompanhando.

– Muito bem, obrigado. Tenho feito muito sucesso. Compus muitas músicas novas e - Provavelmente vou me arrepender de dizer isso depois.- regravei algumas de alguns cantores. Michael Bublé, por exemplo. Você iria gostar.

Senti Lara apertar minha mão. Minha sorte é que ela não tem força, porque, se dependesse dela, eu não teria mais mão uma hora dessas.

– Scott Miller cantando Michael Bublé? Essa é nova! - Alysson soltou uma breve gargalhada. - Quem te viu e quem te vê, hein, Miller.

James, que até agora só observava a conversa, se manifestou:

– Lara, você não quer vir comigo conhecer a Sarah? Soube que é fã dela.

Ah, meu Deus! O que eu fiz de tão bom para merecer um amigo como o James?

Reprimi um sorriso ao observar o conflito interno de Lara: me deixar sozinho com Alysson e conhecer Sarah, ou ficar aqui e perder a oportunidade de conhecer sua musa inspiradora?

No fim, ela acabou indo, me deixando sozinho com a Alysson, mas ainda envolto por uma multidão de pessoas.

– Soube que escreveu um livro - comentei.

– Escrevi - confirmou.

– Contando sobre a sua vida. - Ela assentiu. - Qual parte dela?

– A mais emocionante. A que eu mais sorri e mais chorei. A que eu fui mais feliz, apesar das inúmeras decepções.

– E essa história tem um final feliz? - perguntei, receoso. Sei que ela está falando de mim. Sei disso. Os olhos dela me dizem isso.

– Depende do ponto de vista de cada leitor - ela deu de ombros.

– Então, vou reformular minha pergunta: como termina o livro? - Alysson olhou para os lados antes de responder.

– Quer ir para um lugar mais calmo?

Ah, que pergunta perigosa. Já perdi a conta de quantas vezes eu já fiz essa mesma pergunta. Para mim, as respostas sempre foram “sim”, e tudo sempre terminou do mesmo jeito. O tal “lugar mais calmo” é de um perigo enorme. E me parece que Alysson passou a gostar desse tipo de perigo.

– Pode ser - respondi.

Nos minutos que se seguiram, nós poderíamos ter ido até o lugar calmo e, quem sabe, talvez até tivéssemos nos acertado. Poderíamos, se algo não tivesse chamado nossa atenção e a de todos presentes no casamento.

– Cheguei pra animar essa festa!

Loiro, cabelos oleosos escorridos sobre a testa, pele pálida, lábios sem cor, roupas rasgadas e surradas, olhar gélido, olhos fundos e ainda mais escuros do que a última vez que eu vi. Mas não foi nada disso que fez com que eu o reconhecesse, muito menos a voz arrogante e sinistra. Mas sim, o sorriso. Aquele sorriso que vi e temi tantas vezes. O sorriso que me causou arrepios há 6 anos atrás. O sorriso que quase destruiu a minha vida.

– Vejamos o que temos aqui - ele disse. - Casamento de Sarah Foster. Vocês são tão mal agradecidos, sabiam? Como esqueceram de me mandar o convite para esse dia tão feliz?! E logo eu que participei de tantos momentos da vida de vocês! - O sorriso dele aumentou. Nesse momento, seus olhos correram por todo o ambiente até que encontraram algo que os interessasse. - Ora, ora. Pequeno Miller! Quanto tempo!

Ah, não! Hoje não, Peter!

– Soube que tem feito sucesso com as garotas por aí - continuou. - Sua namorada… Como é mesmo o nome dela? Lara!

Peter veio caminhando em minha direção. Conforme andava, as pessoas abriam caminho para ele. Em volta de nós, fecharam um círculo, como um ringue.

Parece que a confusão hoje não será por conta da Lara.

– Lara Simpson… Ela é tão gostosa quanto dizem que é? - Permaneci calado, apertando cada vez mais minha mãos, já fechadas em punho. - É melhor do que a Alysson? Porque, pelo que eu me lembro, nem Paris conseguiu ser melhor do que ela. Me diga você, Scott. Aquela manhã com a Paris no acampamento, foi melhor do que os amassos com a Alysson?

Direita, direta, esquerda, direita, direita, direita...

Quando dei por mim, já estava em cima de Peter, sentindo dois, talvez três, pessoas me puxando. Comecei a me debater, tentando me soltar.

