Às vezes o raciocínio é difícil de explicar, mas a conclusão é mais do que obvia, e Thiago simplesmente soube naquela hora que Rose estava indo direto para o perigo. Ele correu, e parou os galhos do Salgueiro lutador com um feitiço da mesma forma que ela havia feito e foi atrás dela.

Rose continuou a correr, nunca havia pensado realmente em morrer, mas...

“só seu sacrifício findará com o perigo e salvará a todos...”

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela se recusou a deixá-las cair e forçou-se a continuar andando.

Afinal, esse era um bom motivo, ela os salvaria, não se importava com mais nada. Havia lido e escutado o suficiente para saber que se não fosse assim, se o terror realmente se instalasse sobre o mundo mágico, muitos morreriam. Uma vida, a vida dela, era um pequeno preço, preço o qual ela estava disposta a pagar...

Um sacrifício ao invés de centenas? Parecia totalmente coerente correr para morte. Pessoas em perigo. Pessoas inocentes, pessoas que ela amava, ela podia perder sua própria vida, disso não tinha medo, mas nunca permitiria arriscar a de seu irmão, ou seus pais ou de...

Só de pensar a dor atravessou seu peito. Definitivamente ela nunca permitiria que alguém se machucasse, muito menos...

Thiago continuou a correr no escuro, sua cabeça estava tão cheia que nem se lembrou de iluminar o caminho com a varinha, caia o tempo todo. Rose tinha apenas alguns minutos de vantagem, e ele só tinha uma certeza: ela estava bem ao seu alcance. Era como se pudesse senti-la.

A primeira reação de Rose ao entrar na Casa dos Gritos foi de surpresa. Duas velhinhas? O que aquelas mulheres teriam contra ela e os outros? Por que queriam matá-los? As duas não se pareciam exatamente, mas seus rostos enrugados e os cabelos brancos acentuavam a aparência que um trouxa atribuiria a uma bruxa.

O ambiente em si não lhe pareceu hostil, a sensação que predominava na garota era a de anestesia, aquela havia sido uma noite incomum.

Primeiro Thiago, a sensação do toque de sua pele sempre quente, seu cheiro pertubardor e toda a dor explodindo e ao mesmo tempo sendo escondida pela vontade e o conforto que estar com ele lhe proporcionavam. Se não houvesse algo tão detestável, se não houvesse uma traição, se ele a amasse um grão de areia do que ela o amava... Mas era tarde demais pros dois, ao menos ele estaria livre da culpa que o prendia a ela, ao menos ele estaria livre, e viveria.

Depois veio a profecia, e agora ela estava naquele cômodo escuro, diga-se de passagem um clichê ridículo, afinal Rose não tinha medo do escuro e duvidava muito que aquelas pessoas gostassem de viver totalmente na penumbra... E toda aquela poeira?

“pensamentos estranhos pra se ter uma hora dessas não Ro?” ela perguntou a si mesma.

Ela tomou fôlego e saiu do buraco na parede empunhando sua varinha cautelosamente. As duas mulheres idosas a encaravam estarrecidas. Rose respirou o ar com cheiro de mofo sem dizer nada.

-É a garota Weasley! – uma delas, a mais enrugada, falou finalmente ao mesmo tempo em que uma moça de aparência horrível e olhar louco apareceu na porta do cômodo.

-Ela tem algo diferente. – a garota disse, Rsoe a observou, uma longa trança negra nos cabelos grossos e imundos, um rosto cadavérico e inexpressivo, mas ela olhava para Rose como se visse algo, algo que não era sua aparência, algo dentro dela.

-O que você está fazendo aqui? – a velhinha enrugada quis saber ignorando a moça.

-Cumprindo meu destino. – Rose disse ainda fixando o olhar na mais jovem, se perguntando o que havia de diferente segundo ela.

-OH, é mesmo? E qual seria ele? – a outra mulher idosa  falou pela primeira vez e em tom zombeteiro.

A adrenalina corria a mil pelas veias de Rose, sentia até a pulsação atrás dos ouvidos tão alta e tão forte justo naquele momento onde não estava muito longe de parar de vez. Aquilo não estava a assustando, nem mesmo sentia vontade de chorar, ou uma fraqueza nos músculos, nem tremia, era realmente estranho como ela se sentia prestes a...  

-Morrer. – ela respondeu simplesmente, e “salvar a todos” acrescentou com uma pontada de divertimento para si própria. Seu sorriso singelo, porém verdadeiro fez as três desconhecidas arquearem as sobrancelhas discrentemente.

-Você não é mais... – a garota pavorosa começou.

-Cale a boca Karina! Vamos escutar o que a sangue-ruim tem a dizer.

-É Karina, veja o que a sangue-ruim está dizendo. – Rose disse irônica.

-É importante vovó! Pode ser um truque... – Karina respondeu – Há algo errado, ela não tem a mesma aura...

Ignorando a moça a velhota conjurou um patrono e lhe ordenou que fosse chamar os outros e dissesse que a garota Weasley estava lá.

-Rosalie.

-O quê?

-Meu nome. – Rose explicou - É Rosalie, eles podem pensar que é outra garota Weasley, eu tenho uma família realmente grande – ela sentou-se num amontoado de sacos empoeirados – Sabe eu pretendo lutar, mas antes gostaria de algumas respostas...

-Você é doida? Está ouvindo Cassandra? Ela pretende derrotar 7 bruxos adultos – a avó da garota feia falou para a outra velhota.

-Sete? Hum, não, não acho que possa, mas uns três talvez... Eu sou realmente uma ótima aluna sabe? – os olhares de incredulidade divertiram Rose, ela estava quase certa de poder derrubar alguns bruxos mesmo adultos, ela era poderosa, e sabia disso - Mas doida? – ela acrescentou para si mesma, se sentia lúcida, mas os loucos acham que são lúcidos não acham? Então ela não podia ter certeza sobre sua sanidade, só sabia que parecia exatamente certo estar ali.

A moça, Karina, parecia desconfiada ainda, encarando Rose como se esperasse que alguma coisa pulasse de dentro dela.