Enquanto ela dormia escrita por Laucamargo


Capítulo 1
Rotina


Notas iniciais do capítulo

Oieeee aqui estamos estreando mais uma parceria, se vai dar certo ou não só o tempo dirá, mas estamos nos divertindo muito com os pormenores e esperamos que vcs tbm aproveitem...



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Depois de cumprir um plantão de 12 horas o que eu queria no momento era voltar para o meu apartamento e depois de uma chuveirada gelada cair na cama e dormir pelo menos pelas próximas 10 horas... Consulto o relógio novamente, faltam 15 minutos e 17 segundos, a última hora é sempre a mais demorada de um plantão e é ela que determina se você vai conseguir sair no horário ou não. Termino de tomar o meu café descafeínado e levo o a xícara vazia até o balcão, estava tentando mudar os meus hábitos alimentareis para uma dieta mais saudável e isso incluía parar de beber tanta cafeína.

Deixo a lanchonete e sigo para minha sala topo com alguns dos meus colegas de trabalho durante o trajeto e só os cumprimento com um aceno de cabeça, já estou na porta do meu consultório quando avisto a Celina, uma grande amiga aqui no hospital, apesar de nossas especializações distintas, conseguimos firmar uma boa amizade, amizade que já foi até motivo de ciúmes para os nossos cônjuges, mas ao contrário do que muitas pessoas acham nós nunca tivemos nada além da amizade.
- Ansioso para deixar o hospital aposto.

Ela me cumprimenta com um sorriso e um beijo no rosto.
- Foi um plantão agitado estou me sentindo um trapo em forma de homem.

Ela põe a mão no queixo e fazendo cara de séria me olha de cima a baixo fazendo graça e depois de alguns segundos de avaliação me responde cheia de humor.
- Um belo trapo devo acrescentar... Tem muita mulher por aí louca pra arrumar um homem com metade de suas qualidades sabia?
- Acho que eu vou ter que me acostumar com a vida de celibato Celina, deve ser minha sina.
- Não diga isso Lúcio.... Uma hora você terá que dar mais uma chance ao amor.
- Talvez, mas não me vejo fazendo isso Celina eu nunca vou conseguir esquecê-la.

- Lúcio eu sei o quanto você a amava, mas um dia você terá que superar, aprender a conviver com a sua morte.
- Você fala como se isso fosse realmente possível.
- E é Lúcio, muitos já passaram por isso, você não é o primeiro nem será o ultimo... Eu sei que não é fácil Lúcio, mas você não está nem tentando desapegar.
- Eu não quero esquecê-la Celina eu amei a Denise desde o colegial, ela me aguentou mesmo no meu período de residência, soube ser paciente e esperou até que eu estivesse formado para nos casar e então quando tudo parecia perfeito...
- Para, pode parar por aí Lúcio, nos já tivemos essa conversa um milhão de vezes....

Ela interrompe a própria fala e pega uma de minhas mãos para segurar entre as duas e ficamos nos dois em silêncio por uns instantes.
- Lúcio você vem vivendo essa vida solitária se recusa a desapegar das coisas que te ligavam a ela isso não é saudável.
- Eu estou desapegando Celina, não queria deixar essas coisas para trás, mas estou deixando, não posso simplesmente fingir que não vivi essas lembranças que vivi com ela.
- Sim você tem todo o direito de querer preservar essas lembranças contanto que isso não o impeça de criar novas.
Eu balanço a cabeça assentindo calado, eu sei que ela esta certa no que esta me dizendo, mas não consigo evitar as vezes, é maior do que eu.

- Ontem foi aniversário da mãe dela.

- E?

- Eu liguei para ela, mas ela não me atendeu.

- Esta vendo o que eu estou dizendo Lúcio, até ela já entendeu que esta na hora de seguir em frente, ela que sempre gostou tanto de você, eu lembro-me de que ela sempre ficava ao seu lado e contra a filha na maioria das brigas de vocês... O que eu sempre achei surreal isso vai contra o código das sogras sabia?
- Só você pra me fazer rir em uma situação dessas...mas me diz também está de saída?
- Imagina acabei de começar meu plantão, tenho longas horas pela frente, faz o seguinte descansa por nós dois ok? Eu vou indo que tem um pimpolho que precisa da minha atenção.
- Vai lá e bom plantão pra você.
- Deus te ouça Lúcio, Deus te ouça.

Fico observando-a se afastar e então entro no meu consultório, abro a minha pasta e começo a guardar as minhas coisas, consulto o relógio e me surpreendo já passaram 5 minutos do meu horário, fecho a minha maleta e levo a mão até o meu jaleco para tirá-lo e um anúncio saído dos alto-falantes do hospital impedem que eu prossiga com o meu gesto.
__ "Dr Lúcio favor comparecer a emergência... Dr Lúcio favor comparecer ao centro de emergência..."