Peter, por outro lado, deixou-se ser segurado e começou a rir. Ah, como ele deve estar amando isso, mesmo que esteja com o rosto desconfigurado. E essa alegria dele só me dá mais vontade de matá-lo.

Sarah. Eu estraguei seu casamento. Não acredito que deixei Peter fazer isso!

– Scott! Ai, meu Deus! O que estão fazendo? Soltem ele! - Sarah correu até mim. - Meu Deus! Você está bem?

– Estou, estou. - Endireitei a postura. - Agora, não sei se posso dizer o mesmo do Peter.

– Peter? - Seu rosto empalideceu. Sarah virou-se imediatamente na direção do loiro psicopata.

– Oi, Sarah! - ele disse, ainda com o sorriso no rosto. - Sentiu saudades?

– O que você está fazendo aqui?

Medo. Percebi isso em sua voz trêmula.

– Vim participar da festa! O que mais poderia ser?

– Quem deixou você entrar aqui? - ela perguntou, tentando manter a voz firme.

Até então, todos só observavam. Ninguém ousou interromper o momento. O único barulho além das vozes de Sarah e Peter, é o dos flashs das máquinas fotográficas.

– Sarah, querida, desde quando eu preciso de permissão para entrar nos lugares?

– Tirem ele daqui! - Sarah ordenou, causando mais risos vindos de Peter.

– Pode deixar que eu faço isso. - Tomei a frente da situação.

Arranquei Peter das mãos dos seguranças que o seguravam, e o arrastei até o jardim dos fundos. Só depois que passei pela porta de acesso aos fundos, que me lembrei: eu sou um cara famoso e acabei de brigar da frente de vários fotógrafos. Eu estou muito ferrado!

Mas agora que comecei, posso me divertir mais um pouquinho, certo? Afinal, Peter merece.

– Sabe, Peter, você cometeu um grande erro em ter vindo aqui. Não deveria ter aparecido na minha frente, e, muito menos, ter estragado o casamento da Sarah.

Segurei-o pelo capuz do casaco e o joguei no chão. Ele está vulnerável. E não é para menos! A surra que eu dei nele lá dentro não foi pouca coisa.

– E, me deixe adivinhar, você vai me castigar?!

– Olha só! Não é que você ainda sabe pensar?! - brinquei. - Vou te dar a surra que você merece desde a primeira vez que te vi!

– Vai bater em um pobre coitado, indefeso? Que covardia! - ele disse, ainda jogado no chão.

– Você pode até ser pobre, mas de coitado e indefeso não tem nada. - Dei um chute em seu rosto, deixando-o completamente jogado ao chão. - Eu sei que tenho sim uma parcela de culpa naquela história da aposta, mas você levou tudo para um lado muito pior. - Chutei seu estômago. - Você me ameaçou, ameaçou outras pessoas. - Ajoelhei ao seu lado e soquei seu rosto três ou quatro vezes. - Você quase matou minha tia! - Chutei seu rosto.

O fato de ele não reagir, não tentar se defender, é o que mais me irrita!

– Não acha que já chega? - disse uma voz familiar. Logo uma cabeleira ruiva entrou no meu campo de visão.

– Ainda pinta o cabelo de vermelho, Paris? - perguntei, só então me dando conta de que estou ofegando.

– Meu cabelo é ruivo natural, Scott - respondeu, revirando os olhos. - Agora, que tal parar de espancar o Peter? Ele já não parece mal o bastante para você?

– Pra mim, ele só estará mal o bastante quando estiver morto.

– E você pretende cometer um assassinato aqui, no casamento da doce Sarah? Ela nunca te perdoaria!

– Poupe-me das suas ironias, Paris.

– Não é ironia. É a realidade. Não acha que já arranjou confusão demais por um dia? O escândalo que você deu lá dentro não foi o suficiente? Vai arriscar toda a sua carreira por causa dele?

– Não preciso da sua preocupação com a minha carreira agora.

– Não, minha real preocupação não é com você. É com o Peter. Você acha que eu estou aqui por que, Scott? Porque fui convidada pela Sarah?

– Você voltou a se envolver com o Peter?

Ouvi gemidos vindos da parte do Peter. Eu e Paris paramos e olhamos para ele.

– Querem parar de conversar como se eu não estivesse aqui?! - Paris o ajudou a levantar.

– Vamos embora. Já estragou o que tinha para estragar. - A ruiva virou-se para mim uma última vez. - Nos vemos por aí, Scott.

