Entramos nós três ao mesmo tempo, atrás das portas havia uma sala enorme. Quando digo enorme estou dizendo que ela deveria ter no mínimo um terço do tamanho da mansão. A sala era abarrotada de estantes e livros, alguns abertos no chão, esferas de luz se iluminavam as paredes que estavam rabiscadas com formulas e desenhos estranhos, o cheiro forte de sangue era enjoativo, mas não tinha tanto tempo para pensar naquilo. No fundo da sala havia uma escada larga e central, e no topo dela estava um homem muito estranho. Seus cabelos grisalhos estavam secos e espalhados pela sua cabeça como galhos, ele usava roupas esfarrapadas e um jaleco branco. Ele estava atrás de uma cadeira adornada como um trono, e na parede estavam eles. Os três estavam pendurados pelos pulsos, Miketsukami-kun estava com sua roupa de agente, e dava para notar um longo corte no lado esquerdo do seu rosto, que ainda sangrava. Ao lado dele havia um mordomo, igualmente desacordado com um corte que começava no canto da sua testa, que descia por todo o lado esquerdo do seu rosto, o homem, que pelo jeito era o tal de Folter, estava se concentrando na garota ao lado do mordomo. Ela tinha longos cabelos brancos, usava um uniforme escolar que não escondia em nada seu corpo, Folter havia acabado de fazer um corte em seu colo, e o sangue que escorria era colocado em um pequeno recipiente de vidro.

– Folter seu desgraçado! – Kokoa foi a primeira a falar algo. Ciel permanecia pensativo. – Solte a minha onee-sama!

O homem voltou sua atenção a nós, ele tinha uma cara seca, olhos fundos e um nariz fino e pontudo.

– Então esse é o grupo de resgate? Eu esperava algo a mais... Infelizmente crianças – Ele tomou o conteúdo do frasco. – Vocês chegaram um pouco tarde.

Os três prisioneiros começaram a se contorcer, era possível ver suas veias saltadas, logo as corrente se soltaram de seus pulsos e eles caíram no chão.

– Miketsukami-kun!

– Onee-sama!

Antes que eu ou Kokoa nos movêssemos um centímetro que fosse, Ciel se colocou a nossa frente.

– Não sejam tolas, eles não são mais quem vocês querem.

Folter começou a rir e bater palmas, enquanto descia a escada.

– Não esperaria menos do famoso Conde Phantomhive, acredito que tenha decifrado as escritas nas paredes.

– Um feitiço de completa submissão, um pacto de sangue. Nada melhor do que fazer isso com criaturas que possuem poder, magia e alta posição mediante os outros youkais. Mas algo não encaixa...

– Como eu consegui capturar eles?

Dessa vez eu acabei tomando a palavra diante da resposta obvia.

– Se vocês são conhecidos como bruxos tão poderosos, poderiam criar todos os tipos de feitiços e armadilhas. E isso explicaria todos esses livros, devem ser registros não?

– Ora, ora, ora, temos mais um pequeno gênio aqui.

Ele agora estava no primeiro degrau da escada.

– Então você elaborou um feitiço para esconder essa barreira de almas? Kokoa perguntou.

Eu fiquei surpresa. Como assim barreira de almas? Olhei em volta, se eu estava com a minha forma de akuma desperta eu deveria ser capaz de enxergar. Foi quando me lembrei do cheiro forte de sangue. Então na verdade era o odor da morte.

– Cada Folter que deu sua vida para que esse plano desse certo, agora descansa nessas paredes. E agora vou concretizar isso na frente dos olhos de meus antepassados.

Ele deu um estalar de dedos, e três coisas aconteceram simultaneamente no topo da escada. Miketsukami-kun estava coberto por pétalas de sakura girando em torno dele, como quando ele se transformava, mas quando as pétalas caíram, ele não era um homem com partes do corpo de um kishin, mas agora havia uma kyuubi kishin* branca com marcas douradas pelo seu corpo e olhos também dourados. Ele rosnava enquanto suas nove caudas balançavam muito rápido

O mordomo que estava do lado dele estava coberto por penas negras, que também giravam em torno dele. Quando elas caíram, revelavam um ser totalmente diferente. Um ser alto, seu rosto lembrava o de um humano, e ele sorria expondo as presas brancas. Seu peito estava desnudo, seus cabelos pretos caíam sobre seus ombros, ele usava uma calça de couro preta e uma bota preta de salto alto agulha. Nas laterais de sua cabeça havia dois chifres de carneiros, como os meus, só que maiores, nas suas costas duas asas negras que arrastavam no chão de tão grandes.

A irmã mais velha de kokoa estava coberta por uma aura negra, que foi se desfazendo como se vários morcegos deixassem o corpo dela, revelando uma vampira completamente diferente. Seu cabelo branco estava ainda mais longo, e preso num rabo de cavalo alto, ela usava um vestido de longo preto, de mangas morcego e duas aberturas nas laterais que iam até o alto da sua coxa. Ela olhou para nós como se fosse superior, do mesmo jeito que Kokoa já havia feito, e abriu sua boca como uma cobra, mostrando as presas mais terríveis que eu já tinha visto.

Se eu fiquei com medo? Mentiria se dissesse que não. As três criaturas começaram a descer a escada, enquanto Folster ria da nossa cara.

– Ririychio você cuida da minha irmã, pelo jeito o Conde tem jeito com cachorro e eu fico com o corvo ali.

Olhei para Kokoa, eu nunca a vira tão séria. Antes que eu perguntasse algo ela olhou para mim, pude perceber a pergunta em seus olhos. “Você quer realmente lutar com ele?” Eu não podia mentir para mim mesma, não sei se aguentaria uma luta séria com Miketsukami-kun, mesmo que fosse para salva-lo ou por uma causa nobre.

– Não se preocupem vocês duas, o jogo já esta decidido.

Eu e Kokoa olhamos para o Ciel, ele sorria como se já tivesse ganhado tudo.

– Vocês apenas tem que sobreviver tempo o suficiente.

Kokoa apertou Kou e ele virou a marreta gigante, segurei minha espada com força e ajeitei minha postura, os olhos de Ciel agora tinham um forte brilho rosa. Não pensava em muita coisa, tentava não focar em meus sentimentos. Apenas avancei em direção a vampira, de longos cabelos brancos e tentei me desviar do chute que ela tentava me dar.