Eles só podem estar brincando comigo, olho para a minha maleta pronta com pesar, solto o ar desanimado e me apresso em deixar a sala e ir para a ala de emergência.
- Boa noite me anunciaram aqui na ala de emergência você sabe do que se trata?
- Boa noite Dr. Um acidente a pouco, três vítimas sendo uma delas ainda criança foram tiradas de um rio estamos aguardando novas notícias quanto ao estado de saúde das três.
- Meu plantão acabou a quase dez minutos porque eu fui anunciado?
- Isso eu não sei dizer doutor.
- Fui eu quem pediu para te anunciarem Lúcio imaginei que ainda não tivesse deixado o hospital.
- Dra. Evie, boa noite.

Ela faz um gesto para que eu a acompanhe até um canto mais afastado para não sermos ouvidos pelas enfermeiras. O semblante dela apesar delicado e fino não consegue esconder o ar preocupado o cargo de diretora de um hospital desse porte com certeza cobrava seu preço.
- Pensei que o Reynaldo pegaria o próximo plantão.
- Eu o suspendi, por favor, Lúcio eu sei que estou exigindo muito de você, mas não posso ficar com apenas um neurocirurgião de plantão e o Ricardo estará preso em uma cirurgia pelo menos pelas próximas duas horas e tem essa emergência a caminho...

Ela verifica o seu celular e o retorna para o bolso do seu jaleco e me lança um olhar firme, ela tinha muita determinação e firmeza para uma mulher do seu tamanho e idade. Muitos por não a conhecer a julgaria nova demais para o seu cargo. Existem poucos hospitais gerenciados por mulheres e ainda há muito preconceito em cima disso, eu, no entanto não tinha dúvidas da sua capacidade .

- Por favor, me diga que não está tendo problemas com o Reynaldo novamente.
- Eu fui bem firme com ele desta vez Lúcio ele sabe que não terá outra chance, é a carreira dele que está em jogo.
- Meu Deus Vivinha é a sua também e não é só isso, ele tem a vida de alguém nas mãos todas as vezes que entra em cirurgia.

Eu olho em volta para garantir que não estamos sendo observados e mesmo depois de confirmar eu abaixo o tom de voz para continuar a falar.
- Se a comissão fica sabendo que foi permitido a entrada de um neurocirurgião na S.O alcoolizado... Não é só a licença dele que será cassada.
- Eu nunca permitiria a entrada dele no centro cirúrgico se desconfiasse que ele não estivesse sóbrio, nunca mostrei ser negligente com o meu trabalho Lúcio não seria agora que o faria.
- Eu sei me perdoe... eu estou aqui tirando minhas próprias conclusões e... desculpa eu sei que você jamais permitiria uma coisa dessas.

Esfrego as mãos nos olhos cansados e volto a encara-la, desta vez com o semblante mais compassivo, apesar de rígida no que diz respeito ao gerenciamento do hospital ela tinha um coração enorme e acreditava em segunda chance.

- Devo dizer que a senhora já foi mais durona doutora Evie.

Percebo os seus ombros relaxarem quando ela percebe que eu mudo o tom da conversa e ela também se permite se livrar a capa de seriedade que vinha vestindo desde então e até arriscaria dizer que vi a sombra de um sorriso em seus lábios.
- Continuo sendo doutor Lúcio, para a sua informação você ainda é o único neste hospital que me chama pelo primeiro nome.
- Isso porque você não resiste ao meu charme.
- Claro seu charme é tão imbatível que ganhou até o meu marido.
- Falando nele como ele e as meninas estão?
- Graças a Deus estão todos bem! Ele ainda tem esperanças de que você pare de ser um "marica" segundo as palavras dele e aceite sair um dia para um programa masculino.
- Pode deixar que eu vou ligar para combinar com ele alguma coisa.
- Vai mesmo?

- Sim eu vou, agora deixa eu me preparar porque a primeira ambulância já deve estar chegando depois conversamos.

Sabia que ainda tinha tempo até que a ambulância chegasse, mas conhecia a Vivinha o suficiente para saber que ela logo entraria no mesmo assunto abordado pela Celina e eu não estava preparado para enfrentar isso de novo, ao contrario da Celina, a Vivinha me conhecia além das minhas palavras, ela também não ficaria satisfeita com as minhas respostas e logo daria um jeito de me tirar de casa.

Conheci a Evie na faculdade e desde então somos amigos, eu e Denise fomos padrinhos de seu casamento e convivíamos com a sua família desde então. Ela e o Fernando foram como irmãos para mim quando a minha esposa faleceu. Porém, aqui no hospital tentamos estabelecer uma relação o mais profissional possível.

Meus pensamentos sentiram o reflexo da lembrança de nós dois, eu e a Denise, participando da rotina maravilhosa da família de Vivinha ... Enquanto eu esperava pela chegada da ambulância, e a eterna saudade estava ali firme, deixando sua marca indelével.


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