Observei-os desaparecer por entre as árvores do jardim gigante e entrei em seguida.

Para o bem do Peter, é bom que eu não o veja mais.

Encontrei com todo o meu antigo grupo de amigos e Lara perto da porta de acesso aos fundos.

– Scott! - Sarah e Lara gritaram ao mesmo tempo.

– Como você me faz um coisa dessas?! - Sarah corre até mim enquanto me repreende. - Será que você não lembra do que aquele infeliz é capaz? - Ela me abraça.

– Eu estou bem - tentei acalmá-la. - Ele nem reagiu. Não precisa se preocupar.

– E, mesmo depois de tanto tempo - Lilyan começou. -, você continua fazendo besteira. É impressionante como algumas coisas nunca mudam.

– E, ao que parece, você continua rabugenta como sempre foi - rebati.

– Não - Zac disse. - Ela está ainda mais chata!

– E você continua o mesmo moleque enxerido!

E aí eles começaram a discutir entre si.

– Estão assim desde que terminaram o namoro - Sarah disse. - Vão acabar voltando se continuarem assim.

– E, talvez - começou James. -, esse não seja o único casal que volte.

Nesse momento, vi Lara se aproximando junto com Alysson, Dylan, Ruby e Anthony.

– No que depender de mim, vai ser sim o único casal a voltar.

– Nunca se sabe o dia de amanhã, Scott.

– Amor, você está bem? Ele te machucou? - Lara começou seu drama rotineiro. É claro que ela não iria deixar de fazer um “teatrinho” na frente da Alysson.

Ela continuou a fazer perguntas idiotas, enquanto inspecionava cada centímetro do meu rosto.

– Lara, chega, por favor. - Tirei suas mãos, delicadamente, do meu rosto. - Eu estou bem, estou inteiro.

– E essas mãos? Estão sangrando!

– Menos, Lara. Menos. - murmurei. A verdade é que esse showzinho já está me constrangendo.

– Vai dizer que nunca viu seu namorado brigando? - Lilyan perguntou. É claro que ela vai tirar proveito da situação.

– Brigando? Scott não se mete em brigas.

– Então, Scott nunca te contou as histórias do colegial? - Um silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente.

– Pelo visto, alguém aqui não conhece o próprio namorado. - foi a vez de Ruby, que até agora estava em silêncio, falar.

– É, porque, se conhecesse, saberia que essas mãos vivem sangrando - Sarah entrou na brincadeira.

– Mas não sangram por qualquer motivo - comentou James.

– Isso. Ele só briga quando tem que defender alguém que ama - Ruby completou.

Eu tenho que acabar com essa palhaçada agora! Se não, corro o risco de eu mesmo acabar sendo influenciado por esse papo furado.

– Tudo bem - eu disse. - Já chega. Eu sei o que estão tentando fazer e não vai funcionar.

– O que eles estão tentando fazer? - Lara perguntou.

Não. Ela não é tão ingênua assim.

– É, Scott. O que estamos tentando fazer? - Sarah perguntou.

– Até onde eu sei, só estamos tendo uma conversa casual sobre o colegial - disse Lilyan. - Super normal!

– Bom, acontece que o colegial foi há 6 anos atrás. Faz parte do passado. E é lá que ele vai ficar. Agora, que tal vocês pararem de agir como adolescentes e voltarem para a festa?

– Você acabou de espancar o Peter no meio de um casamento e nós é que somos os adolescentes? - Anthony se juntou à quadrilha.

– Situações completamente diferentes.

– Ainda agiu como um moleque inconsequente - falou Dylan.

– O que é isso? Todos contra um? - eu disse. - É melhor vocês voltarem para a festa agora. Eu vou cuidar desses machucados e encontro com vocês depois.

Encontrei Alysson com o olhar. Ela tenta reprimir o riso, sem sucesso. Assim que todos se viram e começam a andar, ela me lança um sorriso e se vai junto com os outros.

– Quer que eu fique para te ajudar? - Lara perguntou, ainda parada a minha frente.

– Não, Lara. Vai com eles. Te encontro depois.

– É ela, não é?!

Agora já estamos sozinhos no pequeno espeço em a frente a porta dos fundos.

– Você ficou estranho depois que eu te deixei sozinho com a Alysson. O que ela te disse?

– Não conversamos nada demais, Lara. Agora, me deixa sozinho. Preciso procurar gelo.

– Você não me engana, Scott. E eu não admito traição! - ela gritou.

– Quem disse que eu te traí, garota? Enlouqueceu?

– Eu sei que, se ainda não voltou pra ela, uma hora você não vai resistir.

– Então, se você está tão insegura assim, deixe que eu resolvo as coisas pra você: nosso namoro acaba aqui!

O alívio veio logo em seguida. Acho… Acho não. Tenho certeza de que essa foi uma das decisões mais acertadas que eu já fiz na minha vida. Alguns poucos dias de namoro e ela já está desse jeito. Não quero nem imaginar se esses dias virassem anos.

Lara ficou parada, estática, me encarando, talvez tentando assimilar a idéia de que levou um fora.

Bufei, impaciente.

Será que é tão difícil assim aceitar que ela é insuportável?

– Você não pode fazer isso - Lara disse, finalmente.

– Não só posso como já fiz.

– Não. Não, você não pode terminar comigo. O Bart! Tem noção do que isso pode fazer com a sua carreira?

– Isso não importa tanto agora. Estou mais preocupado em me livrar de um encosto, no momento. Adeus, Lara!

E lá se foi ela, bufando e pisando forte, como uma criança mimada que não conseguiu a boneca que queria. Vejo que, junto com ela, se foi também um peso que, até então, eu não havia percebido que estava sobre meus ombros.

Depois de alguns minutos, fui pelo mesmo corredor que Lara passou e entrei na segunda porta à direita, onde se encontra a cozinha.

Eu pensei, juro que pensei, que a cozinha estaria cheia de gente. Mas não. Está vazia. Talvez não seja a cozinha. Mas parece uma…

– Ah, dane-se! - disse e entrei de vez no cômodo.

Como o lugar não é grande, logo achei a geladeira. Peguei o gelo e fui até à pia lavar o sangue nas minhas mãos. Tenho plena consciência de que aqui tem mais sangue do Peter do que meu.

Depois de ter lavado, pus o saco de gelo na mão.

– Ai, droga! - gritei.

Ótimo! Agora eu vou ficar gritando de dor por causa de uns machucados idiotas. Esses anos não me fizeram tão bem.

– Problema com os machucadinhos, pequeno Scott?

Não levei um susto. Só… dei um pequeno pulo. Foi automático. Mas eu não me assustei. Não me assusto fácil.

– Alysson! - exclamei. - O que você está fazendo aqui? Pensei que tivesse ido com os outros.

Scott, você tem que aprender a disfarçar seu nervosismo.

Alysson, finalmente, entrou na dita cozinha e andou até mim. A cada passo dado por ela, mais rápido meu coração bate. Estar com ela diante de muitas pessoas e com Lara do meu lado é uma coisa, porque sei que não vou ceder. Agora, aqui, sozinhos, numa cozinha que eu não sei se é mesmo uma cozinha… As coisas são diferentes.

– Eu fui - ela disse. - Mas aí eu lembrei que você não tem o mínimo talento pra cuidar de machucados. - E o sorriso veio em seguida.

Ela pegou o saco de gelo da minha mão e jogou dentro da pia.

– Vou jogar álcool nisso aí primeiro. - Piscou para mim e foi em direção a um dos armários. Voltou logo depois com um vidro de álcool e algodão.

– Como você sabia que tinha álcool aqui?

– Conheço isso aqui mais do que você pensa.

Não me atrevi a dizer uma única palavra. Se ela falou, está falado.

Observei Alysson derramar álcool no algodão e levá-lo até minha mão.

– Isso vai doer - ela avisou.

Quando o líquido entrou em contato com os machucados, trinquei os dentes e reprimi um grito. Tudo bem, estou parecendo uma garotinha. Mas nem lembrava mais qual é a sensação de bater em alguém.

– Há quanto tempo você não se mete em brigas?

– Uns… 6 anos? - Alysson soltou uma breve risada.

– Ficou pacífico nos últimos anos. Interessante!

– Não fiquei pacífico! - protestei. - Só não tive motivos para brigar.

– Aham… Sei - ironizou.

Alguns minutos de silêncio se seguiram. Alysson concentrada em passar álcool nas minhas mãos, e eu concentrado em observar seu rosto. Aquela dor irritante desapareceu totalmente diante da beleza estonteante de Alysson Cooper. Ela pode ter mudado em muitos aspectos - o tipo de roupa que veste, o jeito de andar, o jeito de falar. Mas uma coisa ela ainda tem: a beleza simples que não me canso de olhar.

Observá-la assim, tão linda e tão próxima, quase me faz esquecer tudo o que eu passei para que ficássemos juntos. Quase me faz esquecer que ela terminou comigo depois de tudo aquilo. Mas só quase.

– Você mudou - comentei.

Ela deu de ombros, como se não fosse algo importante.

– Talvez um pouco. - Ela me olhou. - O tempo faz isso com as pessoas.

– Entendo o que quer dizer. - Ela assentiu, ainda me olhando.

– Você… - Pigarreou antes de continuar. - me perguntou como o livro terminava.

– Perguntei.

– Bom - Ela abriu um sorriso. -, é um fim bem complexo. Não sei se você vai entender muito bem, ou até mesmo raciocinar direito depois que eu te contar.

– Está duvidando da minha capacidade de compreensão e raciocínio? - brinquei.

– Aprendi a desconfiar do que você fala - ela disse. - Depois que descobri que os seus “conhecimentos literários” vinham todos do google, não sei se acredito que tenha um cérebro dentro dessa cabeça - concluiu e riu em seguida, acompanhada por mim.

– Mas então, o final do livro.

– Certo. O final.

Olhos fechados, corpos colados, suas mãos nos meus cabelos, minhas mãos na sua cintura, meus lábios nos seus, seus lábios nos meus. E assim, o livro foi concluído. Sem muita enrolação, sem muita conversa. Somente aquele casal adolescente do colegial no corpo de dois adultos com cara de responsáveis. Apenas aqueles dois inconsequentes, que não estão nem aí para o que um beijo, simples porém muito significativo, pode fazer com a carreira do músico, ou com a da futura advogada. A única coisa que importa nesse final, é o que os dois adolescentes sentiam um pelo outro desde que se viram pela primeira vez. Amor? Paixão? Desejo? Não sabemos no que ele se tornou durante os longos anos de separação. Mas o que importa é que eles sentiam, e estão sentindo. Talvez esse não seja o final perfeito para alguns, mas, no fundo, era o final que eu queria.


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Notas finais do capítulo

Então, vou me explicar aqui bem rapidinho.
Se vocês acompanham o blog e/ou minha página no facebook, viram o aviso de "Em coma" que eu deixei. Se não, saibam, amores da minha vida, que eu fiquei sem computador e sem internet praticamente esses todos. E, sendo final do ano, eu não tinha tempo de ficar indo na lanhouse o tempo todo para escrever.
Agora, meu mini texto de agradecimento:
Falar o nome de todos vocês vai ser um tanto complicado, porque - tenho alegria em dizer isso - vocês são muitos. Eu nunca imaginei que A Filha do Diretor poderia ter esse sucesso todo. Certo que, para muitos, isso não é nada, mas é muito para mim, acredite. E, cada um de vocês, mesmo os que eu não conheço, são muito importantes pra mim. De fato, essa estória não seria nada sem vocês. E o que mais me agrada, é saber que eu agradei, se não todos, pelo menos alguns, e esse era o meu principal objetivo. Só tenho a agradecer a todos vocês. E, meu Deus, eu vou sentir muito a falta de vocês, dessa estória e, principalmente, dos meus queridos personagens.
Deixo aqui um agradecimento especial aos leitores lindos que comentaram: Aline Bass, TheBlueEyesGirk, Angel, CisneNegro, gaby, Katherine, Alysson Glader, Mariana Pimenta, Mrs Padfoot, Isabelle Sousa Costa Magalhaes,PoxaIssa, Sra Maxfield, LuhLerman, Biah, 1mp3rfe1ta, Miss Melliart Montgomery, NandM, Lisa Harris, Isabel A, FelicityQueen, Duda Rodrigues, Johanna, Evil Princess, Cupcake Valdez di Angêlo, mjulia, Melzinha, QUEEN, Nescau com leite, Lala Freitas, Bianca, Bella SR, Letícia Winchester Salvatore e Letícia.
Ufa! É muita gente! Mas vamos lá! Ainda quero agradecer do fundo do meu coração e deixar claro meu grande amor por essas 9 pessoas divas perfeitas que recomendaram a estória, além de sempre comentar: Shadowhunter, Ari An Senna, Lia Mayhew, Pedro Braz, Um Alguém, Frosty Hime Bibs, Jujuba, Rebel Contained and KG e mina que eu mais amo nesse mundo Vampi



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